5/4/2018, Pepe Escobar, Asia Times
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
Entreouvido na Vila Vudu:
Por mais que 'analistas' de TV e 'jornalistas' (só rindo) no Brasil ensinem que não, que o Brasil seria uma ilha no mundo, esses movimentos de integração da Eurásia têm influência direta e profunda sobre os movimentos do Império Anglo-sionista contra governos soberanos na América Latina, nesse início do século 21, século da guerra híbrida.
(Pessoal aqui saindo do trabalho para ir para São Bernardo do Campo, defender o presidente Lula. RESISTÊNCIA.)
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Por mais que 'analistas' de TV e 'jornalistas' (só rindo) no Brasil ensinem que não, que o Brasil seria uma ilha no mundo, esses movimentos de integração da Eurásia têm influência direta e profunda sobre os movimentos do Império Anglo-sionista contra governos soberanos na América Latina, nesse início do século 21, século da guerra híbrida.
(Pessoal aqui saindo do trabalho para ir para São Bernardo do Campo, defender o presidente Lula. RESISTÊNCIA.)
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Imagem: Hassan Rouhani do Irã, Recep Tayyip Erdogan da Turquia e Vladimir Putin da Rússia, à saída de uma reunião sobre a Síria, dia 4/4. Foto AFP/Adem Altan |
Ao mesmo tempo em que os presidentes Vladimir Putin, Hassan Rouhani e Recep Tayyip Erdogan encontravam-se em Ancara para uma segunda reunião de cúpula Rússia-Irã-Turquia sobre o futuro da Síria, Moscou realizava sua 7ª Conferência sobre Segurança Internacional, da qual participam ministros da Defesa de dúzias de países.
Crucialmente importante, a China não mandou a Moscou só a delegação de alto nível; mandou também um recado, em claro e bom som. O general Wei Fenghe, novo ministro da Defesa da China, ao lado do ministro da Defesa da Rússia Sergey Shoigu, disse: "Os chineses viemos, para que os norte-americanos vejam o quanto são próximos os laços que unem as forças armadas de Rússia e China".* Shoigu, por sua vez, destacou o "caráter especial" da parceria Rússia-China.
Já antes da reunião, o Global Times chamara atenção para a evidência de que a incansável campanha de demonização da Rússia, combinada com a guerra comercial em curso dos EUA contra a China, só faria reforçar o "caráter especial" da parceria.
E então o ministro de Defesa do Irã brigadeiro-general Amir Hatami ampliou o cenário, ao dizer que "planos estrangeiros" relacionados à segurança no Oriente Médio falharão sempre inevitavelmente – e que todos os planos têm de ser concebidos e executados dentro do Sudeste Asiático.
O que aconteceu em Moscou tem de ser necessariamente cruzado com o que aconteceu em Ancara.
Compromisso mútuo
O primeiro encontro trilateral Rússia-Irã-Turquia sobre a Síria aconteceu em Sochi dia 22 de novembro do ano passado. Sochi levou à formação do Congresso do Diálogo Nacional Sírio e de uma forte comissão de 150 membros, que recebeu a tarefa de redigir nova constituição para a Síria. Todos esses procedimentos seguem essencialmente o que está estabelecido no processo de paz de Genebra, em 2012. Até a ONU elogiou o trabalho em Sochi, como "importante contribuição para um ressuscitado processo de conversações intra-sírios para a paz."
Agora, no início de abril, ministros de Relações Exteriores da Rússia (Sergey Lavrov), do Irã (Mohammad Javad Zarif) e da Turquia (Mevlut Cavusoglu) reuniram-se em Astana, no início de abril, para preparar o terreno.
A declaração conjunta é absolutamente clara, ao enfatizar o compromisso de todos com a soberania nacional, a unidade, a independência e a integridade territorial da Síria.
O fato de Ancara ser a primeira viagem internacional de Putin depois da reeleição, é eloquente. A estratégia Rússia-Irã-Turquia para a Síria, elaborada e desenvolvida também em Astana, estabeleceu um delicado equilíbrio de zonas de desescalada – Ghouta Leste, subúrbio de Damasco; Idlib; Homs e a fronteira sírio-jordaniana – e corredores humanitários, que permitam que multidões de civis deixem as zonas de guerra, especialmente no caso de Ghouta.
A guerra em Ghouta contra uma galáxia de jihadistas está praticamente decidida a favor do Exército Árabe Sírio, com apoio dos russos, que contribuem com um mix de força aérea e competências para negociar e, significativamente sem participação de comandantes militares iranianos. O que resta dos chamados "rebeldes moderados" foram mandados para Idlib. Damasco volta a estar protegida contra bombardeios. Foi a maior vitória do EAS desde a libertação de Aleppo, em dezembro de 2016.
Mas o norte da Síria continua a ser questão muito mais difícil, dado que há ali uma subtrama de facto, com OTAN versus OTAN; tropas turcas versuscurdos do YPG que são agentes 'locais' dos EUA.
O fato de a ofensiva EAS-russos em Ghouta Leste ter acontecido paralelamente à Operação (orwelliana) "Ramo de Oliveira" turcos no cantão curdo de Afrin deixa ver um complexo acordo Rússia-Irã-Turquia montado em Astana – como diplomatas confirmaram para esse Asia Times.
Teerã, que está irritada com as incursões militares turcas na Síria, a ponto de ter ordenado que os comandantes militares iranianos não interviessem em Ghouta Leste e Afrin, cuidou de garantir que Ancara não pusesse a perder o extermínio e/ou a transferência dos jihadistas que ameaçavam Damasco.
A discussão chave na reunião trilateral em Ancara girou em torno do que acontece depois de Idlib – agora o derradeiro refúgio dos jihadistas "rebeldes moderados", onde Hayat Tahrir al-Sham, que tem conexões com al-Qaeda, luta contra uma Frente de Libertação Síria apoiada pela Turquia, que também acolhe jihadistas de linha duríssima, como Ahrar al-Sham.
Tudo dependerá de se Ancara conseguirá persuadir sua congregação de bandidos, de que a guerra realmente acabou. Sem isso, o Exército Árabe Sírio, com apoio aéreo dos russos, entrará em mais uma campanha de bombardeio, o que pode acrescentar outras centenas de milhares de refugiados aos 3,5 milhões que já se acumulam dentro das fronteiras turcas.
Certo é que Ancara não se sente inclinada a deixar, por enquanto, as áreas do noroeste e centro-norte da Síria. Como reagirão Moscou e Teerã – para nem falar de Damasco – é questão (explosiva) ainda em aberto.
Entregue sem atraso os meus S-400s
A parceria Rússia-Turquia é negócio, do começo ao fim, centrado num triângulo crucial de energia, questão nuclear e armas.
A Rússia, "no início da criação da indústria nuclear na Turquia", segundo um assistente do presidente Yury Ushakov, começará a construir a primeira usina nuclear da Turquia em Akkuyu, ao custo de $20 bilhões. O primeiro reator deve estar pronto em 2023, e a Rússia será proprietária da usina.
Nos termos de um contrato assinado em dezembro, Moscou também entregará a Ancara, antes de 2020, o sistema S-400 de defesa terra-ar, antes do previsto, "a pedido de nossos amigos e parceiros turcos" – nas palavras de Putin. Não se pode dizer que a OTAN esteja contente.
E há ainda o gasoduto "Ramo Turco", de $12 bilhões, que é obra-em-progresso – o segmento de superfície está perto de conseguir, de Ancara, o alvará de construção. Não se pode dizer que vários países da União Europeia estejam muito contentes.
Tudo isso mostra a diplomacia russa fortalecendo cuidadosamente relações com estados-membros da UE-OTAN. Ainda que a meta final possa ser convencer a OTAN a desescalar das fronteiras ocidentais da Rússia, ou da Cortina de Ferro da Guerra Fria 2.0 do Báltico ao Mar Negro, há um longo caminho ainda a percorrer antes de que se veja a Turquia realmente superar a OTAN.
Haverá sem dúvida impasse grave, se uma ofensiva de sedução Rússia-China levar Erdogan a considerar os benefícios de se integrar à Organização de Cooperação de Xangai (OCX). Ancara está aprofundando seus laços comerciais com ambos: o Paquistão, que é membro pleno da OCX; e o Irã, que tem hoje status de observador, próximo de se tornar membro pleno.
Rússia, China e Irã são três vetores chaves da integração da Eurásia, que inclui tudo do Oleogasodutostão em redes de conectividade comercial. Erdogan não anseia pelo papel de espectador de show lateral.
E funcionando como relógio, um nodo extra de integração Rússia-Irã pode ser somado, dado que se espera que Teerã una-se à União Econômica Eurasiana (UEE) antes do final do ano. A UEE, zona de livre comércio – hoje reúne Rússia, Cazaquistão, Belarus, Quirguistão e Vietnã –, está atraindo o interesse de todos, de China, Índia e Indonésia a Sérvia, Israel e nações sul-americanas. Não há dúvidas de que Erdogan está prestando muita atenção.
E agora é tempo de reconstruir
Desde o início, a Síria foi guerra no Oleogasodutostão. Um objetivo chave era impedir a construção do gasoduto Irã-Iraque-Síria, de $10 bilhões – o primeiro memorando de entendimento foi assinado em 2011 –, e substituí-lo com outro gasoduto, do Qatar à Turquia, para o quê se tornava indispensável derrubar o governo de Bashar al-Assad na Síria.
Qatar e a Casa de Saud acabariam por perder todas as disputas geopolíticas em que se envolveram na Síria. O bloqueio que os sauditas tentaram impor ao Qatar fracassou miseravelmente. A nova equação mostra o Qatar – apoiado por Omã e Kuwait – aproximando-se do Irã e mais ainda, da Turquia.
Ancara opera a base militar Tariq bin Ziyad no Qatar. Irã e o Qatar aprofundam a cooperação em Pars Sul – o maior campo de gás do planeta. Aconteceram coisas mais estranhas do que antever um gasoduto finalmente completado em futuro próximo, levando o gás do Irã-Qatar e atravessando a Turquia; Rússia e China permaneçam ativamente envolvidas na indústria de gás do Qatar.
Com a possibilidade de reconstruir a Síria realmente bem próxima, Pequim super turbinará seus planos para converter a Síria em um nodo realmente chave da Iniciativa Cinturão e Estrada (ICE).
No front russo, o ministro de Energia Aleksandr Novak confirmou que gigantes da energia Lukoil e Gazprom Neft já estão focados no processo de reconstrução – e desenvolvimento – da infraestrutura de energia da Síria, muito gravemente atingida, seguindo um mapa do caminho de cooperação assinado em fevereiro último.
As empresas russas foram convidadas para modernizar a refinaria Baniyas e para reconstruir uma nova refinaria em parceria com Irã e Venezuela. Damasco e Moscou criarão uma linha direta de marinha mercante para facilitar e o comércio; e criaram um banco controlado pelos próprios bancos centrais.
Segundo o primeiro-ministro sírio Wael al-Halqi, já estão assinados acordos no valor de quase US$1 bilhão, em empreendimentos de energia, comércio e finanças. Antes, o embaixador sírio à Rússia Riyad Haddad prometera que as nações que ajudaram a Síria a combater o terrorismo "terão o direito de ficar à frente" dos empreendimentos para restaurar a economia do país. Significa essencialmente Rússia, Irã e China. Falta saber que papel – se houver algum – representará o novo otomanismo de Erdogan.*******
* Ministro da Defesa da China, hoje, em Moscou: "Estamos aqui para que EUA saibam o quanto são próximos os laços militares que nos unem à Rússia", 4/4/2018, RT (com matéria da Reuters).
2 comentários:
Caro General Wei Fenghe, Ministro da Defesa da China, sua fala é IRRETOCÁVEL.
"...curdos do YPG que são agentes 'locais' dos EUA." Penso que considerar a luta do povo curdo como um braço da política estadunidense no local é deixar de lado o histórico do YPG e, ainda, do PKK pela criação de um Estado curdo livre.
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