segunda-feira, 20 de junho de 2016

Síria-2016: Rússia ataca de surpresa e detona a tática protelatória de Kerry

18/6/2016, Moon of Alabama

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


Os EUA não querem pôr fim à guerra contra a Síria nem querem resolver as diferenças à mesa de negociações. Querem 100% de suas demandas atendidas, a dissolução do governo e do estado sírio e a instalação, na Síria, de um governo fantoche movido pelos EUA.

Depois que o cessar-fogo na Síria entrou em vigência, no final de Fevereiro, Obamaquebrou a promessa que fizera de separar da al-Qaeda os "rebeldes moderados" apoiados pelos EUA. Em abril, rebeldes apoiados pelos EUA, os grupos Ahrar al Sham e al-Qaeda, próximos dos Talibã, uniram-se para atacar o governo sírio no sul de Aleppo. Os grupos controlados pelos EUA romperam o cessar-fogo.

Duas resoluções da ONU determinam que a al-Qaeda na Síria seja combatida em todas as frentes e em todos os casos. Mas os EUA já duas vezes pediram à Rússia que não bombardeasse a al-Qaeda. Os EUA insistem que não estariam conseguindo separar da al-Qaeda os seus 'próprios' 'moderados; e que a al-Qaeda não pode ser atacada, porque seriam atingidos também os amigos "moderados" dos EUA.

O ministro Lavrov das Relações Exteriores da Rússia já falou várias vezes com Kerry sobre esse assunto. Mas a única resposta que lhe dão são mais pedidos para manter suspensos os bombardeiros. Enquanto isso, al-Qaeda e os tais "moderados" só fazem quebrar o acordo de cessar-fogo e atacar as forças do governo sírio.

Passaram-se já quase quatro meses, e Kerry só insistindo em que os EUA precisam de mais tempo para separar da al-Qaeda, as forças aliadas dos EUA na Síria. Recentemente, o ministro Lavrov expressou a consternação dos russos:

Os norte-americanos agora dizem que não conseguem remover os membros da oposição 'boa', de dentro das posições controladas pela Frente al-Nusra , e que precisam de mais dois-três meses. Tenho a impressão de que há um jogo, aqui. E eles querem manter a Frente al-Nusra de algum modo, para usá-la adiante, para derrubar o regime [de Assad] – disse Lavrov no Fórum Econômico Internacional de S.Petersburgo.

O jarro já estava quase cheio. O mais recente pedido de Kerry, para que os russos aceitassem uma pausa de (mais) três meses sem atacar a al-Qaeda foi a gota d'água. E a Rússia agora respondeu com um ataque aos EUA, onde eles menos esperavam ser atacados:

Jatos russos de combate atacaram milicianos sírios apoiados pelo Pentágono com uma barragem de ataques aéreos no início dessa semana, sem considerar os incontáveis 'alertas' de comandantes norte-americanos, no ataque que militares norte-americanos definiram como o ato de mais clara provocação desde o início da campanha aérea dos russos na Síria, ano passado.
Os ataques atingiram uma base de terroristas próxima da fronteira com a Jordânia, muito longe de onde os russos agiram antes, e onde há forças apoiadas pelos EUA que combatem militantes do Estado Islâmico. 
...
Esses ataques recentes aconteceram do outro lado, no extremo oposto do país, em relação às operações russas, perto de Tanf, cidade próxima de onde se encontram as fronteiras de Jordânia, Iraque e Síria. 
...
Os russos atingiram uma pequena base rebelde para treinamento de forças e depósito de equipamento, numa área deserta e não habitada próxima à fronteira. Havia lá 180 rebeldes, parte do programa do Pentágono para treinar e equipar combatentes contra o Estado Islâmico.
Quando aconteceram os ataques, os rebeldes telefonaram a um centro de comando dos EUA no Qatar, onde o Pentágono orquestra a guerra diária contra o Estado Islâmico.

Os jatos norte-americanos chegaram, e os jatos russos foram embora. Os jatos norte-americanos partiram para reabastecer, e os jatos russos voltaram e atacaram novamente.Segundo os primeiros informes, teriam morrido dois combatentes treinados pelos EUA, e 18 outros foram feridos.

Hoje cedo, outro ataque semelhante atingiu o mesmo alvo.

Claro que não foi acidente. Foi operação cuidadosamente planejada, e a resposta do porta-voz russo deixa claro que nada aconteceu por acaso:

O porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov confirmou pessoalmente o ataque na 6ª-feira. Disse aos jornalistas que foi difícil distinguir, do ar, os diferentes grupos rebeldes.

Tradução: "Se vocês não conseguem separar soldados seus e terroristas da al-Qaeda, nem conseguem demarcar zonas exclusivamente "moderadas"... nós também não conseguimos."

As forças instaladas perto de Tanf são apoiadas pela artilharia dos EUA a partir da Jordânia, e por força aérea via Iraque. Forças de operações especiais britânicas e da Jordânia também integram esse componente de solo (e constituem provavelmente a maioria dos combatentes "sírios"). Ali não há al-Qaeda. Os russos sabem disso perfeitamente. Mas quiseram deixar bem claro que ou separa-se tudo, em todos os lugares, ou nada em lugar algum será considerado 'misturado'. 

De agora em diante, até que os EUA separem claramente o que é al-Qaeda e o que é EUA, todas as forças apoiadas pelos EUA serão atacadas indiscriminadamente em qualquer lugar e a qualquer momento. (Os curdos sírios que combatem contra o Estado Islâmico com apoio dos EUA estão sendo considerados, por hora, como outra história.)

O Pentágono não quer qualquer novo engajamento em combate contra o governo sírio ou contra a Rússia. Quer combater contra o Estado Islâmico; e odeia a CIA porque coopera com al-Qaeda e outros elementos jihadistas. Mas John Brennan, agente dos sauditas e chefe da CIA, ainda parece fazer a cabeça de Obama. E o que Obama poderia fazer agora? Derrubar um jato russo e, com isso, pôr em perigo todo e qualquer piloto dos EUA que voe na Síria ou próximo da fronteira russa? Arriscar-se a guerra contra a Rússia? Será? De verdade?

O ataque dos russos perto de Tanf foi completa surpresa para os norte-americanos. Mais uma vez, os russos pegaram Washington no contrapé. A mensagem ao governo Obama é bem clara. "Chega de enganações e adiamentos. Ou separam JÁ os seus tais moderados, ou todos os agentes de vocês na Síria passam a ser alvos sumarentos para a força aérea russa."

Os ataques russos contra Tanf e contra agentes protegidos pelos EUA tiveram mais um benefício. Os EUA planejavam deixar aquelas forças avançarem para o norte na direção de Deir Ezzor, para derrotar o Estado Islâmico naquela cidade. Eventualmente, se estabeleceria uma "entidade sunita" no sudeste da Síria e oeste do Iraque sob controle dos EUA. E a Síria seria fatiada.

O governo sírio e aliados não permitirão que aconteça. Há uma grande operação planejada para pôr fim à ocupação pelo Estado Islâmico e retomar Deir Ezzor. Várias centenas de forças do governo sírio já tomaram e mantêm sob controle um aeroporto isolado em Deir Ezzor, contra muitos ataques fracassados do Estado Islâmico. Essas tropas são atualmente reforçadas por contingentes adicionais do exército sírio e comandos do Hizbullah. Aproxima-se uma grande batalha. Deir Ezzor pode ser libertada nos próximos poucos meses. Quaisquer planos que os EUA tenham, de inventar alguma entidade no leste da Síria passam a ser perfeita fantasia irrealizável, se o governo sírio pode tomar e defender sua maior cidade oriental.

A tática do governo Obama de sempre adiar e adiar, agora tem de ter fim. A Rússia não continuará parada, limitando-se a assistir às ações dos EUA para sabotar o cessar-fogo e apoiar terroristas da al-Qaeda. Qual será então o próximo movimento dos EUA?*****

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