05.11.2016 - Martin Berger, New Eastern Outlook
tradução btpsilveira
Uma série de eventos recentes no Oriente Médio está resultando no engajamento cada vez mais efetivo da China no desenvolvimento do conflito sírio. A razão principal está no envolvimento cada vez mais crescente de terroristas uigures do ETIM (East Turkestan Islamic Movement, em inglês, Movimento Islâmico do Turquistão Oriental – NT), o qual, de acordo com uma reportagem do The Long War Journal, tem lutado contra as forças governamentais da Síria ao lado do Estado Islâmico. Além disso, há relatos que dão conta que o movimento estaria envolvido na batalha por Alepo. O grupo é largamente conhecido através do globo por seus laços muito próximos com Al-Qaeda e por suas intermináveis apelos pelo separatismo dentro da Região Autônoma dos Uigures de Xinjiang (XUAR, na sigla em inglês – NT), da China.
Convém não esquecer que os uigures são muçulmanos que falam turco e residem tanto nas áreas urbanas quanto nas rurais ao redor do deserto de Taklamakan, exatamente a região por onde passava a antiga Rota da Seda. Desde os anos 90, essas terras deram origem a dois grupos: o Congresso Uigur Mundial, que luta pela independência através de meios “pacíficos” e o ETIM, que escolheu a opção terrorista. O gabinete central do Congresso Mundial está localizado em Nova Iorque e goza de imenso apoio dos Estados Unidos, que o utilizam sempre que precisam criticar o “autoritarismo” do governo chinês. Por seu lado, o ETIM há tempos estabeleceu-se em bases operacionais no Wazaristão, as quais permanecem independentes de fato e fora do alcance do governo paquistanês.
Com a Síria abarrotada de mercenários estrangeiros os militantes do ETIM também se deslocaram para o país arrasado pela guerra. Há relatos confiáveis de que existe um grande número de militantes do ETIM nos quadros da Jabhat-al-Nusra (que agora está tentando renomear-se como Jabhat Fateh al-Sham). Com o ETIM se tornando cada vez mais engajado na guerra da Síria, a chegada das tropas chinesas era apenas questão de tempo. Mais que isso, o Iraque e a Síria se tornaram campo de provas para teste de novas armas e táticas, e seria improvável que a China deixasse passar a oportunidade.
Em agosto passado, o contra almirante chinês Guan Yufeen, que lidera o gabinete de cooperação militar internacional encontrou-se com o Ministro da Defesa da Síria, Fahedom Jassem Al-Frege em Damasco. O encontro permitiu a discussão pelas partes da possibilidade de ajuda ao exército regular da Síria através de conselheiros militares chineses. Mais: as partes chegaram a um consenso quanto à entrega de ajuda militar e humanitária para a Síria em troca da posição síria em apoio a Pequim nas questões relativas ao Mar do Sul da China.
Desde agosto de 2015 o Parlamento Chinês já aprovara a primeira lei do país na guerra ao terrorismo, a qual permite que seu exército se envolva em operações antiterroristas no estrangeiro e por consequência o envolvimento da China na Síria estaria em perfeito acordo com as leis do país. A alavanca que faltava para o envolvimento da China no conflito sírio veio quando Pequim tomou conhecimento de evidências irrefutáveis de que um esquadrão bem treinado e organizado do ETIM se encontrava operando regularmente em suas bases na Síria.
Aliás, a China também tem seus próprios interesses na Síria. Desde antes do início da guerra, Damasco já era um dos maiores parceiros de Pequim, com um total de dois bilhões de dólares em volume de negócios, e Pequim não faz o menor segredo que empresas chinesas pretendem investir em extração de petróleo em solo sírio. Por conseguinte, Pequim tem interesse em fortalecer sua presença no Oriente Médio e claramente seria beneficiada ao prestar assistência para a reconstrução da infraestrutura civil e industrial do país pelo governo sírio.
Pequim estava muito desapontada com a explosão da assim chamada “primavera árabe”, a cadeia de “revoluções coloridas” que abalaram a região em seu núcleo. A China tinha investido pesado no oriente Médio e providenciara empréstimos ao governo sírio, que desempenharam um papel central na ajuda a Damasco que pode continuar a alimentar seu povo nestes tempos de necessidade. Porém Pequim prefere não se envolver ostensivamente no conflito sírio, devido aos seus interesses diversificados na região. Por um lado – tem uma parceria bem sucedida com o Irã e por outro lado, fez investimentos pesados e tem alto volume de comércio com as poderosas nações seculares sunitas bem como com os regimes autocráticos, entre eles, Arábia Saudita e Qatar.
Mas se a China antes se limitava a fornecer blindados leves e pequenas armas para o exército sírio, agora finalmente se decidiu a dar assistência a Damasco através do treinamento de seu exército. No entanto, o exército chinês não tem muito experiência em conflitos desse tipo, e aparentemente não será capaz de prestar bons serviços neste campo, mas pode treinar atiradores, sinalizadores, motoristas, mecânicos e especialistas em reparos. Afinal de contas, muitos sistemas de artilharia fabricados na Rússia e que estão em ação no teatro sírio também são largamente utilizados pelo exército chinês.
Além disso, não se pode esquecer que a China pode querer providenciar para suas tropas algum treinamento em condições reais de combate, que até este momento, se limitaram a operações especiais contra separatistas em Xinjiang e expedições pacificadoras, por exemplo, em Mali e Sudão do Sul. Não se pode desprezar a possibilidade de vermos em breve a instalação de tropas chinesas na Síria em futuro próximo. Afinal, a China acompanha de perto as instalações russas que estão sendo levadas a cabo na Síria, e os generais chineses adorariam testar suas armas, sistemas militares, táticas e o sistema chinês de posicionamento global. Quão extensa será o envolvimento não dá para prever, mas é certo que exército sírio necessita de toda e qualquer ajuda que conseguir neste momento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário