Na noite de 21 de abril, estava em meu escritório em Paris, a apenas 100m da [avenida] Champs-Élysées, quando recebi telefonema de jornalista amigo, falando do ataque mortal contra policiais, naquele local.
Estava trabalhando, escrevendo o novo boletim sobre as eleições presidenciais na França para a rede Press TV do Irã.
Quando recebi a chamada, acabava de escrever a seguinte frase, e ainda mexia nela:
"As duas últimas semanas assistiram a duas grandes surpresas, que podem empurrar para a direita eleitores indecisos: a suposta descoberta de um complô terrorista de dois homens para atacar um dos três principais candidatos de direita; e o início, surpreendentemente agendado para esse momento, do julgamento de 20 pessoas acusadas de participarem de uma célula terrorista em 2012."
Claro... como já entenderam, tive de acrescentar uma terceira grande surpresa: o atentado suposto terrorista na Avenida Champs-Élysées.
Vladimir Putin, presidente da Rússia:Senhoras e senhores, boa-noite.
Tivemos negociações substanciais com o presidente francês, conduzidas de modo construtivo e baseadas numa relação de confiança. Naturalmente, dedicamos atenção máxima à questão da luta conjunta contra o terrorismo internacional.
O ataque bárbaro ao avião russo sobre a península do Sinai, os horríveis eventos em Paris e os ataques terroristas no Líbano, na Nigéria e no Mali causaram grande número de vítimas, das quais centenas de cidadãos russos e franceses. É nossa tragédia comum, e nos mantemos unidos em nosso compromisso de encontrar os culpados e levá-los ao tribunal.
Já intensificamos a operação das forças armadas russas contra os terroristas na Síria. Nossas ações militares são eficazes: os militares do dito 'Estado Islâmico' e outros grupos radicais sofreram perdas pesadas. Perturbamos os mecanismos de funcionamento dos extremistas, causamos dano à infraestrutura militar deles e minamos consideravelmente a sua base financeira. Refiro-me, em primeiro lugar, ao comércio ilícito de petróleo, que gera lucros imensos para os terroristas e seus apoiadores.
A narrativa dominante insiste que "Paris mudou tudo". Não. Não é bem assim.
Comecemos pelo front diplomático. Em vez do autoproclamado Grupo Internacional de Apoio à Síria – de 19 atores políticos – que se reúne regularmente em Viena para implementar um processo de paz na Síria, agora a prioridade é a guerra; uma guerraremixedao terror, agora não contra alguma al-Qaeda, mas contra um ISIS/ISIL/Daesh.
Até o Conselho de Segurança da ONU (CS-ONU) já emitiu declaração de facto de guerra ao Daesh. Está convocando os membros da ONU a "tomar todas as medidas necessárias" para derrotar o Daesh. A linguagem foi adequadamente vaga, para garantir que a resolução fosse aprovada. Contudo, depois da Líbia, não há quem não saiba que o demônio – principalmente em resoluções vagas do CS-ONU– mora nos detalhes.
O ministro francês Laurent Fabius e o presidente Francois Hollande
Desde há cinco anos, os Franceses ouvem falar de guerras longínquas, sem perceber do que se trata. A imprensa informou-os do envolvimento do seu exército na Líbia, mas nunca da presença de soldados franceses em missão no Levante. Os meus artigos a este propósito são amplamente lidos, mas entendidos como bizarrias orientais. Apesar da minha história pessoal, é de bom tom qualificar-me de «extremista» ou de «conspiracionista» e de relevar que os meus artigos são reproduzidos por sítios internet de todas as tendências, aí incluídos autênticos extremistas ou conspiranóicos. No entanto, ninguém encontra nada que comentar sobre o que realmente escrevo. Apesar disso ninguém quer saber nada sobre os meus alertas a propósito das alianças que a França assumiu.
Imediatamente depois dos assassinatos na redação de Charlie Hebdo, todos ouvimos falar muito sobre "valores republicanos". De fato, alguns franceses parecem ter ouvido excessivas vezes; recente pesquisa de opinião mostrava que 65% do povo francês acha que expressões como "valores republicanos" foram "usadas demais e perderam a força e o significado."
Um daqueles valores republicanos é a laicidade [orig. laicidade] – palavra francesa que tem tantas conotações e interpretações que já é efetivamente intraduzível [o autor fala de traduzir ao inglês (NTs)[1]]; secularism [ing.] serve como aproximação razoável. Hoje, a laicidade serve como justificativa para uma variedade de coisas – desde proibir que mães que acompanham os filhos em atividades escolares usem véu, até ordenar que crianças muçulmanas e judias comam porco nos lanches escolares (ou passam fome).
Mas laicidade não é simplesmente uma ideia que foi apropriada pela Direita para finalidades políticas ou culturais; é também valor afirmado pela Esquerda e, até, pela extrema esquerda.
● Há apenas uma semana atrás a União Europeia não conseguia pensar em nada que pudesse fazer parar o fluxo de “refugiados” que vinham daqueles países que os Estados Unidos e a OTAN tinha bombardeado até a destruição. Mas agora, por que “Paris mudou tudo” as fronteiras da União Europeia estão sendo fechadas e os refugiados forçados a retornar.
● Há apenas uma semana atrás parecia que os governos europeus estavam sendo afogados por um nacionalismo ressurgente que estava prestes a chegar ao poder através do voto. Mas agora, graças ao massacre em Paris, eles obtiveram uma sobrevida, porque podem abraçar tranquilamente as mesmas políticas que há uma semana chamavam de “fascistas”.
● Há apenas uma semana atrás a União Europeia e os Estados Unidos não podiam permitir a si mesmos a admissão de que eram totalmente incompetentes para dar combate à própria criação – quer dizer, o Daich/ISIS/ISIL – e precisavam da ajuda da Rússia. Mas agora, na sequência do encontro de cúpula do G-20, estão todos prontos para manter a linha e deixar que Putin toque a guerra contra o terrorismo. Vejam só – até os (norte)americanos conseguiram finalmente ver aqueles comboios de caminhões tanques que se estendem até o horizonte e que o Daich/ISIS/ISIL usa para transportar o óleo cru que roubam dos campos da Síria – depois que Putin lhes mostrou fotos de satélite!
Estou por acaso sendo grosseiro e insensível? Não mesmo – Deploro todas as mortes causadas por ataques terroristas no Iraque, na Síria, no Líbano e em todos os outros países cujas populações nunca fizeram absolutamente nada para merecer tal tratamento. Eu só me sinto muito mal em relação aos franceses, que ficaram quietinhos enquanto seu exército ajudava a destruir a Líbia (que também nada fez para merecer isso).
Até o muito sombrio dia em que os "soldados do Califato" atacaram a "capital da abominação e perversões" – como oISIS/ISIL/Daichdescreve seus ataques em Paris –, o presidente francês François Hollande e seu insuportável ministro de relações exteriores Laurent Fabius, o Farsante, só faziam repetir e repetir:Assad must go[parece que repetiam em inglês mesmo... (NTs)].
Para o Eliseu, Assad =Daich.
Medida para aferir a incongruência do governo Hollande é que nenhum de seus assessores, todos formados na famosíssima Ecole Nationale d'Administration, preveniu-o de que se ia tornando ainda mais irrelevante que o usual.
Rússia e Irã faziam o que diziam que fariam, os "4+1" (Rússia, Síria, Irã, Iraque plus Hezbollah) ativos em campo e nos céus sírios, e realmente dando cabo de todas as cores do jihadismo salafista, dos totalmente loucos aos totalmente loucos "moderados".
E até o governo Obama – depois de incontáveis reuniões entre o secretário Kerry e o ministro de Relações Exteriores da Rússia Sergey Lavrov – já estava corrigindo o curso. Essa tendência levou àqueles 35 minutos de conversa, grávidos de significações, entre Obama e Putin cara a cara, numa mesinha lateral, durante a reunião do G20 em Antalya, no domingo.
Mas... adivinhem quem permaneceu aliado a Hollande até o último, desgraçado momento: a matriz ideológica de todas as linhas do jihadismo salafista, a Arábia Saudita wahhabista e os vassalos do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG). "Prêmio" para o governo francês? Sacos e sacos de sumarentos negócios de armas. Aqui se vê lista parcial, combinada com o mais pervertido hardcore fornecimento de armas para os "rebeldes moderados".
Bandeira a meio mastro nos países da OTAN pelo "11/9 francês", e o presidente Obama a anunciar para a mídia: "Forneceremos informação acurada sobre quem é o responsável". Nem precisam esperar. Já se sabe. Esse infinitésimo massacre de inocentes foi causado pelas séries de bombas de fragmentação geopolítica, detonadas conforme uma estratégia precisa.
Essa estratégia foi posta em ação desde que os EUA venceram o confronto com a União Soviética e se autodesignaram "o único estado com poder, alcance e influência realmente globais em todas as dimensões – política, econômica e militar", com proposta para "conter todas as potências que pudessem aspirar à dominação regional – Europa Ocidental, Leste da Ásia, União Soviética e Sudeste Asiático – cujos recursos fossem suficientes para gerar poder global."
Durante toda a semana passada, a Força Aérea da Rússia atualizou sua lista de alvos na Síria. Prepararam-se planos, as unidades foram designadas, a munição foi carregada.
Hoje, o presidente Putin anunciou que a destruição do avião russo de passageiros com 224 pessoas a bordo sobre a península do Sinai foi ação dos terroristas do grupo ISIS/ISIL/Daich, codinome "Estado Islâmico". Foram encontrados traços de explosivo em partes que estavam sendo examinadas do avião destruído.
Agora, a missão russa na Síria deixa de ser ajudar o governo sírio e passa a ser assunto da autossegurança nacional da Federação Russa. O Parlamento Russo não poupou palavras, sobre os culpados reais pelo atentado:
"Os recentes trágicos desenvolvimentos confirmam o acerto e a relevância das repetidas advertências, feitas pela Rússia, de que a desestabilização permanente do Oriente Médio, pelos que reivindicam para eles a dominação global – em primeiro lugar os Estados Unidos da América –, pode levar à expansão da zona de caos sangrento e gerar numerosas outras tragédias humanas" – diz o documento.– "França e outros estados europeus estão, como afinal se vê, colhendo as consequências da visão míope e da política autista de Washington."
Jornalista: Qual sua reação ao que houve ontem em Paris?
Presidente Bachar al-Assad: Antes de qualquer coisa, apresentamos nossas condolências às famílias que perderam entes queridos. Os sírios compreendemos muito bem, mais do que muitos povos, a dor pela qual os franceses estão passando. Os sírios enfrentamos esse tipo de ataque terrorista todos os dias, há cinco anos.
Não é possível dissociar o que se passou ontem na França, do que se passou há dois dias em Beirute, porque terrorismo é sempre terrorismo. Não faz sentido considerá-lo diferente porque ataque em lugares diferentes, em terra síria, em terra iemenita, em terra líbia ou em terra francesa: na realidade é sempre a mesma terra global.
Jornalista: Os serviços de inteligência sírios tinham informações sobre as pessoas que cometeram essa operação? Eram sírios ou tinham relação com pessoas na Síria?
Presidente Bachar al-Assad:Não temos nenhuma informação sobre o que se passou. Mas a questão não é conhecer o nome dos terroristas ou saber de onde vêm. Há três anos nós avisamos que coisas desse tipo começariam a acontecer na Europa. Dissemos: Não participem desses eventos cataclísmicos na Síria, porque as consequências do que foi feito na Síria estender-se-ão por todas as regiões do mundo.
Infelizmente, os governos europeus não deram atenção ao que lhes dizíamos, supuseram que os estivéssemos ameaçando. Tampouco aprenderam a lição do que aconteceu em janeiro, na redação de Charlie Hebdo.
O que dizem, que se oporiam ao terrorismo, não tem valor algum. É preciso que combatam o terrorismo, isso sim, e que apliquem boas políticas.
Jornalista: Os serviços de inteligência franceses pediram a colaboração dos serviços sírios? E o senhor está disposto a ajudá-los a combater o terrorismo?
Presidente Bachar al-Assad:A questão não é pedirem ajuda. Eles só tem uma coisa a fazer: encarar com seriedade a luta DELES contra o terrorismo. Façam isso e podem contar conosco, que estaremos prontos a combater o terrorismo ao lado deles. Os sírios combatemos contra o terrorismo há anos. Estamos prontos a combater o terrorismo ao lado de qualquer parceiro sério que apareça para nos auxiliar nessa luta. Mas até o presente o governo francês não deu qualquer sinal de seriedade.
Jornalista: O senhor tem alguma mensagem para o presidente Hollande?
Presidente Bachar al-Assad:Que aja no interesse do povo francês. A primeira pergunta que qualquer cidadão francês faz hoje é "será que a política externa que a França aplica há cinco anos trouxe qualquer mínimo benefício ao povo francês?". De fato, a resposta é não.
Assim sendo, peço-lhe que aja no interesse do povo francês. Para fazer isso, terá de mudar de política.
Jornalista: Qual a condição para que o governo sírio possa colaborar com o governo francês, ou os serviços sírios de inteligência, com seus homólogos franceses?
Presidente Bachar al-Assad:Não se pode antever qualquer cooperação no plano da informação, antes de que haja clara cooperação política. Não cogitamos de construir qualquer cooperação com serviços de inteligência para a luta contra o terrorismo, enquanto o governo francês continuar a apoiar o terrorismo. Quando falo em mais seriedade (na luta contra o terrorismo), é disso que estou falando.
Ontem pela manhã, todos os jornais e canais de TV só repetiam e repetiam noticiário sobre extensos e 'heroicos' ataques dedronesno Iraque e na Síria, como apoio à batalha por Sinjar. Todos falaram, sem parar, sobre o assassinato deJihadiJohn. Nos disseram que alguma vingança poderia estar a caminho. Como antecipado, ontem à noite Paris foi afogada em sangue.
Bem-vindos à 3ª Guerra Mundial – conflito global com ilimitadas frentes de batalha. Nós, o povo do mundo, fomos apanhados no fogo cruzado desse desastre. Vemos o mundo desmoronando, queremos paz, mas não sabemos sequer onde está o inimigo.
Nada prova que tenha sido operação de falsa bandeira, pelo menos por enquanto. O que parece confirmar-se é que ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico fez trabalho de profissional, em conexão com felásdaputa hiper-profissionais.
Revisando pilhas de depoimentos, dei com uma descrição feita por um dinamarquês, de um dos atacantes de um dos cafés de Paris: ultra-profissional, coberto de preto da cabeça aos pés, AK-47, super bem treinado. Nada a ver com os kamikazes habituais de al-Zawahiri que escondem bombas nas cuecas. Aqui se trata de matadores profissionais, operando com precisão total. Esse aqui descrito deixou o local sem sem incomodado, e aparentemente ainda não foi capturado, pelo que diz a polícia francesa. Nesse, nada de colete explosivo.
Serviços secretos franceses juram que vigiam pelo menos 200 de seus concidadãos que voltam do Siriaque. Fala-se de serviço mal feito. Paris está super policiada. Surpresa é que oito jihadistas tenham andado livremente pela cidade, em trajes de matador profissional.
Embora seja muito cedo para chegar a qualquer conclusão sobre o que realmente aconteceu em Paris, quero compartilhar o seguinte pensamento com vocês: O Presidente Hollande acaba de declarar que o que ocorreu foi um ato de guerra. Isto, por sua vez, significa que toda a aliança da OTAN poderia ser chamada para responder a isto (nos termos do Artigo 5). Quanto aos atacantes, um passaporte sírio já foi encontrado, e testemunhas dizem que um deles gritou "pela a Síria" antes de abrir fogo. Em outras palavras, este ataque acaba de dar à OTAN um pretexto para intervir na Síria. Por último, mas não menos importante, o único porta-aviões francês tinha cronograma para deixar o seu porto nesta quarta-feira. Para o Médio Oriente, precisamente.