sexta-feira, 29 de abril de 2016

A dignidade do STF não pode mais ser restaurada, por Fernando Brito

"A discussão sobre a dignidade do Supremo, em termos jurídicos, “perdeu o objeto”.
Não pode mais ser restaurada.
Que vá discutir direitos autoriais, como fez ontem, ou se é possível entrar no cinema com a pipoca comprada no carroceiro; cada um tem a estatura que se dá."

A coragem e a dignidade de um ser humano não se medem apenas por seus atos, mas por quando os pratica.
O cidadão que vê alguém ser agredido e só grita “covarde!” quando o agressor já vira a esquina, talvez o esteja gritando para si mesmo.
O “pega-ladrão” dito quando o gatuno já some na poeira, levando o roubo, torna quem o diz cúmplice da perda que já não pode ser recuperada.
Ao Supremo Tribunal Federal, a esta altura, tanto faz condenar ou absolver Eduardo Cunha.
O que são os R$ 52 milhões de reais que, na denúncia feita hoje na folha pelo seu ex-cúmplice Fábio Cleto (sairá livre o rapaz bem apessoado?) perto dos 54 milhões de votos que ele furtou, domingo passado, ao povo brasileiro?
Se o Supremo o condena, ficará em todos a impressão que executa, como nas quadrilhas, a mão que fez o serviço sujo. Queima o arquivo, como se diz no dialeto policial.
Se o absolve, soará como paga ao trabalho imundo que realizou.
O resto, as alegações, o rito, os prazos, os artigos, alíneas, incisos, precedentes, arestos, assentadas e outras terminologias afetadas serão apenas, para seguir no Direito, lana caprina.
Lã de cabra, coisa sem valor, sem influência, inútil, que deve ser desprezada por sem serventia prática.
Bernardo de Mello Franco, na Folha de hoje, recorda que o afastamento de Cunha da Presidência da Câmara foi pedido em dezembro passado, em nome  “dignidade do Parlamento”, que estava sendo usado “”em benefício próprio e de seu grupo criminoso”. E, dizia Rodrigo Janot,  o “regular funcionamento das instituições (…) somente será possível se (…) adotada a medida de afastamento do deputado Eduardo Cunha”.
Se, agora, depois destes 135 dias e de quantos mais se passarem até que o Supremo examine o pedido, concluir-se que são procedentes aquelas razões, não se poderá dizer, então, que neste interregno o Parlamento foi indigno, que beneficiou um criminoso e seu grupo e que a instituição não funcionou de forma regular?
Um período em que, simplesmente, propôs-se e consumou-se um processo de impedimento de uma presidente eleita pelo sufrágio universal, notória vítima dos instintos mais primitivos de Cunha.
A discussão sobre a dignidade do Supremo, em termos jurídicos, “perdeu o objeto”.
Não pode mais ser restaurada.
Que vá discutir direitos autoriais, como fez ontem, ou se é possível entrar no cinema com a pipoca comprada no carroceiro; cada um tem a estatura que se dá.
PS. Para quem não sabe, poltrão diz-se de quem é medroso ou covarde. Ou do animal que engorda e se torna preguiçoso, o que não vem ao caso, não é?

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Carta aberta à presidenta Dilma Rousseff do Brasil, por Peter Koenig



"Ponha os tanques na rua, cerque com eles o Palácio do Planalto – de modo algum para provocar qualquer violência, mas para mostrar que a presidenta do Brasil tem poder, meios e coragem para proteger o povo que a elegeu e o país, contra o assalto de neofascistas e – sobretudo – contra os interesses de Washington."
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Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu




Prezada presidenta Rousseff,

Por favor, não ceda! Não deixe que a corrupta direita neoliberal com a ajuda de – não, por instigação de Washington – roube o seu país, que roube o Brasil dos brasileiros, para rasgar e destruir tudo que você e Lula conseguiram nos últimos 14 anos, educação pública e serviços públicos de saúde de boa qualidade, transporte público moderno e eficiente, uma rede básica de segurança social – uma sociedade mais igual.

Durante a última década e meia, vocês conseguiram distribuir os benefícios da riqueza do Brasil para a maioria dos brasileiros, começando a reverter a maré, que antes sempre correu na direção dos oligarcas, dos latifundiários – para o povo, para os que trabalham a terra, que construíram e ainda constroem e sonham com continuar a construir um Brasil para os brasileiros.

terça-feira, 26 de abril de 2016

A nova luta ideológica, por Sergey Karaganov

26/4/2016, Sergey Karaganov,* Izvestia (ru.), e Rússia Insider (trad. ru.-> ing., por Julia Rakhmetova e Rhod Mackenzie)

'Ocidente' vive num 'mundo imaginário' (e a Rússia sugere regras para o mundo real):

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


Durante uma década depois da autoextinção da URSS, foi como se o mundo estivesse livre da disputa pela dominação ideológica. Muitos especialistas concordavam que o mundo caminharia para sistema único de valores, baseado na democracia liberal ocidental e no capitalismo. Europa e EUA acenaram com a liberdade e com o sistema político vencedor que aquelas nações pareciam ter para oferecer ao mundo.


Os anos 2000s trouxeram outra realidade.

Naquela euforia, o 'ocidente' começara a impor à força as suas posições e valores políticos (Afeganistão, Iraque e Líbia). Mas perdeu a disputa. O apoio 'ocidental' à primavera árabe desestabilizou ainda mais o Oriente Médio, o que fez a democracia parecer cada dia menos atrativa.

E Putin? Estará preparando um expurgo no governo?

21/4/2016, The Saker, Unz Review e The Vineyard of the Saker

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


Como faz anualmente, semana passada o presidente Putin passou mais de três horas e meia respondendo 80 perguntas das mais de 3 milhões que foram recebidas. O programa, televisionado pelos canais 1, Rossiya-1 e Rossiya-24 da televisão russa, e pelas rádios Mayak, Vesti FM e Radio Rossii foi sucesso sem precedentes, comentado por milhões de russos. A transcrição integral (em ing.), aquie a transcrição da conversa entre Putin e o corpo de jornalistas, depois do programa (em ing.).

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Brasil: economia instável e política cada vez mais sombria

19.4.2016, Global Times, Pequim (Editorial)

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

"Conclusão disso tudo é que os brasileiros têm direitos democráticos, mas só nominalmente, porque, pelo que se vê hoje, os cidadãos não têm os meios necessários para influenciar o rumo político do próprio país."



No domingo, a Câmara de Deputados do Brasil garantiu a maioria de dois terços necessária para propor ao Senado o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. No Senado, bastará maioria simples, para suspender a presidenta e afastá-la da presidência por até 180 dias. A presidenta brasileira, de tendências de esquerda, está agora a um passo de um despenhadeiro político. 

Rousseff está sendo acusada acusações de manipular contas do governo, e muitos a acusam de corrupção e de alterar fraudulentamente números do desempenho econômico do Brasil para ocultar os maus resultados. No fundo, tudo se resume à evidência de que Rousseff não foi capaz de conduzir o país para fora das dificuldades econômicas em que hoje está. 

domingo, 24 de abril de 2016

BRICS na linha de mira: o 'império' ataca no Brasil

22/4/2016, Eric Draitser, Stop Imperialism


No 'impeachment', só 34 foram eleitos com os próprios votos

Na votação do último domingo, 477 dos 511 deputados votantes só chegaram à Câmara graças aos votos do partido, da coligação ou de colegas mais votados
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Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

NEW YORK — (Análise) A década passada assistiu a uma notável reunião de nações não ocidentais em parcerias econômicas e políticas. Essas instituições multilaterais têm sido apresentadas e promovidas como alternativas a órgãos do poder político e econômico ocidental 'tradicionais' como OTAN, FMI e Banco Mundial. 

Do crescimento da Organização de Cooperação de Xangai, OCX [ing. Shanghai Cooperation Organization, SCO] ao estabelecimento da União Econômica Eurasiana, UEE [ing. Eurasian Economic Union, EEU] e à estratégia chinesa de "Um Cinturão, Uma Estrada" [ing. One Belt, One Road] para conectar grande parte das terras eurasianas pelo comércio e investimento, e mais recentemente, com o estabelecimento do Banco Asiático de Infraestrutura e Investimento, BAII [ing. Asian Infrastructure Investment Bank, AIIB], esses desenvolvimentos são vistos, por muitos, como essenciais para a descentralização do poder global, desconectando-o dos centros imperiais em Washington, Wall Street, Londres e Bruxelas.

Forma e conteúdo - O golpinho filhote do golpe, por Janio de Freitas

24.04.2016 - Janio de Freitas



O entendimento pleno entre Michel Temer e os ministros Celso de Mello e Gilmar Mendes, a respeito da farta percepção de golpe, não surpreende, por nenhum dos três. Mas a adesão de Celso de Mello a manifestações públicas de fundo político, sem razão alguma para sair de sua área, é mais uma contribuição para a difundida inconformidade com o Supremo na atual crise.

Causa mais citada pela inconformidade, a protelada apreciação do afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara –pedido há quatro meses pelo procurador-geral Rodrigo Janot– recebeu afinal uma explicação, embora indireta, do ministro Teori Zavascki. Em síntese, a acusação principal no pedido são os trambiques de Eduardo Cunha contra a ação do Conselho de Ética que o ameaça. No entender de Zavascki e outros, porém, o tema compete à Câmara.

O problema se repete: com o êxito dos pulos de Cunha e o alheamento do Supremo, nada resta a fazer contra o comando da Câmara por um réu em processo no próprio Supremo. E no tribunal os ministros citados e ainda outros, como Dias Toffoli e Cármen Lúcia, dizem que "as instituições e a democracia estão funcionando".

Celso de Mello considera "um gravíssimo equívoco" as referências de Dilma a golpe. Porque "o procedimento destinado a apurar a responsabilidade da senhora presidente da República respeitou todas as fórmulas estabelecidas na Constituição".

As fórmulas. Ou seja, Celso de Mello considera a forma, e se satisfaz. Mas o golpe não está na forma, está na essência, no argumento, que apenas se vale da forma. E este argumento consiste em, de repente, considerar crime, para efetivar um impeachment, uma prática financeira aceita nos governos anteriores e em atuais governos de Estados. Um casuísmo, portanto, um expediente oportunista.

Integrante mais antigo do Supremo, nomeado ainda por Sarney, Celso de Mello é o ministro que mais recorre a bases teóricas do Direito, em imensas digressões engordadas com citações a autores, jurisprudências e votos passados. O seu súbito enlace com o formalismo, e do mais simplório, pode satisfazer-lhe a visão política, mas trai sua dificuldade de sustentar com argumentos jurídicos o golpe da repentina criminalização de créditos suplementares, velhos conhecidos da Fazenda, do Tesouro e do TCU.

Dias Toffoli também tem o que dizer sobre o que os jornais disseram que Dilma diria na ONU mas não disse, e por isso os que inventaram que ela diria agora se dizem surpresos. Toffoli: "Alegar que há um golpe em andamento é uma ofensa às instituições brasileiras. E isso pode ter reflexos ruins no exterior". Os reflexos ruins já estão na imprensa internacional, que não se deixou enganar. Sem falar no manifesto de 8.000 juristas mundo afora, denunciando o golpe.

"Ofensa às instituições" é a trama em montagem para separar o processo, no TSE presidido por Toffoli, sobre as contas de campanha da chapa Dilma-Temer. Com um processo para cada um, como Gilmar Mendes articula, Temer pode ser absolvido enquanto Dilma é condenada. Gilmar Mendes chegou a dizer que "o tribunal (Superior Eleitoral) tinha posição contrária, mas agora podemos ter um quadro novo". Outro casuísmo, outro expediente oportunista. O golpinho filhote do golpe.

Em importante artigo na "Ilustríssima" de domingo (17) (pág. 6), cuja leitura recomendo muito, Daniel Vargas faz uma análise original e aguda do Judiciário e, em particular, do STF. Constitucionalista, doutor em Direito Público por Harvard, em dado exemplo diz: "Cármen Lúcia e Dias Toffoli, ao afirmarem publicamente que impeachment não é golpe, pois está previsto na Constituição, abusam da retórica para, implicitamente, oferecer suporte ao movimento político de destituição da presidente Dilma Rousseff".

É o que fazem também os outros ministros aqui citados, com exceção de Teori Zavascki, que mantém a reserva devida por magistrados. São 35 os partidos com registro. Mais os meios de comunicação. O Supremo Tribunal Federal não precisa ser mais do que Supremo Tribunal Federal. Aliás, precisa-se que seja o Supremo Tribunal Federal. 

sábado, 23 de abril de 2016

Gastrofascismo, a nossa mais nova jabuticaba, por Leandro Fortes




A doença infantil do antipetismo criou, no Brasil, a figura do fascista de restaurante.

É o sujeito ou grupo de sujeitos que vai ao restaurante insultar pessoas que pensam de forma diferente ou tem outra opção política-ideológica à dele.

São, quase sempre, idiotas funcionais que foram ativados pela mídia, como naquelas experiências com espiões hipnotizados atribuídas a americanos e soviéticos, durante a Guerra Fria.

O sujeito sai de casa com a esposa, vai almoçar ou jantar num restaurante qualquer e, de repente, ele vê...  um petista!

Não um petista qualquer, aquele vizinho inconveniente que não bate panelas, que chama ele de coxinha pela varanda, que coloca #Lula2018 como nome de rede de internet, por pura sacanagem.

Um petista MESMO: uma deputada que defende direitos humanos, um senador que apoia o MST, uma celebridade que detona Bolsonaro nas redes sociais.

Aí, o fascista de restaurante, simplesmente, esquece a mulher, os filhos, a comida, o próprio sentido de sair de casa para ir comer fora, e parte para cima do petista. Mesmo que o alvo não seja petista, mas apenas esquerdista, o que é, claro, a mesma coisa.

Basta ter dito por aí que o impeachment de Dilma é golpe.

Ele parte para cima, ativado no modo Globo News, uma metralhadora de clichês roubados dos debates radiofônicos da CBN, uma Veja desgovernada babando ódio e ressentimento de classe.

"Como assim, no MEU restaurante, ESSA GENTE?"

No caso de José de Abreu, que encerrou a discussão com uma bela cusparada na cara de um desses cretinos, o argumento de fundo utilizado é uma pérola no direitismo tupiniquim: como alguém que vota no PT, ou é comunista, pode ser dar ao desfrute de almoçar em um caro restaurante japonês?

Essa visão pedestre de que a esquerda deve se alimentar de ovo frito e banana não é fruto de reflexão alguma, por óbvio.

É parte de um vasto relicário de dogmas organizados em apostilas da Escola Superior de Guerra para serem usados como doutrina anticomunista, entre os anos 1960 e 1980.

Trata-se de uma contraposição primária, feita sob medida para alienados, ao conceito marxista de mais valia.

Ou seja, ao fato de que o trabalho incorporado a um produto, pela força do trabalho em si, é sempre inferior ao que Marx chama de "trabalho comandado" - isto é, o que o valor de venda desse mesmo produto pode comprar em termos de horas trabalhadas.

Essa discrepância está na base da impossibilidade natural, no nosso capitalismo, de os trabalhadores e trabalhadoras não poderem acessar boa parte dos bens de consumo que produzem, seja um automóvel de luxo, seja um pedaço de salmão cru em cima de um bolinho de arroz.

O que o pensamento de esquerda clássico (não necessariamente marxista) defende é que tudo que o trabalhador produz deve, para efeito de justiça social, também ser consumido por ele.

Justamente, essa interface escandalosamente ideológica está na origem da reação do grande capital aos governos do PT. A percepção de que a aproximação do trabalho ao seu valor de uso capitalista cria uma perigosa consciência de classe contra-hegemônica.

Por isso, os principais interessados em destruir essa percepção - o capital rentista e o latifúndio - acionaram a mídia. A esta, ancorada no dinheiro e nas concessões públicas, coube ativar a vasta rede de analfabetos políticos e indigentes morais que atacam pessoas em restaurantes.

Os gastrofascistas, a nossa mais nova jabuticaba.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Carta aos Ministros do Supremo, por Luís Nassif



Como é que faz, Teori, Carmen Lúcia, Rosa Weber, Celso de Mello, Luís Barroso, Luiz Fachin? Como é que faz? Não mencionei Lewandowski e Marco Aurélio por desnecessidade; nem Gilmar, Toffoli e Fux  por descrença.

Antes, vocês estavam sendo levados por uma onda única de ódio preconceituoso, virulento,  uma aparente unanimidade no obscurantismo, que os fez deixar de lado princípios, valores e se escudar ou no endosso ou na procrastinação, iludindo-se - mais do que aos outros - que definindo o rito do impeachment, poderiam lavar as mãos para o golpe.

Seus nomes, reputações, são ativos públicos. Deveriam  ser utilizados em defesa do país e da democracia; mas, em muitos casos, foram recolhidos a fim de não os expor à vilania. 

Afinal, se tornaram Ministros da mais alta corte para quê?

Os senhores  estarão desertando da linha de frente da grande luta civilizatória e deixando a nação exposta a esse exército de zumbis, querendo puxar de novo o país para as profundezas.

Não dá mais para disfarçar que não existe essa luta. Permitir o golpe será entregar à selvageria décadas de construção democrática, de avanços morais, de direitos das minorias, de construção de uma pátria mais justa e solidária.

A imprensa mundial já constatou que é golpe. A opinião interna está dividida entre os que sabem que é golpe, e defendem o impeachment; e os que sabem que é golpe e reagem.

Desde os episódios dantescos de domingo passado, acelerou-se uma mudança inédita na opinião pública. Reparem nisso. Todo o trabalho sistemático de destruição da imagem de Dilma Rousseff de repente começou a se dissolver no ar.

Uma presidente fechada, falsamente fria, infensa a gestos de populismo ou de demagogia, distante até, de repente passou a ser cercada por demonstrações emocionadas  de carinho, como se senhoras, jovens, populares, impotentes ante o avanço dos poderosos, a quisessem proteger com mantos de afeto. Abraçaram Dilma como quem simbolicamente abraça a democracia. E os senhores, que deveriam ser os verdadeiros guardiões da democracia, escondem-se?

Antes que seja tarde, entendam a verdadeira voz das ruas, não a do ódio alimentado diuturnamente por uma imprensa que virou o fio, mas os apelos para a concórdia, para a paz, para o primado das leis. E, na base de tudo, a defesa da democracia.

A vez dos jovens

Aproveitei os feriados para vir para minha Poços de Caldas. Minha caçula de 16 anos não veio. O motivo: ir à Paulista hipotecar apoio à presidente. A manifestação surgiu espontaneamente pelas redes sociais, a rapaziada conversando entre si, acertando as pontas, sem a intermediação de partidos ou movimentos. Mas unida pelos valores da generosidade, da solidariedade, pelas bandeiras das minorias e pelo verdadeiro sentimento de Brasil.

São esses jovens que irão levar pelas próximas décadas as lições deste momento e – tenham certeza - a reputação de cada um dos senhores através dos tempos. Não terá o sentido transitório das transmissões de TV, com seus motes bajulatórios e seu padrão BBB.  Na memória desses rapazes e moças está sendo registrada a história viva, tal e qual será contada daqui a dez, vinte, trinta anos, pois deles nascerá a nova elite política e intelectual do país, da mesma maneira que nasceu a geração das diretas.

Devido à censura, foram necessárias muitas décadas para que a mancha da infâmia se abatesse sobre os que recuaram no AI5, os Ministros que tergiversaram, os acadêmicos que delataram, os jornalistas que celebraram a ditadura. Hoje em dia, esse julgamento se faz em tempo real.

Nas últimas semanas está florescendo uma mobilização inédita, que não se via desde a campanha das diretas.

De um lado, o país moderno, institucional; do outro, o exército de zumbis que emergiu dos grotões. De um lado, poetas, cantores, intelectuais e jovens, jovens, jovens, resgatando a dignidade nacional e a proposta de pacificação. Do outro, o ódio rocambolesco aliado ao golpismo.

Não permitam que o golpe seja consumado. Não humilhem o país perante a opinião pública mundial. Principalmente, deixem na memória dessa rapaziada exemplos de dignidade. Não será por pedagogia, não: eles conhecem muito melhor o significado da palavra dignidade. Mas para não criar mais dificuldades para a retomada da grande caminhada civilizatória, quando a rapaziada receber o bastão de nossa geração.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Suíça: Organiza-se a resistência contra a chicana dos banqueiros

11/4/2016, Valentin Katasonov, Strategic Culture Foundation

Entreouvido na Vila Vudu:

Tradução recebida com um bilhetinho, que dizia: 

"Não entendi nada (e, sinceramente, são assuntos que não me interessam muito), mas traduzi porque, se é coisa que NUNCA será comentada pelos 'comentaristas' 'de economia' da mídia-empresa comercial brasileira, com certeza interessa ao pessoal aqui. Além disso, se é assunto de conspiração entre banqueiros privados e políticos corruptos, com certeza absoluta já aconteceu ou está acontecendo na Câmara de Deputados Cunhas de Brasília-2016.
Abs." [assina] X

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Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


No final do ano passado, a Chancelaria Federal Suíça recebeu uma petição com 110.955 assinaturas, exigindo outro referendum nacional. A exigência vinha patrocinada por ativistas da Iniciativa pró Moeda Soberana [ing. Sovereign Money Initiative[1]]. O objetivo do referendum é proibir que bancos comerciais privados inventem dinheiro e obrigar que se use dinheiro real, tangível.

O sujo jogo da "multiplicação dos dinheiros" 

Em economia, quando um banco comercial é autorizado a criar dinheiro ampliando o crédito além das reservas que possua, fala-se nesse caso de "sistema bancário de reservas fracionadas" [ing. fractional-reserve banking]. Por exemplo, os bancos podem aceitar depósitos de 1.000 unidades de qualquer meio de pagamento legal no respectivo sistema jurídico (é o chamado dinheiro "real", sob a forma de notas e moedas emitidas pelo Banco Central, na maioria das vezes), e, mesmo assim, apoiado nessas reservas reais, o mesmo banco pode emprestar 10 mil unidades do mesmo meio de pagamento. E esse crédito será emitido na forma do que se chama "depósito em dinheiro", que é, na verdade, uma espécie de conceito abstrato, porque não pode ser usado como notas bancárias reais. Esse evidente duplifalar não acaba bem, é claro, é pode rapidamente levar a uma corrida aos bancos, seguida pelo colapso do próprio banco.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Rússia e China - 2016 Como planejam enfrentar a guerra econômica dos EUA


Entreouvido na Vila Vudu:
Enquanto o senador Aloísio vai aos EUA prestar contas do golpe RIDÍCULO que o PSDB-Fiesp ainda tentam contra a democracia brasileira
e receber novas ordens do 
Kaganato do Excepcionalistão,
a blogosfera tem de cuidar ela mesma de entender o que realmente se passa.

A luta está só começando.
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Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


Não há melhor exemplo de "guerra híbrida", que a guerra econômica e financeira que Washington faz contra Moscou.

Domingo, o Supremo Líder do Irã Ali Khamenei disse, em discurso na cidade santa de Mashhad que:

"Os norte-americanos não estão agindo como se comprometeram a agir no acordo nuclear iraniano; não fizeram o que têm obrigação de fazer. Segundo o ministro de Relações Exteriores [Javad Zarif], escreveram algumas coisas no papel, mas, por muitos meios diversionistas, impedem que se materializem os objetivos da República Islâmica do Irã."

Essas palavras do Supremo Líder no importante pronunciamento do Nowruz (Ano Novo) devem ser compreendidas como guia e farol: não são floreio retórico. E não foi simples 'cutucada' nos EUA (como alguns talvez suponham). Foi mais, isso sim, um alerta cuidadoso ao governo iraniano para que "não descuide" das possíveis consequências políticas.

terça-feira, 19 de abril de 2016

Devastação a Jato: A História cobrará caro no futuro, por Mauro Santayana

16.04.2016 - Mauro Santayana




A "MULTA-BOMBA" DE 7 BILHÕES

(Revista do Brasil) - Finalmente, depois de meses de pressão desumana, gestapiana, sobre o empresário Marcelo Odebrecht, o juiz Sérgio Moro levou-o a julgamento, condenando-o – baseado não em provas de sua participação direta, mas na suposição condicional de que um empresário que comanda uma holding com mais de 180 mil funcionários e que opera em mais de 20 países tem a obrigação de saber de tudo que ocorre nas dezenas de empresas que a compõem – a 19 anos e quatro meses de prisão.

Não satisfeito com a pena, e com a chantagem, que prossegue – já que o objetivo é quebrar a moral do réu – um dos poucos que não se dobraram à prepotência e ao arbítrio – com o aceno ao preso da possibilidade de “fazer delação premiada a qualquer momento”, os responsáveis pela Lava-Jato, na impossibilidade de provarem propinas e desvios, ou a existência de superfaturamento da ordem dos bilhões de reais alardeados aos quatro ventos desde o princípio da operação, pretendem impor ao grupo Odebrecht uma estratosférica multa “civil” que pode chegar a R$ 7 bilhões – mais de 12 vezes o lucro da empresa em 2014 – que, pela sua magnitude, se cobrada for, deverá levá-lo à falência, ou à paralisação destrutiva, leia-se sucateamento, de dezenas de obras e de projetos, a maior parte deles essenciais, estratégicos, para o futuro do Brasil nos próximos anos.

Hienas da guerra híbrida estraçalham o Brasil, por Pepe Escobar



Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



A noite tenebrosa, repulsiva, quando a presidenta da 7ª maior economia do mundo foi a presa da hora escolhida por gangue de linchadores, hienas em matilha, naquele Circus Maximus provinciano em Brasília, está inscrita para sempre nos anais da infâmia.

Por 367 votos a favor e 137 contra, o impeachment/golpe/mudança-de-regime soft contra a presidenta Dilma Rousseff passou no circo dos deputados do Congresso do Brasil e irá agora para o Senado, onde uma "comissão especial" será definida para redigir um parecer. Se aprovado, Rousseff será afastada da presidência por 180 dias e um Brutus tropical subalterno, o vice-presidente Michel Temer, assumirá o governo, até o veredito final do Senado.

Que essa farsa barata sirva como toque de despertar, não só para os países BRICS, mas para todo o Sul Global. Quem precisa de OTAN, "responsabilidade de proteger" ou "rebeldes moderados", se você pode obrar sua mudança de regime só com uma cutucada no sistema político/judicial das nações?

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Heroína de Ocasião, por Leandro Fortes

18;04.2016 - Leandro Fortes



Essa é a deputada Raquel Muniz, do PSD de Minas Gerais.

Ontem, ela se vestiu de verde e amarelo para votar contra Dilma Rousseff, na Câmara dos Deputados.

Você sabe, para acabar com a corrupção no Brasil.


Hoje, o maridão de Raquel, o prefeito de Montes Claros, Ruy Muniz, foi preso pela Polícia Federal por roubar dinheiro da saúde pública para colocar no hospital privado da família.

Ao votar pelo impeachment, Raquel cometeu a seguinte pérola:

"Meu voto é em homenagem às vítimas da BR-­251. É para dizer que o Brasil tem jeito, e o prefeito de Montes Claros mostra isso para todos nós com sua gestão".

Então, você que vibrou com o voto de Raquel Muniz contra uma presidenta honesta que jamais foi acusada de desviar um único tostão público, não aposente ainda a sua camisa da CBF.

A guerra está começando agora.

‪#‎ALutaContinua‬

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Rússia de Putin não cabe em explicações simplórias


Entreouvido na Vila Vudu:

Quando quiser férias do imbecilismo imbecilizante de todos os veículos da mídia-empresa Br-2016, leia um jornal chinês; se for editorial e sobre a Rússia/Putin, melhor ainda 
;-)
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Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



O presidente Vladimir Putin da Rússia tornou-se foco de atenção global novamente nessa 5ª-feira, quando lá esteve, em seu encontro anual com cidadãos russos, pela televisão, em linha direta de perguntas e respostas, ao vivo. Apenas um dia antes, o Pentágono distribuíra um vídeo em que se veem jatos russos voando muito perto de um destroier dos EUA armado com mísseis teleguiados, ato que os EUA descreviam como "um ataque simulado".

Brasil-2016: Pistoleiros e traidores põem de joelhos o Gigante?

15/4/2016, Timothy Bancroft-Hinchey,* diretor e editor-chefe da ed. em port. de Pravda.Ru
Twitter: @TimothyBHinchey



Os procedimentos de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff do Brasil são ilegais, equivalentes a nada menos que tentativa de golpe de Estado, mecanismos dos quais se serve agora uma elite política endemicamente corrupta e em vários casos criminosa, dominada por Washington e hoje terrivelmente perturbada por quatro mandatos consecutivos de presidentes democraticamente eleitos, representantes do Partido dos Trabalhadores.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Geopolítica do sistema de Banco Central

17/3/2016, Valérie Bugault,* Katehon

A gênese da ordem oligárquica do 
banking: do sistema de banco central às instituições financeiras[1]

"Deixem-me controlar o dinheiro do país
e nem me importa quem escreva as leis"
[Mayer Amschel Bauer, 1º da dinastia Rothschild]

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



O conceito de Banco Central depende da centralização das questões monetárias em mãos de banqueiros de bancos centrasi controlados por banqueiros privados. A política monetária é assim gerida, por sua própria natureza, para satisfazer os interesses da maioria dos acionistas dos principais bancos privados.

Bancos centrais que pertencem a atores financeiros privados que regulam as chamadas moedas soberanas [State currencies] e mais ou menos diretamente controlam todo o setor bancário privado são o núcleo mais duro da questão monetária. Bancos centrais[2] são assim o nervo central do sistema financeiro que temos hoje.

América Latina: gelado vento de golpe sopra do Norte

13/4/2016, Vijay Prashad, The Hindu, Nova Delhi, Índia

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


Com os fundos para programas de bem-estar secando, em plena recessão global, a velha elite, com ajuda dos EUA, está outra vez usando a linguagem da anticorrupção para repor os pés na região e desestabilizar governos de esquerda eleitos na América Latina.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Guerra Híbrida, de Palmyra ao Panamá, por Pepe Escobar




Os Panama Papers, dissecados até o osso, revelaram-se, como já escrevi, essencialmente, como operação de infoguerra iniciada pela Agência de Segurança Nacional dos EUA (ing. US-NSA) – que convenientemente mira contra os "inimigos" do 'ocidente' no sul global (como os países BRICS) e variados peões descartáveis.


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



No estágio atual, os Panama Papers estão servindo como arma de operação de guerra psicológica (ing. psyops) apresentados como 'vazamento ativista', saído diretamente do manual de Guerra Híbrida.

Os incansáveis agentes 'especialistas' da mídia-empresa dominante estão tendo muito trabalho para apresentar o 'vazamento' monstro como "jornalismo responsável", sempre sem tocar em nenhuma das graves questões que já apareceram, sobre como o tal 'vazamento' teria sido 'vazado'; como teriam sido seletivamente editados 2,6 terabytes de dados, incluindo 5 milhões de emails; como foram obtidos sem encriptação; como é possível que, de toda essa massa de dados sobre a qual teriam trabalhado mais de 400 jornalistas por mais de um ano, não tenha havido nenhum 'vazamento' do 'vazamento'; e sobre como a informação estaria sendo seletivamente distribuída hoje.