28/4/2018, Elijah J. Magnier Blog [trad. ár.-francês de Daniel G., aqui retraduzida]
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
Os EUA têm necessidade de um Irã forte, do qual se servem continuadamente como espantalho, para fazer medo aos países do Oriente Médio, principalmente à Arábia Saudita, aos Emirados e ao Bahrein. O objetivo é fazer medo a esses países do Golfo, para vender armas Made in USA, assim convertendo o Oriente Médio em vasto mercado para as armas norte-americanas.
Fontes diplomáticas confirmam que o Irã jamais declarou guerra à Arábia Saudita nem a qualquer outro país no Oriente Médio – única exceção é Israel. O mundo inteiro sabe que Israel teve a iniciativa dos ataques, ao assassinar físicos nucleares especialistas do programa nuclear, ao violar os espaços aéreos libanês e sírio e, bem recentemente, ao bombardear o centro de comando e controle iraniano na base T4 (utilizada no combate contra os jihadistas), ataque que resultou na morte de sete oficiais iranianos.
Desde o evento da Revolução Islâmica de 1979, o establishment dos EUA precisa de um inimigo fantasma, do qual se servem para ameaçar o países ricos do Golfo. A compra de armas norte-americanas por esses países tem pesadas repercussões sobre a economia dos EUA e lhes assegura importante fonte de renda. Tudo isso repousa sobre a capacidade do Irã para se manter fora da órbita da dominação dos EUA, já há quatro anos.
O Irã age com prudência em seus contatos com as comunidades xiitas que vivem nos países do Golfo, na Arábia Saudita e no Bahrein, por exemplo. Teerã sabe muito bem que qualquer tipo de apoio a essas comunidades gera o risco de provocar repercussões graves para as monarquias na relação com os próprios cidadãos, sob o pretexto de que seriam efeito de ações de um país estrangeiro. O Irã mantém-se especialmente atento nos contatos com os sunitas no Iraque, no Líbano e na Palestina, porque sabe que qualquer conflito entre sunitas e xiitas seria prejudicial para o conjunto do Oriente Médio. Enfim, nem os xiitas nem os sunitas podem eliminar-se uns os outros. Não têm escolha: são forçados a viver juntos numa região que é simultaneamente multiétnica, multiconfessional e laica. São razões suficientes para impedir o Irã de agredir qualquer desses vizinhos, de um lado ou de outro. Ainda mais porque todo o mundo se oporia a qualquer ofensiva similar que viesse a ser planejada, inclusive a Rússia, aliada do Irã.
Por seu lado, Donald Trump diz hoje que "muito países do Oriente Médio não sobreviveriam mais de uma semana sem a proteção dos EUA". Trump sonha visivelmente com o papel que representa ante o Golfo, ao mesmo tempo amigos e inimigos. Nesse momento, o verdadeiro período vem dos EUA, caso esses países ricos recusam-se a ceder à chantagem de Trump. O presidente dos EUA foi muito honesto quando disse que "Quero dinheiro, dinheiro e dinheiro. Os países do Golfo têm muito dinheiro, e quero esse dinheiro."
Nas relações com os países do Golfe, Trump lembra um homem sedento que bebe água salgada: quanto mais bebe, mais aumenta a sede. Insatisfeito, apesar das dezenas de milhões de dólares de contratos de armas firmados com os países do Golfe, Trump demanda cada vez mais e mais apoio financeiro. Trump procura assim desesperadamente pintar o Irã como uma fonte continuada de ameaças ininterruptas, para que ele possa insistir em seus objetivos financeiros insaciáveis.
Se se consideram as desculpas no que tenha a ver com a Síria, o presidente dos EUA sempre diz que suas forças estão em campo para bloquear a expansão de Irã e Síria e das relações com o Iraque. Essa afirmação é falsa, dado que, na verdade, é a primeira vez depois de 1979 que Teerã está fisicamente ligada a Bagdá, Damasco e Beirute por via terrestre desde a libertação de Albou Kamal. Consequentemente, a presença de força dos EUA na Síria está longe de se explicar pela presença do Irã ou por alguma ligação com o Irã. Mas é boa desculpa para extrair mais dinheiro da Arábia Saudita, dos Emirados e talvez também do Qatar, mesmo que esses países nada tenham a ganhar.
Trump quer mais dinheiro para reconstruir a cidade de Raqqa – quase completamente destruída pelos EUA. O presidente dos EUA força os países árabes ricos em petróleo a reconstruir a infraestrutura no nordeste da Síria, para que os EUA possam fingir que apoiem a política local. Os árabes são conscientes de que EUA e França (cujas forças aumentam em número no norte da Síria) sairão de lá se ficarem expostos a ataques massivos de insurgentes locais que não deixarão de combater forças de ocupação – como aconteceu no Líbano nos anos 1980s.
Os diplomatas creem que as decisões americanas e israelenses, assim como as atitudes orientadas para os palestinos, jogam a favor do Irã. Trump reconheceu Jerusalém como capital de Israel, e as forças armadas de Israel matam cegamente quaisquer civis que se manifestam em Gaza. Ainda mais, ao pôr fim ao apoio financeiro aos palestinos, os países do Golfo jogam numerosos grupos palestinos nos braços do Irã, que continua a ser a única força que jamais, ao longo dos anos, deixou de manter o apoio à causa palestina. Segundo forças diplomáticas, Israel (que se autoproclamou 'única democracia' do Oriente Médio) e os EUA devem garantir aos palestinos o direito existencial de viver em paz nas próprias terras e em sua capital; devem garantir também o direito de os refugiados retornarem; para começar, têm de parar de assassinar civis.
Os numerosos dirigentes de Israel que são de origem russa e a importante comunidade russa em Israel não conseguiram persuadir o presidente Vladimir Putin a entrar no jogo político deles. A Rússia quer o fim da guerra na Síria; Israel quer que a guerra se prolongue; e os EUA sopram as brasas sírias, acusando o Irã de tudo que encontrem por lá.
Os USA ainda têm cartas importantes na Síria, que podem jogar, para impedir a unidade do país. Mas Damasco e Irão não ficarão de braços cruzados, nem na defensiva. Por quanto tempo Trump deixará lá forças dos EUA, ocupando uma parte do país? Apesar de suas declarações contraditórias (Sairá? Não sairá?), aceitará ou não que se acumulem baixas pesadas? Mais cedo ou mais tarde, as forças dos EUA serão atacadas na Síria. Nem as forças dos EUA nem da França poderão sair do caminho que estão traçando hoje. E parece que nada aprenderam da história, que continuam a não ver o que houve em Beirute em 1983. Naquele momento, o Irã estava no Líbano. Como, hoje, o Irã está na Síria. *******
Nenhum comentário:
Postar um comentário