quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Arte da Guerra - A estratégia do caos

17/11/2015, Manlio Dinucci, Il Manifesto, Itália





Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu







Bandeira a meio mastro nos países da OTAN pelo "11/9 francês", e o presidente Obama a anunciar para a mídia: "Forneceremos informação acurada sobre quem é o responsável". Nem precisam esperar. Já se sabe. Esse infinitésimo massacre de inocentes foi causado pelas séries de bombas de fragmentação geopolítica, detonadas conforme uma estratégia precisa.


Essa estratégia foi posta em ação desde que os EUA venceram o confronto com a União Soviética e se autodesignaram "o único estado com poder, alcance e influência realmente globais em todas as dimensões – política, econômica e militar", com proposta para "conter todas as potências que pudessem aspirar à dominação regional – Europa Ocidental, Leste da Ásia, União Soviética e Sudeste Asiático – cujos recursos fossem suficientes para gerar poder global."


Para essa finalidade, os EUA reorientaram sua estratégia a partir de 1991 e em comum acordo com as potências europeias, reunidas na OTAN. Desde então, os EUA-OTAN já desintegraram ou demoliram por guerra (aberta e clandestina), um depois do outro, todos os estados que consideraram obstáculo para o plano de dominação global; dentre eles Iraque, Iugoslávia, Afeganistão, Líbia, Síria, Ucrânia e outros – e mais alguns (inclusive o Irã) já estão sendo atacados.

As guerras dos EUA já fizeram milhões de vítimas, destruíram sociedades inteiras, criaram massa descomunal de pessoas desesperadas, cujas frustração e revolta levam, por um lado, a uma resistência real, mas, por outro, estão sendo exploradas pela CIA e outros serviços de inteligência (incluindo os franceses) para produzir combatentes de uma "jihad," que, de fato, promove a estratégia de EUA-OTAN. Assim se chegou à formação de um exército fantasma de grupos islamistas (não raras vezes competindo entre eles), que foi usado para destruir o estado líbio de dentro para fora, enquanto a OTAN atacava; depois, foi usado também em operação similar na Síria e no Iraque.

Disso tudo nasceu o ISIS, no qual "combatentes estrangeiros" reúnem-se a agentes dos serviços secretos, e que receberam bilhões de dólares e armamento moderno da Arábia Saudita e de outras monarquias árabes, aliadas aos EUA e, particularmente, à França.

Essa estratégia nada tem de novidade: há cerca de 35 anos, para atrair a União Soviética para aquela "armadilha afegã", dezenas de milhares de mujahadin foram recrutados pela CIA, de mais de 40 países. Entre esses recrutados estava o rico cidadão saudita de nome Osama bin Laden, que chegou ao Afeganistão com 4 mil homens, a mesma pessoa que, depois que fundou a Al-Qaeda, foi convertido em "inimigo número 1" dos EUA.

Washington não é qualquer aprendiz de feiticeiro, incapaz de controlar as forças que põe em ação. É a força motriz de uma estratégia para destruir estados inteiros, causando uma caótica reação em cadeia de divisão e conflitos a ser usada conforme o velho método de "dividir e governar".

O ataque terrorista em Paris, consumado por um trabalhador não qualificado convencido a atacar o odiado ocidente, aconteceu em perfeito timing: exatamente quando a Rússia, mediante intervenção militar, já bloqueara o plano de EUA/OTAN para destruir o estado sírio e anunciou contramedidas militares para impedir a crescente expansão da OTAN para o oriente.

O ataque terrorista, criando um clima de Europa sitiada, "justifica" um acelerado crescimento militar nos países europeus que formam a OTAN, que inclui aumentar os gastos de defesa de cada um, como os EUA pediram, e abre o caminho para mais guerras sob comando dos EUA. A França, que até aqui "só bombardeara comedidamente dentro da Síria" contra o ISIS, bombardeou a cidade síria de Raqqa no domingo à noite [15 de novembro], o ataque mais agressivo contra o Estado Islâmico, atingindo alvos apontados pelos EUA. Dentre esses alvos, como funcionários do governo dos EUA já especificaram, "algumas clínicas e um museu".*****