quarta-feira, 16 de maio de 2018

Irã quebra as Regras de Engajamento. Israel vinga-se. Síria e Irã impõem a equação do Golan, por Elijah J. Magnier



Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu




Israel atinge novamente alvos sírios e iranianos e depósitos de armas (evacuados semanas antes), pela quarta vez em um mês. 28 jatos israelenses participaram do maior ataque desde 1974. Tel Aviv informou os russos sobre suas intenções, sem conseguir impedir que os sírios respondessem. Na verdade, única novidade é o local onde Damasco decidiu atacar: as colinas ocupadas do Golan (20 foguetes foram disparados contra posições militares israelenses).

A Síria, em coordenação com seus aliados iranianos (e sem levar em consideração os desejos russos) tomou a decisão muito audaciosa de disparar contra alvos israelenses no Golan. Isso indica que Damasco e seus aliados estão prontos para ampliar a batalha, em resposta às contínuas provocações israelenses.

Mas qual é a razão pela qual a Síria abraça agora essas novas Regras de Engajamento?


Durante décadas, houve um acordo não declarado de ROE entre o Hezbollah e Israel, de cujas consequências os dois lados sempre estiveram cientes. Geralmente, Israel prepara um banco de objetivos-alvo com escritórios do Hezbollah, objetivos militares e depósitos e também comandantes específicos com posições-chave dentro da organização. Israel atinge esses alvos (a lista é sempre atualizada) em todas as guerras. Mas os israelenses também reagem imediatamente contra os comandantes do Hezbollah, que têm a tarefa de apoiar, instruir e financiar palestinos na Palestina e, acima de tudo, os palestinos de 1948 que vivem em Israel. 

Já aconteceu em muitas ocasiões, quando comandantes do Hezbollah relacionados ao dossiê palestino foram assassinados no Líbano.

No mês passado, Israel viu que o Irã estava enviando drones observáveis, de baixa altitude, que lançavam equipamentos eletrônicos e de guerra especiais para os palestinos. Os radares israelenses não viam a movimentação desses drones com seus radares tradicionais, mas conseguiram finalmente identificar um desses drones, quando usaram a detecção térmica e a dissuasão acústica para derrubá-lo em sua última jornada.

Em resposta a isso, Israel atacou o aeroporto militar sírio T-4 usado pelo Irã como base para esses drones. Mas Israel queria mais; e atingiu vários alvos iranianos e sírios nas semanas seguintes.

Tel Aviv acredita que conseguirá safar-se, sem desencadear uma resposta militar, apesar de atingir repetidamente alvos iranianos. Talvez Israel realmente acreditasse que o Irã estaria com medo de se envolver em uma guerra com Israel, com os EUA prontos para participar de qualquer guerra contra a República Islâmica, de suas bases militares espalhadas pela Síria, nas proximidades das forças iranianas na Síria. 

Obviamente se vê agora que o Irã tem visão diferente dos israelenses, dos americanos e até dos russos – sempre empenhados em de evitar qualquer contato a todo custo.

Independentemente de quantos jatos israelenses participaram do último ataque contra os alvos iranianos e sírios e de quantos mísseis foram lançados ou interceptados, houve um sério e importante avançoo alto comando sírio quebrou todas as regras, e nem por isso encontrou qualquer dificuldade para bombardear Israel nas Colinas do Golan Ocupado.

Repito: o tipo de mísseis ou foguetes disparados pela Síria contra os alvos militares israelenses não é importante; tampouco importa se caem em espaço aberto ou atingem seus alvos. 

IMPORTANTE é que agora há novas Regras de Engajamento na Síria, semelhantes às que o Hezbollah estabeleceu em 2000, em relação a Kiryat Shmona, perto da fronteira libanesa, quando militantes disparavam canhões antiaéreos cada vez que Israel violava o espaço aéreo libanês.

Basicamente, Israel sempre quer atingir objetivos na Síria, mas diz que não estaria interessado em aprofundar o conflito. Israel quer continuar a provocar Síria e Irã no Levante, mas diz que não quer guerra nem quer envolver-se em combates. Israel quer continuar a atingir qualquer alvo que escolha na Síria, sem sofrer retaliação. 

Agora, afinal, com o mais recente ataque israelense, as "consequências não intencionais" ou provocação de Israel forçaram o governo sírio a considerar as Colinas do Golan ocupadas como o próximo campo de batalha. 

Se Israel continuar e ultrapassar a fronteira, a Síria considerará disparar seus mísseis ou foguetes para além das Colinas de Golan. Com esse movimento, os sírios terão chegado a território israelense.

Na verdade, o secretário-geral do Hezbollah, Sayyed Hasan Nasrallah, disse há alguns anos: "Deixe o Líbano fora do conflito. Venha para a Síria, onde podemos resolver nossas diferenças".

A Síria, logicamente, tornou-se o campo de batalha para todos os países e partidos resolverem suas diferenças, a plataforma onde a guerra silenciosa entre Israel e o Irã e seus aliados começa afinal a falar alto e claro.

Em Damasco, fontes próximas à liderança acreditam que Israel continuará atacando. Mas agora Israel já sabe onde a Síria responderá aos ataques. Isso, sim, é "consequência não desejada" que Israel desencadeou, por menos que desejasse. Agora já é a regra.

A cúpula de ferro de Israel é ineficiente e incapaz de proteger Israel contra foguetes e mísseis lançados simultaneamente. Agora a batalha transferiu-se para o território sírio ocupado por Israel, para irritação de Tel Aviv e da Rússia. 

Irã e Síria não estão levando em consideração a preocupação da Rússia, interessada em manter baixo o nível de tensão, a qualquer custo, e ainda que Israel não se controle. 

A Síria reconhece a importância da Rússia e seu papel eficiente em deter a guerra na Síria e todo o apoio militar e político que Moscou está oferecendo. Mas Damasco e Teerã têm outras considerações, além do propósito de apenas conter Israel. 

Já há mais de 16 grupos sírios treinados e prontos para libertar as Colinas de Golan, ou entrar em conflito com qualquer possível avanço israelense sobre território sírio. Israel desencadeou o que sempre mais temeu. E criou novo campo de batalha nas colinas de Golan. 

É verdade que Israel se limitou a bombardear armazéns de armas que nunca atingiram antes. Bombardeou bases onde servem os assessores iranianos, junto com oficiais sírios (a Rússia liberou a maioria das posições para evitar o constrangimento de ser atingida por Israel). Também é verdade que Israel não bombardeou regularmente aviões militares e de transporte iranianos que transportavam armas para a Síria, ou o principal centro de controle e comando iraniano no aeroporto de Damasco. Todos esses são indícios claros de que nem todos os lados estão pressionando, até o momento, por escalada mais ampla.

A situação pode ficar fora de controle? É claro que pode. A questão é quando acontecerá.****




Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente