"... e a "Operação Proteção das Papoulas Forever" continua... forever" 22/8/2017, Pepe Escobar (com Scott Rickard), Facebook.
No passado a Rússia já sugeriu que os EUA patrocinam clandestinamente o Estado Islâmico no Afeganistão. Na 5ª-feira, a porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da Rússia subiu o tom, e disse que "combatentes estrangeiros" que foram transferidos em "helicópteros desconhecidos" cometeram um massacre de xiitas Hazara na província Sar-e-Pol, no norte do Afeganistão. A porta-voz disse:
· Identificamos tentativas para acender um conflito étnico no país (...) Há também registros de casos de voos de helicópteros não identificados para território controlado por extremistas nas províncias ao norte do Afeganistão. Por exemplo, há evidência de que dia 8 de agosto quatro helicópteros voaram da base aérea do 209º corpo do Exército Nacional Afegão, em Mazar-i-Sharif para a área ocupada pelos militantes no distrito de Aqcha da província de Jowzjan. Vale a pena notar que testemunhas desses voos começaram a sumir do radar das agências legais de controle. Parece que o comando das forças da OTAN que controlam o céu afegão obcecadamente se dedicam a não notificar esses incidentes.
Pelo que aí se lê, parece que seções das forças armadas afegãs e o comando da OTAN (que controlam o espaço aéreo afegão) estão acertadas como mão e luva nessas operações clandestinas. Sem dúvida, é acusação muito grave. O ataque contra os xiitas Hazara deve ser tomado como mensagem dirigida a Teerã. Historicamente e culturalmente, o Irã tem afinidades com a comunidade xiita Hazara no Afeganistão. Possivelmente, o governo Trump, que jurou derrubar o regime iraniano, está abrindo um 'segundo front' para o Exército Islâmico contra o Irã, a partir do leste.
Interessante, o Ministério de Relações Exteriores da Rússia também distribuiu declaração na 6ª-feira sobre a alarmante situação do mercado negro de drogas no Afeganistão. Diz que:
· Espera-se que aconteça forte aumento na produção de drogas no Afeganistão esse ano, e 1/3 da população do país vive hoje em atividades relacionadas ao cultivo da papoula do ópio.
· A geografia do tráfico afegão de drogas expandiu-se muito e agora já chega ao continente africano.
· Toneladas de produtos químicos para processar a droga são importadas ilegalmente para o Afeganistão – com Itália, França e Holanda "entre os principais fornecedores".
· EUA e OTAN ou não querem ou absolutamente já não conseguem conter a atividade ilegal.
Rússia e Irã não podem fazer como se não vissem as atividades hostis de EUA (e OTAN) ali junto de suas fronteiras, transformando a guerra anti-Talibã em mais uma guerra à distância. Claro que só podem observar o conflito afegão pela lente das próprias tensões sempre crescentes com os EUA.
Que opções tem a Rússia? O ministro da Defesa da Rússia Sergei Shoigu disse numa reunião com o alto escalão em Moscou, dia 18 de agosto, que o conflito afegão gera uma ameaça contra a estabilidade da Ásia Central. Disse que a Rússia planeja manobras militares conjuntas ainda esse ano com o Quirguistão, o Tadjiquistão e o Uzbequistão. A Rússia tem bases militares no Tadjiquistão e no Quirguistão.
Mais uma vez, o embaixador Zamir Kabulov, enviado do presidente da Rússia ao Afeganistão, disse recentemente que se o governo afegão e os EUA são incapazes de conter o Estado Islâmico, a Rússia recorrerá a força militar. Kabulov revelou que a Rússia levantou no Conselho de Segurança da ONU a questão de suprimentos despejados de aviões para os combatentes do Estado Islâmico em pelo menos três províncias no norte do Afeganistão por aviões sem identificação.
Claro, é inconcebível que a Rússia venha a pôr 'coturnos em solo' no Afeganistão. Mas se o Estado Islâmico invadir fronteiras dos estados da Ásia Central, ali passará a ser a "linha vermelha', e a Rússia revidará. A Rússia está reforçando suas bases no Quirguistão e no Tadjiquistão. Significativamente, num exercício militar conjunto com o Tadjiquistão em julho, a Rússia testou seus mísseis balísticos Iskander-M de curto alcance, uma das armas mais avançadas do arsenal russo, com alcance de 500 km e carga de 700 kg. Iskander é equipado com sistemas de orientação terminal, com a capacidade de superar mísseis de defesa. Os Iskanders têm precisão de menos de dez metros. (A Rússia já usou essa arma mortífera na Síria.)
Com a saída da Casa Branca do estrategista Steve Bannon, obcecado ideólogo antiguerra no governo Trump, que queria dar fim imediato à guerra afegã, os generais agora assumiram o pleno controle da política dos EUA. O secretário da Defesa James Mattis e o Conselheiro de Segurança Nacional HR McMaster são favoráveis ao envio de mais soldados para o Afeganistão. O 'não sabido sabido' é John Kelly, que Trump nomeou recentemente para o cargo de seu chefe de gabinete. Mas há muitos sinais de que Kelly (general aposentado do Marine Corps e pai de um Marine morto no Afeganistão em 2010, 1º tenente Robert Kelly), quase com certeza partilha a mesma opinião de Mattis e McMaster.
Quanto mais se olha a coisa toda, mais se vê que o verdadeiro desafio que o presidente Donald Trump tem de vencer não é vencer alguma guerra contra os Talibã, mas o alto risco a que se expõe ao acolher opiniões de seus generais, e assinar a ordem para meter os EUA em guerra à distância total no Afeganistão, contra Rússia, Irã e China.*****
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