domingo, 15 de abril de 2018

Desmascarado o plano secreto dos EUA contra Damasco: Entenda a ação dos russos antes e depois do ataque de EUA e Reino Unido, por Elijah J Magnier

França prometeu mandar aviões, mas não mandou*


15/4/2018, Elijah J Magnier - Blog [aqui retraduzido do inglês]


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



Donald Trump desceu da árvore na qual subira há alguns dias, quando mobilizara imensa força militar e poder de fogo similar à "Operação Tempestade no Deserto" (embora sem coturnos em solo). O "Plano A" previa ataque avassalador contra a Síria para destruir o exército, o palácio presidencial, as bases de comando e controle, as forças de elite, depósitos militares estratégicos de armas e munições, radar, sistemas de defesa e instituições da liderança política.

Antes do triplo ataque à Síria por EUA, Reino Unido e França, houve contatos intensos promovidos pelos russos e pessoalmente pelo próprio presidente Putin – às 4h da madrugada – para reduzir o ataque e conseguir que passássemos todos para um "Plano B" mais suave e menos avassalador.

A Rússia, nos contatos com vários chefes de Estado, rejeitou absolutamente qualquer ataque que incapacitasse o Exército Sírio, e instruiu a liderança em Damasco no sentido de que, doravante, passava a ser essencial obrigar o Ocidente a pensar muito bem antes de tentar alterar radicalmente o equilíbrio de poder no Levante.

Mas qual a razão real por trás do ataque EUA-Reino Unido-França? O que teria a ver com "ataque químico" em Duma? A Organização para a Proibição de Armas Químicas já estava em Damasco, e seus especialistas estiveram em Duma no sábado para inspecionar o local onde teria havido um ataque com armas químicas. Por que os EUA não podiam esperar pelos resultados?


Fontes em Damasco contam que o Exército Sírio e aliados, apoiados pela Rússia, estavam ativos naquele momento, num grande ataque na área rural de Idlib e já haviam chegado ao aeroporto em Abu al-Duhur, quando, de repente, toda a operação militar parou. E toda a força avançada foi rapidamente transferida para Ghouta. O que aconteceu?


A Rússia levou à liderança síria informes sobre uma grande concentração de forças na base militar em Al-Tanf ocupada pelos EUA na fronteira sírio-iraquiana, onde dezenas de milhares de agentes locais dos EUA ("combatentes por procuração") recebem treinamento militar continuado. Os russos identificaram movimentação não usual de militares e rapidamente compreenderam que os EUA preparavam-se para empurrar seus agentes locais na direção de Ghouta leste, onde se reuniriam aos cerca de 30 mil terroristas que já estavam em Ghouta. Esse ataque havia sido planejado para acontecer simultaneamente com outro ataque em Daraa, no sul da Síria, para dividir atenções, enquanto o sul de Damasco seria atacado – quando o exército sírio e aliados estivessem obrigados a se dividir, deixando forças reduzidas, na proteção à capital.

O plano dos EUA – dizem as fontes – consistia em apoiar seus agentes locais e os terroristas de Ghouta para que alcançassem Damasco e assumissem o controle da cidade. A transferência da operação militar sírio-russa, da área rural de Idlib para Ghouta, fez gorar o plano dos EUA de impor à Rússia uma espécie de confinamento em Lattakia e Tartous, cercada em espaço limitado; e com isso, afinal, os EUA esperavam conseguir derrubar o regime sírio. Esse 'plano de gênio' faria desmoronar todos os esforços da Rússia durante três anos de pesado envolvimento na guerra na Síria, e daria aos EUA o controle da situação – bem quando Moscou e o exército sírio já tratavam de pôr fim à guerra, restando apenas uns poucos bolsões a serem libertados.

O ataque dos russos em Ghouta quebrou as pernas dos norte-americanos e impôs a retirada de dezenas de milhares de militantes e terroristas para longe de Ghouta, com as respectivas famílias, rumo ao norte da Síria. Hoje, Damasco está muito mais segura, com a área restante ao sul da cidade ocupada por Al-Qaeda e o grupo "Estado Islâmico" no campo Yarmouk e na cidade de al-Hajar al-Aswad.**

O movimento da Rússia tornou inócuo o ataque de EUA-Reino Unido-França, seja quanto ao conteúdo seja quanto às metas. O movimento de EUA-Reino Unido-França acabou reduzido, pela ação dos russos, a ataque ainda inferior a "limitado", praticamente sem valor algum e sem possibilidade real de alterar a realidade em campo na Síria.

Quando a Rússia alertou que derrubaria mísseis disparados contra a Síria, Trump zombou pelo Twitter: "Prepare-se Rússia, porque eles estão chegando, lindos, novos e inteligentes". Depois do ataque, a Rússia respondeu: "E dizer que bastou o velho sistema de defesa antiaérea dos soviéticos, para dar conta dos tais mísseis inteligentes, novos e caríssimos dos norte-americanos." 

Além disso, os EUA-Reino Unido atacaram alvos que Israel ataca praticamente todos os dias. Ao mostrar plena capacidade – como a Rússia informou – para deter mais de 2/3 daqueles mísseis  'inteligentíssimos', a Síria faz uma espécie de "treinamento com munição viva contra futuros ataques de Israel à Síria". 

Israel está terrivelmente desapontada. Não gostou do resultado.

Mostrando capacidade de autocontrole e autocontenção, o secretário da Defesa dos EUA James Mattis – o mesmo que disse que "o Pentágono ainda não obteve comprovação independente de que tenha realmente havido ataque com armas químicas na Síria, semana passada" – opôs-se a qualquer tipo de ataque em grande escala contra a Síria, que poderia determinar envolvimento direto dos russos e revide mortal, de fogo vivo, contra alvos e interesses norte-americanos. Mattis concordou, no máximo, com um "ataque para salvar a cara" de seu inexperiente comandante-em-chefe. 

Fato é que o ataque do trio-ternura contra a Síria só fez melhorar ainda mais a reputação e o alto prestígio do presidente Bashar al-Assad da Síria: os sírios dançaram nas ruas de Damasco, rindo do ataque do 'ocidente' ao país deles!

O trio evitou cuidadosamente qualquer movimento que a Rússia pudesse interpretar como provocação, voou longe das bases e teatros de operação dos russos, sem sobrevoar nenhum deles. A Rússia impôs sua presença e provocou as Marinhas de EUA e França, simulando um ataque aéreo, para ilustrar a decisão de, sim, revidar, sendo o caso. A Marinha russa permaneceu posicionada diante do litoral do Líbano para cobrir aquele ângulo e evitar pontos cegos.

Moscou conseguiu evitar confronto direto com Washington fora de seu território: há bases militares dos EUA cercando a Síria (Israel, Jordânia, al-Tanf, al-Hasaka, Arábia Saudita, Kuwait, Qatar, Bahrein, Iraque, Turquia). A Rússia lembra bem como Leonid Brezhnev caiu na armadilha da CIA em 1979 que se pôs ao lado dos Mujahedeen seis meses antes de os soviéticos meterem-se na armadilha afegã. Zbigniew Brzezinski disse que a invasão dos soviéticos no Afeganistão teria sido provocada, deliberadamente, pelos EUA: "Foi excelente ideia. Atraiu os soviéticos para a guerra afegã e só nos custou o Vietnã". Quase 40 anos depois, Putin evitou a mesma armadilha, dos mesmos EUA.

E agora? Qual o próximo passo?


Todos os olhos estão postos na cidade de Idlib, ao norte, controlada pela al-Qaeda, agora que Damasco está protegida. Mas por que Idlib?


A situação no campo Yarmouk, ao sul de Damasco parece diretamente conectada à de Fua e Kfarya. Durante a negociação do cessar-fogo em Zabadani, foi acordado com a al-Qaeda que os aliados de Damasco ficariam longe de al-Yarmouk, em troca das duas cidades sitiadas no norte da Síria. Mas agora Damasco quer limpar completamente a capital, tentando persuadir seus aliados a descumprir compromissos que assumiram em 2015.

No que tenha a ver com Daraa e Quneitra no sul, parece que ninguém na Síria estaria interessado em provocar EUA e Israel num momento como o presente, de muita tensão; mais para o fim, sim, fará mais sentido. Em al-Badiyah, nas estepes sírias, o 'Estado Islâmico' está completamente cercado, e só lhe resta esperar para ser exterminado, nos próximos meses.

Idlib permanece, apesar do acordo econômico e financeiro entre turcos, russos e iranianos. Não há dúvidas de que há fortes diferenças de natureza econômica entre os parceiros, na batalha pela Síria.

O presidente turco Erdogan manifestou apoio, depois satisfação, ante os ataques norte-americanos contra a Síria. A Rússia respondeu dizendo a ele que entregasse a cidade de Afrin ao governo sírio. O enviado especial do Irã à Síria Ali Akbar Velayati disse abertamente que o próximo alvo é Idlib. Assim sendo, é viável para a Turquia deixar as suas uma dúzia de bases de observação em torno de Idlib, como a Rússia deixou Afrin antes do ataque turco. E a Rússia conta com que Erdogan, a qualquer momento, cancele, ele mesmo, a compra dos mísseis S-400.

Tudo isso considerado, a bússola aponta para Idlib, Rastan, Jisr al-Shoughour, com o Exército Árabe Sírio concentrando-se na área rural de Lattakia, pronto para dividir Idlib, depois de libertar as várias vilas em volta sob controle da Al-Qaeda.

Com isso, o mundo talvez seja levado ao próximo 'evento' de 'ataque químico', no próximo teatro de operações para o exército sírio e aliados. 


Mas o que acontecerá? Os EUA defenderão assumida e abertamente a al-Qaeda? Por que não?! É claro que o problema nunca foram 'armas químicas'! Os EUA são proprietários do maior arsenal de armas químicas do planeta. A verdadeira questão é a derrota que os EUA sofreram, agora que a Rússia estabeleceu-se como força dominante no Levante.*******



* "Aviões franceses, que foram anunciados, não foram vistos na cena." (Comandante do principal Grupo Operacional do Estado-maior da Rússia, general Sergei Rudskoy, 14/4/2018, Ministério da Defesa da Federação Russa (Blog do Alok. Vídeo legendado em fr., transcrição, tradução e legendagem, de Sayed Hasan Blog).
** Al-Hajar al-Aswad é cidade síria, a apenas 4 km ao sul do centro de Damasco, no Distrito de Darayya, do Governorado Rif Dimashq [NTs, com informações de Wikipedia].

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente