sexta-feira, 30 de setembro de 2016

EUA na Síria: Como construir um estado terrorista

28/9/2016, Toni Cartalucci,* NEO, New Eastern Outlook


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



Uma nação é suas instituições. Se essas instituições são enfraquecidas, a própria nação é enfraquecida. E se essas instituições são destruídas, a nação, em relação a todos os próprios objetivos e projetos, também será destruída.

Exemplo dramático de como destruir uma nação apareceu aos olhos do mundo em 2003 no Iraque, quando o 'eixo' comandado pelos EUA invadiu e ocupou o país, atacando e explodindo deliberadamente as instituições e a infraestrutura essencial do Iraque, inclusive Polícia, Forças Armadas e o governo, assim como pontes, usinas geradoras de energia e comunicações.

Nas ruínas que restavam, completadas a invasão e a destruição comandadas pelos EUA, e instalada lá uma "Autoridade Provisória da Coalizão" [ing. Coalition Provisional Authority], empresas norte-americanas e europeias foram convidadas, não só para reconstruir instituições e infraestrutura, mas para fazê-lo de tal modo que o que viesse a existir tornasse o país dependente de, e lucrativo para, os interesses empresariais-financeiros de EUA-Europa, para todo-sempre, até a consumação dos tempos.

Neo-Brasil Neocolonial: EUA festejam 'mudança de regime' abaixo do Equador, por Pepe Escobar

30/9/2016, Pepe Escobar em seu Facebook


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu




Essa semana, "A Voz do Dono" mandou seu mais top emissário, o secretário do Tesouro dos EUA Jack Lew, visitar o Brasil, a neocolônia da hora.

O novo Master proclamou aos vassalos/nativos que a nação "está posicionada para voltar a crescer". Lew recolheu informes do ministro das Finanças Meirelles, sobre os vastos planos de privatização a-go-go do governo de Temer, O Usurpador, além da prestação de contas de "cortes profundos" no gasto público, com especial atenção ao desmonte da educação e da saúde públicas).

E, claro, sem esquecer a privatização crucial de todo o petróleo de terra e mar.

A corrupção portanto passará agora a ser plenamente legalizada, tão logo se modifique a legislação que rege as contribuições privadas às campanhas eleitorais.

Wall Street também está adorando, tanto quanto o governo Obama, que enviou Joe Biden para exortar os nativos a persistirem na rota que os levará ao Santo Graal Neoliberal. Ninguém consegue tudo que quer. Mas se se persevera, consegue-se aquilo de que mais se precisa. Você diz... a Síria? Não, não, falo do Brasil. Oh yeah.*****

EUA perderam o controle sobre Nova Guerra Fria

26/9/2016, Alastair Crooke, Consortium News (in Conflicts Forum)


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



Logo depois do ataque norte-americano a posições do exército sírio que supervisionam e comandam o campo de pouso de Dier A-Zor – de onde partem e ao qual retornam voos estilo "ponte aérea de Berlin", que são a única linha de sobrevivência de uma cidade há muito tempo sitiada pelo ISIS –, o embaixador russo na ONU fez uma pergunta retórica e pertinente ao Conselho de Segurança: Quem manda na política externa dos EUA? O Pentágono ou a Casa Branca?


Claro que não houve resposta oficial, nem era necessária: o conselho editorial do New York Times encarregou-se do veredito em editorial de 15 de setembro. Elogiando o secretário de Estado dos EUA por sua diplomacia enérgica mas "quixotesca", o "Boardescreveu:

Wall Street: elo Trump-China pode decidir as eleições, por Pepe Escobar

29/9/2016, Pepe Escobar, RT


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu




No próximo sábado, o yuan passará a integrar a cesta de moedas de reserva do FMI – e lá estará, ao lado do dólar-EUA, da libra, do euro e do yen. ISSO É um terremoto geoeconômico. 

Não se trata só de passo importante que a China dá em sua trilha que ninguém consegue interromper rumo à primazia econômica; a inclusão da moeda chinesa na cesta de Special Drawing Rights (SDR) também levará bancos centrais e fundos hiper-ricos – especialmente dos EUA – a comprar continuadamente mais ativos chineses.

No primeiro debate presidencial nos EUA, Donald Trump não mediu palavras, ao criticar a China por "manipular a moeda". Eis o que disse:

"Vejam só o que a China está fazendo ao nosso país, produzindo nosso produto, estão desvalorizando a moeda deles e ninguém no nosso governo lhes dá combate... Estão usando nosso país como cofre porquinho para reconstruir a China, e muitos outros países estão fazendo a mesma coisa." 

Bem, bem... A China não está "produzindo nosso produto": todo o processo de manufatura é Made in China – depois exportado para os EUA. Muito dos lucros beneficiam empresas dos EUA – tudo, de design, licenciamento e royalties, até publicidade, financiamento e margens de varejo. Se os mantras dizem alguma verdade parcial – os EUA perderam empregos de manufatura para a China, China é a "fábrica do mundo" –, eles absolutamente não dizem a verdade oculta segunda a qual quem mais lucra são, essencialmente, as grandes empresas.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

O dilema da luta contra o neoliberalismo

27/9/2016, Jacques Sapir, Russeurope, Hypotheses


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


A evolução das forças políticas na Grã-Bretanha depois do Brexit é sintomática dos problemas que os países da União Europeia enfrentam. O Brexit forçou uma mudança importante na orientação do partido conservador. A virada operada por Theresa May, que pôs fim a 30 anos de tatcherismo, é significativa, porque mostra muito claramente que até os conservadores já sabem dos desastres engendrados pela ideologia neoliberal. O partido trabalhista, que vem de reeleger à presidência, com forte maioria, Jeremy Corbyn, também enfrenta hoje problema equivalente.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Comandante da Frente Al-Nusra, da al-Qaeda: "Norte-americanos estão conosco"

26/9/2016, Moon of Alabama(trad. al.-ing. Bernhard; aqui trad. ao port., nos dois casos, tradução para finalidades acadêmicas, não comerciais)

Entrevistador: Jürgen Todenhöfer (original em alemão)
Publicada em alemão26/9/2016, no jornal Kölner Stadtanzeiger, principal jornal na região de Colônia.


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

Isso, se quiser, Trump pode jogar, como saco de lixo,
sobre La Killary [pano rápido]





Foi a sétima viagem que meu filho Frederic e eu fizemos à Síria, em guerra. Lá estivemos durante 13 dias. Não há palavras que descrevam o sofrimento que lá vimos.

Essa entrevista foi realizada há dez dias, com um comandante de um ramo da al-Qaeda, a Frente [Jabhat] al-Nusra. Abu al-Ezz falou bastante abertamente sobre seus financiadores – Arábia Saudita, Qatar e Kuwait. Tivemos meios para pesquisar rigorosa e exatamente a identidade do homem e sabemos praticamente tudo sobre ele.

Entrevista na pedreira, em Aleppo

A entrevista foi marcada por um rebelde de Aleppo. Tenho contatos com rebeldes sírios há anos. Aconteceu nos arredores de Aleppo numa pedreira exatamente em frente e ao alcance de tiro da Frente al-Nusra, ponto ao qual só um membro da al-Nusra conseguiria chegar em segurança.

Wells Fargo: O cambalacho já foi longe demais

23/9/2016, Rob Urie,* Counterpunch


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



Um dos aspectos politicamente mais frustrantes da última década no ocidente é a nenhuma disposição dos poderes que haja, para corrigir a disfunção radical que subjaz à economia política ocidental. 

De fato, como microcosmo e como metáfora, aí está hoje diante de nós o 'escândalo' do banco Wells Fargo – cujos banqueiros criaram milhões de contas falsas, cobraram correspondentes 'tarifas' dos clientes e depois mandaram às favas os supostos reguladores (que tampouco manifestavam qualquer interesse em regular coisa alguma). Em 2011, quando se diz que o banco teria iniciado essa prática, o Wells Fargo ainda estava sendo ativamente 'resgatado', e tomavam-se medidas 'extraordinárias' para reviver as fortunas dos ricos e bem relacionados, e ainda não se sabia claramente que 'a mudança na qual você pode acreditar' significava total ressuscitamento do mesmo sistema que criara as repetidas crises das últimas décadas.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

O silêncio dos liberais: raízes da vergonha brasileira. por Saul Leblon

26/09/2016, Saul Leblon, Carta Maior

As idas e vindas das conquistas sociais neste longo amanhecer desautoriza qualquer ingenuidade sobre as nuvens que se acumulam no horizonte do golpe no Brasil. O silencio dos liberais grita a  sua omissão diante da tempestade anunciada. A julgar pelas raízes da história, continuará assim.  Até que as ruas civilizem novamente o mercado e as elites.


O que se busca caracterizar hoje no Brasil com a palavra golpe é na verdade um retrocesso equivalente a um ciclo de ‘des-emancipação social’. Sua abrangência e brutalidade correspondem a uma ruptura do pacto da sociedade sem consulta-la, o que dificilmente se completará sem atingir o núcleo duro das garantias individuais, as liberdades civis e os direitos políticos.

Diante da escalada temerária, constrange o silencio daqueles que, ideologicamente, avocam-se a filiação ao republicanismo, à independência de poderes, a isonomia diante da lei e o respeito ao sufrágio universal.

Na devastação de um país trincado pela ofensiva conservadora, submetido a um dispositivo midiático que se aliou a milícias  de procuradores e caçadores de cabeças vermelhas, faz falta a voz e a coragem da defesa liberal da Constituição e do Estado de Direito.

Onde estão os verdadeiros liberais brasileiros?

sábado, 24 de setembro de 2016

EUA e Síria: Relatório de Situação (SITREP)

24/9/2016, Auslander, The Vineyard of the Saker


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


A guerra na Síria é de fato guerra entre os EUA e a Federação Russa, em microcosmo. As Forças Armadas da Rússia demostraram impressionante talento tático, e os diplomatas russos mostraram que são os melhores diplomatas do mundo. 

Com a União Europeia reduzida a suplicar e arrastar-se pelo chão aos pés de Washington, e Washington nada faz além de pôr-se aos berros e gritaria, feito criança a quem se nega um pedaço de bolo, Vladimir Vladimirovich Putin e Lavrov com grande talento prenderam Washington numa armadilha de raposa. 

Que ninguém pense, nem por um segundo que o mundo não esteja assistindo a tudo isso com o coração na boca, todos pendurados a cada declaração, a cada nuance de frase, a cada leve movimento de mãos. 

A guerra na pequena Síria é reconhecida em todo o mundo como a guerra por todas as bolas da mesa. Se Washington perder essa – e eles estão perdendo – é fim de jogo. Os que tenham mais ou menos a minha idade não viverão para ver o fim dos EUA, mas viveremos para ver o fim dos EUA como suposta maior potência mundial.

The Saker: Por que eventos recentes na Síria mostram que o governo Obama está em confusa agonia terminal

23/9/2016, The Saker, The Vineyard of the Saker


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



Os mais recentes desenvolvimentos na Síria não são, creio eu, resultado de algum plano deliberado pelos EUA para ajudar seus "terroristas moderados" aliados em campo, mas sintoma de algo talvez pior: os EUA parecem ter perdido completamente o controle sobre a situação na Síria e, possivelmente, também em outros pontos. Permitam recapitular o que acaba de acontecer:

Primeiro, depois de dias e dias de intensas negociações, o secretário Kerry dos EUA e o ministro Lavrov de Relações Exteriores da Rússia finalmente chegaram a um acordo sobre um cessar-fogo na Síria que teria potencial para pelo menos "congelar" a situação em campo, até as eleições presidenciais nos EUA e a troca de governo (esse é agora o evento mais importante no futuro próximo; assim sendo, nenhum plano de nenhum tipo estende-se além daquela data.

Missão bandida: Pentágono bombardeou Exército Sírio para matar o cessar-fogo?

20/9/2016, Mike Whitney, Unz Review


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


"Tudo sugere que o ataque (...) foi cometido deliberadamente por forças dentro do governo dos EUA hostis ao cessar-fogo (...). Alegações de que os norte-americanos não saberiam quem estavam bombardeando simplesmente não são críveis e são completamente desmentidas por outros relatos da mídia"
– Alex Lantier, World Socialist Web Site



Um 'racha' entre o Pentágono e a Casa Branca foi convertido em rebelião declarada no sábado, quando dois jatos F-16s e dois aviões de combate A-10 dos EUA bombardearam posições do Exército Árabe Sírio (EAS) em Deir al-Zor matando no mínimo 62 soldados regulares sírios e ferindo outros 100. Os EUA assumiram responsabilidade direta pelo incidente, que chamaram de "um erro", mas o momento em que o massacre ocorreu fez crescer as especulações de que o ataque foi tentativa desesperada, no último segundo, para fazer gorar a implementação do frágil acordo de cessar-fogo contra o qual os líderes do Pentágono posicionaram-se abertamente. Muitos analistas trabalham hoje para tentar definir se os ataques são mesmo indicação de que o Departamento de Defesa infestado de neoconservadores estaria ativamente sabotando a política do presidente Obama para a Síria, o que implicaria que o Pentágono estaria sob comando de rebeldes antidemocráticos que rejeitam a autoridade constitucional civil. O massacre do sábado passado sugere fortemente que cresce um motim dentro do Departamento de Guerra.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Moon of Alabama: Hillary Clinton perdeu

23/9/2016, Moon of Alabama


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



A eleição presidencial de 2015 nos EUA está decidida. Hillary Clinton não vencerá. Ela sabe que não vencerá (vejam aí – e podem desligar o som. O que Hillary diz sempre é irrelevante).



Clinton falou ["Por que não estou 50 pontos à frente?!] numa vídeo conferência do Sindicato Internacional dos Trabalhadores da América do Norte. Está furiosa com tudo à volta.  Absolutamente não compreende por que (outra vez) fracassou.

Todas as pesquisas estão-se movendo contra ela. "Mas Trump é mentiroso!" 

Claro que é. Todos sabemos que ele mente. É um vendedor buscando ganhar o freguês. É esperável e esperado que Trump minta e exagere. Nem ele se esforça para esconder que mente. É mentiroso sincero, autêntico na própria mentira.

Por isso ainda é – para muita gente – homem de quem se pode gostar e em quem, no fundo, pode-se basicamente confiar.

Hillary Clinton é política-profissional: vive de mentir que não mente. Mas o currículo de sua vida pública é conhecido. Todos sabem que ela mente e só mente, e sempre mente. Não é autêntica. Não inspira confiança. Sequer inspira simpatia. Basta vê-la em ação, furiosa, na terrível perfomance midiática acima.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Plano e agenda dos EUA para balcanizar a Síria, por Pepe Escobar

22/9/2016, Pepe Escobar, RT


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



Podem esquecer aquelas reuniões intermináveis entre Sergei Lavrov e John Kerry; podem esquecer o impulso da Rússia para impedir que o caos tome conta da Síria; podem esquecer a possibilidade de real cessar-fogo a ser implementado e respeitado por jihadistas prepostos dos EUA.

Podem esquecer qualquer investigação pelo Pentágono, do que realmente aconteceu no bombardeio que o Pentágono cometeu 'por engano' em Deir Ezzor.

A prova definitiva da real agenda do Império do Caos para a Síria, pode ser obtida num documento de 2012 da Agência de Inteligência da Defesa [ing. Defense Intelligence Agency (DIA)], que deixou de ser protegido por sigilo em maio do ano passado.

Playing Algoritmo’n Blues, por Pepe Escobar

16/9/2016, Pepe Escobar, Strategic Culture Foundation


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



Vivemos na Era do Algoritmo.

Assim sendo, eis aqui uma estória que não só sintetiza a era, mas alonga-se sobre como a obsessão do algoritmo pode dar horrorosamente errado.

Tudo começou quando Facebook censurou a foto icônica de Kim Phuch, a 'menina do napalm', que se tornou um símbolo da Guerra do Vietnã reconhecido em todo o planeta. A foto foi incluída num postado de Facebook pelo escritor norueguês Tom Egeland, que queria iniciar um debate sobre "sete fotos que mudaram a história da guerra".

Não só a foto foi apagada; Egeland também foi suspenso de Facebook.

Síria 2016: Ataque ao comboio de suprimentos indica escalada na guerra

20/9/2016, Moon of Alabama 


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



O espetáculo em torno do comboio danificado na região a oeste de Aleppo já atinge nível de comédia.


O comboio UN/SRC veio do setor oeste, controlado pelo governo sírio. Chegou a um centro da organização Crescente Vermelho Sírio em Umm al Kubra na área suposta controlada por "rebeldes" mais a oeste, onde começou a ser descarregado. Algo aconteceu e vários dos caminhões incendiaram-se ou foram danificados por outros meios. Supostamente teria havido 20 mortos. O incidente ocorreu pouco depois de ter expirado oficialmente o cessar-fogo. Equipes de propaganda dos "Casquetes Brancos" patrocinados pelos EUA estavam lá quando ou imediatamente depois de o incidente acontecer.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Legado de Obama em cabeça de Clinton

19/9/2016, Ray McGovern, Consortium News


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



Em discurso no sábado à noite, em jantar na Fundação Caucus Negro do Congresso [ing. Congressional Black Caucus Foundation], o presidente Barack Obama 'avisou', no tom imperial-ameaçador que se tornou nele uma segunda natureza: "Tomarei como insulto pessoal, insulto ao meu legado, se essa comunidade [afro-norte-americana] baixar a guarda e não se autoestimular para se manifestar nessa eleição." Esperou os aplausos e depois Obama acrescentou: "Querem me dar uma boa despedida? Vão e votem." 

Por mais que seja ótimo chamar as pessoas para que votem, há algo muito esquisito no modo como o presidente formulou a coisa: disse que a decisão de as pessoas votarem em Hillary Clinton estaria condicionada à necessidade de proteger o legado de Obama. E, no contexto do jantar de afro-norte-americanos, Obama disse a eles que a negritude de todos, inclusive do próprio Obama, tornaria necessário eleger Clinton.

Semelhante recurso a uma política identitária também me incomodou quando Hillary Clinton insistiu em jogar a carta do gênero (feminino). Teria ficado igualmente ofendido se, quanto alcancei a maioridade eleitoral, meus parentes irlandês-norte-americanos me dissessem que fosse e votasse num católico irlandês de nome John F. Kennedy por causa de nossos ancestrais ou religião partilhada. Pareceria desonesto – até infantilismo – se alguém me dissesse que ficaria 'pessoalmente ofendido', se eu não votasse em Kennedy.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

O Brasil e o Perigoso Jogo da História, por Mauro Santayana

12.09.2016, Mauro Santayna - Versão estendida, sem redução para versão impressa




Embora muita gente não o veja assim, o afastamento definitivo de Dilma Roussef da Presidência da República, em votação do Senado, por 61 a 20 votos,      no  final de agosto, é apenas mais uma etapa de um processo e de um embate muito mais sofisticado e complexo, em que está em jogo o controle do país nos próximos anos.   

Desde que chegou ao poder, em 2003, o PT conseguiu a extraordinária proeza de fazer tudo errado, fazendo, ao mesmo tempo, paradoxalmente, quase tudo certo.

Celebração do 1%: Mas... a desigualdade seria ótima para a economia?!



Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



Parafraseando Mark Twain, todos reclamam da desigualdade, mas ninguém faz nada para consertar.

A única coisa que se vê é gente que usa "desigualdade" como ponto de partida para projetar seus próprios pontos de vista sobre como tornar a sociedade mais próspera e, ao mesmo tempo, mais igual. Essas visões dependem de como cada um veja o 1%: como inovador, esperto e criativo, gente que enriqueceu de tanto que todos eles ajudaram a sociedade. Ou, se o veem, como escreveram os grandes economistas clássicos, como o estrato mais rico da população, constituído de rentistas, que extraem dos 99% a própria renda e a própria riqueza, vivendo como latifundiários ociosos ou banqueiros monopolistas e predadores.

Alemanha: uma virada? Por Jacques Sapir

19/9/2016, Jacques Sapir, Hipotheses, Russeurope


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



Eleições locais em Berlim, realizadas domingo, mostram a erosão do apoio a Angela Merkel e o crescimento do controverso partido dito "populista", "Alternativa para a Alemanha" [al. nos gráficos: AfD]. A Alemanha parece agora, ela também, muito sensível à onda dita "populista". Seria virada considerável. É visível que o consenso humanista não resistiu ao choque da realidade, na questão dos refugiados.

Em Berlim, o "Alternativa para a Alemanha" surge na Assembleia local com 14,2% dos votos, enquanto a "União Democrata Cristã" [al. nos gráficos: CDU] de Merkel chega ao pior resultado de sua história. Análise das zonas eleitorais mostra que "Alternativa para a Alemanha" obteve os melhores resultados no nordeste e leste de Berlim. E chega perto disso nas zonas nas quais o Partido da Esquerda [al. nos gráficos: Linke, A Esquerda], surgido da cisão à esquerda do Partido Social-democrata [al. SPD] é o mais importante. Parece que esses dois partidos, apesar das posições opostas na questão de acolher os refugiados, prosperam dentro do mesmo eleitorado.

Gráfico 1
Eleitores nas 1.779 zonas eleitorais pesquisadas (Berlim)

Obama paga a Israel maior 'ajuda militar' da história



Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



O governo Obama assinou um pacto de 'ajuda militar' no valor de $38 bilhões, que o Departamento de Estado propagandeia como "o maior compromisso de ajuda militar bilateral da história dos EUA."

O negócio recorde garantirá a Israel $3,8 bilhões anuais durante dez anos, a partir de 2019, mais do que os $3,1 bilhões já pagos no contrato do negócio de 'ajuda militar' vigente.

Num momento em que o governo dos EUA supostamente não tem meios para garantir serviços básicos ao trabalhador norte-americano, como assistência universal à saúde – há cidadãos israelenses que gozam dos benefícios garantidos pelo governo Obama, e sempre há dinheiro suficiente para que Israel prossiga na operação de destruir a Palestina.

A candidata Democrata à presidência, Hillary Clinton, que se manifestou contrária ao atendimento universal à saúde nos EUA e a bolsas para universitários norte-americanos, declarou que o negócio com Israel seria "o acordo perfeito".

"O sen. [Tim] Kaine e eu aplaudimos o acordo sobre novo memorando de entendimento relacionado à segurança dos EUA, de assistência a Israel" – disse Clinton em declaração distribuída por sua campanha.

Clinton também usou o negócio como oportunidade para provocar o Irã, repetir que os EUA estariam em séria oposição militar ao ISIS e reiterar a disposição dela para combater o crescente ativismo social contra a conduta criminosa de Israel, que os israelenses chamam de "campanha de deslegitimação".

"O acordo ajudará a solidificar e demarcar um rumo para o relacionamento de defesa entre EUA e Israel no século 21, diante dos desafios comuns que enfrentamos, desde as ações de desestabilização provocadas pelo Irã até as ameaças do ISIS e do jihadismo radical, e esforços para deslegitimar Israel no cenário mundial" – disse Clinton, que reiterou a promessa que fez em janeiro de "levar nosso relacionamento com Israel a um nível superior". 

"Legado"

O presidente Barack Obama não era obrigado a fazer o que fez. Absolutamente não está pressionado a ponto de ter de acalmar o lobby israelense. Não é candidato a reeleição.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Eleições ao Parlamento (Duma) russo, 2016: relevantes ou total perda de tempo e dinheiro?

19/9/2016, The SakerUnz Review


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



A julgar pelas reações da mídia-empresa ocidental, as eleições de 2016 para o Parlamento Russo são alguma espécie de não notícia: Putin O Malvado manteve "o poder sob suas garras", todos os partidos da Duma são comandados por ele, e nenhuma real oposição tem força para florescer. Até na Rússia há uns poucos que concordam com isso, mas por razões diferentes. Dizem que todos sabiam que o [partido] Rússia Unida (de Putin e de Medvedev) sairia vitorioso, fizessem o que fizessem; e que por isso nada mais tedioso que aquelas eleições. Verdade é que há um grão de verdade em tudo que aí se lê, mas o mais importante não é nada disso.

Problema número 1: Rússia não é Suíça 

O aspecto mais importante a compreender sobre a Rússia é que não é país nem europeu nem ocidental. Se os nacionalistas ucranianos gostam de dizer que "Ucrânia é Europa", pode-se parafraseá-los e dizer que, nesse caso, "Rússia é Ásia" (os mesmos Ukiesconcordam plenamente). Não é exatamente verdade; de fato, Rússia é Rússia; mas está muito mais perto da verdade do que a maioria dos observadores se interessa por admitir. 

No caso das eleições, por exemplo, a Rússia é mais parecida com o Japão: tem esse obrigatório verniz externo de democracia, mas, no fundo, a atitude do povo russo em face da autoridade e do poder é mais semelhante à atitude dos japoneses: eles compreendem que o poder e a autoridade reais na Rússia (como no Japão) realmente não dependem de eleições, e que os reais centros de poder nesses países ou estão investidos em indivíduos (como Putin ou o Imperador), ou em grupos informais de pessoas (segurança do Estado e empresários, na Rússia, velhas famílias e donos de indústria, no Japão).

Não que, por isso, as eleições tornem-se irrelevantes, de modo algum. As eleições são, de fato, uma via crucialmente importante para se aferir a opinião pública e, dependendo do resultado, podem também veicular mensagem poderosa para quem "tenha ouvidos de ouvir".

Problema número 2: na Rússia, a verdadeira oposição não está no Parlamento, está no Kremlin

Há muita verdade na acusação de que a Duma não passa de instituição de carimbadores de decisões que se tomam em outro lugar, e que todos os partidos que conseguiram chegar até os bancos da Duma (Rússia Unida, Comunistas, Democratas Liberais e Rússia Justa) são partidos pró-Putin. São mesmo. Mas esse não é o ponto importante. 

O que realmente importa é que, se Rússia Unida é de modo geral pró-Putin e pró-Medvedev, os outros três são muito fortemente anti-Medvedev, anti-governo-russo e, especialmente, anti-os-ministros de economia e finanças do governo Medvedev. A verdade é que a real oposição a Putin está precisamente nos grupos que cercam os ministros financeiro-econômicos do governo Medvedev e todas as facções que aqueles grupos representam: banqueiros, office-boys do FMI, empresários corruptos desde os anos 1990s, que odeiam Putin porque não lhes permite continuar a roubar o país como antes, toda a ex-Nomenklatura e respectivos filhotes que 'detonaram' nos anos 1990s e cujo coração está no ocidente; são os Integracionistas Atlanticistas[1] à moda Kudrin os quais, basicamente são "gente do Consenso de Washington" que despreza o povo russo por votar em Putin. Aí está a verdadeira oposição, e essa oposição é muito mais perigosa que EUA e OTAN somados. Pois para essa oposição, o resultado das eleições foi derrota arrasadora. Por quê?

Porque, assim como o "partido do poder" hiper oficial Partido Rússia Unida, todos os demais partidos no Parlamento são muito mais anticapitalistas e anti-norte-americanos que Putin. Para o Império "Rússia Unida" é o melhor com que podem contar. Alternativas ao Partido de Putin seriam, sem dúvida, muito, muito piores para o 'ocidente'.

Quanto aos partidos declaradamente pró-EUA (como PARNAS ou Iabloko), mal chegam, somados, a 3% dos votos, muito menos que o mínimo de 5% (por partido) exigidos para ter representação no Parlamento. Assim se confirma, basicamente, o que eu sempre disse: não há forças pró-EUA reais dentro da Rússia, nada, nenhuma.

O que significa tudo isso? É simples.

O povo russo tem um Parlamento que existe para 'carimbar' decisões do governo: exatamente o que o povo russo queria!

Talvez não seja lá grande coisa em termos de "democracia", mas em termos de "poder popular" verdadeiro é resultado fantástico.

E quanto ao comparecimento às urnas? Os cerca de 48% (número ainda não confirmado) que foram votar indicariam que o boicote que alguns liberais pregaram teria funcionado? De modo algum. Para começar, esse nível de participação eleitoral é realmente excelente, semelhante aos números com que se elegem os parlamentos suíços há anos. Além do mais, muitos eleitores do Rússia Unida estavam tão certos da vitória acachapante que nem se deram o trabalho de ir votar. Se tivessem comparecido às urnas a vitória do Rússia Unido teria sido ainda maior.

E a fraude eleitoral. Sim, houve suspeitas, mas depois que o sistema passou a permitir que cada cidadão acompanhe o comparecimento ao vivo, de todas as sessões eleitorais, as tentativas passaram a ser rapidamente identificadas e os problemas resolvidos. Para sua grande lástima, até a OSCE teve de atribuir às eleições russas de 2016, uma "mixed review" que, em bom inglês pode ser traduzido como "mas que merda, perdemos outra vez!"

Conclusões:

As eleições de 2016 ao Parlamento Russo foram acachapante vitória de Vladimir Putin. Simultaneamente, foram acachapante derrota para os Integracionistas Atlanticistas e para o Império Anglo-sionista. Foram também a derradeira prova de que o ridículo plano ocidental para desestabilizar Putin mediante sanções econômicas teve efeito perfeitamente oposto, muito obrigado: os russos se reorganizaram, dispuseram as carroças em círculo para proteger seu Presidente, e a Rússia respira clima de firme decisão de resistir.

Há um risco para Putin nisso tudo, mas é pequeno. O sistema eleitoral russo significa que, enquanto o partido Rússia Unida teve coisa como 54% dos votos, obterá 343 assentos, dos 450 votantes, o que lhe dá confortável maioria absoluta. Alguns observadores dizem que, se as coisas não andarem bem e se a crise econômica não recrudescer, o Kremlin (ambos, Putin e Medvedev) não poderão culpar a Duma. É verdade, mas não chega a ser problema grave. 

Primeiro, porque Putin e Medvedev sempre poderão culpar o ocidente por todas e quaisquer desgraças, mesmo no caso das políticas econômicas rigorosamente idiotas do governo russo e ainda que, na realidade, o governo russo seja inteiramente responsável pela crise, e as sanções ocidentais tenham efeito apenas marginal na situação. 

Muito mais relevante é que Rússia Unida não é o verdadeiro, verdadeiro, real partido de Putin. O *real* partido de Putin não é um partido, mas um movimento, a Frente Popular Toda a Rússia [ing. All-Russia People’s Front] ou (ing.) ONF (falei aqui sobre essa organização). Se as coisas ficarem realmente difíceis, ou se os Integracionistas Atlanticistas tentarem derrubar Putin em algum, digamos, Congresso extraordinário do Partido Rússia Unida, Putin precisará apenas converter a ONF em partido regular, culpar a 5ª coluna pelo golpe para mudança de regime, e esmagar toda a oposição golpista, com total apoio do povo russo.

A verdade é simples: Putin pessoalmente e os interesses que ele representa jamais foram mais poderosos do que são hoje. A vastíssima maioria do povo russo apoia firmemente o presidente russo e, tudo considerado, o recado ao Império é claro: "Lasciate ogne speranza, voi ch’intrate"![2]




[1] Sobre isso, ver 16/10/2013, "O longo (20 anos!) pas de deux de Rússia e EUA está chegando ao fim?", no Blog Redecastorphoto[NTs]
[2] "Abandonai qualquer esperança, tu que entras", dístico à entrada do Inferno, primeira parte da Divina Commedia, Dante Alighieri, c. 1304 [NTs].