quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Síria 2016: Ataque ao comboio de suprimentos indica escalada na guerra

20/9/2016, Moon of Alabama 


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



O espetáculo em torno do comboio danificado na região a oeste de Aleppo já atinge nível de comédia.


O comboio UN/SRC veio do setor oeste, controlado pelo governo sírio. Chegou a um centro da organização Crescente Vermelho Sírio em Umm al Kubra na área suposta controlada por "rebeldes" mais a oeste, onde começou a ser descarregado. Algo aconteceu e vários dos caminhões incendiaram-se ou foram danificados por outros meios. Supostamente teria havido 20 mortos. O incidente ocorreu pouco depois de ter expirado oficialmente o cessar-fogo. Equipes de propaganda dos "Casquetes Brancos" patrocinados pelos EUA estavam lá quando ou imediatamente depois de o incidente acontecer.

Adiante, várias declarações que foram feitas sobre o incidente (estou com pouco tempo e não indicarei os links para cada uma):

Os EUA e aliados clamam que o comboio teria sido bombardeado num ataque aéreo. Os russos negam que eles ou os sírios tenham executado qualquer ataque.

Entre os "rebeldes", as versões variam. A culpa **É** dos sírios; foram usados jatos sírios E helicópteros sírios; foram usadas "barrel bombs"; foi ataque prolongado que durou horas... 

O secretário de Estado dos EUA primeiro disse que foram os sírios; depois, que foram os russos; que foi ataque por helicópteros. Depois veio o Pentágono, com o 'informe' de que os culpados eram dois jatos russos SU-24 (não são helicópteros). Mas então os EUA passaram a 'informar' que o ataque teria durado duas horas, muito mais prolongado do que seria possível para um par de jatos SU-24.

Os russos disseram que nem eles nem os sírios atacaram comboio algum. Disseram que o comboio foi atacado por "rebeldes". E que não houve bomba alguma; que os caminhões sofreram danos causados por fogo.

Fotos de alguns caminhões mostram danos causados, na maior parte, por fogo; mas também outros que parecem ter sido causados por explosão e pelo impacto de fragmentos de metal na lataria, mas não os danos extensos que seriam provocados por bombardeio aéreo. Na minha avaliação, permanecem abertas as duas possibilidades – ataque aéreo ou de artilharia; ou uma simples operação local de sabotagem.

Não sei o que realmente aconteceu.

Mas, independente de qualquer fato em campo, há a questão do motivo da ação.

Por que a Força Aérea Síria atacaria o Crescente Vermelho Sírio, com o qual mantém boas relações e que opera em todas as áreas controladas pelo governo da Síria? Por que forças russas ou sírias atacariam comboio que, pouco antes, atravessara áreas controladas pelo governo sírio e todos os pontos de controle e que, portanto, sabidamente não carregava contrabando? Não encontro razão ou motivo plausível para que sírios ou russos atacassem o comboio. Nem, até agora, alguém apresentei nem razão nem motivo desse tipo.

Há poucos dias, os "rebeldes" acusaram a ONU, cujos suprimentos viajavam no comboio, de trabalhar contra eles e declararam que passariam a boicotá-la. "Rebeldes" no leste de Aleppo fizeram manifestações contra a ajuda distribuída pela ONU e declararam que passariam a rejeitá-la. Entre os "rebeldes" havia ampla rejeição e oposição ao cessar-fogo, e forte empenho na direção de ampliar e aprofundar a guerra contra a Síria e aliados. Al-Qaeda na Síria até fez um vídeo de propaganda contra o cessar-fogo. Parte do acordo de cessar-fogo tem a ver com os dois lados unirem-se para lutar contra a al-Qaeda. Sem dúvida, al-Qaeda quer o fim do cessar-fogo. Atacar um comboio de ajuda humanitária parece trabalhar na direção dos interesses da al-Qaeda e aliados.

A análise de motivos racionalmente aceitáveis mostra como plausível um ataque pelos "rebeldes"; e como implausível um ataque pelo governo sírio e aliados.

Kerry falou hoje na ONU e mostrou caretas e gestos que manifestavam o propósito estúpido de inculpar a Rússia.

Disse que Jabhat al-Nusra e Jund al-Aqsa são al-Qaeda e inimigos dos EUA e que têm de ser combatidas. Não explicou por que os EUA – já há cinco anos! – fornecem armas e munição à al-Qaeda (mediante os tais "rebeldes" que os EUA patrocinam). Não explicou por que os EUA até hoje nunca fizeram coisa alguma contra a Al-Qaeda na Síria. Não explicou por que os EUA não ordenaram que os seus prepostos "rebeldes" se afastem da al-Qaeda, como prometeram que fariam no início do cessar-fogo. Sandices risíveis.

Kerry então passou a 'exigir' uma zona aérea de exclusão sobre o noroeste da Síria para impedir ataques a comboios de ajuda humanitária. Toda a ONU caiu na gargalhada (mentalmente). Sim, claro, sem dúvida seria ótimo para os "rebeldes" que Kerry paga e protege, que poderiam ser rearmados, reagrupados e, abertamente, passar a novos ataques, como já fizeram no primeiro cessar-fogo em fevereiro. Não. Nada disso. Nem Rússia nem Síria, nem o Conselho de Segurança da ONU voltarão a cair na mesma esparrela. A 'exigência' lá ficou, como piada sem pé nem cabeça.

Mas as luvas começam a ser arrancadas. O lado sírio/russo não tem dúvidas de que os EUA atacaram forças sírias, deliberadamente, em Deir Ezzor, para entregar a cidade aoISIS. O lado "rebelde"/EUA (ou sua audiência cativa) se autoconvencerá do que mais lhe interessa (mesmo sem prova de coisa nenhuma), de que o lado sírio/russo estaria atacando hospitais e comboios humanitários deliberadamente. As palavras diante da ONU tornaram-se muito visivelmente mais duras.

Temo que, em breve, assistiremos a mais uma grave escalada naquele conflito. Um incidente direto entre aviões norte-americanos e russos, ou coisa desse tipo. É como brincar com fogo numa sala mobiliada com dinamite.

show em curso já nada tem a ver com a Síria. O conflito já é item da campanha eleitoral nos EUA. Tem a ver também com a necessidade muito estúpida, de algumas nações ainda sem barba na cara, de mostrar ao mundo que o pinto de uma é maior que o pinto da outra. Absurdo estúpido e mortal, que assassinará mais inocentes na plateia e nada resolverá.*****






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