17/12/2018, MK Bhadrakumar, Newsclick
(2) Da Série “EUA perderam o Af-Pak. Sóssobrô Bolsô pro Bolton...”
VER TAMBÉM:
(1) Da Série “EUA perderam o Af-Pak. Sóssobrô Bolsô pro Bolton...” Bhadrakumar, Blog do Alok)
Imagem: Passagem pelo Desfiladeiro Khyber
Mapa: Corredor Econômico China-Paquistão
Sobre o CECP e os ex-BRICS, atuais (B)RICS (Gorybko, Blog do Alok) e Pepe Escobar, vídeo, 247Chomsky sobre “Linha Durand” e a guerra by Obama e Killary (esquerda.net)
Mapa: Corredor Econômico China-Paquistão
Sobre o CECP e os ex-BRICS, atuais (B)RICS (Gorybko, Blog do Alok) e Pepe Escobar, vídeo, 247Chomsky sobre “Linha Durand” e a guerra by Obama e Killary (esquerda.net)
Traduzido pelo Coletivo Vila Mandinga
O 2º Diálogo de Ministros de Relações Exteriores de Afeganistão, China e Paquistão, que aconteceu em Cabul no sábado, cobriu território bem conhecido – reafirmar o compromisso dos três países para fortalecer relações, combater firmemente contra o terrorismo, apoiar a reconciliação afegã, ampliar o apoio ao processo de paz afegão e liderado por afegãos, insistir em trazer os Talibã para conversações de paz, aprofundar a cooperação de segurança e para contraterrorismo e tudo mais. Mas duas coisas surpreendem.
Primeira, a reunião aconteceu na véspera das conversações entre funcionários dos EUA e representantes dos Talibã marcadas para dia 17/12, que foram intermediadas e facilitadas pelo Paquistão. O primeiro-ministro Imran Khan admitiu que o Paquistão está trabalhando como facilitador. Aconteceu depois da carta do presidente Trump a Imran Khan pedindo a cooperação paquistanesa, e da mais recente visita que fez a Islamabad o representante oficial dos EUA no Afeganistão, Zalmay Khalilzad. Há matérias conflitantes quanto ao local; a reunião da 2ª-feira pode acontecer ou em Islamabad ou em Dubai [o encontro aconteceu anteontem, em Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos. Do Wall Street Journal (NTs)]. Os EUA elogiaram o trabalho do Paquistão na construção das conversações de paz.
Segundo aspecto que surpreende, e mais importante, a declaração conjunta emitida depois do encontro trilateral de ministros de Relações Exteriores em Cabul [ante]ontem sugere que alguns grandes projetos apoiados pelos chineses começam a ser pensados sob a rubrica da Iniciativa Cinturão e Estrada.[1] A declaração conjunta destaca o compromisso dos três países para “fazer avançar a conectividade sob a Iniciativa Cinturão e Estrada” e, especificamente, para “promover a cooperação trilateral China-Afeganistão-Paquistão, no contexto de construir em conjunto a Iniciativa Cinturão e Estrada”.
Matéria de Xinhua citava declarações à imprensa do ministro de Relações Exteriores da China Wang Yi, depois da conversas em Cabul, segundo as quais os três países concordaram em “promover a construção da Iniciativa Cinturão e Estrada proposta pela China, como esforço concentrado para aumentar a conectividade e o desenvolvimento econômico regionais.” Além disso, Wang observou que China e Paquistão “apoiaram o Afeganistão para que se converta em pivô regional, deixando que se realize a plena potencialidade das vantagens regionais do país, e para se beneficiar de projetos cooperativos regionais, inclusive do Corredor Econômico China-Paquistão.”
A declaração conjunta destacou que “a China apoia uma coordenação mais aprofundada entre Afeganistão e Paquistão nos grandes projetos de energia e conectividade, incluindo a construção da ferrovia Quetta-Kandahar e da ferrovia e rodovia Kabul-Peshawar. As três partes reiteraram seu firme compromisso para implementar as atividades e projetos já definidos para cooperação prática.”
Muito claramente, o Corredor Econômico China-Paquistão (CECP) se encaminha no rumo do Desfiladeiro Khyber e da cidade de fronteira Spin Boldak e passará por cima da Linha Durand.[2] O que antes só vivia no reino das ‘declarações’ está começando a ganhar carne e ossos. Não há dúvidas de que vivemos momento emocionante na turbulenta história da região.
Lord Curzon, vice-rei da Índia, disse certa vez que “O Waziristão (agência tribal na fronteira Paquistão-Afeganistão) está fora de controle. Agora é preciso um rolo compressor – que vá de uma ponta à outra e os esmague, todos, completamente. Mas não serei piloto de rolo compressor.”
E a China? Será o rolo compressor, mas estofado com veludo? Dito em termos simples, é importante vitória da diplomacia chinesa, que levará avante a construção das ferrovias e rodovias que conectarão Quetta e Kandahar, e Peshawar e Cabul. Os elos de comunicação cobrirão regiões onde vastos territórios ainda estão sob domínio dos Talibã. Quase sem dúvida, a China proverá a parte substancial dos recursos para esses projetos. Os projetos propostos abrirão rotas de transporte para o sul e leste afegãos, para o porto de Gwadar. Os projetos abrirão para o mercado mundial regiões ainda remotas. O empurrão no campo econômico será imenso para os dois países, Afeganistão e Paquistão.
Em termos estratégicos, o CECP torna-se uma espécie de esqueleto de sustentação para a estabilidade do Afeganistão. Combina perfeitamente com dictum dos chineses, para quem o desenvolvimento econômico é solução duradoura possível para os problemas de separatismo e terrorismo. Pode-se prever que, numa segunda fase, a China levará adiante os nodos de comunicação transafegã, para conectar o Paquistão à região da Ásia Central (Tadjiquistão, Uzbequistão e Turcomenistão.) Já há muitas esperanças investidas nessa via. Leiam duas matérias recentes, aqui e aqui, sobre as potencialidades que crescem, de se ampliar o comércio direto entre Uzbequistão e Paquistão.
Bem evidentemente, esses desenvolvimentos também darão conta da questão da Linha Durand. Toda a comunidade internacional acolherá entusiasmada um movimento que acena para nova fase nas relações Afeganistão-Paquistão, e que só fortalecerá a segurança e a estabilidade regionais.
O primeiro round do Diálogo de ministros de Relações Exteriores China-Afeganistão-Paquistão aconteceu em Pequim em dezembro de 2017. Esse resultado notável aconteceu no quadro do que se conhece como Plano de Ação Afeganistão-Paquistão para Paz e Solidariedade. No encontro em Cabul, ontem, Afeganistão e Paquistão assinaram um memorando de entendimento sobre cooperação na luta contra o terrorismo. O ministro das Relações Exteriores da China observou que Pequim está fazendo esforços para aproximar Paquistão e Afeganistão.
A China prevê que a reconciliação com os Talibã é agora questão de tempo; e os EUA afinal jogam ao mar a noção de que possa haver solução militar para o problema afegão. Assim sendo, a China já está posicionada para o paradigma pós-conflito afegão.
Considerado o quadro dos desenvolvimentos acima comentados, Nova Délhi deve considerar com muita atenção a recente declaração do ministro de Relações Exteriores do Paquistão Shah Mehmood Qureshi, semana passada, na qual busca a cooperação da Índia nos esforços para levar a paz ao Afeganistão. Qureshi disse que “Dado que a Índia está presente no Afeganistão, sua cooperação também será requerida.” É a primeira vez que se vê abertura desse tipo. E é sinal também de que os Talibã podem aceitar a ajuda da Índia para reconstruir o Afeganistão.*******
Segundo aspecto que surpreende, e mais importante, a declaração conjunta emitida depois do encontro trilateral de ministros de Relações Exteriores em Cabul [ante]ontem sugere que alguns grandes projetos apoiados pelos chineses começam a ser pensados sob a rubrica da Iniciativa Cinturão e Estrada.[1] A declaração conjunta destaca o compromisso dos três países para “fazer avançar a conectividade sob a Iniciativa Cinturão e Estrada” e, especificamente, para “promover a cooperação trilateral China-Afeganistão-Paquistão, no contexto de construir em conjunto a Iniciativa Cinturão e Estrada”.
Matéria de Xinhua citava declarações à imprensa do ministro de Relações Exteriores da China Wang Yi, depois da conversas em Cabul, segundo as quais os três países concordaram em “promover a construção da Iniciativa Cinturão e Estrada proposta pela China, como esforço concentrado para aumentar a conectividade e o desenvolvimento econômico regionais.” Além disso, Wang observou que China e Paquistão “apoiaram o Afeganistão para que se converta em pivô regional, deixando que se realize a plena potencialidade das vantagens regionais do país, e para se beneficiar de projetos cooperativos regionais, inclusive do Corredor Econômico China-Paquistão.”
A declaração conjunta destacou que “a China apoia uma coordenação mais aprofundada entre Afeganistão e Paquistão nos grandes projetos de energia e conectividade, incluindo a construção da ferrovia Quetta-Kandahar e da ferrovia e rodovia Kabul-Peshawar. As três partes reiteraram seu firme compromisso para implementar as atividades e projetos já definidos para cooperação prática.”
Muito claramente, o Corredor Econômico China-Paquistão (CECP) se encaminha no rumo do Desfiladeiro Khyber e da cidade de fronteira Spin Boldak e passará por cima da Linha Durand.[2] O que antes só vivia no reino das ‘declarações’ está começando a ganhar carne e ossos. Não há dúvidas de que vivemos momento emocionante na turbulenta história da região.
Lord Curzon, vice-rei da Índia, disse certa vez que “O Waziristão (agência tribal na fronteira Paquistão-Afeganistão) está fora de controle. Agora é preciso um rolo compressor – que vá de uma ponta à outra e os esmague, todos, completamente. Mas não serei piloto de rolo compressor.”
E a China? Será o rolo compressor, mas estofado com veludo? Dito em termos simples, é importante vitória da diplomacia chinesa, que levará avante a construção das ferrovias e rodovias que conectarão Quetta e Kandahar, e Peshawar e Cabul. Os elos de comunicação cobrirão regiões onde vastos territórios ainda estão sob domínio dos Talibã. Quase sem dúvida, a China proverá a parte substancial dos recursos para esses projetos. Os projetos propostos abrirão rotas de transporte para o sul e leste afegãos, para o porto de Gwadar. Os projetos abrirão para o mercado mundial regiões ainda remotas. O empurrão no campo econômico será imenso para os dois países, Afeganistão e Paquistão.
Em termos estratégicos, o CECP torna-se uma espécie de esqueleto de sustentação para a estabilidade do Afeganistão. Combina perfeitamente com dictum dos chineses, para quem o desenvolvimento econômico é solução duradoura possível para os problemas de separatismo e terrorismo. Pode-se prever que, numa segunda fase, a China levará adiante os nodos de comunicação transafegã, para conectar o Paquistão à região da Ásia Central (Tadjiquistão, Uzbequistão e Turcomenistão.) Já há muitas esperanças investidas nessa via. Leiam duas matérias recentes, aqui e aqui, sobre as potencialidades que crescem, de se ampliar o comércio direto entre Uzbequistão e Paquistão.
Bem evidentemente, esses desenvolvimentos também darão conta da questão da Linha Durand. Toda a comunidade internacional acolherá entusiasmada um movimento que acena para nova fase nas relações Afeganistão-Paquistão, e que só fortalecerá a segurança e a estabilidade regionais.
O primeiro round do Diálogo de ministros de Relações Exteriores China-Afeganistão-Paquistão aconteceu em Pequim em dezembro de 2017. Esse resultado notável aconteceu no quadro do que se conhece como Plano de Ação Afeganistão-Paquistão para Paz e Solidariedade. No encontro em Cabul, ontem, Afeganistão e Paquistão assinaram um memorando de entendimento sobre cooperação na luta contra o terrorismo. O ministro das Relações Exteriores da China observou que Pequim está fazendo esforços para aproximar Paquistão e Afeganistão.
A China prevê que a reconciliação com os Talibã é agora questão de tempo; e os EUA afinal jogam ao mar a noção de que possa haver solução militar para o problema afegão. Assim sendo, a China já está posicionada para o paradigma pós-conflito afegão.
Considerado o quadro dos desenvolvimentos acima comentados, Nova Délhi deve considerar com muita atenção a recente declaração do ministro de Relações Exteriores do Paquistão Shah Mehmood Qureshi, semana passada, na qual busca a cooperação da Índia nos esforços para levar a paz ao Afeganistão. Qureshi disse que “Dado que a Índia está presente no Afeganistão, sua cooperação também será requerida.” É a primeira vez que se vê abertura desse tipo. E é sinal também de que os Talibã podem aceitar a ajuda da Índia para reconstruir o Afeganistão.*******
[1] Sobre isso, ver Pepe Escobar, 17/12/2018, “Como as Novas Rotas da Seda fundem-se na Eurásia Expandida”, Blog do Alok [NTs].
[2] Linha Durand: Dia 12/11/1893, Abdur Rahman Khan, e o secretário de Relações Exteriores do Governo Colonial da Índia, Sir Mortimer Durand, concordaram em demarcar a fronteira entre o Afeganistão e a Índia Britânica. A Linha Durand atravessa as vilas e áreas tribais Pashtuns. Foi causa de disputa entre os governos do Afeganistão e a Índia Britânica e, depois, entre Afeganistão e Paquistão [NTs, com informações de
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