6/12/2017, Moon of Alabama
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
O presidente Trump dos EUA anunciou hoje uma mudança na posição dos EUA em relação à cidade de Jerusalém na Palestina:
O presidente Trump, na 4ª-feira reconheceu formalmente Jerusalém como capital de Israel, pondo abaixo quase 70 anos de política externa dos EUA e dando andamento a um plano para transferir a Embaixada dos EUA de Telavive para a furiosamente disputada Cidade Santa.
"É hora de reconhecer oficialmente Jerusalém como capital de Israel" – disse Trump.
Não é coisa que Trump tenha feito sozinho. Essa posição é há muito tempo apoiada pelos dois partidos no Congresso:
O Democrata e líder da Minoria no Senado Chuck Schumer, disse a THE WEEKLY STANDARD na 3ª-feira que aconselhara Trump a declarar Jerusalém capital "não dividida" de Israel.
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Uma lei de 1995 dispõe que Jerusalém deve "permanecer como cidade indivisa" e "ser reconhecida como capital do Estado de Israel," mas autoriza o presidente a emitir decretos a cada seis meses para adiar a mudança da embaixada, por razões de segurança nacional. Em junho o Senado reafirmou aquela lei.
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O senador Ben Cardin, de Maryland, presidente Democrata da Comissão de Relações Exteriores, reiterou seu apoio ao reconhecimento de Jerusalém, quando perguntado, na 2ª-feira, sobre a possibilidade de o presidente anunciar seu movimento.
"Acredito que Jerusalém é a capital de Israel. Assim sendo, para mim, não há novidade" – disse ele a TWS.
Em 2008 o então presidente Obama bajulou o Lobby Sionista nos EUA:
"Jerusalém continuará capital de Israel e deve permanecer indivisa."
Mas Obama deixou a frase lá, naquele discurso, e nunca a converteu e política oficial. Declarar oficialmente que Jerusalém seja "cidade não dividida" e capital da entidade sionista significa que não há lugar para uma capital palestina em Jerusalém leste. Enterra o sonho (e conto de fadas) de um estado palestino soberano.
Mas aquela ideia já está morta há tempos. A única razão pela qual presidentes dos EUA dão jeito de evitar que se cumpra uma lei de 22 anos, com despachos de prorrogação do status quo, é fingir que os EUA seriam negociadores isentos, dedicados buscadores de alguma paz entre os colonialistas sionistas do leste-europeu e os palestinos. Isso sempre foi farsa, pura enganação. O Congresso e os presidentes dos EUA são controlados pelo LobbySionista, capaz de reunir quantidades enormes de dinheiro para criar ou derrotar candidatos a cadeiras legislativas ou a postos executivos. O bilionário sionista Sheldon Adelson, que também patrocina o primeiro-ministro fascista de Israel Netanyahu, doou mais de $100 milhões à campanha de Trump e dezenas de milhões a campanhas para o Congresso. Hoje, Trump pagou uma parte dessa dívida.
Com a construção crescente de colônias sionistas em áreas da Cisjordânia palestina durante o mandato de Netanyahoo, a solução dos dois estados já foi assassinada, faz tempo. O ditador palestino Mahmoud Abbas, que deixou que as colônias crescessem, sem qualquer tipo de oposição, não passa de umcapo usado pelos israelenses para manter oprimidos os palestinos. Os palestinos em Gaza que desafiaram a ocupação sionista foram bombardeados sempre que algum primeiro-ministro precisasse desviar a atenção para bem longe dos problemas políticos intestinos do governo de Israel.
Os EUA estão absolutamente sós nesse 'reconhecimento'. O consenso global e a posição aceita na comunidade legal internacional é que a questão de Jerusalém tem de ser decidida em negociações. O resultado mais esperado era uma cidade dividida em duas capitais. Os países da União Europeia e outros rejeitaram o movimento. O Papa e outros dignitários manifestaram-se contra o 'reconhecimento'.
A declaração de Trump só mostra uma antiga real posição dos EUA, mas mesmo assim ainda pesa. É como dizer, sem possibilidade de dúvida, que os EUA são o inimigo público n.1 no Oriente Médio. Deixa expostos os governantes árabes que procurem aliar-se aos EUA. Promove todos os governantes que combatem contra os EUA em todo o mundo.
O tirano da Arábia Saudita e seu príncipe clown-crown filho aprovaram o movimento Trump. Em vez de declararem medidas retaliatórias, limitaram-se a críticas pro-forma. Outros governantes árabes, que dependem do dinheiro dos sauditas, como o rei "Playstation" Abdullah da Jordânia, com certeza permanecerão de bico calado.
Provavelmente haverá pouca violência imediatamente depois da declaração de Trump. Os efeitos de longo prazo, contudo, serão significativos. O público árabe, que a mídia 'ocidental' ignora, está furioso. O professor Assad AbuKhalil informa:
Fúria mas mídias sociais árabes no caso de Jerusalém
A fúria é avassaladora nas mídias sociais árabes no caso de Jerusalém, mas tenho certeza de que os correspondentes ocidentais em Beirute ou Cairo informarão em suas colunas.
Isso é a Arábia Saudita
Hashtag "Jerusalém é capital da Palestina" #1 nas trends nesse momento na Arábia SauditaPS N. 1 também no Iraque e Argélia.PS e também na Síria.
Vejam aí a primeira página do Daily Star de Beirute, jornal que, na maioria das questões, é firmemente alinhado com o campo 'ocidental'.
O Professor Amal Saad da Universidade do Líbano prevê:
Amal Saad @amalsaad_lb - 18h29min – 6/12/2017
Trump não faz nem ideia de como sua declaração sairá pela culatra. Agora que os EUA violaram a lei internacional e 'reconheceram' a regra do apartheid de Israel em Jerusalém, a lei internacional já não serve como instrumento que garanta os direitos dos palestinos. – Doravante, o único discurso das ruas será "from river to sea Palestine will be free" [do rio ao mar, a Palestina será livre"].
Os grupos que resistiram e continuam a resistir contra a hegemonia dos EUA e dos sionistas, conquistarão amplamente a opinião pública no Oriente Médio. Os que cooperam com os EUA e tornam 'possível' a tendência dos EUA a favor dos sionistas perderão a guerra.
Do lado vencedor estão Irã, Síria, Hizbullah e Hamas (será que agora se pode incluir o grupo Houthi?). Todos sempre resistiram contra o imperialismo, apesar das descomunais pressões e furiosas guerras que se fizeram contra eles. O movimento de Trump encaixa-se perfeitamente na narrativa daqueles grupos, para os quais os EUA sempre foram e continuam a ser inimigos dos povos do Oriente Médio. Crescerá o apoio das ruas àqueles grupos.
Outros que também "vencem" são os grupos terroristas que fingiam ser contra os EUA e os sionistas, mas que, na hora da luta, não lutavam contra EUA e sionistas. São al-Qaeda, ISIS e outros grupos wahhabistas/takfiri. Usam o clima gerado pelo movimento de Trump como ferramenta para recrutar cada vez mais soldados, mas seus patrocinadores os mantêm distantes de qualquer luta contra o suposto inimigo norte-americano.
O movimento de Trump aumentará a instabilidade interna nos países dos quais o imperialismo norte-americano depende no Oriente Médio. Os Estados do Golfo são os mais diretamente ameaçados. Seus líderes servis estão sob pressão crescente do próprio povo. Em algum momento a super pressão explodirá. É provável que os EUA sejam as primeiras vítimas daquela explosão.*****
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