sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Por que os norte-americanos estão furiosos com Wall St. e Washington

entre tantos outros em todo o mundo...


12/8/2016, Pam Martens e Russ Martens, Wall Street on Parade


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

AVISO AOS NAVEGANTES: "Hoje o Cxxxxxxx está NOVAMENTE inchado com mais de $2 trilhões de dólares (face amount) dos mais arriscados derivativos, credit default swaps, dos mesmos que derrubaram AIG e ajudaram a fazer do Cxxxxxxx objeto do maior 'resgate' pago com dinheiro dos contribuintes, de toda a história dos EUA."


Ontem publicamos nosso 1.007º artigo nesse blog Wall Street On Parade, sobre o insidiosamente corrupto sistema financeiro nos EUA conhecido como Wall Street. Trata-se de sistema que já opera como mecanismo institucionalizado de transferência de riqueza que está destruindo os meios de sobrevivência da classe média nos EUA e condenando a viver na miséria uma de cada cinco crianças norte-americanas, ao mesmo tempo em que canaliza o que saqueia dos cidadãos, para 1/10 do 1% mais ricos.

Dezenas de milhões de norte-americanos compreendem claramente que um sistema de corrupção tão profundamente entrincheirado como esse, perpetuado por uma porta giratória que conecta Wall Street e Washington, e furiosamente defendido por um sistema de financiamento de campanhas eleitorais que recicla parte do que saqueia para garantir que saqueadores ainda maiores cheguem e permaneçam no poder, inevitavelmente deixará em ruínas a economia norte-americana – mais uma vez. 

Isso porque a corrupção sistêmica legalizada dentro das artérias financeiras dos EUA e de um vasto sistema mundial por ela alimentado só pode levar a resultados econômicos doentiamente perversos.

O papel de Wall Street é (deveria ser) alocar capital de forma equânime e eficiente para maximizar os resultados positivospara a nação. Sob o modelo atual, Wall Street está focada exclusivamente em maximizar lucros de todos os modos possíveis, inclusive fraude e colusão, para maximizar o enriquecimento pessoal de alguns poucos. Quando o senador Bernie Sanders dizia em comícios e num debate presidencial que "o modelo de negócios de Wall Street é a fraude" – havia, como há, um longo e consistente arquivo de fatos que comprovam aquelas palavras.

Considerem-se as práticas intensivamente corruptas dos analistas de pesquisas de Wall Street, que levaram ao crash da bolsa Nasdaq no início do século 21. Escrevendo no New York Times dia 5/3/2001, Ron Chernow disse-o com absoluta precisão: "Sejamos bem claros sobre a magnitude do colapso de Nasdaq. A queda foi tão violenta e tão sangrenta – quantia próxima de $4 trilhões em valor de mercado foi apagada do mundo em um único ano –, que equivale a quase quatro vezes a carnificina registrada no crash de outubro de 1987." Chernow comparou o mercado Nasdaq de ações, recheado de empresas infladas pelo sistema deliberadamente corrupto das pesquisas de Wall Street, a uma "torre lunática de controle que dirigisse todos os aviões que chegassem para uma mesma pista de pouso, pequena e congestionada conhecida como "Nova Economia", enquanto outra pista, a "Velha Economia" definhava, deserta, até a estagnação total. O mercado funcionou como mecanismo gigante e errático para alocar mal todos os capitais que circulavam nos EUA" – disse Chernow.

A recompensa financeira por esse modelo corrompido fluiu para os analistas de pesquisas nas maiores firmas de Wall Street e seus presidentes e 'boards' que passaram a mão em bônus gerados pelos 'lucros' gigantescos. O garoto-propaganda daquele tempo era Jack Grubman, analista de Salomon Smith Barney, um dos braços do Cxxxxxxx, de corruptos seriais. Grubman foi acusado pela Securities and Exchange Commission (SEC), de fraudar pesquisas. Jamais foi julgado nem criminalmente acusado. Simplesmente pagou multa de $15 milhões, perdeu a licença para operar na indústria e saiu de circulação, milionário. Segundo a SEC, o ganho pessoal de Grubman na empresa Salomon Smith Barney "superou $67,5 milhões, incluído o pacote de indenização." 

Vejam bem: você é expulso e impedido de trabalhar na indústria onde sempre trabalhou, acusado de corrupção; e recebe pacote gigante de 'indenização'. Não há prova mais cabal e perfeita de que a fraude já é vista e aceita como (i) modelo de negócio; e (ii) geradora de lucros muito significativos, em Wall Street.

Depois do colapso de Nasdaq em 2001, nada foi feito para alterar materialmente o modelo da corrupção sistêmica. De fato, a corrupção até se ampliou, aceleradamente. Em vez de alocar capitais para construir novas indústrias e novos empregos e preservar o futuro dos EUA, Wall Street alocava capitais para derivativos pouco sólidos e emprestadores sem condições mínimas para saldar as dívidas (ing. subprime borrowers), condição conhecida e comprovada pelas próprias pesquisas e avaliações internas das próprias financeiras. Wall Street então 'terceirizou' os derivativos de risco para AIG e chantageou Freddie Mac e Fannie Mae para que adquirissem a dívida tóxica impagável e incobrável. As três empresas colapsaram sob o peso dessa ação de Wall Street, ação perfeitamente corruptiva; mas as três, somadas, receberam mais de $367 bilhões de dinheiro dos contribuintes a título de 'resgate'.

Em nosso relatório exclusivo do dia 20/5/2016, explicamos como o governo dos EUA em anos recentes continuava silenciosamente a pagar bilhões de dólares a bancos de Wall Street a favor de Freddie Mac e Fannie Mae por derivativos que ainda pesam sobre aquelas empresas. Os cidadãos continuam à espera de qualquer explicação que faça sentido, sobre o que se passa, até hoje, com aqueles derivativos.

Os resgates em Wall Street dos quais a opinião pública foi informada durante a quebradeira de 2008 e imediatamente depois, foram dinheiro de bolso, se comparados aos $13 trilhões de empréstimos cumulativos que o Federal Reserve estavarepassando secretamente para seus camaradas banqueiros de Wall Street a taxas de juros muito inferiores às do mercado. Enquanto o Cxxxxxxx cobrava de seus desgraçados consumidores, no auge da crise que o grupo ajudou a construir, mais de 15% nos cartões de crédito, o grupo estava recebendo secretamente transfusão de mais de $2 trilhões em empréstimos cumulativos desde 2007 até, no mínimo, 2010, que lhe vinha do banco central nacional dos EUA, grande parte da qual com juros de menos de 1%.

A quebradeira cataclísmica de 2008 resultou em promessas feitas pelo governo Obama, de que a legislação financeira Dodd-Frank reformaria para sempre o saque oficializado praticado por Wall Street. Não apenas Wall Street não foi reformada como passou a agir com arrogância ainda mais irrestrita. Vejam o seguinte:

Dia 16 de fevereiro desse ano, esse blog noticiou que "o board da AIG acaba de nomear o titã dos fundos hedge, John Paulson de Paulson & Company, para a diretoria da empresa – apesar de o nome de Paulson aparecer em denúncia da SECcomo partícipe ativo e informado do desgraçado negócio de Goldman Sachs concebido para tungar investidores, ao mesmo tempo em que enchia os bolsos de Paulson e Goldman Sachs. Embora Paulson não tenha sido processado pela SEC, a denúncia demonstra e comprova que ele teve papel protagonista no negócio e lucrou muito, em detrimento dos investidores fraudados."

Sheila Bair presidia a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), a agência federal dos EUA que protege os depósitos de nossos bancos nacionais, durante o crash financeiro de 2008. Depois que deixou o cargo, Bair escreveu o livro-documento definitivo sobre a crise, Bull by the Horns. No livro, Bair expôs a tramoia oficial, comandada pelo governo, que blindou o Cxxxxxxx durante a crise:

"Em novembro, o supostamente solvente Cxxxxxxx estava outra vez nas cordas, outra vez precisando de novo repasse. O mercado não comprou a estratégia do Office of the Comptroller of the Currency (OCC) e do Fed de New York de fazer parecer que o Cxxxxxxx gozava de tão boa saúde quanto os demais bancos comerciais. O Cxxxxxxx não tinha trimestre com lucros desde o segundo trimestre de 2007. As perdas não eram explicáveis por 'condições incontroláveis de mercado'; só eram explicáveis por administração de péssima qualidade, altos níveis de alavancagem e aceitação de riscos excessivos. Sofreu novas grandes perdas pela alta exposição a uma lista 'das 10 mais' modalidades de empréstimos de alto risco, hipotecas a tomadores sem condições de pagá-las (ing. subprime mortgages), hipotecas ‘Alt-A’, cartões de crédito 'dirigidos', empréstimos alavancados e (ing.) poorly underwritten commercial real estate). Estava carregado de (ing. exotic CDOs and auction-rate securities). Estava perdendo (ing. on credit default swaps entered into with weak counterparties, and it had relied on unstable volatile funding – a lot of short-term loans and foreign deposits). Quem queira fazer uma lista definitiva de todas as más práticas que levaram à crise precisa apenas copiar a relação das práticas financeiras do Cxxxxxxx (...) Além disso, praticamente nenhuma medida significativa de supervisão foi adotada contra o banco, nem pelo [gabinete] OCC nem pelo Fed de NY (...) Ainda pior: oOCC e o Fed NY ativamente se distanciaram, enquanto aquele banco doente continuava a pagar altos dividendos e a fingir que gozava de perfeita saúde."

Considerem o que está acontecendo hoje no Cxxxxxxx, que continua sem qualquer supervisão pelos incontáveis serviços federais de regulação. Hoje o Cxxxxxxx está inchado com mais de $2 trilhões de dólares (face amount) dos mais arriscados derivativos, credit default swaps, dos mesmos que derrubaram AIG e ajudaram a fazer do Cxxxxxxx objeto do maior 'resgate' pago com dinheiro dos contribuintes, de toda a história dos EUA.

Considerados esses fatos em campo, mais um(a) presidente(a) dos EUA que decida 'não mexer' com Wall Street ao mesmo tempo em que encha o próprio gabinete com prepostos de Wall Street, estará condenando nossa nação a estado terminal de aleijão financeiro.*****


Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente texto que no geral confirma o que tenho dito em meus comentários na rede sobre o sistema político-econômico mais corruto do mundo que é a plutocracia dos eua, e seu sistema de porta giratória onde interesses privados e públicos se misturam de uma forma que não poderia ser mais promíscua.
Isso tudo que o texto aborda está magistralmente exposto num dos melhores documentários que já assisti, Inside job ou Trabalho interno. Obrigatório para quem quer entender como funciona o país mais corrupto do mundo.
http://vimeo.com/39018226
Trabalho Interno - Inside Job
Aqui dá pra ver o que acontece onde as “leis do mercado” se impuseram aos interesses da maioria após deslocarem a política do seu papel de mediação dos conflitos dentro daquela sociedade e tambéma atuação das tais "agências de risco" na "garantia" dos papéis podres da crise do "sub prime".