quarta-feira, 9 de maio de 2018

Vice-presidente para capitular (Putin decide onde empregará Kudrin)

2/5/2018, John Helmer, Dances with Bears, Moscou


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



Entreouvido na Vila Vudu:

A coluna adiante traduzida está quase toda ela 'jornalisticamente' superada. Mas aí vai, para que se possa ver que o presidente Putin na verdade enfrenta nesse momento o complô que EUA e UE armaram contra seu governo. O candidato dos golpistas ao cargo de vice-presidente [nomeado pelo presidente, se for] é esse Kudrin, uma espécie de sub-Ciro Gomes da Rússia.

Até aqui parece que, com a vitória nas eleições, Putin conseguiu conter Medvedev, mantendo-o no cargo de primeiro-ministro; preste ou não preste, ainda é derrota desse Kudrin. Mas também é verdade que o discurso de posse de Putin foi HORROROSAMENTE pró-austeridade à moda MeirellesParenteAluysioNunesCIA & barões-ladrões coisa e tal...

Notícia de hoje: "Nessa 3ª-feira (8/5/2018), a Duma (câmara baixa do parlamento russo) aprovou por ampla maioria a recondução de Dmitri Medvedev ao cargo de primeiro-ministro, proposta pelo Presidente, Vladimir Putin. Medvedev, 53 anos, obteve 374 votos a favor e 56 contra" (9/5/2018, 
Jornal de Notícias, Portugal).

Ler também, de hoje: "Novo governo da Rússia veste o capelo talar para inovar em matéria de espinha dorsal zero", 8 de maio, John Helmer, Moscou [traduzido em Blog do Alok)

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Presidente Vladimir Putin analisa a possibilidade de nomear um vice-presidente para negociar um fim das sanções com os EUA e União Europeia (UE) e uma meia-volta volver na política exterior e de defesa da Rússia.

No esquema proposto pelo ex-ministro das Finanças Alexei Kudrin (ao centro, na imagem da abertura da coluna), o emprego teria mais poder que o primeiro-ministro, o que permitiria deixar Dmitry Medvedev onde está, mas subordiná-lo ao novo homem forte. A ideia de Kudrin é que ele próprio se tornaria vice-presidente de fato; político dominante do governo, acima do qual só haveria Putin; e provável sucessor do presidente recém reeleito.

Vice-presidente é o termo mais usado entre autoridades e conselheiros no Kremlin. Nunca, desde a crise constitucional de 1993, quando o vice-presidente Alexander Rutskoi liderou a rebelião do Parlamento contra o presidente Boris Yelstin, existiu cargo de vice-presidente nomeado na Rússia, com poder para suceder ou substituir o presidente empossado. É arranjo para o qual Kudrin diz ter o apoio de EUA e UE.  Kudrin atrairia também o apoio dos oligarcas russos, dentro e fora do país.

As forças de segurança, da Defesa e militares opõem-se ao esquema Kudrin, que essas autoridades veem como capitulação. 

O ministro da Defesa Sergei Shoigu, o comandante do Estado-maior general Valery Gerasimov, o vice-primeiro-ministro encarregado do relacionamento com o complexo militar-industrial, Dmitry Rogozin, e outros altos oficiais continuam tentando persuadir Putin a nomear um novo primeiro ministro que enfrente a guerra militar, econômica e de informação a qual, na opinião deles, os EUA farão contra a Rússia até que o Kremlin aceite os termos 'do ocidente' (aqui, sobre a história da Stavka, gabinete de guerra).[1]  

Todas essas autoridades e especialistas opõem-se furiosamente a Kudrin e ao projeto dele de se aliar com Medvedev para reivindicar a sucessão de Putin, no caso de Putin concordar em ceder nos poderes e políticas contra as quais as potências da OTAN planejaram a mudança de regime na Rússia.

Igor Sechin, presidente-executivo da [petroleira estatal russa] Rosneft e ele mesmo candidato potencial à presidência, não está concorrendo a essa dita 'vice-presidência'. Fontes próximas a ele dizem que já se opôs às ambições de Kudrin e Medvedev, mas dessa vez concorda. Como vice-chefe de gabinete do Kremlin na primeira presidência de Putin (2000-2008), Sechin foi vice-presidente de fato, para assuntos domésticos, ao qual Medvedev sempre fez sombra.

A Constituição Russa de dezembro de 1992 previa um vice-presidente, como segunda autoridade do Estado, a ser eleito com o presidente na mesma cédula, à maneira dos EUA. O artigo 121-7 dizia: "O vice-presidente da Federação Russa exerce seus poderes em separado a pedido do presidente da Federação Russa. O vice-presidente da Federação Russa substitui o presidente da Federação Russa na ausência dele."

Até hoje só houve um – Alexander Rutskoi, major-general da Força Aérea Soviética, combatente veterano condecorado da Guerra Afegã. Depois de ter liderado a rebelião contra Boris Yeltsin em 1993, foi suspenso por Yeltsin num decreto que a Corte Constitucional declarou ilegal. Apoiado em decisão do Parlamento, Rutskoi assumiu a presidência interina dia 22/9/1993. Duas semanas depois foi derrotado no ataque que Yeltsin ordenou contra o prédio do Parlamento, e preso. Yeltsin então conseguiu uma nova Constituição, que foi ratificada num referendum fraudado em dezembro de 1993. Na nova Carta Magna de Yeltsin o posto de vice-presidente foi eliminado. No lugar dele apareceu um primeiro-ministro subordinado, nomeado pelo presidente, não eleito em eleição geral.

A ambição de Kudrin de chegar ao poder é muito bem conhecida de todos. Em setembro de 2011, entrou em conflito aberto com Medvedev, então presidente, aspirante a um segundo mandato. Kudrin foi a Washingon onde informou sobre sua ação de tomada do poder. Na volta, Medvedev passou-lhe furiosa carraspana pela televisão e demitiu-o. Putin, então primeiro-ministro e decidido a voltar ele mesmo à presidência em 2012, defendeu Kudrin; disse que "nosso bom amigo e pessoal amigo" sofrera um "colapso emocional".

Três meses depois, no show de Putin em rede nacional, foi reempossado. "Aleksei Leonidovich Kudrin não deixou minha equipe. Somos velhos camaradas, ele é meu amigo. Fez muito pelo país. Tenho orgulho de dizer que esse homem trabalhou no meu governo. Essas pessoas são necessárias e continuarão necessárias no atual e em próximos governos." A "Rádio Liberdade" RFE/RL estatal norte-americana de comunicação noticiou a reabilitação em manchetes: "Putin e Kudrin: perfeita parceria russa".


Kudrin, economista de St. Petersburg que trabalhou com Putin no governo do prefeito Anatoly Sobchak em meados dos anos 1990s, quando mantinha Putin em permanente estado hipnótico, sempre a falar a favor de orçamentos 'austeros', 'austeridade' em geral, privatização de patrimônio público, e controle da economia entregue, por 20 anos aos oligarcas. Os sucessos de Kudrin em matéria de enriquecimento rápido são conhecidos e bem documentados por fontes de dentro da Alrosa, a estatal russa de mineração de diamantes, cuja diretoria Kudrin controlava quando foi ministro das Finanças. (Arquivos inacessíveis nesse momento).

Semana passada, Kudrin anunciou que estava à disposição para ser promovido a vice-presidente oficial de Putin, e comunicou à mídia suas propostas de uma "paridade justa – depois de seis anos de gastos sem produtividade, o país passará a gastar produtivamente".

"Seis anos", naquela fala de Kudrin, eram os seis anos desde que Medvedev o demitiu do governo. Fala também de implementar cortes profundos no gasto da Defesa e uma política de retirar as forças russas da Ucrânia e da Síria, exatamente nos termos que Washington está exigindo. Favorece venda massiva de patrimônio público aos oligarcas, cuja exportação de capitais Kudrin protege há muito tempo, e cujos resgates, pelos bancos estatais russos, Kudrin dirigiu em 2008, com seu aliado de longo tempo German Gref (Imagem de abertura, 2º a partir da esquerda), presidente executivo do Sberbank.

Kudrin é desses para quem a palavra "reforma" significa exclusivamente privatização de patrimônio público a ser entregue aos oligarcas; e socialização para toda a população russa, de todos os riscos e perdas que ameacem ou já tenham atingido os oligarcas. 

Semana passada, Kudrin anunciou que ele e Medvedev haviam estado reunidos, ocasião que o porta-voz do primeiro-ministro disse que teria sido focada "nas propostas de Kudrin para melhorar o sistema da administração pública." Na verdade, a dupla discutiu como montar uma frente única para pleitear a nomeação por Putin.

Para mostrar a Putin que já tem o apoio de toda a aliança ocidental anti-Rússia, Kudrin conseguiu que o Financial Times noticiasse como coisa decidida, a nomeação dele.


O jornal anuncia o novo emprego de Kudrin como "posto peso-pesado encarregado da estratégia econômica e movimento na direção da Europa e dos EUA, informaram pessoas que já conhecem os planos (...). O título bem pode ser algo como "representante do presidente para cooperação econômica internacional."

Um dos porta-vozes de Kudrin também é citado no jornal, como quem revelou o projeto de seu patrão para, com o cargo que Putin lhe dará, "reformar" toda a política exterior da Rússia. Se Kudrin foi realmente incorporado ao governo, será indicação de que todos concordaram nessa nova agenda de mudanças, incluindo mudanças na política externa, porque, sem mudanças na política externa, nenhuma reforma é sequer possível na Rússia (...) Kudrin é o único, nos altos escalões, que conversará com o ocidente e merece alguma confiança."

Para o Financial Times, a luta para dar a Kudrin autoridade presidencial para desmantelar as capacidades de defesa da Rússia e reverter a atual estratégia de política externa dos russos não passaria de "esforço para recompor as relações com o ocidente, num momento em que as sanções e o crescente conflito internacional obstruem todos os esforços para revigorar a estagnada economia russa."

FT de Londres tem longa história de errar suas 'antecipações', noticiando mais os desejos do jornal e do poder financeiro mundial, como se tudo já estivesse decidido em Moscou. Certa vez, o correspondente do jornal em Moscou – casado com uma advogada de empresa que trabalhava com Yegor Gaidar na venda de patrimônio público a investidores estrangeiros – anunciou que Gaidar fora eleito primeiro-ministro. Na verdade, havia sido derrotado em votação no Parlamento, e o eleito foi Victor Chernomyrdin, não Gaidar. Isso, em dezembro de 1992.

Fontes próximas da campanha de Kudrin contra o estado-maior dizem que nunca viram tensão tão palpável, em toda a história. Dizem que Putin decidiu não demitir Medvedev, mas ainda não se decidiu, entre o esquema Kudrin para o futuro e as políticas exigidas pelo Gabinete de Guerra, Stavka. *******

Legenda da imagem de abertura da coluna. Da esquerda para a direita: Mikhail Fridman, German Gref, Alexei Kudrin. Ausente da ilustração, mas incluído no plano de Kudrin, é Dmitry Peskov, que vive à espera de deixar de ser porta-voz do Kremlin para substituir Sergei Lavrov como Ministro de Relações Exteriores.

Também dessa mesma gangue da capitulação, o vice-primeiro-ministro Igor Shuvalov anunciou à imprensa semana passada que não quer ser reconduzido ao atual emprego. "Quero estar onde o presidente ordene. Fico feliz com qualquer trabalho que o presidente me dê."

O original da imagem de abertura da coluna foi um pôster do coletivo Kukriniksy, onde se reuniram três famosos cartunistas soviéticos, Mikhail Kupriyanov, Porfiri Krylov e Nikolai Sokolov. O cartaz original, publicado em Moscou em outubro de 1938, mostrava os britânicos traindo os tchecos e entregando o território dos sudetos a Adolph Hitler, como o primeiro-ministro Neville Chamberlain e Hitler haviam combinado fazer, quando conversaram em Munique, dia 30/9/1938.*******



[1] "Na verdade o comitê Stavka foi uma improvisação do século 19 nos métodos de comando e controle na Rússia. Foi a resposta dos comandos militar e de segurança e dos serviços de inteligência, para quando o chefe de Estado se prove errado demais, vacilante demais ou indeciso no momento das decisões quanto a defender o país de ataques inimigos que visem a decapitar a liderança russa, à liquidação de suas defesas e a destruir a economia russa" (John Helmer, "Good Friday, Resurrection Sunday – Russia’s New War Cabinet To Be Headed By Sergei Sobyanin", 9/4/2018 [excerto aqui traduzido] (NTs).






4 comentários:

C.Poivre disse...

A se confirmar as informações desta matéria será uma decepção para a grande parcela da humanidade que via na Rússia sob Putin a possibilidade de contenção da agressividade anglo-sionista. A recondução de Medvedev já foi uma decepção e uma surpresa pois a reeleição de Putin com 77% dos votos lhe dá autoridade para formar um governo de oposição frontal aos EUA e seus vassalos. É inesperado e inacreditável.

Anônimo disse...

Verdade caro amigo Celso, decepcionou-me muito o Medvedev ser reconduzido ao cargo de 1ª Ministro.
Se se confirmar o Kudrin estamos realmente vendo a capitulação de Putin, e isso só me faz pensar que os "teóricos" da conspiração estavam certos: que o Putin é um dos gerentes dessa nova ordem mundial e agora chegou a hora do Putin entregar a Russia para esse elite satânica mundial governar, para formar um governo único mundial, tirânico, onde eles (as elites mundiais) mandarem e nós sermos escravos....
Só nos resta esperar que o Livro do Apocalipse se cumpra e venha logo um mega meteoro bater nessa merda de planeta, para nós começarmos do zero tudo de novo...
Se houver mesmo essa capitulação da russia, nós só contaremos mesmo com a justiça divina, vem meteoro, vem...

Unknown disse...

Acrescentando caro CELSO, se tudo acima for verdade o Sr. PUTIN vira as costas para a CHINA / IRÃ / SÍRIA / IRAQ / CUBA / . . . etc, se tornando um novo Mikhail Gorbachev, conhecido como """TRAIDOR do MUNDO""" . Se fosse aqui nesta terra maldita=___braZiU$$$A__ nada disso seria surpresa , porque o GOLPE-2016 desmanchou tudo que foi construído pelo LULA/DILMA para o BRASIL. Taí a Argentina que não deixam mentir. Eu engrossaria o caldo até ver um generaleco ANGLO_SIONISTA chorar sentado no meio fio ((guia)) da calçada.

sertania41 disse...

Quando Trump assumiu o poder, foi ventilado que ele tentaria fazer uma aliança estratégica com a Rússia, para enfrentar a China. O acordo Trump-Putin seria parecido com o acerto Nixon-Mao, com o efeito – desta vez - favorecendo a Rússia. Tudo pode ser especulação, mas tem um viés de verossimilhança.