quinta-feira, 17 de setembro de 2015

As cotas de Juncker: canto do cisne dos Países Bálticos

17/9/2015, Vladimir NESTEROV, Strategic Culture, trad. ing.-port. Mberublue)
Tradução publicada originalmente no Blog Btpsilveira


Vários setores da economia dos Países Bálticos foram postos com a cabeça no cepo, à espera da guilhotina, sob o peso dos severos padrões europeus. Muitas fábricas, que aos olhos da União Europeia pareciam não competitivas, ou se adaptaram ou faliram. A lista das indústrias dizimadas pela nova realidade econômica, na Letônia, por exemplo, inclui pesca e processamento de pescado, têxteis, sapatos e produtos eletrônicos. A indústria do açúcar também foi completamente desmantelada.

Agora, as políticas de sanções, assim como as contramedidas da Rússia, juntam-se aos problemas econômicos dos Países Bálticos. Por exemplo: o jornal BNS-Baltic News Service noticiou que entre janeiro e julho de 2015, a Lituânia exportou 54,7% menos bens para a Rússia que durante o mesmo período de 2014. As exportações da Lituânia de leite e laticínios diminuíram 94,2%, e não houve exportação de carne ou produtos derivados para a Rússia em 2015, até agora. O ministro da Economia da Lituânia declarou que o estado falhou ao não encontrar mercado que substituísse a Rússia (e pode-se acrescentar por nossa conta: continuará falhando).

Como resultado do desemprego crescente, houve êxodo massivo, especialmente de adultos jovens. Letônia e Lituânia perderam cerca de 20% da respectiva população; Estônia perdeu 5,5%.

Até certo ponto, os cidadãos das nações bálticas – que (com exceção da Lituânia) nunca gozaram de verdadeira soberania – ainda conseguiam justificar mentalmente todos estes sacrifícios, agarrando-se à ideia reconfortadora de que então eram membros legítimos da “grande família das nações europeias”. 

Na União Europeia, pensavam eles, seriam “iguais entre iguais”, muito satisfeitos com a nova consciência pró-EUA, segundo a qual fariam parte de uma nova, portentosa e histórica missão – pôr-se ombro a ombro com aqueles “seus iguais”, na batalha entre o “mundo civilizado” e os “agressivos bárbaros russos”. Ao mesmo tempo, foram convencidos de que teriam de lutar ainda mais uma batalha, desta vez contra o “inimigo interno” – os russos não cidadãos, que não pensavam noutra coisa que não fosse restaurar o jugo colonial de Moscou contra os povos bálticos amantes da liberdade democrática. 

Mas quando a parte ocidental do continente europeu foi sufocada por uma onda de refugiados, a população desses países da periferia da Europa, pode-se dizer, surtou. 

O problema dos refugiados começou – para os países bálticos –, quando lhes foi ordenado que aceitassem uma cota de migrantes. Agora, os migrantes estão chegando.

Inicialmente, os números pareciam bem modestos. Em julho, funcionários estatais em Riga manifestaram disposição para aceitar 250 migrantes: Tallinn – entre 84 e 156; e Vilnius, um pouco menos, entre 50 e 60.

Mas chegou setembro, e o humor da Comissão Europeia mudou. Em julho, a Comissão Europeia aceitara admitir 40 mil refugiados na União Europeia, dividindo-os entre 28 diferentes países. Agora, em setembro, Jean-Claude Juncker insiste em quadruplicar este número. As cotas para os “recém-europeus do Báltico" também foram revisadas. Agora, a Letônia deve aceitar 776 refugiados; a Lituânia, 1.105; e a Estônia, 523. E Bruxelas já fez pesar sua mão de ferro e ameaçou: Juncker relembrou que as cotas para os Estados Membros da União Europeia são obrigatórias, e qualquer país que se recuse a aceitar os migrantes nos números que lhe sejam determinados, estará sujeito a sanções financeiras.

o Presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker

Foi então que começou o imbróglio…

Kristiina Ojuland, deputada e ex-ministra de Relações Exteriores da Estônia, criticou a, segundo ela, “papagaiada politicamente correta” que brota aos borbotões da União Europeia; e proclamou que a Estônia enfrenta uma “ameaça contra toda a raça branca”. 

Imediatamente, a sociedade da Letônia mergulhou num sôfrego debate sobre quem seria pior: os africanos ou os russos. O ex-Ministro da Defesa da Letônia, Artis Pabriks, que também é deputado, esclareceu que a Letônia não poderá aceitar africanos, 'porque' seu país já padeceu que chegue quando foi brutalmente colonizada pelos russos.

Os protestos nacionalistas já causaram muitos problemas nos Países Bálticos. Os refugiados foram recebidos na cidade estoniana de Vao com demonstrações de protesto dos moradores locais – uma procissão de várias centenas de motocicletas, e estonianos 'fardados' com camisetas ornadas com a imagem do terrorista norueguês e assassino em massa, Anders Breivik. E o Centro de Refugiados foi incendiado por moradores da cidade.

As cotas de Jean-Claude Juncker são apenas o primeiro degrau de uma longa escadaria que desce rumo aos infernos. Estônia, Lituânia e Letônia, os “recém-europeus", devem estar-se perguntando sobre a serventia da contribuição que deram para as aventuras militares norte-americanas, sobre a “solidariedade atlanticista” e sobre a devastação do Oriente Médio.

Aqueles países sempre viram a Rússia como uma intrusa asiática não desejada na Europa. Pois muito bem. Em pouco tempo conhecerão o gosto real da Europa 'deles'. *****

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