quinta-feira, 15 de novembro de 2018

A principal ameaça ao dólar como moeda dominante

12/11/2018, Irina Slav, Oil Price (San Francisco, EUA)

Traduzido pelo Coletivo Vila Mandinga



Exportadores russos de petróleo estão pressionando exportadores ocidentais para que paguem em euros, não em dólares, as compras de petróleo russo, agora que Washington prepara mais sanções ainda por conta da reintegração da Crimeia à Federação Russa, a Agência Reuters noticiou com essas palavras (NTs)] semana passada, citando nada menos que sete fontes na indústria do petróleo.

Embora a exigência tenha surpreendido os traders os quais, disse Reuters, não gostaram da exigência, o movimento das empresas russas devia já ser esperado, com Trump insistindo em sua política exterior na qual as sanções têm papel de destaque. Mas essa abordagem, pelo governo Trump, pode ameaçar muito gravemente a dominância do EUA-dólar como moeda do comércio global de petróleo.

Sinais de que essa dominância já sente efeitos negativos vieram à tona nessa primavera, quando Rússia e Irã lançaram um programa de troca de petróleo por produtos, procurando eliminar os pagamentos bilaterais em EUA-dólares, programa que tem duração prevista de cinco anos. O pessoal sancionado discutiu esse tipo de acordo já em 2014, quando o Irã ainda estava sob sanções do ocidente. Mesmo depois de o notório acordo nuclear ter sido assinado, os dois países optaram por manter o acordo de troca, e o acordo preliminar foi firmado ano passado. Nos termos desse acordo, a Rússia receberá 100 mil barris/dia de cru iraniano em troca de 45 bilhões de EUA-dólares em produtos russos.

Em março, o Irã proibiu completamente  todas as ordens de compra denominadas em EUA-dólares, e informou que nenhum corretor que use dólares nos seus pedidos poderá completar o processo de importação. Um mês depois, Teerã anunciou que publicará todos os seus relatórios oficiais em euros, não mais em EUA-dólares, para estimular a mudança, do dólar para o euro, nas agências estatais e nas empresas comerciais.

Atualmente, os maiores produtores russos de petróleo estão renegociando contratos para entrega de petróleo com corretores de mercadorias, e três deles – Rosneft, Gazprom Neft e Surgutneftegaz – , provocaram calafrios nos corretores, ao insistir que todos eles aceitassem cláusulas de multas nos respectivos contratos, a partir do próximo ano, caso sanções dos EUA interrompam as vendas e, por resultado disso os compradores não possam pagar o que devam. Além disso, há discussões sobre usar euros e outras moedas, em vez de dólares, para garantir que os pagamentos não sejam interrompidos.

É perfeitamente razoável que o vendedor de qualquer mercadoria procure assegurar-se de que será pago pela mercadoria que venda. Num ambiente de sanções, procurar soluções e saídas é o único comportamento lógico. E Rússia e Irã não estão sós nesse movimento para se distanciarem do dólar.

A Venezuela, por exemplo, apostou na moeda digital, como meio para contornar as sanções impostas por Washington que se somaram à pressão gerada pelo crash no preço do petróleo em 2014 e anos de má administração da estatal PDVSA – dois fatores que lançaram a economia venezuelana na crise em que ainda se debate. Hoje, a criptomídia noticiou que Caracas apresentará ano que vem a sua criptomoeda, o petro, à OPEP como unidade para o comércio do petróleo. “Usaremos o petro na OPEP como moeda firme e confiável, para negociar nosso cru em todo o mundo” – disse o Ministro da Finanças Manuel Quevedo.

Assim também a China está abertamente promovendo a própria moeda para o comércio do petróleo e todo o comércio chinês. A internacionalização do yuan é parte da iniciativa Nova Rota da Seda do presidente Xi e, dado o nível de consumo de petróleo na China, o comércio de petróleo é parte muito importante dessa internacionalização. No início desse ano, a China lançou seu muito aguardado contrato de petróleo futuro denominado em yuan. O grande público ainda se mostra temeroso de operar com esse tipo de contratos futuros, mas já há quem preveja que o yuan acabará por substituir completamente as ‘verdes’ como moeda global nos negócios de petróleo. E o euro pode seguir o mesmo roteiro, se a União Europeia sobreviver no longo prazo. Afinal, Rússia e Irã estão entre os maiores exportadores globais. Só aí já são quantidades monstro de barris que em breve podem já estar sendo negociados também em euros, não mais em dólares.*******


Um comentário:

hilario muylaert disse...

Na 1ª linha altere de exportadores para importadores.