(mas não para o Brasil do golpe [NTs])
14/6/2018, Yaroslav Lissovolik, Valdai Club, "Dialogue for the Future"
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
NOTA DOS TRADUTORES: Nessa tradução escreveremos "(B)RICS" (o Brasil entre parênteses), para fazer lembrar que, desde 2/12/2015, o Brasil é governado por golpistas usurpadores, e que a ação deles nos BRICS não tem qualquer representatividade democrática.
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Sob a presidência da África do Sul nos (B)RICS esse ano, e com a 10ª Cúpula dos (B)RICS prevista para julho próximo [já aconteceu] os (B)RICS completam um ciclo de seus esforços na direção de outras economias em desenvolvimento. Nos idos de 2013, foi precisamente a África do Sul que marcou o primeiro exercício de expansão relacionado a seus parceiros regionais na África.
O início de um novo ciclo de cinco anos com a África do Sul na presidência, se beneficiará das primeiras inovações introduzidas pela China, com os "(B)RICS+" [ing. "(B)RICS plus"] e também mostrará novas abordagens rumo a transformações qualitativas no diálogo dos (B)RICS com o mundo em desenvolvimento.
BARRA LATERAL: Da participação do governo golpista do Brasil, nada de bom se deveria esperar, e o fiasco já se confirmou. Como a Folha de S.Paulo noticiou dia 27/7/2018, "Temer pede integração com África, mas deixa reunião do (B)RICS sem ouvir africanos" (NTs)].
Os exercícios de expansão do grupo BRICS desde o início estiveram enquadrados num contexto regional, com os países núcleo nos BRICS convidando seus parceiros regionais a participar das cúpulas dos BRICS durante o período 2013-2018 [no que tenha a ver com o Brasil, o período só vai de 2013 a dezembro de 2015, quando houve o golpe (NTs):
– 2013, África do Sul: Cúpula de Durban BRICS – começa o exercício de ampliação. Já em 2013 participaram da reunião o presidente da União Africana, o presidente da Comissão da União Africana, líderes africanos representantes das oito Comunidades Econômicas Regionais.
– 2014, Brasil: durante a Cúpula de Fortaleza, através do Brasil, foram incorporados aos BRICS representantes da UNASUL, a União das Nações Sul-americanas, que incluiu membros do MERCOSUL e vários outros países na América do Sul [artigo do presidente Lula, em 2014, sobre os (B)RICS].
– 2015, Rússia: na 7ª Cúpula dos (B)RICS em Ufa, através da Rússia, foi incorporada a Organização de Cooperação de Xangai (OCX) e a União Econômica Eurasiana (UEE).
– 2016, Índia: na Cúpula dos (B)RICS, foram incorporados chefes de estado da Iniciativa Baía de Bengala para Cooperação Técnica e Econômica Multissetorial [ing. BIMSTEC], organização internacional de sete nações do Sul da Ásia.
– 2017, China: na cúpula dos (B)RICS em Xiamen – aconteceu uma grande inovação. A China lançou a modalidade "(B)RICS+" [ing. (B)RICS Plus], com convites aos líderes do Egito, Guiné, México, Tadjiquistão e Tailândia. A novidade da abordagem dos chineses estava em que ela transcendia a abordagem regional e buscava a cooperação com outros países em desenvolvimento, tornando essa cooperação transcontinental/ transregional, nos seus objetivos.
– 2018, África do Sul: trabalhando a partir das inovações recentes, a África do Sul optou por uma síntese das duas abordagens: a abordagem regional, de um lado; e, de outro, a diversificação introduzida pelos chineses com seu conceito de "(B)RICS+". Os países convidados a participar da organização dos "(B)RICS+" incluíram:
- Argentina (que está na presidência do G20 e é membro influente do MERCOSUL);
- Indonésia (que está na copresidência da Nova Parceria Estratégica África-Ásia e é membro influente da Associação das Nações do Sudeste Asiático);
- Egito (que está na presidência do G77+China);
- Jamaica (próxima presidência do CARICOM); e
- Turquia (que está na presidência da Organização de Cooperação Islâmica, OCI).
Outras inovações ao longo da estrada dos "(B)RICS+" podem envolver progressão para uma plataforma unificada de arranjos regionais de integração que já apareceram no último ciclo de 5 anos das cúpulas dos (B)RICS. Essa agregação de arranjos regionais desde reuniões anteriores, a partir de cada um dos membros-núcleo dos (B)RICS mostra agora a União Africana (UA), o MERCOSUL (por causa de dificuldades que a UNASUL enfrenta), a União Econômica Eurasiana, a Organização de Cooperação de Xangai, bem como a BIMSTEC.
A sigla resultante dessa constelação – BEAMS [ing. "raios (de luz)]" – dentre vários significados da expressão sugere o papel de uma plataforma de agregação e convergência de blocos, como estruturas de apoio sobre as quais se ergue o edifício construído a partir dos BRICS. Como terminologia, a plataforma BEAMS deve denotar a agregação de grupos regionais de integração; e "(B)RICS+" é conceito mais amplo que incorpora outras formas de interação dos países (B)RICS com economias em desenvolvimento como plataformas de instituições regionais em desenvolvimento ou arranjos regionais de financiamento [ing. regional financing arrangements (RFAs)].
O grupamento BEAMS acima é reconstrução direta, quase 1 a 1, da sequência dos formatos de ampliação que os (B)RICS exercitaram com suas parcerias regionais no período 2013-2017 [no que tenha a ver com o Brasil, só até dezembro de 2015, quando assumiu o governo golpista usurpador (NTs)]. No grupamento BEAMS vê-se efetivada a "preferência manifesta" das economias (B)RICS pela composição da plataforma de agregação de grupos regionais que já constituem os "(B)RICS+".
Contribuição da China
A contribuição da China foi lançar uma abordagem diversificada, global dentro do formato "(B)RICS+", a qual, tomada conjuntamente com outras práticas e movimentos prévios de agregação, lança os alicerces do que o ministro de Relações Exteriores da China Wang Yi denominou "a mais ampla plataforma para cooperação Sul-Sul com impacto global".
Em outras palavras, "(B)RICS+" e BEAMS – subcomponente – é uma síntese/resumo de experimentos e inovações anteriores dos (B)RICS, no campo de construir laços com o Sul Global.
BARRA LATERAL 2: É crucialmente importante assinalar a diferença entre os BRICS de antes do golpe no Brasil, e os (B)RICS de depois do golpe, sobretudo se se consideram os interesses DO BRASIL. Uma das forças ativas no golpe no Brasil (2015-6) foi, precisamente, o interesse dos EUA em impedir qualquer afirmação de laços que unam e reforcem o Sul Global, do qual um Brasil soberano sempre será agente decisivo.
À luz das tendências e possibilidades delineadas acima, relativas à formação da plataforma BEAMS, bem como, em termos mais amplo, ao modo de cooperação "(B)RICS"+, os dois ciclos anteriores de cinco anos dos (B)RICS, e a próxima "década de ouro" dos futuros dois ciclos de outros cinco anos podem ser resumidos como segue:
– 1º ciclo de cinco anos: conceber a diversidade e incluir a África do Sul no fórum [então] BRIC;
– 2º ciclo: engajar parceiros regionais (ciclo de abertura);
– 3º ciclo (próximos cinco anos): período do "(B)RICS+" e cristalização da plataforma BEAMS, de "integração de integrações"; e
– 4º ciclo: Período dos "(B)RICS++" e extensão dos impulsos de integração a partir da plataforma regional "(B)RICS+" a outras partes do mundo em desenvolvimento, mediante uma combinação de alianças econômicas regionais e bilaterais.
BARRA LATERAL 3: O ciclo/período aí chamado de "(B)RICS++" é precisamente o que os EUA tentam qualquer custo impedir que aflore.
O golpe no Brasil está inscrito nessa 'lógica' da geopolítica do saque a qualquer custo, de que vivem os EUA do Partido Democrata e do estado-profundo anglo-sionista. Além disso, como escreve Pepe Escobar hoje, no Asia Times, "os BRICS+ conflitam com a guerra econômica de EUA contra Irã".
É crucialmente importante assinalar a diferença entre os BRICS de antes do golpe no Brasil, e os (B)RICS de depois do golpe, sobretudo se se consideram os interesses DO BRASIL.
Enquanto no caso do grupo BRICS inicial o critério chave para seleção era o peso relativo das maiores economias em termos de PIB e tamanho dos mercados entre as economias emergentes, no caso da plataforma BEAMS/(B)RICS+ de "integração das integrações" o critério visa a selecionar grupos de países que sejam aliados mais próximos dos respectivos países-núcleo dos (B)RICS.
Contudo, se se examina a tabela dos arranjos regionais formados por países em desenvolvimento, vê-se que os grupamentos regionais em plataformas BEAMS, como a Organização de Cooperação de Xangai (OCX) na Eurásia, ou MERCOSUL na América do Sul, estão entre os maiores em termos de PIB das respectivas regiões. Assim sendo, deve-se considerar a plataforma BEAMS/"(B)RICS+" também como instrumento para agregar dois dos maiores grupos regionais de integração em todo o mundo em desenvolvimento.
BARRA LATERAL 4: Por isso, precisamente, pode-se dizer que hoje o Brasil é ainda mais crucialmente importante para o projeto do império anglo-sionista, do ponto de vista econômico (até mais que do ponto de vista geopolítico), que o Irã.
Talvez se possa dizer que a guerra que os EUA fazem ao Irã responde a interesses de Israel e dos sionistas; mas para os EUA a grande meta é destruir o Venezuela, Brasil, Argentina, Colômbia, Equador, para impedir que se reunifiquem no Mercosul, com vistas a se reunificarem na plataforma BEAMS/"BRICS+" e "BRICS++" (com Brasil soberano). Nesse sentido se pode dizer que destruir o Brasil é, hoje, o mais importante objetivo dos EUA no mundo.
Mais uma vez: é crucialmente importante – se se consideram os INTERESSES DO BRASIL – assinalar a diferença entre os BRICS de antes do golpe no Brasil, com Lula & Dilma, e os (B)RICS de depois do golpe das grandes petroleiras e dos barões-ladrões e oligarcas da 'mídia' e do agronegócio.
Os números do FMI e do Banco Mundial para 2016 sugerem que a plataforma BEAMS, incluindo BIMSTEC, UEE, União Africana, Mercosul e a Organização de Cooperação de Xangai, responderia por 27,4% do PIB global, bem acima dos 15% da quota do FMI, e a quase 2/3 (66%) da população global.
É crescimento notável, se comparado ao núcleo dos BRICS iniciais (22,3% do PIB global, menos que os 15% mínimos para a quota do FMI e 42% da população). Quase na mesma ordem de grandeza ficariam outras possíveis modificações da plataforma dos (B)RICS+, como a TRIA proposta (que reuniria uniões pancontinentais, como a CELAC e a União Africana, além da Organização de Cooperação de Xangai e variações mais focadas nos arranjos comerciais regionais da plataforma BEAMS, incluindo BIMSTEC, União Econômica Eurasiana, o acordo de Livre Comércio entre China e Associação das Nações do Sudeste da Ásia, Mercosul e Comunidade de Desenvolvimento Sul Africana [ing. SADC]. A TRIA responderia por 29,7% do PIB global, com 66% da população global; os números correspondentes para a versão modificada da plataforma BEAMS seriam 27,7% e 58,2% respectivamente.
Interessante, as duas modificações da plataforma BEAMS se equivalem em termos de PIB com os maiores arranjos de integração regionais no mundo, a saber, o acordo (ing.) NAFTA [Acordo de Livre Comércio do Atlântico Norte], que em 2016 respondeu por 28,1% do PIB global, e a apenas 6,5% da população do planeta. Ao mesmo tempo, em termos de PIB, a plataforma BEAMS está muito atrás de plataformas potenciais como o acordo da Parceria Trans-Pacífico (ing. TPP) (somada aos EUA) e o acordo da Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (ing. TTIP) – que respondem por 38,3% e 46,5% do PIB global respectivamente.
A via para que uma aliança para economias em desenvolvimento se aproxime desses níveis de PIB agregado seria reunir todos os principais acordos comerciais regionais do Sul Global além de BEAMS/TRIA, como a Associação de Nações do Sudeste Asiático e o Conselho de Cooperação do Golfo (CCG).
Isso, por sua vez, serviria como ponte para superar a separação com o que parece ser hoje a maior aliança potencial do mundo, a saber, uma plataforma de TPP e TTIP, que cobriria mais de 60% do PIB global.
À parte as considerações quantitativas do tamanho do PIB e das populações, comparado ao núcleo inicial dos BRICS [hoje (B)RICS] o enquadramento BEAMS/(B)RICS+ apresenta estruturas qualitativamente mais diferenciadas, que dilui a proeminência de cada país individualmente e mostra maiores diversidade e variedade de modelos econômicos e tipos de integração regional.
Um "formato estendido" para o grupo (B)RICS, mediante cooperação econômica em expansão com parceiros regionais também torna essa plataforma mais promissora para uso crescente de moedas nacionais em todo o mundo em desenvolvimento (ver Y. Lissovolik. "Monetizing BRICS+: introducing the R5 initiative", 30/8/2017).
A formação da plataforma BEAMS/"(B)RICS+" também permite que economias participantes explorem a potencial redução do protecionismo Sul-Sul – a criação da Área Africana Continental de Livre Comércio [ing. African Continental Free Trade Area (AfCFTA) é um dos mais importantes avanços recentes nessa área. Quanto a isso, o regionalismo (incluindo o megarregionalismo) do Sul Global oferece mais escopo para a liberalização do comércio e a variabilidade nos padrões e formações de integração, na comparação com o regionalismo fortemente estruturado e em algumas questões ossificado do mundo desenvolvido.
A razão talvez mais importante pela qual a plataforma "(B)RICS+" baseada em agregar grupos regionais é oportuna e urgente tem a ver com as tendências que se observam na economia mundial, a saber, a formação de blocos megarregionais, como as Parcerias Trans-Pacífico e Trans-Atlântico. Embora essa última tenha sido adiada por tensões entre os EUA e a União Europeia, há sinais de que a Parceria Trans-Pacífico está sendo ressuscitada.
A principal corrida hoje na economia mundial é criar plataformas agregadas de arranjos regionais de integração (a TPP pode ser vista como movimento que reúne vários arranjos de integração, dentre os quais NAFTA, ANZCERTA, Acordo de Livre Comércio Peru-Chile, assim como várias economias da Associação de Nações do Sudeste Asiático) que tenham massa suficiente e alavancagem para atrair fluxos de comércio e investimentos oriundos de toda a economia mundial.
Quanto a isso, a formação BEAMS pode ser a melhor que o Sul Global pode oferecer em termos de plataforma suficientemente grande – efetivamente, BEAMS é a própria plataforma megarregional do Sul Global – para conseguir limitar o impacto adverso da disseminação do comércio e das perdas em fluxos de investimento que resultem da emergência de outros blocos megarregionais.********
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