segunda-feira, 21 de agosto de 2017

"Adultos" versus "Ideólogos"? Narrativa 'da mídia' sobre a Casa Branca pode estar toda errada

19/8/2017, Moon of Alabama (Com atualização, abaixo)











Os Democratas e a 'mídia' amam os generais do Pentágono na Casa Branca. São os "adultos":

Sen. Sheldon Whitehouse (Democrata de Rhode Island) elogiou Donald Trump por ter escolhido o novo Conselheiro de Segurança Nacional –, chamando o respeitado militar de "adulto provado e certificado".


De acordo com a narrativa dominante, os "adultos" opor-se-iam aos "ideólogos" que cercam o principal assessor de Trump, Steve Bannon. E Bannon é contagioso, segundo Jeet Heer, uma vez que está convertendo Trump num ideólogo etnonacionalista. Uma recente entrevista curta com Bannon desqualifica essa narrativa.

Quem é mentalmente são e quem é maluco, digamos, sobre a Coreia do Norte?

O "adulto" general McMaster, Conselheiro de Segurança Nacional de Trump, não está entre os sãos. Diz que não há como impedir a Coreia de fazer alguma coisa realmente insana.


STEPHANOPOULOS: Mas sua antecessora Susan Rice escreveu essa semana que os EUA podemos tolerar armas atômicas na Coreia do Norte assim como toleramos armas atômicas na União Soviética durante a Guerra Fria. Ela está certa?
MCMASTER: Não, não está certa. E acho que a razão pela qual não está certa é que a teoria clássica da contenção, como se aplicaria a um regime como o da Coreia do Norte? Um regime que pratica a mais indizível brutalidade contra o próprio povo? Regime que é ameaça continuada aos vizinhos na região e que agora é ameaça direta também aos EUA, com armas de destruição em massa?


McMaster cuspia tolices. Dizia-se a mesma coisa sobre a União Soviética e a China quando passaram a ser estados nucleares. A Coreia do Norte acaba de também se converter em estado nuclear

A contenção tradicional dos dois lados funcionou muito bem com a Coreia do Norte durante décadas. A contenção nuclear com a Coreia do Norte funcionará também perfeitamente, tão bem como funcionou contra os comunistas soviéticos e chineses. Se a Coreia do Norte não fosse passível de ser contida, os EUA já a teriam explodido ontem mesmo, para minimizar os riscos e os danos. Com o que se vê que a posição ideológica, não racional e muito menos "adulta" é a de McMaster.

Compare-se com o que disse Steve Bannon em recente entrevista sobre a mesma questão:


"Não há solução militar [contra as ameaças nucleares da RPDC]. Podem esquecer qualquer solução militar. A menos que alguém resolva o lado da equação que mostra que 10 milhões de pessoas as Seul morreriam por armas convencionais nos primeiros 30 minutos, não sei do que pensam que estão falando. Não há solução militar lá. Eles nos pegaram."


Fato é que, sim, a República Popular Democrática da Coreia "pegou" os EUA e conteve o jogo de escalada dos EUA. É erro supor que a Coreia do Norte teria "recuado" no recente incidente em torno de um teste de míssil orientado para região próxima de Guam. Quem recuou, tentando consertar o erro do próprio comportamento ameaçador e de intimidação, foram os EUA, não a RPDC.

Desde o final de maio os EUA treinam extensivamente para ataques de decapitação, ditos "preventivos", contra a Coreia do Norte:


Dois altos oficiais militares – e dois altos oficiais aposentados – disseram à rede NBC News que chave para o plano seria um ataque com bombardeiro B-1B pesado, disparado da Base de Andersen da Força Aérea em Guam.
...

Dos 11 bombardeiros B-1 que treinam desde o final de maio, quatro também treinam ataques contra alvos militares na Coreia do Sul e na Austrália.


Em resposta aos planos publicados para os voos B-1B, a Coreia do Norte publicou planos para disparar um míssil de alerta num ponto bem próximo da ilha de Guam, dos EUA, de onde partiam aqueles voos. Nas entrelinhas, o anúncio incluiu uma proposta de suspender os testes do míssil, se os EUA suspendessem os voos do B-1B. Houve um acordo, em negociações secretas. Desde então, não houve mais treinamento com os bombardeiros B-1B e a Coreia do Norte suspendeu os planos que tivesse para testes em Guam. McMaster perdeu, e os sãos, dentre os quais Steve Bannon, venceram.

Mas e quanto à ideologia "etnonacionalista" de Bannon? Bannon não é culpado dos conflitos com doidos de direita em Charlottesville? Não é ele mesmo um deles?


"[Bannon] descartou a direita, como igualmente irrelevante e descartou qualquer papel que tivesse em cultivar posições da direita: 'Esse negócio de etnonacionalismo, coisa de perdedores. São elemento periférico. Acho que a mídia os promove demais e conseguimos ajudar a acabar com eles, você sabe, acabar ainda mais com eles'."

"Aqueles caras são um grupo de palhaços" – completou.


Bannon vê a China como inimigo político e quer escalar um conflito econômico contra os chineses. Consta que seria contrário ao acordo nuclear com o Irã. Todos os generais no gabinete de Trump são falcões anti-Irã. Dado que Bannon agora já está convertido em realista sobre a Coreia do Norte, não sei qual será sua real posição sobre o Irã, hoje.

Domesticamente, Bannon está empurrando os Democratas para uma armadilha contra a qual alertei várias vezes:


"Os Democratas", disse ele, "quanto mais falarem de política de identidades, mais depressa acabo com eles. Quero que falem de racismo todos os dias. Se a esquerda está focada em raças e identidade, e entramos com nacionalismo econômico, podemos esmagar os Democratas."


Funcionou muito bem durante as eleições presidenciais e pode continuar a funcionar bem para Trump. Enquanto os Democratas não encararem e lutarem por políticas econômicas que não sejam nem doidas nem idiotas, continuarão a perder eleições. 

O povo não está interessado em assuntos como a qual banheiro uma pessoa LGBT tem acesso. O povo quer assistência universal à saúde, em sua própria segurança pessoal e econômica. Dificilmente conseguirão o que querem em governo de Bannon e Trump. Mas, diferente do tempo dos Democratas, a equipe que atualmente pilota a Casa Branca pelo menos diz que tem planos para chegar lá.

ATUALIZAÇÃO (19/8/2017)

UPI noticia:


Ativos militares estratégicos dos EUA, incluindo um porta-aviões e um submarino movido a energia nuclear, podem não ser usados nas próximas manobras conjuntas na península coreana.

A rede SBS da Coreia do Sul noticiou na 6ª-feira que os EUA cancelaram planos para deslocar ativos militares estratégicos para as manobras a terem início na próxima semana. O movimento acontece uma semana depois de as tensões terem aumentado entre Washington e Pyongyang.

...

As manobras, batizadas Ulchi Freedom Guardian came foram duramente criticadas pela Coreia do Norte essa semana, quando Pyongyang alertou para uma possível "segunda Guerra da Coreia", se Seoul e Washington prosseguissem nos planos daquelas manobras militares.

Depois de uma semana de tensões em alta, Pyongyang também declarou que o líder Kim Jong Un passaria a "monitorar" os EUA antes de tomar medidas sem precedentes contra Guam, onde está localizada uma base chave da Força Aérea dos EUA.


Não apenas os EUA retiraram os bombardeiros B-1B de Guam, como também desescalaram outros ativos militares estratégicos envolvidos no treinamento anual para uma guerra contra a Coreia do Norte. Todo o investimento que a Coreia do Norte fez em seu sistema de armas e mísseis nucleares está rendendo altos dividendos.*****

Nenhum comentário: