9/10/2016, Martin Berger, New Eastern Outlook, NEO
É curioso, mas muito frequentemente, o próprio ladrão grita "Pega ladrão!", tática muito conhecida para criar confusão, porque na confusão que ele próprio cria, o ladrão tem mais chances de escapar. Seguindo esse padrão comportamental, o secretário de Estado dos EUA John Kerry pôs-se a 'exigir' que a comunidade internacional investigue supostos crimes de guerra, que EUA acusam Damasco e Moscou de ter cometido na Síria. O superior de todos os diplomatas dos EUA citou exemplos de ataques a civis e a hospitais que, na avaliação dele, teriam sido cometidos, rotineiramente, pelo governo sírio e seus aliados.
Deve-se lembrar porém que o secretário Kerry não passa de um dos mais obedientes serviçais da Casa Branca, conhecida por acusar outros dos crimes que ela mesma comete. Nem surpreende que o Washington Post tenha chamado atenção recentemente para asexplicações alucinatórias que o presidente Obama tem oferecido para as decisões que toma. Confunde os eventos, altera a cronologia e sempre consegue safar-se, limpo de qualquer culpa no assassinato de aproximadamente meio milhão de sírios, oito milhões de deslocados internos e um maremoto de imigrados que já desestabilizam a Europa.
Ao mesmo tempo em que rejeitam até a mais simples menção à possibilidade de investigação internacional imparcial que investigue o que os próprios EUA fizeram no Iraque, Afeganistão, Síria e Líbia, que resultaram em centenas de milhares de civis mortos, os EUA insistem que, resultado de mais de 11 mil ataques aéreos que supostamente visariam os terroristas do ISIS, as Forças Armadas norte-americanas assassinaram míseros 55 civis no Iraque e na Síria, no processo, desde 2014.
Caso é que a agência de notícias norueguesa ABC Nyheter diz que nem a ONG Anistia Internacional nem os especialistas mais reservados e ponderados acreditam nessas versões e números. Afinal, a ser verdade o que os EUA dizem, os pilotos norte-americanos, em 199 de cada 200 missões, não matariam nenhum civil; e matariam um civil, em uma só das 200 missões voadas.
Isso, quando o Pentágono reconhece oficialmente que no Afeganistão, a cada 15 missões voadas, acontece uma vítima civil, e os relatórios distribuídos pela Casa Branca indicam número de mortos ainda mais alto entre civis: um morto a cada 4-7 ataques lançados de aviões e drones norte-americanos contra alvos suspeitos, em países como Paquistão e Iêmen. Se esses números servem para estimar a média de civis assassinados por pilotos norte-americanos em ataques aéreos na Síria e no Iraque, chega-se à conclusão que quase 3 mil civis foram assassinados em ações dos EUA.
Esse número está muito mais de acordo com os dados que se obtêm de Airwars, um portal britânico de notícias que recolhe documentos sobre ataques aéreos dos EUA supostamente contra o ISIS. Segundo o portal Airwars, um total de 9.600 ataques aéreos dos EUA no Iraque e quase 5 mil na Síria nos últimos dois anos resultaram em, pelo menos, 1.584 civis assassinados.
Pois mesmo diante desses números, e mesmo quando funcionários dos EUA são postos diante da prova do que o país deles tem feito, eles ainda se recusam a reconhecer qualquer responsabilidade.
Segundo ativistas da ONG Anistia Internacional e de organizações de direitos humanos na Síria, a Casa Branca recusa-se a aceitar a responsabilidade por mortes de civis que são efeito direto de ações de guerra dos EUA. Por exemplo, quando Anistia Internacional noticiou dia 19 de julho, que bombardeiros B-52 norte-americanos lançaram mais de 1 tonelada de explosivos sobre a vila síria de Tokhars em Aleppo, matando pelo menos 80 civis, as autoridades norte-americanas nem assim reconheceram qualquer erro cometido por seus militares.
E tudo isso, ainda sem falar do uso de armamento proibido para uso militar, usado regularmente no Iraque e no Afeganistão, inclusive munição de fósforo (incendiária) e de urânio baixo-enriquecido, e até ameaças de usar armas táticas nucleares. Washington já reconheceu que usou fósforo branco no Iraque em 2004, recebeu condenação internacional por isso, mas, como se lê no Washington Post, continua a usar munição de fósforo branco no Iraque, até hoje.
Há até motivos para desconfiar que os EUA tenham usado armas nucleares no Afeganistão, com oficiais norte-americanos a sugerir abertamente que usaram esse tipo de arma nas montanhas de Tora Bora – em flagrante violação da Convenção de Genebra, o que implica que os que autorizaram o uso ou cogitaram disso na Casa Branca e no Pentágono, nos termos da lei internacional, são criminosos de guerra.
Não se deve esquecer que a Força Aérea dos EUA destruiu um hospital operado pelos "Doutores Sem Fronteiras" em Kunduz, Afeganistão, ainda em fevereiro de 2015; e outro hospital mantido pela mesma organização foi atingido em fevereiro na cidade síria de. Nos dois casos, houve alto número de mortos civis.
Assim se vê que são as atuais guerras que os EUA fazem pelo mundo que, mais que tudo, precisam ser atentamente investigadas, dado que todas elas resultaram em escolas e hospitais destruídos e centenas de civis mortos, mutilados ou arrancados da própria terra. Além do mais, a absoluta maioria das operações militares iniciadas pelos EUA são iniciadas e mantidas sem mandato da ONU, o que também é clara violação de leis internacionais.
Pois por mais longa que seja ou venha a ser a lista desses crimes, mais dia menos dia os criminosos e agressores terão de enfrentar um tribunal internacional que os julgará por seus crimes. Tão certo, como depois da noite vem a aurora.*****
Um comentário:
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