Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
Com o planeta ainda tentando digerir as implicações do Brexit, o real coração da ação do século 21 mais uma vez deriva para Pequim, aonde o presidente Vladimir Putin chegará no sábado, em visita ao presidente chinês Xi Jinping.
Nos negócios, está incluída a assinatura do contrato de $6,2 bilhões para construir uma ferrovia para vagões de alta velocidade; aumentar a quota de trigo russo vendido à China – com a construção de um terminal para grãos Trans-Baikal; e medidas na direção de aprofundar a cooperação militar. Os dois países já estão cooperando num motor a ser instalado no novo avião russo-chinês de passageiros.
Tudo que tenha a ver com a parceria Rússia-China tem a ver diretamente com a integração da Eurásia. Começa com as Novas Rotas da Seda (também chamadas "Um Cinturão, Uma Estrada" [ing. One Belt, One Road (OBOR)], as quais progressivamente operarão com a União Econômica Eurasiana [ing. Eurasia Economic Union (EEU)], como Putin enfatizou no Fórum Econômico Internacional de S.Petersburgo. Envolve a expansão da Organização de Cooperação de Xangai [ing. Shanghai Cooperation Organization (SCO)]; o futuro imediato dos BRICS, incluindo o Novo Banco de Desenvolvimento [ing. New Development Bank (NDB)]; projetos a serem financiados pelo Banco Asiático de Investimento e Infraestrutura [ing. Asian Infrastructure Investment Bank (AIIB)]; e a coordenação Rússia-China no G20.
OBOR e a EEU fundem-se naturalmente, porque a Eurásia será modelada aos poucos, mas com certeza, como um armazém/empório gigante – uma rede na qual se entrelaçam comércio e infraestrutura que se estende do Extremo Oriente da Rússia e da costa leste da China até a Europa Ocidental, incluindo no caminho o Oriente Médio e a África.
Geopoliticamente, a expansão das Novas Rotas da Seda-União Econômica Eurasiana [ing.OBOR-EEU] é a resposta da Eurásia à Parceria Trans-Pacífico [ing. Trans-Pacific Partnership (TPP)] que o governo pato-manco de Obama tanto promoveu, e que exclui ambas, Rússia e China. Xi Jinping visitou recentemente a Ásia Central e a Europa Ocidental – da Sérvia ao Uzbequistão – vendendo as Novas Rotas da Seda. Moscou, considerando a influência que tem sobre os países do Báltico, acrescentará apoio extra.
Basta examinar alguns números, para estimar o poder da ofensiva de várias pinças, da China. Pequim está pondo $100 bilhões no Novo Banco de Desenvolvimento; entre $50 bilhões e $100 bilhões no Banco Asiático de Investimento e Infraestrutura; $40 bilhões no Fundo Rota da Sede; $40 bilhões no Corredor Econômico China-Paquistão [ing. China-Pakistan Economic Corridor (CPEC)]. Esses investimentos financeiros multilaterais serão materializados em estágios – e podem ser facilmente pagos com superávit em caixa, das miríades de operações hoje em curso.
Além disso, Pequim tem uma pilha de dólares em dinheiro de cerca de $4 trilhões a serem usados como Xi e a liderança coletiva chinesa bem entenderem. Essa é a realidade – nada do bla-bla-blá usual na Think-tank-elândia dos EUA sobre a iminente implosão da China. Compare isso e a prensa incansável do Fed a imprimir tantos dólares novos, cerca de $60 bilhões num mês, para ver que que os EUA terão realmente muita dificuldade para encontrar qualquer investimento financeiro (exceto a guerra) na ordem dos $100 bilhões.
Cadeia geopolítica de suprimento, alguém se interessa?
Pequim e Moscou inevitavelmente já concluíram que sua parceria estratégica gera alavancagem e assim aumenta o próprio valor, traduzindo-se em cadeia geopolítica de suprimento, de múltiplos vetores.
O 'Oleogasodutostão' [ing. Pipelineistan]’ – com aqueles gigantescos negócios siberianos de 2014 – é nodo essencial de todo o pacote, e a Rússia garantirá suprimento de gás natural à China contornando o temido Estreito de Malacca, que Pequim sabe muito bem que a Marinha dos EUA pode facilmente bloquear quando bem entender. A interpenetração também se traduz, por exemplo, em a Gazprom oferecer à chinesa CNPC uma participação no monstruoso campo Vankor de gás.
Moscou por sua vez não precisa depender exclusivamente do ocidente para investimentos estrangeiros – os quais, para piorar, são controlados/sancionados por Washington. O investimento chinês será chave, porque, sob a sinergia OBOR-EEU, a Rússia estará bem adiantada na trilha para desenvolver seu pleno potencial como fornecedor global de energia e agricultura e corredor privilegiado de trânsito cruzando toda a Eurásia.
A Rússia pode até colher benefícios da mudança climática. Poucos provavelmente saibam que a Rússia – com a calota polar a derreter rapidamente – está em processo de aquecimento mais rápido que qualquer outro país do mundo. Assim se abrem possibilidades de vastos novos solos férteis dos quais se poderão exportar carne de frango e peixe para – e para onde seria? – a China. Para nem falar das quantidades torrenciais de água potável. Empresas chinesas estão comprando grandes participações em empresas russas de fertilizantes, como Uralkali, e tornando-se sócias de empresas com sede em Cingapura, para entrar a pleno vapor no processamento de alimentos na Rússia.
Ao contrário do que a Think-tank-elândia norte-americana jamais se cansa de papaguear, a parceria estratégica Rússia-China vai muito além de mera aliança de oferta e demanda de conveniência. Basta o Kremlin tomar a fatídica decisão, e empresas chinesas podem com certeza reconstruir em apenas uns poucos anos as partes arruinadas da infraestrutura russa.*****
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