domingo, 8 de julho de 2018

Forças dos EUA saem de Al-Tanf e da Síria: Rússia permanece no Levante, por Elijah J. Magnier



Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu




Conselheiros russos em visita à capital da Síria, Damasco, mostram-se confiantes de que as forças dos EUA se retirarão de al-Tanf e também se retirarão completamente do norte da Síria (al-Hasaka e Deir-Ezzour) nos próximos seis meses.

Segundo os principais decisores que mantêm base em Damasco, o presidente Donald Trump dos EUA está tentando que seu governo aprove um plano já pronto para total retirada. Trump, que sabe praticamente nada de política exterior e não se dá conta das consequências de suas decisões na arena internacional, ainda não encontrou elementos convincentes – dizem as fontes, que pediram para não ser identificadas – no material que seus assessores preparam, de que haveria qualquer benefício na permanência das forças dos EUA, naquele ambiente hostil, expostas a ataques a qualquer momento. O maior medo de Trump é ver as forças especiais dos EUA que operam no norte da Síria e no Iraque serem devolvidas às famílias "em sacos plásticos". Nada mais difícil que encontrar alguma explicação racional para os EUA continuarem a ocupar o Levante depois da derrota do ISIS (o grupo "Estado Islâmico") ou do que restou dele na Síria e no Iraque.

Acima de tudo, Trump observou que está crescendo a hostilidade no Iraque contra forças dos EUA: as forças de segurança iraquianas (Hashd al-Sha’bi) juraram vingança, depois que jatos não identificados (que se acredita que fossem israelenses) destruíram sua posição de comando e controle na fronteira Iraque-Síria, embora tivessem ordens específicas para deter e destruir grupos terroristas do ISIS que estavam entrandno Iraque.

Fronteira Síria-Iraque, quartel-general das milícias xiitas iraquianas, atacado dia 18/6/2018

Fontes russas envolvidas nos preparativos do encontro Putin-Trump que se espera que aconteça ainda esse mês na Europa, creem que o presidente russo pode oferecer garantias suficientes, que convençam o presidente dos EUA a deixar o Levante antes de os EUA serem apanhados nas areias movediças do labirinto sírio-iraquiano. Chave para alcançar esse objetivo é dar a Trump elementos suficientes que garantam a segurança dos israelenses – como Trump vê as coisas –, sem forças iranianas ou do Hezbollah estacionadas na linha de desengajamento de 1974. Mas, claro, a Rússia não pode garantir que a Síria não venha a exigir que lhe sejam devolvidas as colinas sírias do Golan ocupadas por Israel.

Verdade é que Damasco não está envolvida em dar garantias a Israel. Mesmo assim, dado que o governo central não precisa de unidades estrangeiras amigas estacionadas no país tão logo seja libertado todo o território sírio ocupado depois de 2011 (incluído o norte), o presidente sírio Bashar al-Assad pode garantir o controle do exército sírio sobre todo seu próprio país. A única exceção continua a ser as fronteiras entre Líbano e Síria, onde é necessário que haja colaboração muito próxima com as forças de facto que lá estão, para que os dois lados impeçam o contrabando de armas e a passagem de jihadistas através da fronteira.

Os russos consideram que EUA e Israel aceitaram a derrota do projeto de 'mudança de regime' na Síria, e que essa tentativa fracassada, depois de sete anos de guerra, fortalece o "Eixo da Resistência", contra os bilhões de dólares investidos para tentar separar a Síria e o "eixo" da resistência solidária aos sírios. Mais que isso, os russos sabem que foi o governo Obama quem, por não ter intervindo a tempo de impedir, deixou que o ISIS crescesse, criando uma força local no Iraque, mas hostil aos EUA.


O establishment norte-americano teme que a presença de forças dos EUA nas fronteiras entre Síria e Iraque causará danos ainda maiores ao relacionamento EUA-Iraque que ainda está "sob controle", com o primeiro-ministro Haidar Abadi no poder. A ameaça lançada pelas Brigadas Hezbollah no Iraque (Kataeb-Hizballah) contra as forças dos EUA e mencionada por Sayed Hasan Nasrallah, líder do Hezbollah libanês, gerou grave preocupação entre os militares norte-americanos e dentro da liderança política, cujo objetivo é evitar a experiência de 2003-2011 (quando os EUA foram atacados por sunitas e xiitas enquanto ocuparam o Iraque).

Por outro lado, o establishment norte-americano está pedindo apoio à Rússia para o "acordo do século", acordo relacionado aos palestinos. A Rússia crê que seja manobra de EUA-Israel, que estariam tentando trocar a Síria pela Palestina, troca irrealista. A Rússia não tem qualquer poder para impor aos palestinos um acordo natimorto. Sobretudo porque, se os russos implantassem forças regulares na Síria e excluíssem Assad do "Eixo da Resistência", os russos já não teriam poder algum para negociar coisa alguma e só lhes restaria uma carta morta. A importância da Síria é devida às suas fronteiras com Israel, a suas conexões com os palestinos e, simultaneamente, com o Irã e com o Hezbollah. Se a Rússia desmontasse essa posição privilegiada da Síria no Oriente Médio, Moscou acabaria por controlar uma Síria sem qualquer capacidade de alavancagem.

Ambos, EUA e Rússia sabem que Trump espera ansioso que o establishment norte-americano aceite a retirada das forças dos EUA que permanecem na Síria. Assim sendo, não há concessões necessárias que a Rússia não esteja em posição para fazer. Moscou deseja manter uma boa relação com Washington – como muitos funcionários russos têm repetido a Damasco e a Teerã. Mais importante talvez, Rússia e os EUA sabem que, para os próximos anos, atacar forças dos EUA naquela região é a única coisa que a resistência síria e iraquiana ainda não fez com sucesso.*******

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