quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Bem-vindo à Selva, por Pepe Escobar

29/10/2018, Pepe Escobar, especial para Consortium News


It’s darkness at the break of (tropical) high noon [Bob Dylan, 1978]Faz escuro ao meio-dia (tropical)
"Tudo isso se vai amalgamando num choque neoliberal bamboleante, radicalmente antipopular, ‘caído do céu’; parafraseando Lênin, um caso de fascismo como estágio superior do neoliberalismo."
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Traduzido pelo Coletivo Vila Mandinga





Jean Baudrillard certa vez definiu o Brasil como “a clorofila do nosso planeta”. Pois uma terra tão amplamente associada em todo o mundo ao soft power da alegria de viver criativa acaba de eleger um presidente fascista. 

O Brasil é terra dilacerada. O ex-paraquedista Jair Bolsonaro foi eleito com 55,63% dos votos. Número recorde de 31 milhões de votos nulos ou ausentes. Nada menos de 46 milhões de brasileiros votaram no candidato do Partido dos Trabalhadores, PT, Fernando Haddad; professor e ex-prefeito de São Paulo, uma das megalópoles cruciais do Sul Global. O fato impressionante é que mais de 76 milhões de brasileiros não votaram em Bolsonaro.

O primeiro discurso como presidente exsudava o sentimento de uma guerra santa jihad degradada, de seita fundamentalista casada com vulgaridade onipresente, e a exortação de uma ditadura ordenada por Deus como trilha rumo uma nova Era de Ouro para o Brasil. 

O sociólogo franco-brasileiro Michael Lowy has descreveu o fenômeno Bolsonaro como “política patológica numa grande escala”. 

Sua ascensão política foi facilitada por uma conjunção sem precedentes de fatores tóxicos, como o impacto social massivo do crime no Brasil, levando à crença amplamente difundida na repressão violenta como única solução; a concertada rejeição ao Partido dos Trabalhadores, catalisada pelo capital financeiro, rentistas, empresários do agro-business e interesses oligárquicos; um tsunami evangélico; um sistema de “justiça” que historicamente favoreceu e favorece as classes ricas e encarnado em juízes e procuradores “treinados” com financiamento pelo Departamento de Estado dos EUA, incluído aí o notório Sérgio Moro, cujo único objetivo, obcecadamente perseguido, durante as investigações supostas contra corrupção conhecidas como “Operação Lava-jato”, sempre foi meter Lula na prisão; e a aversão visceral, absoluta, à democracia, em vastos setores das classes governantes brasileiras. 

Tudo isso se vai amalgamando num choque neoliberal bamboleante, radicalmente antipopular, ‘descido dos céus’; parafraseando Lênin, um caso de fascismo como estágio superior do neoliberalismo. Afinal de contas, quando um fascista vende uma agenda de “livre mercado”, ganha indulgência de todos os seus pecados. 

O reinado da bancada BBBB

É impossível compreender a ascensão do bolsonarismo, sem o pano de fundo da Guerra Híbrida extremamente sofisticada movida contra o Brasil pelos suspeitos de sempre. Que a Agência Nacional de Segurança espiona o Brasil – da gigante de energia Petrobras, ao celular da presidenta Dilma Rousseff – é coisa sabida desde meados de 2013, depois que Edward Snowden mostrou que o Brasil era a nação mais espionada de toda a América Latina nos anos 2000.

A Escola Superior de Guerra no Rio de Janeiro, rendida ao Pentágono, sempre foi favorável a uma gradual – mas ininterrupta – militarização da política brasileira, alinhada aos interesses da segurança nacional dos EUA. O currículo das principais academias militares norte-americanas foi adotado, sem qualquer revisão ou crítica, pela Escola Superior de Guerra. 

Os gestores do complexo industrial-militar-tecnológico sobreviveram amplamente à ditadura de 1964-1985. Aprenderam tudo sobre operações psicológicas (“psyops”) dos franceses na Argélia e dos norte-americanos no Vietnã. Ao longo dos anos, cevaram a própria concepção de “inimigo interno”, não apenas os “comunistas” proverbiais, de sempre, mas também “a esquerda” como um todo, além de vastas massas de brasileiros pobres e desassistidos. 

Tudo isso levou à situação vigente, de generais a ameaçar juízes, se libertassem Lula. O vice-presidente de Bolsonaro, Generalito Hamilton Mourão, chegou a ameaçar com “um golpe dentro do golpe” se sua chapa não fosse eleita. O próprio Bolsonaro disse que jamais “aceitaria” alguma derrota. 

Essa militarização crescente da política, combinou perfeitamente com o cartunesco Congresso Brasileiro, uma só grande bancada BBBB (Bala, Boi, Bíblia, Banco). 

O Congresso virtualmente controlado por forças militares, policiais e paramilitares; o poderoso lobby do agro-business & mineração, centrado no objetivo supremo de saquear completamente a Floresta Amazônica; facções evangélicas; e o capital banking/financeiro. Compare esse quadro e o fato de que mais da metade dos senadores e um terço do Congresso enfrentam processos criminais. 

A campanha de Bolsonaro usou todos os truques do manual para escapar de debates na TV, fiel à noção de que discutir política é para perdedores, sobretudo quando não há o que discutir. 

Afinal, o principal conselheiro econômico de Bolsonaro, Chicago Boy Paulo Guedes – atualmente sob investigação por fraude de seguros – já prometeu “curar” o Brasil, servindo-se dos feitiços de sempre: privatizar tudo; destruir o gasto social; livrar-se de todas as leis trabalhistas e também do salário mínimo; que o lobby do Boi saqueie a Amazônia; e armem-se cada vez mais os cidadãos, a níveis supra-ANR (Associação Nacional de Rifles). 

Não é surpresa que The Wall Street Journal já tenha normalizado Bolsonaro como “populista conservador” e “drenador do pântano-Brasil”. O endosso, que nada tem a ver com os fatos, ignora que Bolsonaro é político do ‘baixo clero’, que em 27 anos de nada fazer no Congresso só conseguiu aprovar dois projetos de leis.

Me mande num WhatsApp, para a Terra Prometida 

Embora as grandes massas desinformadas tenham conseguido começar a se aperceber, aos poucos, dos golpes de ativa manipulação, pela campanha de Bolsonaro, de notícias-lixo distribuídas por WhatsApp – uma saga tropical pós-Cambridge Analytica; e mesmo com Bolsonaro ameaçando pela TV que os adversários só teriam duas escolhas depois das eleições do domingo, cadeia ou exílio, nem isso foi suficiente para deter o tombo inexorável do Brasil rumo a uma BtE (Banana-teocracia Evangélica) distópica militarizada. 

Em qualquer democracia madura, uma gangue de empresários – com contabilidade clandestina – que financiasse uma pluritentacular campanha de fake news pelo WhatsApp, como se viu contra o candidato Fernando Haddad do Partido dos Trabalhadores, seria escândalo monstro. 

O WhatsApp é vastamente popular no Brasil, muito mais que Facebook; por isso teve de ser adequadamente instrumentalizado nesse remixde Guerra Híbrida estilo Cambridge Analytica à brasileira. 

As táticas foram absolutamente ilegais, porque pagas com doações não declaradas de dinheiro privado (proibidas pelo STF brasileiro desde 2015). A Polícia Federal do Brasil até iniciou uma investigação, já condenada ao mesmo destino que as investigações pelos sauditas de crimes dos sauditas, naquele fiasco à Pulp Fiction em Istanbul. 

O tsunami de fake news foi gerenciado pelos chamados Bolsominions. São exército voluntário hiper-fiel, que castiga qualquer pessoa que ouse questionar o “Mito” (como se referem ao líder), e manipula conteúdo, que é convertido em memes, vídeos fake-virais e as mais variadas expressões da ira do “Bolsô-enxame”, 24 horas/dia, sete dias/semana. 

Imaginem a fúria em Washington, se os russos algum dia interferissem em eleições nos EUA, como foram acusados de ter feito, usando as mesmas táticas que norte-americanos e suas elites comprador usaram no Brasil. 

Esmagar os BRICS

Na política exterior, no que tenha a ver com Washington, Reichskommissar Bolsonaro pode ser muito útil em três frentes. 

A primeira é geoeconômica: capturar para as gigantes norte-americanas de energia a fatia do leão das vastas reservas de petróleo do pré-sal no Brasil. 

Passou a ser medida absolutamente necessária, golpe de misericórdia e consequência imediata contra Dilma Rousseff, que, em 2013, sancionou lei que determinava que 75% dos royalties do petróleo fossem investidos em educação e 25% em atenção pública à saúde: significativos 122 bilhões de dólares ao longo de dez anos. 

As duas outras frentes são geopolíticas: rebentar os BRICS de dentro para fora, e mandar o Brasil fazer o serviço sujo numa operação de mudança de regime na Venezuela, satisfazendo assim a obsessão do Departamento de Estado com esmagar o eixo Venezuela-Cuba. 

Usando o pretexto de uma imigração em massa da Venezuela para a área brasileira da Amazônia legal, a Colômbia – elevada ao status de parceiro chave da OTAN, e estimulada por Washington – passa a contar com apoio militar do Brasil para fazer a ‘mudança de regime’. 

E há também a história crucial, da China. 

China e Brasil são parceiros BRICS muito próximos. Hoje, os BRICS já são, essencialmente RC (Rússia e China), para grande desgosto de Moscou e Pequim, que contavam com que Haddad seguisse os passos de Lula, fator importante para reforçar o peso geopolítico dos BRICS. 

Assim chegamos a um ponto chave de inflexão no golpe de Guerra Híbrida em curso, quando os militares brasileiros meteram-se na cabeça que o gabinete de Rousseff estava tomado por agentes da inteligência chinesa. 

Seja como for, a China ainda é o principal parceiro comercial do Brasil – à frente dos EUA, com comércio bilateral que chegou a $75 bilhões ano passado. Além de ser consumidora ávida de commodities brasileiras, desde 2003 Pequim já investiu $124 bilhões em empresas brasileiras e em projetos de infraestrutura no Brasil. 

Guedes, o Chicago Boy, reuniu-se recentemente com diplomatas chineses. Bolsonaro receberá uma delegação chinesa de alto nível logo no início de seu mandato. Durante a campanha, ele repetiu que “a China não está comprando no Brasil: está comprando o Brasil”. Bolsonaro é perfeitamente capaz de ter, contra a China, um surto de sanções à moda mini-Trump. Deve considerar que o poderoso lobby do agro-businessestá lucrando imensamente, consequência da guerra comercial EUA-China. 

Espera-se suspense máximo na reunião dos BRICS-2019, que acontecerá no Brasil: imaginem o valentão Bolsonaro cara a cara com o verdadeiro patrão, Xi Jinping. 

Tudo isso posto, o que realmente estão querendo os militares brasileiros? Resposta: é a “Doutrina da Dependência” brasileira – em versão neocolonial cabocla. 

Num nível, a liderança militar no Brasil é desenvolvimentista, orientada para a integração territorial, fronteiras bem guardadas e “ordem” social e econômica interna sob perfeita disciplina. Ao mesmo tempo, creem que tudo isso deva ser feito sob supervisão da “nação indispensável”. 

Para os líderes militares, o país deles não é capaz de combater o crime organizado, cuidar da cyber-segurança, da biossegurança e, na economia, não é capaz de conduzir do começo ao fim um estado mínimo, combinado com reforma fiscal e austeridade. Para o cerne da elite militar brasileira, o capital privado de outro país é sempre bondoso. 

Consequência inevitável, é verem as nações latino-americanas e africanas como untermenschen [al. “social e racialmente inferiores”]; e a reação contra a ênfase que Lula e Dilma deram à União das Nações Sulamericanas (Unasul) e a uma mais íntima integração logística e de energia com a África. 

Não se pode descartar o golpe militar 

Apesar disso, há descontentamento militar interno – que pode até abrir um possível caminho para a remoção de Bolsonaro, mero fantoche, a ser substituído por material de primeira mão: um general. 

Com o Partido dos Trabalhadores no poder, a Marinha e a Força Aérea gostaram de alguns projetos estratégicos, como um submarino nuclear, um jato supersônico e satélites lançados por foguetes Made in Brasil. Ainda não se sabe como reagirão, caso Bolsonaro bloqueie, sumariamente, esses projetos de avanço tecnológico na área militar.

A questão chave talvez seja se há conexão direta entre o crème de la crème das academias militares brasileiras; os “generais dependentistas” e suas técnicas de operação psicológica; diferentes facções do evangelismo; e as táticas pós-Cambridge Analytica das quais se serviu a campanha pró-Bolsonaro. Haverá aí uma nebulosa, mantida coesa por poderosas forças interestelares, ou mera rede frouxa?

Até aqui, a melhor resposta nos vem do professor Piero Leirner, especialista em antropologia da guerra, que conduz há anos pesquisa profunda nas Forças Armadas do Brasil, e que me disse que não, que “não há qualquer conexão prévia. Bolsonaro é um pós-fato. A única conexão possível acontece entre traços da campanha e as operações psicológicas.” Leirner destaca que “Cambridge Analytica e Bannon representam a infraestrutura, mas a qualidade da informação – disparar sinais contraditórios, e na sequência a solução pela ‘ordem’ vem de uma terceira voz – essa é a estratégia militar dos manuais de operação psicológica da CIA.”

Mas há fissuras. Leirner vê o arco de forças disparatadas que apoiam Bolsonaro como uma “bricolage” [fr. no orig.],[1] que mais cedo ou mais tarde se desintegrará. O que virá depois? Um general sub-Pinochet?

Bolsonaro não é Trump 


Em The Road to Somewhere; The Populist Revolt and the Future of Politics, The New Tribes Shaping British Politics,[2] David Goodhart mostra que a força que move o populismo não é o amor fascista de alguma ultra-nação, mas a anomia: o sentimento de que a modernidade traz alguma vaga ameaça existencial. Aplica-se a todas as formas de populismo de direita no ocidente. 

Daí a oposição entre os “Algum-lugares” [ing. “Somewheres”] e os “Qualquer-lugares” [ing. “Anywheres”]. “Alguns-lugares” são os que querem que a democracia da nação deles seja usufruída só pela etnicidade “de dentro”, sem deixar que a cultura nacional seja contaminada por influências “estrangeiras”.

“Qualquer-lugares” são os que habitam o vórtex pós-moderno sem raízes do multiculturalismo e das viagens internacionais de negócios. São minoria em termos demográficos – mas são maioria nas elites políticas, econômicas, educacionais e profissionais. 

Com isso Goodhart pode demarcar uma distinção crucial entre populismo e fascismo – ideologicamente e psicologicamente. 

A distinção legal padrão está formalizada na Constituição Alemã. O populismo de direita é “radical” – e legal. O fascismo é “extremo” [extremista] – e ilegal. 

É erro rotular Trump de “fascista”. No ocidente, Bolsonaro foi declarado “O Trump Tropical”. Fato é que Trump é populista de direita – com políticas que, algumas delas, podem até ser consideradas posições da Velha Esquerda. 

Bolsonaro tem falas racistas, misóginas, homofóbicas, quer todos armados pelas ruas, prega a favor de um Brasil branco, patriarcal, hétero-normativo e “homogêneo”; absurdo numa sociedade profundamente desigual, ainda devastada pelos efeitos da escravidão e cuja população é majoritariamente mestiça. Além disso, em termos históricos, o fascismo é uma Solução Final burguesa radical com vistas à total aniquilação da classe trabalhadora. Bolsonaro portanto é definido como total fascista. 

Trump é até mais moderado que Bolsonaro. Não incita seus apoiadores a exterminar, literalmente, seus oponentes. Afinal, Trump tem de respeitar o quadro de uma república com longa história de, mesmo que não sejam perfeitas, instituições democráticas. 

Instituições democráticas é coisa que jamais se viu, na jovem democracia brasileira – onde um presidente está hoje autorizado a agir como se direitos humanos não passassem de complô de comunistas mancomunados com a ONU. As classes trabalhadoras no Brasil, as elites intelectuais, os movimentos sociais e todas as minorias têm muitas razões para temer a Nova Ordem; em palavras do próprio Bolsonaro, “serão banidos de nossa pátria”. A criminalização/desumanização de qualquer oposição significa, literalmente, que dezenas de milhões de brasileiros são declarados sem imprestáveis, sem valor. 

Conversem com Nietzsche

O sofisticado golpe de Guerra Híbrida em curso no Brasil, que começou em 2014, teve um ponto de inflexão em 2016 e culminou em 2018 com a presidenta derrubada por impeachment; o ex-presidente preso; Direita e Centro-Direita esmagadas; e, à moda de uma pós-política enlouquecida de esteroides, abriu o caminho para o neofascismo.

Mas Bolsonaro é rima medíocre. Não tem a estrutura política, o conhecimento, para nem falar da inteligência, para ter chegado tão longe, saído do nada, sem o apoio de um sistema de apoio de inteligência hiper-complexo, estado-da-arte, transfronteiras. Não surpreende que seja um dos queridinhos de Steve Bannon.


Comentário lateral

Mas nem Bannon é perfeito. Dia 26/10, a Reuters citou Bannon [e a mídia brasileira de direitaextrema direita e independente, que vive, toda ela, de repetir agências, repetiu], em borbulhantes elogios ao“Capitão Bolsonaro”.

Para um tão afamado ‘mago da manipulação’, é erro grave.
O Exército abortou a carreira militar de Bolsonaro em 1987, condenando-o ao posto de “Capitão Eterno”, como punição por atos criminosos contra o Exército, bem narrados pela FSP.

Bannon, ‘o Mago’, que trabalha para ‘o Mito’ trouxe à tona esse Capitão Bolsonaro jamais promovido em 27 anos, que o “deputado Bolsonaro” vive para fazer esquecer. Tsk, tsk, tsk...
Bannon errou. OK. Ninguém é perfeito ;-). [NTs]
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Em contraste, a Esquerda – como na Europa – mais uma vez perdeu, emperrada no modo analógico. De nenhum modo qualquer frente progressista, especialmente nesse caso, com Bolsonaro sendo exposto na última hora, conseguiria combater com sucesso o tsunami tóxico de guerra cultural,[3] políticas identitárias e fake-news microdirigidas. 
Essas esquerdas perderam batalha importante. Pelo menos aprenderam que é guerra, guerra total, guerra hardcore.

Para destruir Lula – o mais importante prisioneiro político hoje no mundo – as elites brasileiras tiveram de destruir o Brasil. Mas Nietzche sempre vence: o que não mata fortalece. A vanguarda da resistência global contra o neofascismo como estágio superior do neoliberalismo mudou-se agora para o sul, abaixo do Equador. No pasarán.*******


[1] Em boca de antropólogo, “bricolagem” evoca necessariamente Lévi-Strauss. Em O pensamento selvagem ([1962], Campinas: Papirus, 1989) o termo está definido: criação de objetos desejados, feitos de “resíduos e fragmentos de acontecimentos (...) testemunhos fósseis da história de um indivíduo ou de uma sociedade”, rearranjados na intenção de que “isso sempre pode ter utilidade”. O bricoleur usa “expedientes e recursos que se afastam dos processos normais adotados pela técnica [do engenheiro]”. O conceito é muito mais complexo e rico que isso, mantém-se próximo da ideia do bricoleur (fr.). Fica aqui só anotada essa associação de ideias, para algum uso futuro” [NTs].
[2] 2017, Kobo Edition, Canadá, sem tradução no Brasil (port. Estrada para algum lugar. Revolta popular e o futuro da política. Novas tribos que modelam a política britânica), edição digital disponível [NTs].
[3] “Guerra cultural” deve ser a arma criada para combater o “marxismo cultural”. Diz a Reuters, 22/9: “Conversamos e concluímos ter a mesma visão de mundo”, escreveu Eduardo Bolsonaro, deputado mais votado do Brasil, acima de uma foto em que aparece sorrindo ao lado de Bannon. Ele disse que os dois planejam “somar forças, principalmente contra o marxismo cultural(sic)”. Sinceridade? Mais cognitivamente dissonante que “guerra cultural”, só mesmo “bispo-ladrão”... [NTs].

Paradoxo diabólico: Bolsonaro-Obrador

11/10/2018, Forum Dedefensa.org, Bélgica


Traduzido pelo Coletivo Vila Mandinga



Pepe Escobar, que passa a colaborar diretamente com ConsortiumNews de Robert Parry (falecido no início de 2018), publica artigo trovejante e apocalíptico sobre a situação no Brasil, com o primeiro turno das eleições, a vantagem de Bolsonaro sobre o segundo colocado, e seus 46% dos votos. Para Escobar, Bolsonaro representa perigo enorme de um tipo de hiperfascismo que se supõe pós-moderno a ameaçar a democracia ocidental (o título: Futuro da democracia ocidental está em disputa no Brasil). Pequeno trecho do artigo, deixa ver a percepção apocalíptica:

Quem se beneficia do fim do Tratado Nuclear ‘Médio’? Por Pepe Escobar

26/10/2018, Pepe Escobar, de Asia Times, em The Vineyard of The Saker


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



O Bulletin of the Atomic Scientists moveu o ponteiro do Relógio do Juízo Final para apenas dois minutos antes da meia-noite. Seria tentador converter tudo em bate-boca sobre flechas e ramos de oliveira, se o cenário não fosse tão aterrador.

O presidente Ronald Reagan dos EUA e Mikhail Gorbachev, secretário-geral da URSS, assinaram o Tratado de Forças Nucleares de Médio Alcance [ing. Intermediate-Range Nuclear Forces Treaty (INF)] em 1987.

Sauditas param de financiar o terror na Síria. Liga Árabe prepara-se para reatar relações com Damasco: ainda não é hora de retomar Idlib, por Elijah J Magnier



Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



A data de 15 de outubro, como prazo final acertado entre Turquia, Rússia e Irã para que a Turquia evacuasse todo o armamento pesado e grupos jihadistas da área desmilitarizada demarcada por uma linha de 15-20km em torno de Idlib e a respectiva área rural, incluindo Latakia rural, veio e passou. E, apesar de pressão séria dos turcos para que deixem a Síria ou saiam da zona desmilitarizada para poupar Idlib de ataque iminente pelo Exército Árabe Sírio e Rússia, os jihadistas permanecem em seus acampamentos militares. Seja como for, Damasco e Moscou consideram o momento pouco propício para ataque em grande escala a Idlib. Assim sendo, novo adiamento foi acertado com a Turquia, para que insista nos esforços. Foi adiado qualquer ataque que estivesse em cogitações contra Idlib – primeira linha de defesa dos EUA na Síria.

Mas por que essa é a primeira linha de defesa dos EUA na Síria? Simplesmente, porque a Síria já está completamente libertada, e só as regiões das cidades de Idlib e al-Hasaka, ao norte (e uma pequena porção de Deir-ezzour a leste do Eufrates) permanecem ocupadas.

A fala de Steve Bannon que uns amam, outros odeiam e ninguém ouve

Discurso de Steve Bannon ao Congresso da Refundação do Front National, de Marine LePen, 19/3/2018, vídeo, 35”54’ (ing. com trad. simultânea ao francês) aqui transcrito, traduzido, anotado, para referência, e epigrafado).


Traduzido pelo Coletivo Vila Mandinga


“Meu último argumento foi este: [Lavrov] tem razão quando diz que ‘A bandeira que é revolucionária num momento, poderá ser reacionária no momento seguinte.’ Ilich [Lênin] me respondeu que esse pensamento, sim, é correto, mas que um pensamento correto não torna correto o livro inteiro.” 
(1939, “Lênin agitador”, em Lênin, Propagandista e Agitador,
Nadejda Krupskaia, artigo publicado em Propagandista e Agitador, Eroc, 
marxists.org, do livro N. KRUPSKAIA, "La educación comunista. Lenin y la juventud". Páginas visitadas dia 18/10/2018)




Adiante transcrevemos e traduzimos o discurso que Steve Bannon fez ao Congresso da Refundação da Frente Nacional de Marine Le Pen, em março de 2018. É o material mais interessante q encontramos sobre esse personagem que, se for ‘marketeiro’ de Bolsonaro, terá sido porque Bolsonaro ludibriou Bannon. Não seria feito de pequena importância, mas... Quem ouvir Bannon falar dificilmente acreditará que seja ‘marketeiro’ de Bolsonaro. Ou Bolsonaro não é o que diz ser e pode ser muito pior. E esse dilema é uma das arapucas do liberalismo em tempos de Cambridge Analytica.

Mas Bannon discursa diretamente e nomeadamente contra as Killarys e Obamas, que chama repetidas vezes de “essa elite globalista”. Então, porque é espinafrado nos EUA, a mídia ‘ética’ brasileira o espinafra aqui, pode-se dizer, no automático. E se a mídia ‘ética’ de fascistização à brasileira espinafra alguém, a mídia ‘ética’ dita independente e de esquerda à brasileira... espinafra também.

domingo, 21 de outubro de 2018

O que significam as sanções contra Rússia e China, por Pepe Escobar

18/10/2018, Pepe Escobar, Asia Times 4:09 PM (UTC+8)


Traduzido pelo Coletivo Vila Mandinga



Um relatório crucial do Pentágono sobre a base industrial e a "resiliência da cadeia de suprimentos" da Defesa dos EUA acusa a China de "expansão militar" e de conduzir "uma estratégia de agressão econômica", principalmente porque Pequim é a única fonte de "vários produtos químicos usados em munições" e mísseis.

A Rússia é mencionada apenas uma vez, mas em um parágrafo crucial: como o país que mais “ameaça”, ao lado da China, a indústria de defesa dos EUA.

O Pentágono, nesse relatório, pode não estar advogando guerra total contra ambas, Rússia e China – como se interpretou em algumas áreas. O que o Pentágono faz é configurar a guerra comercial contra a China como ainda mais incandescente, ao mesmo tempo em que expõe os reais motivos por trás das sanções contra a Rússia.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Bem-vindos ao G-20 dos Infernos, por Pepe Escobar

14/10/2018, Pepe Escobar, Asia Times


“Ê-ê gostosura de fim de mundo...
Deus mesmo, quando vier, que venha armado.
P’ra trás! P’ra trás! Chegou a minha vez!”

A Hora e a Vez de Augusto Matraga, 1965, Brasil, Roberto Santos, diretor)*


Traduzido pelo Coletivo Vila Mandinga



A reunião do G-20 em Buenos Aires, dia 30 de novembro pode pôr fogo no planeta – talvez literalmente. Comecemos pela guerra comercial EUA-China. Washington nem começará a discutir comércio com a China no G-20, se Pequim não comparecer com lista muito detalhada de concessões.

O mundo para os negociadores chineses não é sombrio, de modo algum. É possível alcançar alguma espécie de acordo sobre um terço das exigências dos EUA. Depois se pode conversar sobre mais outro terço. Mas o último terço está absolutamente fora de qualquer discussão – porque já imperativos da segurança nacional da China, como não admitir a abertura do mercado da nuvem de computação doméstica para concorrentes estrangeiros.

EUA, outra vez: Bombas de fósforo branco na Síria

14/10/2018, Peter Korzun, Strategic Culture Foundation

Traduzido pelo Coletivo Vila Mandinga

“Em 2011, a Polícia norte-americana usou gás lacrimogênio e outras armas químicas contra manifestantes do movimento Occupy. O gás lacrimogênio é arma química proibida para uso em combate contra soldados inimigos, pela Convenção para Armas Químicas. Mas está liberado para uso, nos EUA [e no Brasil], como arma contra o próprio povo.”
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EUA e coalizão usaram munição de fósforo branco, FB [ing. white phosphorus (WP)em ataques aéreos na província síria de Deir Ez-Zor dia 13 de outubro. O ataque resultou em muitos civis mortos. Mês passado, munição de fósforo branco também foi disparada por dois F-15s da Força Aérea dos EUA [ing. USAF) que atacavam a cidade de Hajin, Deir-ez-Zor. O governo sírio repetidas vezes denunciou os EUA e coalizão, que argumentam que têm de dar combate ao ISIS, para justificar ações militares; mas negam que tenham usado projéteis de fósforo branco.

O fósforo branco não está na lista de armas químicas proibidas pela Convenção para Armas Químicas, mas é arma incendiária e, como tal é proibida contra não combatentes.

Boas notícias de paz, de Pyongyang (sem consultar EUA, por Pepe Escobar

Pepe Escobar, Facebook, 14/10/2018, 8h47, hora de Brasília

Traduzido pelo Coletivo Vila Mandinga


Pyongyang, 11/10/2018 (KCNA) – Distribuído hoje press-release conjunto, assinado pela República Popular Democrática da Coreia (RPDC); Federação Russa (Rússia) e República Popular da China (RPC, China), representados pelos respectivos vice-ministros de Relações Exteriores, reunidos em Moscou, dia 9/10/2018

O press-release conjunto diz:

“Choe Son Hui, vice-ministro de Relações Exteriores da RPDC, Igor Morgulov, vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia, e Kong Xuanyou, vice-ministro de Relações Exteriores da RPC, reuniram-se em negociações tripartites sobre a questão da Península Coreana, em Moscou, dia 9/10/2018.
As três partes alcançaram um consenso de pontos de vista, pelo qual todas as questões relacionadas à Península Coreana devem ser resolvidas por via pacífica, política e diplomática.
As três partes consideram valiosíssimos os esforços dos países empenhados em encontrar solução política para a questão da Península Coreana e que manifestaram apoio às negociações entre a RPDC e os EUA; e entre norte e sul da Coreia, para afastar temores e superar obstáculos que haja nessa relação.
As três partes reafirmaram o desejo de desnuclearizar a Península Coreana e de estabelecer ali um regime de paz.
As três partes partilham o entendimento de que esses processos devem ser simultâneos e tratados de modo a que possam avançar estágio-a-estágio, dando-se precedência à construção de confiança; e de que devem ser acompanhados por medidas correspondentes pelos países dos quais se trata.
Reconhecendo os passos práticos significativos na direção da desnuclearização já tomados pela RPDC, as três partes alcançaram um consenso quanto à necessidade de o Conselho de Segurança da ONU ativar o processo para ajustar, em tempo, sanções sobre a RPDC.
As três partes reforçam sua posição comum contra sanções independentes.
Nas negociações, discutiu-se também em detalhe a necessidade de consolidar a cooperação bilateral ou multilateral entre os países relevantes, com vistas a estabelecer regime de paz duradoura na Península Coreana.
As três partes decidiram dar prosseguimento às conversações.****** FIM DO PRESS-RELEASE******






A virada repressiva do Syriza

6/10/2018, Stathis Kouvelakis * e Costas Lapavitsas **Jacobin Magazine


‘Austeridade’ é sempre rendição à grande finança. Rendição à grande finança é sempre golpe. E golpe só se implanta pela repressão e com ajuda da mídia-empresa e de TODOS os seus veículos inventadores-implantadores de palavras.

‘Austeridade’ é ARROCHO.

Há importante potência antigolpista em cada um dedicar-se empenhadamente em dar nomes NOSSOS, às invenções dos golpistas inventadores-implantadores de palavras golpistas na fala nossa de todos os dias [NTs].
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Traduzido pelo Coletivo Vila Mandinga


Muitos na esquerda internacional creem que as coisas na Grécia estariam melhorando devagar, e que o governo do Syriza ainda seria força de esquerda que protegeria os interesses de trabalhadores e dos pobres, mesmo nas difíceis condições atuais. Para os que ainda pensem assim, recentes desenvolvimentos no país serão terrível surpresa.

A amarga realidade é que, desde que se rendeu à Troika dos credores da Grécia (UE, Banco Central Europeu (BCE), FMI) em julho de 2015, Tsipras e seu governo têm seguido as mesmas políticas neoliberais radicais implementadas por todos os governos gregos desde 2010, quando foi assinado o primeiro acordo de ‘resgate’ com a Troika.

Debate de vida ou morte: John Mearsheimer[1] & Stephen Cohen,[2] contra o establishment neonconservador neoliberal delirante pirado

10/10/2018, Federico PIERACCINI, Strategic Culture Foundation

“Quanto mais a informação prestável alastra-se e alcança mais e mais pessoas, mais o mundo compreenderá o desastre que são as ações do establishment euro-norte-americano em todo o mundo” [o golpe de 2016 no Brasil é uma dessas ações desastrosas (NTs)].
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Entreouvido na Vila Mandinga:
“Equilibradores externos” É A PUTA QUE OS PARIU.

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Traduzido pelo Coletivo Vila Mandinga





Dia 20 de setembro, em New York City, o website Intelligence Squared organizou um debate vitalmente importante para ajudar a compreender muito do que hoje estamos vendo acontecer na cena global.

O debate travou-se em torno de três questões principais. (1) Sobre o papel da OTAN (“A OTAN já não serve à finalidade para a qual foi criada”); (2) sobre a Rússia (“A ameaça russa está super inflada”); e (3) (“É hora de adotar linha dura contra o Irã”).

Para discutir essas importantes questões, lá estava uma seleção de convidados especiais: Derek Chollet, vice-presidente executivo do German Marshall Fund of the United States e ex-secretário-assistente da Defesa dos EUA; Stephen F. Cohen, professor emérito de História e Estudos Russos da New York University; Reuel Marc Gerecht, pesquisador-sênior da Fundação para Defesa das Democracias e ex-analista da CIA; John J. Mearsheimer, cientista-político e professor na University of Chicago; e Kori Schake, vice-diretora geral do International Institute for Strategic Studies.