Entreouvido na Vila Vudu:
No Brasil, Fernando Henrique Cardoso já cuida da própria sobrevivência pós-Clintons.
Quem tem u tem medo [pano rápido].
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A China está fazendo a transição, do governo Barack Obama que se encerra, para o próximo governo Donald Trump, impressionante facilidade e elegância.
Os presidentes de China, EUA e Rússia participam da reunião de cúpula da Cooperação Econômica do Pacífico Asiático (CEPA) [ing. Asia-Pacific Economic Cooperation (APEC)] em andamento no Peru. Mas só o presidente Xi Jinping agendou encontros com os dois presidentes, Barack Obama e Vladimir Putin. Os dois outros sequer estão em posição de manter conversa em termos adequados.
O Ministério de Relações Exteriores da Rússia lamentou na 5ª-feira passada que o governo Barack Obama que parte tenha usado "truques sujos" para viciar deliberadamente as relações entre russos e norte-americanos e que "a Casa Branca continua a degradar a atmosfera de relações bilaterais até o último dia de governo da administração que está de saída." É raro ataque direto ao próprio Obama e aos "destróiers e 'terminators' de relações Rússia-EUA em Washington."
Obama pagou na mesma moeda no mesmo dia, ao falar com a mídia em Berlin, com a chanceler Angela Merkel ao lado; pediu publicamente ao presidente eleito Trump que "oponha-se à Rússia onde os russos desviem-se de nossos valores e das normas internacionais". Obama alega que a Rússia não põe fim aos "ataques bárbaros" na Síria e insistiu que tem "prova muito clara" de que o Kremlin dedica-se a ciberataques contra os EUA.
Bem diferente disso, a rede Xinhua noticiou de Lima, no sábado, que a reunião entre Xi e Obama aconteceu sob clima extremamente suave e cordial. Xi "elogiou o trabalho do presidente dos EUA no desenvolvimento de relações bilaterais, especialmente a decisão conjunta de construir um novo tipo de altas relações entre China e EUA que guiaram os dois países a alcançarem progressos significativos nas relações bilaterais."
Xi partilhou com Obama sua intenção de trabalhar com Trump para "expandir a cooperação em vários campos, nos níveis bilateral, regional e global, e administrar as diferenças de modo construtivo, de modo a alcançar relacionamento não confrontacional, de respeito mútuo e cooperação ganha-ganha, promovendo os laços entre China e EUA ainda mais á frente, de um novo ponto de partida."
Do mesmo modo, Obama relembrou seus "contatos próximos" com Xi e que conseguiram estabelecer "relacionamento honesto, amigável e construtivo e ampliar a confiança mútua". Obama recordou que os dois "uniram as mãos para confrontar desafios e efetivamente administraram as diferenças, ao mesmo tempo em que mecanismos bilaterais de consultas e cooperação geraram resultados proveitosos". E Xinhua acrescenta:
"Obama disse a Xi que destacou a importância das relações EUA-China para o presidente eleito Trump, e que insistiu que a transição dos laços bilaterais deve ser suave, depois das eleições nos EUA. O lado dos EUA está disposto a desenvolver relação mais sustentada e frutífera com a China, disse Obama."
O contraste não poderia ser mais agudo. Obama 'alerta' Trump de que a Rússia é país problemático, com o qual a Rússia tem de ter cuidado e só pode manter cooperação seletiva, mas via caminho promissor à frente nas relações entre EUA e China no turno de seu sucessor. Dito de modo simples, é pouco provável que haja resistência institucional do establishment e da comunidade das Relações Exteriores dos EUA contra engajamento de Trump com China, ainda que venha a mudar a pegada e passar a um robusto 'bilateralismo' na negociação com a China sobre comércio e questões de moeda.
A Rússia está preocupada com a possibilidade de que Merkel e muitos outros líderes europeus oponham-se com unhas e dentes a qualquer erosão no papel de liderança transatlântica dos EUA. Mas a China não deu sinal de qualquer incômodo depois que o primeiro-ministro do Japão Abe reuniu-se, em reunião acertada com urgência, com Trump, semana passada. O Global Times chegou a ser sarcástico:
Abe foi a New York cornetear a favor da continuação do "Pivô para a Ásia" dos EUA, mas não se atreveu a vazar uma palavra sobre o encontro com Trump e não deu sinal de que tenham chegado a qualquer acerto estratégico. Não conseguiu a pílula tranquilizante que esperava obter de Trump nem conseguiu convencer outros aliados asiáticos dos EUA de que Trump não mudará as políticas dos EUA para a Ásia."
Em comentário extraordinário no sábado, Xinhua defendeu o caso do Pacífico-Asiático com Trump, em relação a um acordo de livre comércio – com a ressalva, claro, de que diferente da moribunda Parceria Trans-Pacífico, qualquer plataforma de integração regional tem de incluir a China.
O comentário alerta Trump contra o isolacionismo e o intervencionismo, convocando os EUA a trabalharem ativamente com a China, para manter o status quo internacional. "O bilionário convertido em político tem de provar que a meta de desencaminhar a economia global não foi uma das razões pelas quais concorreu à presidência dos EUA," – disse Xinhua.
Pequim aborda a transição iminente em Washington de modo claramente seguro e firme, em comparação ao nervosismo palpável em Moscou, embora não se tenha notícia de que a China conte com alguém comparável ao 'amigo da Rússia' Michael Flynn (citado para o posto de Conselheiro de Segurança Nacional) no círculo íntimo das amizades do presidente eleito.
Essa segurança explica-se largamente em termos da pesada interdependência que se desenvolveu entre EUA e China, bem como pela realidade objetiva que Trump absolutamente não pode deixar de conhecer, de que os EUA só prosperarão se a China prosperar.
Contudo, nada disso é dito para minimizar os sucessos da diplomacia chinesa, na calibração fina da delicada competição-com-cooperação com os EUA e descarte da mentalidade de soma zero. A reunião no Peru no sábado não mostrou nem vestígio de que os dois países tenham vivido em confronto nas disputas no Mar do Sul da China e noutros pontos. A China está elegantemente fechando a cortina e encerrando a era Obama.*****
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