31/7/2016, MK Bhadrakumar, Indian Punchline
Os comentários ácidos, amargos, em que John Brennan chefe da CIA pôs em dúvida o futuro da Síria como país soberano, no Fórum de Segurança de Aspen, Colorado, ontem, mostram o alto nível de frustração dos EUA ante as realidades que emergem dos combates em solo (Reuters). As forças do governo sírio, apoiadas por forças russas, iranianas e por combatentes do Hezbollah cercaram afinal a estratégica cidade de Aleppo, no norte do país. Dentro da cidade, presos na arapuca, estão os grupos extremistas que EUA e aliados apoiaram na guerra.
A Rússia anunciou a criação de 'corredores humanitários' para facilitar que os civis que lá estejam deixem a cidade e os terroristas rendam-se. O anúncio dos russos fez os EUA parecerem idiotas, regionalmente, tão amplamente cercados e derrotados.
O secretário de Estado John Kerry imaginou que conseguiria enrolar Moscou em alguma 'via diplomática', discutindo algum cessar-fogo e a excitante possibilidade de a Rússia participar de operações conjuntas sob comando dos EUA, na Síria, enquanto, ao mesmo tempo, garantia tempo para os grupos da oposição se recuperarem em Aleppo. Como agora se sabe pelo recente anúncio da Frente al-Nusra, de que se separa da Al-Qaeda, o plano dos EUA sempre foi ganhar tempo para 'legitimar' o apoio dos EUA à Frente al-Nusra e blindá-la, protegendo-a dos ataques russos.
Os russos, por sua vez, deixaram a conversa em fogo baixo, enquanto davam sinal verde para que prosseguissem as operações militares conjuntas com Damasco e Teerã para retomar Aleppo.
'Corredor humanitário' é faca de dois gumes. A situação humanitária é realmente crítica e os suprimentos que os russos fazem chegar à população são, sim, mensagem de reconciliação. Mas, por outro lado, os refugiados que saem da cidade têm os olhos em destinos europeus; e pode haver terroristas entre eles.
Os seguintes excertos de um comentário da agência de notícias iraniana FARS (ligada ao Corpo de Guardas Revolucionários do Irã) mostram bem o triunfalismo que reina em Teerã, para quem EUA e Arábia Saudita foram os grandes derrotados na guerra síria:
· A tentativa de golpe para mudança de regime apoiada por forças estrangeiras na Síria, para estabelecer um "Califato EUA" no Levante, fracassou e já é história. (...) Grande número de terroristas de Al-Nusra, Noureddin Al-Zinki, Exército Sírio Livre, Ahrar al-Sham e outros grupos já depuseram armas e renderam-se ao Exército Árabe Sírio na província de Aleppo, enquanto forças aliadas (soldados sírios apoiados pelo Hezbollah, conselheiros militares iranianos e ataques aéreos russos) avançam sobre Aleppo, depois de completado o cerco da cidade.
· O presidente Bashar Assad ofereceu anistia aos rebeldes que se renderem ao longo dos próximos três meses. O Exército Árabe Sírio distribuiu milhares de folhetos, lançados de aviões sobre distritos onde ainda há militantes rebeldes, pedindo que os moradores cooperem com os militares e conclamando os militantes a se render.
· Sim, a festa está claramente acabada, e a máquina de terror sustentada de fora do país parece ser projeto completamente derrotado. Eis o momento histórico que estamos vivendo (...). Aos que apoiaram o ISIL e muitos outros grupos de terroristas reunidos sob vários nomes, resta reconhecer o que são hoje Síria e Iraque (...) Por outro lado, as tendências relacionadas à Guerra ao Terror, à crise dos refugiados, à propaganda anti-Islã e anti-muçulmanos , o fracasso da democracia ocidental, da polícia e do sistema de segurança tão profundamente militarizados, tudo isso aponta para problemas graves também na Europa. As questões de refugiados e a crise humanitária só se aprofundarão, e, ao que se pode prever, de modo dramático. Recentes ataques de terroristas na França e na Alemanha sugerem que o ocidente está terrivelmente mal preparado para o que terá pela frente.
A mãe de todas as ironias será que países europeus enfrentarão o espectro de terroristas que chegarão às portas de suas cidades... os mesmos terroristas que a CIA treinou e armou! A ameaça de Brennan, de que balcanizará a Síria, não passa de teatro, porque qualquer ação tresloucada naquela direção enfrentará oposição decidida não só de Teerã, Damasco e Moscou, mas também de Ancara (Al-Arabiya).
Teerã anunciou que uma delegação chefiada pelo presidente da Comissão de Assuntos Externos e Segurança do Majlis(Parlamento) iraniano, figura chave do establishment das Relações Exteriores do Irã, visitará Damasco em missão de cinco dias, para discutir com o presidente Bashar Al-Assad a trajetória política e diplomática a ser trilhada daqui em diante, para colher 'os dividendos da paz' (Tehran Times).
Lê-se comentário dos russos (ing.) sobre o mesmo assunto, em Four Reasons Why Liberation of Aleppo Would Mean an End to the Syrian War [Quatro razões pelas quais a libertação de Aleppo significa um fim possível para a Guerra Síria].*****
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