5/11/2018, Alastair Crooke, Strategic Culture Foundation / Zerohedge / Conflicts Forum
Entreouvido na Vila Mandinga:
Muito do que aqui se lê ajuda a compreender o neossurto de interesse obsessivo de Israel & EUA pela América Latina.
Desde Bush havia quem ensinasse no Brasil que
“melhor que elejam Bush. Com Bush eles se afundam no Oriente Médio e deixam em paz a América Latina”. BINGO!
Foi o tempo que governos democráticos aproveitaram muito bem na América Latina – embora pouco tenham feito para preparar o povo para a desgraça que fatalmente cairia sobre nós, e caiu. Agora, infelizmente, a ‘folga’ acabou.
Não acabou por algum tipo de ‘mérito’ dos EUA e de Israel, mas EXCLUSIVAMENTE porque a Resistência Árabe (libanesa, síria, iraniana, palestina) fez a balança pender muito decisivamente contra EUA e Israel. Então o mal absoluto – que destruiu o Oriente Médio, mas, que, sim, pode já ter começado a ser derrotado lá mesmo –, chegou, afinal, ao Brasil. As camisetas dos dois facínoras traidores do Brasil não são acaso.
(Homenagem in memoriam do Embaixador Arnaldo Carrilho, amigo da Vila Mandinga, e primeiro representante diplomático do Brasil na Palestina, em Ramallah, nomeado pelo Chanceler Celso Amorim, orgulho do Brasil.
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Muito do que aqui se lê ajuda a compreender o neossurto de interesse obsessivo de Israel & EUA pela América Latina.
Desde Bush havia quem ensinasse no Brasil que
“melhor que elejam Bush. Com Bush eles se afundam no Oriente Médio e deixam em paz a América Latina”. BINGO!
Foi o tempo que governos democráticos aproveitaram muito bem na América Latina – embora pouco tenham feito para preparar o povo para a desgraça que fatalmente cairia sobre nós, e caiu. Agora, infelizmente, a ‘folga’ acabou.
Não acabou por algum tipo de ‘mérito’ dos EUA e de Israel, mas EXCLUSIVAMENTE porque a Resistência Árabe (libanesa, síria, iraniana, palestina) fez a balança pender muito decisivamente contra EUA e Israel. Então o mal absoluto – que destruiu o Oriente Médio, mas, que, sim, pode já ter começado a ser derrotado lá mesmo –, chegou, afinal, ao Brasil. As camisetas dos dois facínoras traidores do Brasil não são acaso.
(Homenagem in memoriam do Embaixador Arnaldo Carrilho, amigo da Vila Mandinga, e primeiro representante diplomático do Brasil na Palestina, em Ramallah, nomeado pelo Chanceler Celso Amorim, orgulho do Brasil.
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Traduzido pelo Coletivo Vila Mandinga
Nahum Barnea, conhecido colunista israelense, em coluna para o jornal Yedioth Ahronoth em maio (em hebraico), expôs com perfeita clareza o ‘negócio’ que há por trás da política de Trump para o Oriente Médio.
“Logo depois de os EUA saírem (saíram dia 8/5/2018) do Acordo Nuclear com o Irã [oficialmente Plano Conjunto de Ação, ing. Joint Comprehensive Plan of Action, JCPOA] e porque saíram, Trump” – escreveu Barnea – “ameaçará fazer chover ‘fogo e fúria’ sobre Teerã (...), na expectativa de que Putin impeça o Irã de atacar Israel a partir do território sírio, o que deixará Netanyahu livre para fixar ‘novas regras do jogo’, pelas quais Israel possa atacar e destruir forças iranianas em qualquer ponto na Síria (não só na área de fronteira, como antes acertado), quando bem entenda, sem temer retaliação”.
Foi o nível 1 da estratégica de Netanyahu: conter o Irã, plus os russos concordarem com operações aéreas israelenses coordenadas sobre a Síria.
“Só há uma coisa que não está clara [nesse negócio]”–, disse um alto oficial da Defesa israelense dos mais próximos de Netanyahu [Al Monitor, 9/5/2018, Ben Caspit], – e é “quem trabalha para quem? É Netanyahu a serviço de Trump ou é o presidente Trump a serviço de Netanyahu. (...) Vista a coisa pelo lado de fora (...) parece que os dois estão em perfeita sincronia. Vista pelo lado de dentro, parece ainda mais. É o tipo de cooperação (...) que às vezes faz crer que os dois trabalham num só grande gabinete”.
Desde o início também houve um nível 2:
Essa ‘pirâmide invertida’ da engenharia no Oriente Médio sempre teve, como único ponto de partida, o conhecido MbS (Mohammed bin Salman).
Foi serviço de Jared Kushner, noticia o Washington Post. O genro do presidente Trump “apresentou e inflou Mohammed como reformador posicionado para fazer a ultraconservadora monarquia do petróleo entrar na modernidade. Kushner insistiu e insistiu privadamente, por meses, ano passado, que MbS seria chave para construiu um plano de paz para o Oriente Médio, e que, com as bênçãos do príncipe, grande parte do mundo árabe acompanharia”.
Foi Kushner, o Post continuou, “quem convenceu o sogro a fazer a primeira viagem como presidente precisamente a Riad, contra as objeções do então secretário de Estado Rex Tillerson – e conselhos do secretário de Defesa Jim Mattis”.
OK. Agora, MbS está envolvido, de um modo ou de outro, no assassinato de Khashoggi. Como Bruce Riedel da Brookings [Institution], que há muitos anos observa os sauditas, e ex-funcionário sênior da CIA e da Defesa dos EUA, observa, “pela primeira vez em 50 anos, o reino tornou-se fator de instabilidade” (não mais de estabilidade na região), e sugere que já há evidentes sinais de ‘arrependimento de comprador ludibriado’, em setores de Washington.
O ‘processo de gabinete perfeitamente costurado’ ao qual se referiu o oficial israelense em conversa com Caspit, recebe, nas comunidades de inteligência, o nome de ‘via da chaminé’ [ing. ‘stovepiping’]: quando o desejo de um estado estrangeiro é soprado diretamente para cima, dentro do ouvido de um presidente, sem passar pelas ‘vias’ da Washington oficial; e assim escapa de qualquer análise e avaliação pelos canais competentes nos EUA; por uma via que impede que funcionários e agentes do Estado possam aconselhar o presidente. OK. Agora a coisa toda resultou no fiasco estratégico do caso Khashoggi. E esse fiasco vem na sequência de outros ‘erros’ estratégicos: a guerra contra o Iêmen; o sítio do Qatar; o sequestro de Hariri; o sequestro dos príncipes presos no hotel Ritz-Carlton, para serem extorquidos ‘em massa’.
Para tentar remediar o estrago, um ‘tio’ (príncipe Ahmad bin Abdel Aziz) foi tirado do exílio no ocidente e despachado para Riad (com garantias de segurança dos serviços de inteligência de EUA e Grã-Bretanha), para pôr ordem naquela loucura, e para impor alguns pesos e contrapesos na coorte de conselheiros de MbS, para impedir a repetição de ‘erros’ por excesso de ímpeto. Parece também que o Congresso dos EUA deseja o fim da guerra no Iêmen, contra a qual o príncipe Ahmad opôs-se declaradamente (como também se opôs à sagração de MbS como Príncipe Coroado). (General Mattis pediu um cessar-fogo no prazo de 30 dias.) É movimento na direção de remendar a imagem do Reino Saudita.
MbS permanece – por enquanto – como Príncipe Coroado. O presidente Sisi e o primeiro-ministro Netanyahu manifestaram, ambos, seu apoio a MbS e “com funcionários dos EUA a exigir resposta mais robusta [ao assassinato de Khashoggi], Kushner insistiu na importância da aliança EUA-Sauditas na região”, noticia o Washington Post. O tio de MbS (o qual, como filho do rei Abdel Aziz, no sistema tradicional de sucessão estaria ele próprio na linha do trono), com certeza tem esperanças de poder desfazer pelo menos parte do dano que tudo isso causou à posição da família al-Saud, e à posição do próprio Reino. Conseguirá? MbS aceitará que Ahmad dê jeito na absurda centralização do poder que valeu, até ser estabelecida, tantos inimigos a MbS? A família al-Saud ainda terá os meios e a vontade para conseguir isso, ou estaria desconcertada demais pela sucessão de eventos?
Além do mais, o presidente Erdogan pode bem enfiar mais cunhas nessas engrenagens delicadas e vazar mais provas que a Turquia tem, do caso Khashoggi, se Washington não atender quantidade suficiente das demandas da Turquia Erdogan parece pronto a se posicionar a favor da volta da liderança otomana sobre o mundo sunita, e, sim, ainda guarda cartas valiosas na manga (como telefonemas gravados entre os assassinos de Khashoggi e Riad). Todas essas cartas contudo estão rapidamente perdendo valor, ao ritmo em que o ciclo do noticiário transfere-se para as eleições de meio de mandato nos EUA.
O tempo dirá, mas Bruce Reidel refere-se precisamente a esse nexo dinâmico de incerteza, quando fala de ‘instabilidade’ na Arábia Saudita. A questão que se põe aqui, contudo, é como esses eventos podem afetar a ‘guerra’ de Netanyahu e MbS contra o Irã?
Maio de 2018 parece hoje passado remoto. Trump é ainda o mesmo ‘Trump’, mas Putin não é mais o mesmo Putin. O Establishment de Defesa da Rússia alistou-se firmemente ao lado de seu presidente, para manifestarem todos eles, o desagrado profundo com os ataques aéreos contra a Síria – que atingiram deliberadamente forças iranianas naquele país. O Ministério da Defesa da Rússia também já envolveu a Síria num cinturão de mísseis e de sistemas eletrônicos por todo o espaço aéreo sírio. Politicamente a situação também mudou: Alemanha e Françauniram-se ao Processo de Astana para a paz na Síria. A Europa quer que os refugiados sírios voltem para casa, o que implica a Europa desejar e cobrar estabilidade para a Síria. Alguns Estados do Golfo também começaram, tentativamente, a normalizar relações com o Estado sírio.
Os norte-americanos ainda estão na Síria; mas um Erdogan que recebeu vida nova (depois de libertar o pastor norte-americano, e com todas as cartas do caso Khashoggi no bolso, reunidas pela inteligência turca), está decidido a esmagar o projeto curdo no norte e leste da Síria, projeto curdo que Israel e os EUA abraçaram. MbS, que financiou o projeto a serviço de EUA e Israel, afastou-se agora (atendendo com isso a uma parte das demandas que Erdogan impôs a ele na ‘negociação’ do que seria revelado do assassinato de Khashoggi).
Washington quer também fim imediato da guerra no Iêmen, que visava a aprofundar o ‘atoleiro’ do Irã. E Washington também quer que tenha fim o atrito com o Qatar.
Todos esses são grandes reveses contra o bom andamento do projeto Netanyahu para o Oriente Médio, mas duas outras dificuldades gigantescas são ainda mais significativas, a saber:
Netanyahu e MbS perderam a ‘chaminé’ que levava seus desejos diretamente ao ouvido de Trump, via Jared Kushner, que atropelava e passava por cima de todo o sistema de ‘pesos e contrapesos’ dos próprios norte-americanos e respectiva America. A ‘chaminé’ Kushner não alertou Washington dos ‘erros’ que se aproximavam; e Kushner tampouco – menos ainda – conseguiu impedir que acontecessem. O Congresso dos EUA e os serviços de inteligência dos EUA e da Grã-Bretanha já estão trabalhando lado a lado nesses assuntos. E ninguém aí é fã de MbS. Não é segredo para ninguém que o homem desses setores e atores sempre foi e é o príncipe Mohamed bin Naif (o qual continua em ‘prisão palaciana’).
Trump ainda espera conseguir manter o seu ‘projeto Irã’ e seu Acordo do Século entre Israel e os palestinos (nominalmente liderado pela Arábia Saudita, que traria com ela todo o mundo sunita, numa ‘OTAN árabe sunita”). Trump não quer guerra com o Irã, mas está convencido de que estaria próximo um levante popular no Irã que derrubará (sic) o Estado.
E a segunda dificuldade grave é que o objetivo do príncipe Ahmad deve necessariamente ser diferente de “cada vez mais instabilidade no Irã” ou cada vez mais conflito entre Arábia Saudita e Irã. A Ahmad interessa restaurar a posição da família e recuperar pelo menos parte de suas credenciais de liderança no mundo sunita, que foram incineradas na guerra contra o Iêmen – e estão hoje sob a ameaça neo-otomana direta que lhes faz a Turquia. A família al-Saud, é preciso reconhecer, não terá nenhum ímpeto para trocar uma guerra desastrosa e caríssima (Iêmen), por outra – e ainda maior contra o Irã, vizinho grande e poderoso. Já não faz sentido algum. Talvez aí esteja a causa dos sinais de que Israel move-se cada vez mais claramente para promover a normalização dos estados árabes – ainda que sem considerar qualquer alívio para os palestinos.
Nehum Barnea previu com acerto no artigo de maio em Yediot Ahoronot:
“Trump já poderia ter declarado que os EUA retiram-se [do Acordo Nuclear com o Irã, JCPOA], e ter dado isso por resolvido. Mas sob a influência de Netanyahu e da nova equipe, preferiu avançar mais um passo. As sanções econômicas contra o Irã serão muito mais duras, mais do que foram antes de o acordo nuclear ter sido assinado. ‘Agrida o bolso deles.’ – Netanyahu aconselhou Trump: ‘Se você agredi-los no bolso, eles balançam; e quando balançarem, derrubam os aiatolás’”.
Foi mais um conselho que viajou pela ‘chaminé’ diretamente até os ouvidos do presidente dos EUA. Qualquer conselheiro diria a ele que não, que não passava de delírio, fantasia. Nunca, em tempo algum e em lugar algum sanções, só elas, derrubaram algum Estado; e, embora os EUA possam alardear alguma hegemonia judicial, como mecanismo para aplicar sanções pressupostas legais, fato é que os EUA se autoisolaram no mundo, ao sancionar o Irã. A Europa está farta e não quer aumentar a insegurança. Não quer mais refugiados a caminho da Europa.
Teria sido a posição violenta de Trump que levou Jong Un à mesa de negociações? Ou talvez, bem ao contrário, Jong Un e seus conselheiros consideraram a reunião com Trump como simples preço a pagar – e resolveram pagar – para promover a reunificação da Península Coreana?
Ninguém avisou Trump de que o Irã sofrerá dor econômica, sim, mas que, não importa o quanto sofram, em tempo algum os iranianos deixarão de perseverar na linha política que traçaram, invente Trump quantas sanções inventar? Não. Ninguém lhe disse coisa alguma. – Aí está: esse é o problema inerente de quem ouve principalmente conversa ‘de chaminé’.*******
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