O período entre as duas guerras mundiais não foi tempo de democracias versus ditaduras. Foi tempo de Europa oriental e Europa central – ambas de ultradireita e fascistas –, contra uma União Soviética isolada.
O período entre as duas guerras mundiais na Europa não foi tempo de democracias florescentes brotadas das cinzas da 1ª Grande Guerra, mas, isso sim, os países centrais eram marcadas ditaduras de extrema direita.
Listo aqui alguns exemplos:
HUNGRIA: Nos anos entre as duas grandes guerras, a Hungria teve governo ultrarreacionário, com destaque para o primeiro-ministro Gyula Gömbös.
LETÔNIA: O ditador da Letônia Kārlis Ulmanis governou com mão de extrema direita férrea durante os anos entre a 1ª e a 2ª Guerra Mundial.
LITUÂNIA: Antanas Smetona, líder lituano entre as guerras ajudou a empurrar o país sempre mais na direção de uma direita protofascista.
ESTÔNIA: Konstantin Päts era um pouco menos violento, mas era ditador fortemente nacionalista, que matou a democracia em seu país.
TCHECOSLOVÁQUIA: Edvard Beneš foi o político tcheco mais influente entre as duas guerras mundiais, e embora menos radical que muitos de seus vizinhos, também deixou legado ambíguo de governo fortemente autoritário.
Eis uma lista de todos os países europeus que assinaram pactos de não agressão com a Alemanha nazista, antes de agosto de 1939.
1. Polônia–1934
A 2ª República Polonesa foi dominada por dois políticos rivais, Józef Piłsudski e Roman Dmowski. Apesar de ambos serem venerados na Polônia contemporânea, tiveram ideias radicalmente diferentes sobre o que a Polônia devesse ser.
Józef Piłsudski clamava por uma "Polônia maior", que incluísse grande parte do território do que se conheceu como aCommonwealth Polonesa-Lituana e que dominou a Europa Oriental e Central.
Piłsudski era estridentemente antirrussos, e absolutamente subestimou e chegou a desconsiderar a ameaça alemã que já se aproximava. E tentou construir uma federação europeia de direita que rivalizaria e dominaria a União Soviética. Foi essa sua política que empurrou seu país, como sonâmbulo, para a Guerra Polônia-Soviéticos que se estendeu de 1919 a 1921. Foi o conflito mais longo que a Europa conheceu no período entre as duas guerras mundiais.
… Diferente disso, Roman Dmowski favoreceu o acordo que definiu as fronteiras polonesas depois da 1ª Guerra Mundial, buscando um estado homogêneo étnica e culturalmente que pudesse resistir às ambições nacionalistas da Alemanha, sem antagonizar o grande estado soviético oriental.
No fim o expansionismo da "Polônia maior" de Piłsudski levou a melhor, o que deixou a Polônia perigosamente exposta à agressão alemã, que tão caro custou à Polônia durante os anos 1940s.
Ainda mais significativo, é que as ambições de Piłsudski tenham sido uma das causas próximas da 2ª Guerra Mundial, guerra na qual a Polônia sofreu terrivelmente.
A obsessão de Piłsudski contra a Rússia levou-o a descartar completamente as ameaças do expansionismo alemão e a não se aperceber da retórica anti-Polônia do regime fascista de Adolf Hitler.
Em 1934, o ministro de Relações Exteriores de Piłsudski Józef Beck ajudou a cimentar o Pacto Alemão-Polonês de Não Agressão, anos antes de os britânicos arquitetarem o Acordo de Munique de 1938, para nem falar do Pacto Soviético-alemão de Não Agressão de 1939.
Apesar de as tentativas polonesas para criar um novo bloco centro/oriental europeu, o bloco não teve boa sorte e só realizou duas coisas terrivelmente infelizes.
Primeiro, porque se ignoraram todos os alertas de Roman Dmowski sobre a Alemanha, a Polônia realmente movimentou-se como sonâmbula, deixando que a agressão alemã de setembro de 1939 contra terras polonesas acontecesse e se concretizasse como uma das causas da 2ª Guerra Mundial na Europa.
Segundo, as ambições de Piłsudski, que ele continuou a promover até muito depois de a URSS ter adotado a política anti-imperialista de "Socialismo num só Estado", na verdade ajudaram a mobilizar apoios em torno de regimes de extrema direita por toda a Europa.
A Polônia deixou-se cegar a tal ponto, pela agressão mútua entre poloneses e tchecoslovacos e pela troca de insultos entre soviéticos poloneses, que acabou na cama com o país que a invadiria em 1939 – que formalmente teria iniciado a 2ª Guerra Mundial.
2. Grã-Bretanha – 1935 e 1938
Em 1935, Londres e Berlin assinaram o Pacto Naval Anglo-alemão que garantiu que o número de navios da Kriegsmarine(Marinha de Guerra Alemã) em nenhum momento excederia 35% do número de navios da Marinha Real Britânica.
Em 1938, Grã-Bretanha e Alemanha outra vez assinaram um pacto, dessa vez o Acordo de Munique, pelo qual a Grã-Bretanha permitia que Hitler invadisse e ocupasse parte da Tchecoslováquia. A Grã-Bretanha, claro, não tinha qualquer direito para falar pela Tchecoslováquia e entregasse território do país menos violentamente ditatorial da Europa Central naquele momento. Pois foi precisamente o que a Grã-Bretanha fez.
3. Romênia–1939
O Tratado Econômico Alemão-Romeno de 1939 efetivamente deu à Alemanha controle sobre toda a economia romena e, consequentemente, sobre todo o Estado romeno. Só o Tratado do Anschluss foi mais abrangente.
4. Dinamarca – 1939
Em maio de 1939 a Dinamarca tornou-se o único país escandinavo a assinar um pacto de não agressão com a Alemanha. Por sua vez, Suécia e Finlândia mantiveram-se legalmente neutras, embora a Finlândia tenha combatido a Guerra do Inverno contra a União Soviética, antes do início da Grande Guerra Patriótica [que é como os russos chamam a 2ª Guerra Mundial (NTs)], mas depois de França e Grã-Bretanha terem declarado guerra à Alemanha.
5. Itália – 1939
Na primavera de 1939, a Itália assinou o chamado 'Pacto de Aço' com a Alemanha, que firmou a aliança de guerra das duas maiores potências fascistas do mundo.
A Noruega teve de se contentar com um governo alemão fantoche, chefiado pelo infame Vidkun Quisling.
6. Estônia – 1939
Dia 7/6/1939 o regime estoniano de Konstantin Päts, o homem que pôs fim à democracia naquele país, assinou um pacto de não agressão com a Alemanha de Hitler.
7. Letônia – 1939
No mesmo dia que a Estônia, s Letônia, que era então governada pelo ditador protofascista Kārlis Ulmanis, assinou um pacto de não agressão com o Reich de Hitler.
Em agosto de 1939, além dos países acima listados, Hungria, Letônia e Bulgária também já estavam sob as garras de governos pró-nazistas. Naquele momento, toda a Europa Central e Oriental tinha governos ou fascistas ou de direita, com a possível exceção da Tchecoslováquia. No sul da Europa, a resistência contra o fascismo era conduzida por combatentes da Resistência Grega e os partisans iugoslavos liderados por Tito, que seria presidente da Iugoslávia.
Só depois de tudo isso foi que a União Soviética assinou um pacto de não agressão com Berlim, em agosto de 1939.
Dia 22/6/1941, a Alemanha nazista invadiu a União Soviética. E começou a Grande Guerra Patriótica.
Dia 9 de maio de 1945, depois de 27 milhões de mortos, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas pôde afinal dizer, com muita razão, que ajudou a derrotar o fascismo.*****
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