quarta-feira, 6 de julho de 2016

Uruguai isolado e pressionado por Brasil e sócios no Mercosul

Francisco Montiel, La Onda Digital, n. 776, 4-11-/7/2016, Montevidéu, Uruguai



"A República Bolivariana da Venezuela rechaça as declarações insolentes e amorais do chanceler provisório do Brasil, José Serra" (Chanceler Delcy Rodríguez, da Venezuela, em Montevidéu). 

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



Reunião extra agenda do presidente Tabaré Vázquez, com uma delegação chefiada pelo chanceler brasileiro José Serra, que chegou na 3ª-feira a Montevidéu, pôs em evidência que o Brasil já está encaminhando uma série de medidas políticas e diplomáticas contra o governo da Venezuela.

A entrega da presidência pro tempore do Mercosul à Venezuela, que o Uruguai reiterou várias vezes que faria nos próximos dias, nos termos do protocolo do Mercosul, foi torpedeada por uma declaração formal do Brasil, de que não aceitará. Essa iniciativa seria uma das primeiras medidas propostas pelo governo de Michel Temer contra seu contraparte presidente Maduro.

Nessa direção, Serra propôs ao governo uruguaio adiar até agosto a entrega da presidência pro tempore à Venezuela. Se o governo de Vázquez não aceitasse, a Argentina assumiria a presidência demostrando que mudaria de postura – se se considera o que, há uma semana, foi anunciado pelos chanceleres Rodolfo Nin Novoa e Susana Malcorra em Montevidéu (suspensão da reunião de cúpula de presidentes prevista para 12 de julho, com reunião de chanceleres onde seria feita a transferência da presidência).

Já há várias semanas circula na imprensa regional a seguinte pergunta: "O que há por trás do conflito sobre a Venezuela, no Mercosul?

Serra disse ao governo uruguaio que o bloco deve esperar até agosto, "quando Venezuela já terá realmente concluído os procedimentos que o Mercosul exige há quatro anos, e que ainda não completou". Destacou que "a Venezuela é um problema, por causa das dificuldades internas e exigências legais não cumpridas." 

O chanceler paraguaio Eladio Loizaga, disse à imprensa: "A situação da Venezuela complica-se mais a cada dia, e precisamos ter à frente do Mercosul um país que tenha tranquilidade interna, paz, para que possa levar adiante os desafios que teremos no próximo semestre". 

Simultaneamente, segundo anunciou a publicação Sumarium, a estatal venezuelana Petróleos de Venezuela (Pdvsa) comunicou à Petropar que iniciará processo judicial se, até 10 de junho, o Paraguai não pagar o que deve, total que, segundo a petroleira venezuelana já chega a 287 milhões de dólares – disse Eddie Ramón Jara, presidente de Petropar à [agência] EFE".

O diário La Nacion da Argentina noticia que "Um dos argumentos para que o presidente venezuelano não tome posse (na presidência pro tempore do Mercosul) é que a Venezuela é o único país do bloco que resiste a avançar na direção de um acordo de livre comércio com a UE, motivo pelo qual os parceiros temem que venha a impor empecilhos às negociações. De fato, os demais países já haviam concordado que as conversações com a Europa continuariam a cargo do Uruguai, mesmo que deixasse a presidência. A intenção da Casa Rosada é que a presidência do Mercosul continue com Tabaré Vázquez, presidente do Uruguai, ou que passe para Mauricio Macri".

La Nacion acrescenta que "com o intento de reforçar a aliança militar com o Brasil, o ministro da Defesa da Argentina, Julio Martínez, concluiu um rápido giro por Brasília e São Paulo, ocasião em que manifestou a autoridades brasileiras o interesse da Argentina em participar da fabricação aqui [na Argentina] dos aviões super-sônicos Gripen NG, com tecnologia sueca. "Queremos ser parte do contrato que Embraer firmou com a sueca Saab, e podemos fazê-lo mediante a Fábrica Argentina de Aviones (FAdeA)" – disse Martínez aLa Nacion.

Para o chanceler Nin; "o jurídico tem precedência sobre o político", na Venezuela há uma "democracia, não há ruptura institucional, e até que aconteça não podemos prejulgar (…). A lei, hoje, manda entregar a presidência do Mercosul à Venezuela".

A chanceler venezuelana Delcy Rodríguez disse, sobre as iniciativas de Serra em Montevidéu: "A República Bolivariana da Venezuela rechaça as declarações insolentes e amorais do chanceler provisório do Brasil, José Serra".*****

Um comentário:

Anônimo disse...

É uma hipocrisia esta pressão e desrespeito pelo "ministro" golpista do exterior, José Serra, sobre o Mercosul quando se sabe e sempre se soube que os golpistas são e sempre foram contrários ao Mercosul e favoráveis à ressuscitação da ALCA (agora com o nome de Aliança Trans-Pacífico).