sexta-feira, 14 de outubro de 2016

E Trump? Será presidente nuclear? Por Pepe Escobar

13/10/2016, Pepe Escobar, RT








Donald Trump, que nada tem a perder, bem pode, afinal, estar pronto para a bomba. Não literalmente, é claro. Estamos falando de Guerra Fria 2.0. 

O ministro das Finanças da Alemanha Frank-Walter Steinmeier está preocupado com o clima entre EUA e Rússia, hoje ainda mais perigoso que durante a Guerra Fria. O conselheiro para política exterior do Presidente Putin, Sergey Karaganov argumenta que já não chegávamos a situação de pré-guerra já há oito anos, desde o fiasco da Geórgia. Há até conclamações para "trazer de volta a Guerra Fria" – quando as regras de engajamento eram claras.

Há seis meses, o Clube Valdai publicou relatório crucialmente importante, assinado conjuntamente por Andrey Sushentsov, professor-associado do Instituto de Relações Internacionais de Moscou, e por Michael Kofman do Wilson Center, alertando para a evidência de que uma guerra quente EUA-Rússia pode avançar "inesperadamente" numa simultânea "escalada vertical e horizontal".

Seria consequência, mais uma vez, da ausência de regras claras e de "nenhuma separação tangível entre guerra e paz" – configurando uma variação da guerra de pleno espectro que inclui o espaço eletromagnético e o ciberespaço, dado que os primeiros alvos na conflagração seriam comando e controle, finanças, energia e redes de informação.

Hillary Clinton agora já está clara e firmemente revelada a candidata jurada do complexo Wall Street-industrial-militar-vigilância – um nebuloso 'Partido da Guerra' bipartidário em que se unem neoconservadores e neoliberais conservadores. Como já expus, ela está pronta para ir à guerra e até já tem, cunhado, um eixo do mal remix.

O que nos leva o cenário perfeitamente surrealista, no qual Donald Trump é O Último Homem que se ergue entre a sanidade e a 3ª Guerra Mundial.

Olá Daisy

Nada está acabado até que a última (viciada) máquina Diebold de votar cante. Dia 8 de novembro só tem a ver com uma cesta cheia de estados "deploráveis".

Quanto ao tempo de escândalo, 24 horas/dia, sete dias/semana de apalpação bolinaçãonon-stop e safadezas de vestiário, Trump parece estar pronto a saltar para a linha de chegada exatamente como começou: populista/nativista/nacionalista lutando para abrir fronteiras (o mantra de Clinton, revelado na última leva de wikivazamentos, dos "E-mailsPodesta"); pró "livre" comércio; globalização neoliberal; para bombardeá-los/mudar regimes até que entrem, rendidos, no imperialismo "humanitário".

Círculos do business da Costa Leste dos EUA que discretamente apoiam a plataforma de Trump o tem encorajado a focar apenas duas questões: "atacar Obama e Clinton por ter errado tudo na Líbia e na Síria, criando o fluxo de refugiados que está acabando com o mundo civilizado"; e atacar Hillary como subordinada a Wall Street, destacando que "a debacle de 2008 foi arquitetada por manipulações derivativas, de cujas perdas Wall Street recebeu o reembolso, enquanto os proprietários de classe média das casas nas quais viviam não foram resgatados. Todas essas empresas são apoiadoras de Hillary."

E por fim, a questão definitiva, radical: a Guerra Fria 2.0 EUA-Rússia que pode virar 3ª Guerra Mundial. Washington está mantendo aberta de facto uma capacidade para primeiro ataque nuclear contra a Rússia, parte da doutrina de Dominação de Pleno Espectro – e Hillary a apoia integralmente. Para desmascará-la como "Mãe de Todos os Belicistas",businessmen que apoiam Trump sugeriram que ele assuma – literalmente – a bomba, que se torne nuclear, e lance versão remixada de um conhecidíssimo spot de campanha eleitoral para TV que se estima que tenha garantido a vitória eleitoral de Lyndon Johnson em 1964.

Seria algo para enfurecer até a loucura toda a gangue que apoia Hillary, como o mini Dr. Fantástico, Chefe do Estado-maior do Exército general Mark Milley, que anda 'exigindo'abertamente uma "vitória" militar arrasadora contra ambas, Rússia e China.


Claro que o discurso de Milley foi votado e autorizado integralmente. Pode ser facilmente desconstruído como cena – espécie de último hurrah dos neoconservadores. Há personagens sérios, inclusive dentro do Pentágono que veem o derretimento do mecanismo MAD (Mutually Assured Destruction, lit. "Destruição Mutuamente Garantida) como pura loucura. Quanto ao secretário de Estado da Casa Branca (pato manco) John Kerry, rompeu as negociações com o ministro de Relações Exteriores Lavrov, mas só por uns tempos. Moscou teve a gentileza de deixar bem claro que foi Kerry quem se pôs a telefonar sem parar, logo no dia seguinte depois do suposto grave rompimento.

Fonte no mundo empresarial de New York conectada aos 'Masters of the Universe’ revela, sob condições de anonimato, parte do mistério: "As ameaças dos EUA relacionadas a bombardear forças de Assad foram imediatamente retiradas, com retratação, por ordens que chegaram de cima, para Obama. Kerry tomou a iniciativa de telefonar a Lavrov para reiniciar imediatamente as conversações, por efeito de ordens similares. EUA não querem envolver-se numa guerra nuclear que praticamente com certeza perderia, agora que os russos já saltaram gerações à frente em matéria de mísseis de defesa, e que o espaço aéreo russo é efetivamente impenetrável."

Quanto à doutrina da MAD, "está efetivamente ultrapassada. Como Brzezinski já disse, se for verdade, e é, nesse caso os EUA já deixaram de ser potência global."

Tempos de atirar com estilingue 

E por toda a mídia-empresa dos EUA, neoconservadores, neoliberais conservadores e sua torcida organizada continuam para cima e para baixo. "Siriaque" já é uma mini-guerra-mundial de facto, indireta, jogando OTAN e o CCG contra os "4+1" (Rússia, Síria, Irã, Iraque, plus Hezbollah) e China (o que resulta em guerra à distância de OTAN-CCG contra os dois membros top dos BRICS/OCX).

Chafurdando na pista de lama da campanha, a Máquina Clinton (de grana) acusa WikiLeaks de ser "braço de propaganda do governo russo" a favor do "candidato bicho-de-estimação deles, Trump", como disse o gerente da campanha de Hillary, John Podesta, que culpa a Rússia pela "invasão criminosa" de seus a e-mails e denuncia a "amizade colorida" de Trump e Putin. A nova regra (histérica) é o neo-McCarthyismo. Virtualmente todo oestablishment nos EUA considera traição a abordagem conciliatória que Trump propõe como solução para o caso com a Rússia; Trump estaria, nos EUA, como Cavalo de Troia dos russos.

Ainda mais alarmante, militares dos dois lados, dos EUA e da Rússia, parecem estar sob um fio de navalha. "Abrigos antibombas" é tópico normal de conversa. O plano da CIA de esperar que a Rússia vá à falência antes de o programa de modernização militar ser concluído em 2017 é lixo. E, para coroar, acidentes podem acontecer – e acontecem. MADmorreu: só a mais furiosa loucura, como a absoluta incapacidade do Partido da Guerra para ler as linhas vermelhas dos russos, segue aumentando, bem como a possibilidade de uma guerra de sombras converter-se em guerra quente.

A máquina de Twitter de Trump sabidamente não basta. Se pelo menos seus conselheiros conseguissem resumir a tese que anima um livro provocativoTheology of Provocation[Teologia da Provocação], lançado na França no início do ano.

A tese central, exposta pelo professor Gérard Conio, é a de que o neoliberalismo que se vê sendo imposto hoje pelos adeptos da Nova Ordem Mundial e elites financeiras não é o oposto do comunismo totalitário: é o ápice dele, com pequena minoria de líderes que detêm poder de vida e morte sobre uma vasta maioria de escravos.

Hillary é a belicista representante ungida daqueles líderes; ou, para citar o Prêmio Nobel de Literatura de 2016 Bob Dylan, ela não passa de um peão no jogo deles, enquanto Trump atenta e conscientemente se posiciona como o marginal improvável. Atualmente, o Golias é ela. Se ele quer sair vitorioso como David, seu estilingue (nuclear) terá de ser algum tipo de "Daisy" remixado.


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