sexta-feira, 11 de maio de 2018

Guerra ao Irã, para manter Netanyahu no poder, por Elijah J. Magnier

4/5/2018, Elijah J. Magnier, de Beirute, EJM Blog

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu





O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de Israel declarou guerra 'preventiva' ao Irã e deu ordens para que sejam atacados alvos iranianos selecionados na Síria. Tudo para convencer Israel politicamente de que o país está "em guerra com o Irã". Netanyahu segue, de fato, a mesma política já adotada antes por George W. Bush, durante sua "guerra ao terror", quando mobilizou os EUA de ponta a ponta e criou ambiente propício a qualquer violência.


Ao escolher essa via para injetar na população o medo de guerra iminente, o primeiro-ministro de Israel caminha à beira do abismo, confiando em que o Irã saberá se autoconter e não se deixará arrastar para guerra que nem Netanyahu acredita realmente que ele próprio consiga desencadear.

Netanyahu está explorando uma situação de tensão que ele criou, ao atacar alvos iranianos na Síria (os iranianos estavam usando o aeroporto militar T-4, e dias depois outras bases militares sírias), na tentativa de arrastar Teerã para confronto direto. As forças iranianas sabem que não estão em território próprio e não querem envolver o governo sírio numa guerra pelos termos e conforme cronograma que só interessa a Israel, sobretudo quando a prioridade é libertar os bolsões que ainda restam em torno de Damasco e nas áreas rurais de Homs e Hama.

Netanyahu está evidentemente explorando o "relacionamento especial" que o liga ao presidente Donald Trump dos EUA e a inimizade entre Trump e a República Islâmica. Trump cercou-se de falcões-urubus interessados em atacar o Irã, buscando beneficiar-se de qualquer guerra em que forças dos EUA consigam envolver-se, desde que em território sírio e em bases militares que cercam o Irã.

Netanyahu também tenta tirar vantagem de seu relacionamento privilegiado com – e do apoio financeiro de – alguns países do Oriente Médio (principalmente Arábia Saudita), que abriu caminho para levar todos esses relacionamentos a um nível ao qual Israel jamais teve acesso antes. Israel e Arábia Saudita, estranhos parceiros, muito apreciariam ver o Irã e aliados do Irã (i.e. o Hezbollah libanês) ou destruídos ou muito enfraquecidos.

Contudo, todos os lados tentam manter a Rússia à margem de qualquer confronto futuro, contando sempre, com muito otimismo, com que o Kremlin não se envolva nessa tensão que vai aumentando lentamente, com o Irã, apesar de forças iranianas estarem combatendo lado a lado com forças russas na Síria.

Os EUA são governados hoje por presidente que declarou sua hostilidade ao Irão desde o primeiro dia no poder, e que quer revogar o acordo nuclear, apesar de, desde o primeiro dia de governo de Trump, Washington jamais ter cumprido o que o acordo determina.

Segundo fontes bem informadas na capital do Líbano, Beirute, o Irã crê que os EUA não revogarão o acordo nuclear, apesar de Trump jamais o ter cumprido, desde que pisou na Casa Branca. Na verdade, Trump violou vários dispositivos do acordo nuclear, ao conclamar a Europa a não negociar com o Irã; ao se recusar (apenas para citar algumas violações) a entregar peças de reposição para aviões comerciais; e ao impedir que fosse emitida uma licença para compra de aviões Airbus já aprovada pelo ex-presidente Barack Obama (sob protestos de Israel).

O primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu sabe que talvez consiga safar-se se atingir forças iranianas (e não causar grande dano), mas só se acontecer na Síria. Atacar diretamente o Irã em território iraniano com certeza causaria guerra mais ampla, em vários fronts, com envolvimento de outros países nos quais estão presentes aliados do Irã (no front Líbano, Síria e Iraque). Essa guerra improvável fecharia definitivamente o tráfego aéreo sobre todo o Oriente Médio, dado o "congestionamento" de mísseis em todas as direções e o risco para civis. Os navios-petroleiros e a navegação em geral seriam também impedidos, e os oleodutos no Oriente Médio seriam provavelmente bombardeados e destruídos. Bases militares no Irã, Israel, Síria, Líbano e outras bases dos EUA no Oriente Médio seriam, todas, alvos potenciais.

No caso desse cenário, o Oriente Médio deslizaria para dentro de uma irrupção vulcânica. Por mais que o Irã e aliados possam ser seriamente atingidos, deve-se dizer que o Irã de hoje já não é o que foi há 5, 10 anos. O potencial militar dos iranianos é hoje muito maior, e os oponentes do Irã devem esperar dano significativamente mais grave.

A tempestade israelense inventada por Netanyahu na xícara de chá sírio, ao atingir alvos iranianos deve desencadear resposta do Exército Sírio, para dissipar as tensões. Em teoria é assunto sírio – não iraniano – responder aos ataques israelenses, porque foram feitos em território sírio contra forças (Irã, Hezbollah e Rússia) que lá estão porque foram chamadas pelo governo sírio para ajudar a derrotar os jihadistas salafistas wahhabistas.

Os russos estão cumprindo um papel de combater incêndios na Síria, que com certeza não conta com amor e apoio dos israelenses. Apesar da situação de "não antagonismo" entre Telavive e Moscou, a Rússia está incomodada com as repetidas provocações israelenses que visam a ampliar o conflito. O Kremlin não quer que o conflito sírio tome algum rumo que leve outra vez a guerra aberta. Em todos esses anos de combates na Síria, os russos têm atentamente resistido a todas as provocações que visam a expandir a guerra na Síria e convertê-la em conflito muito mais amplo.

Quando a Rússia sofreu o primeiro golpe, da Turquia, que derrubou o avião russo no final de 2015, a reação limitou-se a ataques contra 'agentes' da Turquia nos arredores e sanções econômicas contra Ancara. 

Os russos também deixaram passar o ataque dos EUA contra fornecedores da Rússia em Deir al-Zour; a presença dos EUA entrincheiradas na fronteira em al-Tanf (impedindo que Iraque e Síria retomem as trocas comerciais por esse importante ponto de fronteira) e nas províncias do nordeste, al-Hasaka e Deir-ezzour (impedindo que forças aliadas da Rússia cruzem o rio Eufrates para combater o Estado Islâmico e retomem o acesso às fontes de energia do norte): tudo isso a Rússia engoliu e digeriu, manifestando considerável autocontrole e se autoimpedindo de reagir às provocações dos EUA na Síria.

Ainda mais, Trump disparou mísseis cruzadores contra o aeroporto militar sírio de Shuayrat e depois, esse ano, lançou outro ataque de mísseis contra vários objetivos – e nem assim conseguiu disparar alguma retaliação russa, só houve reação defensiva. 

Vê-se assim que a política do presidente Vladimir Putin é de mostrar-se contido e moderado, consciente de que a "grande guerra" com que Trump e Netanyahu sonham ensandecidamente teria custo alto demais para todos os que se envolvessem nela, e se alastraria para além do Oriente Médio.

Putin, pois, mostra sabedoria e autocontrole na arena internacional, onde o presidente Trump dos EUA e o primeiro-ministro Netanyahu de Israel só fazem bater tambores de guerra sem considerar as consequências destrutivas da guerra que tanto querem ver surgir e alastrar-se pelo mundo.

Trump, Netanyahu e a Arábia Saudita estão hoje associados na seguinte dinâmica:


– Trump vive de abusar da Arábia Saudita, pedindo dinheiro e mais dinheiro para proteger a monarquia de si mesma, para pagar pelas tropas dos EUA na Síria e para ajudar a economia dos EUA, com suas infinitas compras de mais e mais armas.

– A Arábia Saudita aceita ser chantageada pelos EUA, aceita todos os termos que EUA inventem e satisfaz a ânsia de Trump por dezenas e dezenas de bilhões de dólares. Acima de tudo, a Arábia Saudita acolhe Israel e inicia relacionamento aberto, para encorajar todos os demais árabes a fazer o mesmo, com o que isolariam o Irã (e seus aliados) na flagrante visível contra Israel.

– Movida pelo ódio ao Irã, a Arábia Saudita aceita a chantagem que Washington lhe aplica, contanto que Teerã e aliados na Síria e no Iêmen (e também no Líbano, sendo o caso) sejam destruídos. Em troca, os EUA "declaram guerra" ao acordo nuclear iraniano, e Israel declara guerra ao Irã (mas só em território sírio).

– Israel põe-se à frente e força um estado de guerra psicológica contra o Irã e o Hezbollah, e ataque bases militares do Irã, na Síria. Netanyahu faz-se de celebridade midiática.

– A Arábia Saudita – em ação combinada com o Irã – faz subir o preço do petróleo, para reforçar o próprio caixa e compensar a pesada carga financeira que os EUA impõem à monarquia – mesmo sabendo que o aumento dos preços do petróleo aumentará os ganhos do petróleo no Irã e na Rússia.

Contudo, mesmo que a guerra com o Irã esteja descartada, ainda há alta probabilidade de que as provocações de Israel contra o Irã prossigam na Síria. Esse é assunto de discussões diárias e ininterruptas entre os aliados no Levante. 

O Irã sabe que tem de pagar por suas vitórias de todos os últimos anos no Iraque, Síria e Líbano, e pelo apoio aos Houthis no Iêmen. Vitórias iranianas significam derrota saudita. E os recém aliados Arábia Saudita, EUA e Israel estão furiosos e procurando vingança.

E ainda não é tudo: o Irã é livre para ficar ou sair do acordo nuclear, que permanece válido e não se cancela apenas porque EUA retirem-se unilateralmente. O Irã conta com apoio de russos e chineses. Ambos esses países apoiarão Teerã na ONU e impedirão que seja aprovada qualquer resolução contra o Irã, no Conselho de Segurança. O Irã sabe bem das diferenças que há entre Europa e os EUA em torno do acordo nuclear, mas também vê claramente que Washington ainda não mostrou o cartão vermelho à Europa para lhe impor o desejo dos EUA. Em algum momento no futuro, a chantagem se consumará (ou não), e é ainda possível que Trump arraste com ele toda a UE.

Nesse quadro, o primeiro-ministro de Israel, para manter a cabeça fora d'água no tanque doméstico, meteu-se num jogo perigoso, em área muito sensível, fingindo que Teerã não teria real possibilidade de reação real. 

Será que Netanyahu supõe que Israel possa mesmo empurrar todo o Levante para conflito real, e que Teerã tudo aceitará sem reagir? Estará entregando o próprio destino à sabedoria de Putin e do Aiatolá Ali Khamenei, certo de que ambos o deixarão brincar como perfeito doido, sem nunca o atacarem pelos próprios termos? Será que Netanyahu crê, mesmo, que essa hora jamais chegará? 

O preço que Netanyahu talvez tenha de pagar por embaralhar a política exterior e a política doméstica de Telavive pode ser, sim, extremamente alto.*******

Um comentário:

Anônimo disse...

Quero estar vivo p ver eua e seus capachos ruirem por tanta atrocidade contra povos no mundo inteiro