terça-feira, 22 de agosto de 2017

Os Talibãs se renderam e os EUA não aceitaram. Agora eles estão de volta

22.08.2017, Ryan Grim - Information Clearing House



tradução de btpsilveira







Por acaso você sabia que o Talibã tentou se render pouco antes da invasão do Afeganistão pelos Estados Unidos?

No Afeganistão, por séculos, quando uma força rival conquista o poder, os derrotados baixam suas armas e se integram à estrutura do poder – claro que com muito menos poder, ou nenhum. É como quando você lida com um vizinho chato ao lado do qual continuará a viver. Não se trata de um jogo de futebol, quando no final da partida cada time vai para a cidade onde está sediado. Para os (norte)americanos, é compreensivelmente difícil de entender, porque os EUA não lutam uma guerra prolongada no próprio território desde a guerra civil.


Então, o Talibã tentou a rendição, e repetidamente os Estados Unidos não aceitaram, em uma série incrível de declarações estúpidas e arrogantes, muito bem descritas no livro investigativo de Anand Gopal sobre a guerra do Afeganistão - “Nenhuma boa pessoa sobreviveu.”

Para a administração Bush, nada servia, a não ser a aniquilação total. Ele queria ver mais terroristas mortos em sacos plásticos. O problema foi que quando o Talibã parou de lutar, Ou fugiu para o Paquistão ou se misturou com a população civil. Os militantes da Al Qaeda, por sua vez, não passavam de um punhado.

Daí, como matar terroristas que não estavam ali?

Muito simples: os afegãos com os quais os EUA trabalhavam em parceria entenderam imediatamente a situação criada pelos seus patrocinadores e começaram a “fabricar” pessoas más. Você sabe, a demanda cria a oferta, e os Estados Unidos pagavam bem por informações que levassem à morte ou captura de membros do Talibã. De repente, havia Talibãs por todos os lados. Os números subiram como um foguete; tudo o que você tinha que fazer para ver um vizinho chato morto ou mandado para Guantánamo era dizer para os (norte)americanos que ele pertencia ao Talibã.

Sem nenhuma pergunta as portas eram arrobadas. Os que sobreviveram se tornaram senhores de guerra e construíram fortunas imensas que mandaram imediatamente para o exterior. “Não seremos mais construtores de nações” declarou o presidente Trump na segunda à noite. Bem... na realidade nunca fomos, a não ser que construir arranha céus em Dubai com dinheiro roubado conte.

Depois de alguns anos desses jogos mortais, depois que suas tentativas de se render foram repetidamente ignoradas, o velho Talibã começou a pegar novamente em armas. Quando foram expulsos do poder, a população ficou feliz em vê-los partir. Os Estados Unidos deram um jeito de torná-los populares novamente.

Os liberais passaram o tempo todo se queixando na campanha presidencial de 2008, que os Estados Unidos tinham “ignorado” o Afeganistão – quando na realidade, as únicas partes do país que tinham paz eram aquelas ponde as tropas estavam ausentes. Nestes locais, não havia insurgência contra as forças afegãs, como nos outros lugares. A seguir surgiu o presidente Obama, que promoveu um grande aumento de tropas enquanto anunciava ao mesmo tempo a retirada – junto com um aumento de foco em incursões noturnas, confiando mais uma vez no mesmo velho sistema de inteligência incompetente que já atingiu indiscriminadamente tantas pessoas que nada tinham a ver com o problema.

Mas agora, agora temos Trump afirmando que tem uma estratégia nova e melhor. Afirma que os Estados Unidos tem que fazer o Paquistão se envolver mais – esquecendo, claro, que o serviço de inteligência paquistanês tem apoiado o Talibã por décadas.

O livro de Gopal é o resumo definitivo de como a guerra descarrilhou. Parece uma novela, mas na verdade é um retrato cru e real de três afegãos e como passam pela guerra – um senhor de guerra a favor dos Estados Unidos, um comandante do Talibã e uma dona de casa. Deixaria aqui a sugestão para que Trump leia o livro – afinal, o livro fornece um alerta terrível contra o tipo de esforço de guerra que o presidente agora está tentando escalar – mas como tem mais que uma página, seus conselheiros dizem que ele não conseguirá digerir. Além disso, a única coisa que parece lhe interessar de verdade é o fato de que o Afeganistão tem um monte de riquezas minerais que ele pensa que pertencem aos EUA.

Antes de pensar que está agarrando uma oportunidade para saquear o Afeganistão, Trump deveria pensar em uma realidade que seria trágica se não fosse cômica: Nós estamos perdendo uma guerra para um inimigo que já tentou se render. Não é fácil.



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