31/5/2016, Pepe Escobar, Strategic Culture Foundation
Pois a picape Toyota Corolla branca do líder supremo dos Talibã Mulá Mansour batia pino pelo deserto do Baloquistão pouco depois de cruzar a fronteira iraniana, quando um míssil Hellfire disparado de um drone norte-americano a incinerou e fez dela um monte de ferro queimado e retorcido.
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
Essa é a narrativa oficial. O Pentágono disse que Mansour estava na lista de matar de Obama porque se tornara "um obstáculo à paz e à reconciliação".
Claro que há muito mais do que isso. Mansour era empresário arguto que andava viajando muito frequentemente a Dubai – lavanderia histórica do dinheiro dos Talibã, onde se fazem todos os tipos de negócios escusos. Estava também em íntima conexão com Jundullah – codinome da muito hardcore milícia sunita anti-Teerã ativíssima na província iraniana do Sistão-Baloquistão.
Daquela vez, Mansour estava no Sistão-Baloquistão para uma consulta médica – supostamente para evitar hospitais no Paquistão, todos pesadamente monitorados pelo serviço secreto, o ISI [Inter-Services Intelligence]. Seja como for, a inteligência paquistanesa sabia sobre a tal consulta médica – e portanto a inteligência dos EUA pode também ter sido informada e pôde rastreá-lo.
Mas é aí que está a verdadeira bola na caçapa: a Nova Guerra do Ópio.
Os suspeitos de sempre no governo dos EUA em Washington insistem que os Talibã estariam lucrando muito belamente do serviço de supervisionar o tráfico de ópio para fora do Afeganistão – e agora operariam um cartel de drogas de multibilhões de dólares. Bobagens.
Claro que há muito mais do que isso. Mansour era empresário arguto que andava viajando muito frequentemente a Dubai – lavanderia histórica do dinheiro dos Talibã, onde se fazem todos os tipos de negócios escusos. Estava também em íntima conexão com Jundullah – codinome da muito hardcore milícia sunita anti-Teerã ativíssima na província iraniana do Sistão-Baloquistão.
Daquela vez, Mansour estava no Sistão-Baloquistão para uma consulta médica – supostamente para evitar hospitais no Paquistão, todos pesadamente monitorados pelo serviço secreto, o ISI [Inter-Services Intelligence]. Seja como for, a inteligência paquistanesa sabia sobre a tal consulta médica – e portanto a inteligência dos EUA pode também ter sido informada e pôde rastreá-lo.
Mas é aí que está a verdadeira bola na caçapa: a Nova Guerra do Ópio.
Os suspeitos de sempre no governo dos EUA em Washington insistem que os Talibã estariam lucrando muito belamente do serviço de supervisionar o tráfico de ópio para fora do Afeganistão – e agora operariam um cartel de drogas de multibilhões de dólares. Bobagens.
Pode-se apostar que o assassinato de Mansour em nada reduzirá a produção afegã de ópio – que não parou de crescer consistentemente nos últimos anos. Mawlawi Hibatullah Akhundzada, ex-número 2 de Mansour, já foi designado como novo líder.
Fato é que a produção de papoulas no Afeganistão alcançou níveis mais altos nas províncias que são – em tese – controladas por Cabul. Mais ópio foi produzido ano passado – também em tese o último ano da operação "Liberdade Duradoura" dos EUA – que jamais antes, desde que a ONU começou a rastrear a produção, em 2002. Em 2016, o Afeganistão produzirá mais ópio – e, pois, heroína – que todo o consumo global.
Pincelada do que está realmente acontecendo na Nova Guerra do Ópio encontra-se numlivro (em italiano) de Enrico Piovesana. Ali se lê sobre sombrias operações militares conduzidas pela OTAN nas quais foram sequestradas, por helicóptero, quantidades massivas de ópio – que nunca mais foram vistas.
Significa que estamos de volta à mesma velha linha de rato da CIA, que se traduz em controle sobre o mercado afegão de ópio em colusão com a polícia local, militares de alto escalão em Cabul e a família Karzai, do ex-presidente conhecido como "prefeito de Cabul", Hamid Karzai. Fazer negócios com narcotraficantes também tem sido fonte de liquidez acessível – o que outros conhecem como "dinheiro sujo" – para grandes bancos ocidentais. Nada disso tem qualquer coisa a ver com os Talibã os quais, na verdade, reduziram a produção de ópio a praticamente zero em 2001, antes do 11/9 e de os norte-americanos bombardearem/ocuparem o Afeganistão.
Aqueles sinistros players do "Af-Pak"
O primeiro ataque de drones de toda a história do Baloquistão (mais uma "primeira vez" obrada por Obama) continua envolto em mistério. Hipótese crível para começar a pensar é que tenha sido operação clandestina EUA-Paquistão. O tiro teria sido disparado pelo Pentágono, não pela CIA. A Corolla de Mansour estava cerca de 40km dentro do Baloquistão depois de cruzar a fronteira – numa área onde os drones dos EUA estariam muito vulneráveis às defesas aéreas paquistanesas (upgraded in 2011).
Cenário plausível – mas não confirmado – seria os Sentinels RQ-170 seguindo a Toyota de Mansour, com coordenadas fornecidas aos drones Reaper que decolariam da base de Kandahar. Assumindo que os drones começaram a seguir a Toyota na fronteira Irã-Paquistão, já estariam em ação no espaço aéreo do Baloquistão por horas, sem serem perturbados.
Mas aí vêm as incongruências. Fontes paquistanesas dizem que a Toyota não foi totalmente destruída – o que aconteceria se fosse atingida por qualquer drone –, e ainda estava sobre as próprias rodas. E lá estava o tal misterioso passaporte que nunca falta nessas cenas – dessa vez, o de Mulá Mansour.
Quanto à HUMINT (informação obtida de informante humano) que levou ao rastro de Mansour, a noção de que Washington teria tido acesso a isso só faz aumentar a incredulidade. O mais provável é algum agente bem infiltrado/remunerado em algum ponto – fosse um militar em Cabul ou algum agente do Serviço Secreto paquistanês.
O que Mansour andava realmente fazendo? Era especialista em ganhar tempo. Claramente, desvendou a "estratégia" dos EUA – que se resumia a encorajar o presidente Ashraf Ghani a convencer Islamabad a levar os Talibã até a mesa de negociações.
Mas Mansour sabia que os Talibã sempre poderiam avançar militarmente sem negociações; por isso anunciou regularmente a ofensiva de primavera de 2016 – ritual anual dos Talibã. Ao mesmo tempo, foi muito cauteloso para não antagonizar Islamabad, pensando em não comprometer os paraísos seguros com que os Talibã sempre contam no Paquistão.
No que tenha a ver com Islamabad, a coisa é muito mais nebulosa. O homem de Islamabad na sucessão dentro dos Talibã era realmente Sirajuddin Haqqani. Depois da morte de seu famoso pai, Haqqani chefia a rede de mesmo nome – íntima dos Serviços Secretos do Paquistão e, quase com certeza, mais próxima do que a tradicional ShuraKandahar/Quetta, também chamada de os Talibã afegãos históricos.
O novo supremo dos Talibã terá agora uma janela de oportunidade para consolidar o poder. No início de 2017 os EUA terão novo presidente, haverá novo comandante no exército do Paquistão, mas o mesmo sempre desunido governo afegão chamado de Unidade Nacional. Os Talibã sabem o que querem: participar do governo em Cabul, e ter sua fatia no caso de o gasoduto TAPI (Turcomenistão-Afeganistão-
Entrementes, o ex-agente pago da CIA; ex-amigão de Osama bin Laden e ainda um dos Inimigos Públicos dos EUA, Gulbuddin Hekmatyar, definido por Washington como "terrorista global" e líder da organização Hezbi Islami, está bem próximo de firmar um acordo com Cabul.
Hezbi Islami é a segunda maior "insurgência" ativa no Afeganistão. Muitos dos altos quadros já desertaram para o lado dos Talibãs. Hekmatyar vive exilado em algum ponto no Paquistão; os Serviços Secretos do Paquistão sabem, é claro, onde está. Assim, se Ghani em Cabul não consegue meter os Talibãs no albornoz, pelo menos pode pegar peixe consideravelmente menor, Hekmatyar. Ajuda muito? Na verdade, não. Hekmatyar acabará caindo, mais dia menos dia, na direção da Organização de Cooperação de Xangai – quer dizer: sob liderança conjunta de Rússia e China – para resolver a charada dos Talibã. Com certeza jamais cairá na direção da Operação Liberdade Duradoura Eterna – não importa o tamanho da lista de matar que inventem.*****
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