01.06.2016 - Eric Zuesse, The Vineyard of The Saker
Traduzido por Tanya & Eugene
John Helmer, analista que
desvenda questões militares estratégicas com conhecimento e clareza que pouca
gente no mundo tem, publicou, em 30 de maio, artigo intitulado: "A LinhaVermelha Infringida, na alça de mira, dedo no gatilho/ponto de ebulição” (traduzido no Blog do Alok),
começando assim seu texto:
'Primeiro, houve o anúncio da
linha vermelha infringida. Na sexta-feira [27 de maio], em Atenas, foi
declarada a área do alvo, a alça de mira. Em outubro, um mês antes da eleição
presidencial dos EUA, chegará o ponto de ebulição, a fase do dedo no gatilho.
Os EUA e seus aliados na
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) estão trilhando o caminho da guerra
contra a Rússia, acelerando a inevitabilidade de um ataque russo, em manobra autodefensiva.
É exatamente disso que tratam os dois avisos que já foram dados pelo Presidente
Vladimir Putin. Atingido o ponto de ebulição, terá início a fase do dedo no
gatilho – e não haverá nova advertência.'
Os meios de comunicação do
Ocidente tratam qualquer relatório ou denúncia desse tipo – de que a Rússia
possa ser colocada numa situação em que a única resposta racional às operações
ocidentais para cercá-la com forças hostis em suas fronteiras seja (e talvez
até mesmo pode vir a ser) um ataque nuclear rápido e violento contra o Ocidente
– como se houvesse algo de estranho ou mesmo insano nessa análise: a
mídia trata tais observações como se o Ocidente não fosse governado por pessoas
realmente muito perversas, e como se reconhecer essa maldade em um
dirigente do Ocidente fosse algo proibido (especialmente se esse governante for
o presidente dos Estados Unidos – diversamente, por exemplo, do presidente da
Turquia, em relação a quem, aparentemente, é permitido qualificar como
perverso). Nesse momento, no entanto, os meios de comunicação deveriam estar
prestando especial atenção à conjuntura descrita por Helmer, e tratando
efetivamente do assunto, enquanto ainda pode haver tempo suficiente para evitar
uma catástrofe inimaginável, que (como Helmer explica detalhadamente) poderia
muito possivelmente ocorrer ainda este ano.
O Ocidente se encontra num estado
de gritante negação-da-realidade. Considerando que a crise dos mísseis cubanos
em 1962, entre JFK e Khrushchev, foi acompanhada de um temor público acertado
de ambos os lados, agora, a situação muito mais perigosa que se apresenta
entre Putin e Obama provoca apreensão apenas entre a população russa, e
de modo algum entre norte-americanos e outros povos do Ocidente.
A Destruição Mútua Assegurada, ou
D.M.A (NT: M.A.D., em inglês), não é apenas uma realidade em um mundo
multipolar repleto de armas nucleares, mas também é – e isso é igualmente
importante – uma psicologia de massas, fundada na crença de que não pode haver
qualquer vencedor em uma guerra nuclear – e que qualquer guerra nuclear
(especialmente num conflito nuclear entre as duas superpotências nucleares) vai
destruir o planeta que todos nós compartilhamos. Esse sentido de um destino
comum para ambos os lados é fundamental para o reconhecimento da Destruição
Mútua Assegurada – D.M.A (NT: M.A.D., em inglês), e o que ela representava –
a pedra fundamental da Era do pós-guerra mundial, a época em que teve lugar o
mais longo período sem um conflito de proporções globais, desde o advento da
Primeira Guerra Mundial, em 1914.
Essa Era, agora, tragicamente,
chegou ao seu fim.
O período da Destruição Mútua
Assegurada, ou D.M.A (NT: M.A.D., em inglês), como psicologia de massas, acabou
no Ocidente, mas não no Oriente – não acabou na Rússia, nem em qualquer outra
das nações livres do mundo, também conhecidas como nações independentes (que
não estão sob o controle da aristocracia dos EUA, ou de quaisquer das
aristocracias aliadas àquela – nem da aristocracia de qualquer outra nação estrangeira),
bem como os chamados "BRICS" (que recentemente perderam o seu
"B", após o Brasil sofrer um golpe de Estado,
que transformou o país em satélite dos EUA, e que provavelmente será (se a
guerra nuclear for evitada), a seguir, 'resgatado' por empréstimos do FMI, que
irão saquear a nação, levando seu povo a padrões de vida ainda mais baixos, e
níveis de endividamento ainda mais profundos, que irão, progressivamente,
passar a ser cobrados por credores estrangeiros).
A Destruição Mútua Assegurada, ou
D.M.A, resultou do equilíbrio que existia quando a Aliança da OTAN da América
era contrabalançada pela Aliança do Pacto de Varsóvia da URSS. A própria ideia
de 'conquista' nuclear, no sentido militar, portanto, reconheceu-se
simplesmente impraticável, não só pela população de ambos os lados, mas (e isso
é, no mínimo, tão crucial quanto) pelas duas aristocracias opostas,
Ocidente versus Oriente, aliados dos EUA contra aliados da URSS.
A estratégia secreta dopresidente dos EUA, George Herbert Walker Bush, em 1990-1991, de por fim aoD.M.A. através de farsas e embustes do regime norte-americano, enganando Gorbachevpara que encerrasse o Pacto de Varsóvia da URSS, enquanto Gorbachev (e depoisseu sucessor, Yeltsin) permitiam a continuação e mesmo a expansão da OTAN,
resultou, no Ocidente, na mais completa ausência da quase-histeria do horror
mútuo da aniquilação nuclear que, antes, durante a Guerra Fria, existia tanto
no Ocidente quanto no Oriente, e sua substituição por um Ocidente agora
indiferente e despreocupado, e o Oriente cada vez mais aterrorizado, pois o
Ocidente está ajeitando os preparativos para aquilo que a aristocracia dos EUAparece crer cada vez mais como uma situação sem precedentes, em que ela e suasaristocracias-fantoches-aliadas (na Europa, Japão e Austrália) podem emergircomo autênticas vitoriosas depois de uma guerra nuclear.
Assim, no Ocidente, não há sombra
da antiga histeria (como existia antes), que levou todo mundo a construir
abrigos antibombas para suas famílias, mesmo que, nesse exato momento, o
Ocidente esteja apertando o laço nuclear ao redor do pescoço do povo da Rússia.
Em vez disso, o medo anterior e, em certas vezes, até mesmo a histeria, foram
substituídos por uma situação em que apenas alguns indivíduos (ninguém sabe
quem nem quantos) das aristocracias do Ocidente, compraram bunkers
subterrâneos luxosos, sofisticados e fortalecidos, preparando suas futuras
existências crescentemente prováveis num suposto mundo nuclear-pós-holocausto e, enquanto isso, as massas ocidentais não estão de modo algum
indignadas em serem deixadas totalmente expostas sem bunkers de quaisquer
tipos; e a razão para isso, é que elas acreditam que, como seu país se encontra
'protegido' por um sistema de 'defesa'-balística de mísseis-BBD ou sistema
antibalístico de mísseis-ABM contra o 'inimigo' (agora somente a Rússia), elas não
têm mais necessidade de se preocupar com 'o inimigo'.
O sonho de defesa da aristocracia
americana de mísseis antibalísticos 'Star Wars' da Era Reagan está agora
começando a ser materializado, finalmente, na Era Obama com o "Sistema de Defesa Antimísseis Aegis em Terra" da Lockheed Martin – um pesadelo para o povo russo – e reputado como a suposta trilha imaginada
pela aristocracia norte-americana para a vitória global, sendo instalado na Europa
oriental e em outras áreas na fronteira ou muito próximas da Rússia. Os
norte-americanos e outros povos do Ocidente estão alegremente despreocupados
com o assunto, porque as mídias-empresa da aristocracia lhes disseram que isso
é 'apenas uma medida defensiva contra uma nova possível agressão russa' (e não um recurso-para-conquista-global pela aristocracia norte-americana, que
é do que realmente se trata).
Esta é uma das razões pelas
quais, na perspectiva dos governantes dos EUA, é de vital importância que
informações sobre esses bunkers de luxo circulem apenas em publicações
para a elite, como a FORBES. Se os cidadãos comuns começassem a se
tornar cada vez mais conscientes de que os poucos bilionários entre eles estão
fazendo seus próprios preparativos para viver em uma possível nação
pós-holocausto-nuclear, então as perguntas incômodas começariam a surgir, como
a razão de o governo federal não estar ajudando o público em geral a
fazer o mesmo (ou, pelo menos, a tentar sobreviver em alguma espécie de abrigo
antibombas, tal como realmente acontecia nos 'bons e velhos tempos').
Tudo isso é também resultado da
ideologia 'libertária' ou 'neoliberal', a ideologia do 'individualismo', que a
aristocracia tem sistematicamente inculcado atualmente nas gerações de pessoas
do Ocidente, que deprecia as obrigações do governo para os cidadãos, suscitando,
ao contrário, a crença na decência de lemas como: "cada um por si" e
"nós não estamos nessa juntos", porque "as massas de
vagabundos e o povo estúpido não têm direito de obter nada mais do aquilo que
fizerem por merecer". Se, talvez, um bilionário pode dar ao luxo de viver
"com segurança" nos subterrâneos profundos dos bunkers luxuosos,
então o correto é "dar mais poder para ele," de acordo com esta
ideologia, que proclama que a igualdade de direitos é errada, e que,
diversamente, uma pessoa não deve ter mais direitos do que as propriedades
que possui, riquezas, dólares – coisas para fazer negócios com outros
indivíduos que também são os detentores da riqueza. Nos EUA, essa base
transacional para os direitos dos cidadãos foi a ideologia adotada pela Suprema
Corte em uma série de julgamentos, como o da Citizens United, em 2010,
que reconheceu que o direito de uma pessoa à 'liberdade de expressão'
deve ser proporcional ao quanto de dinheiro ela gasta para comprar sua
liberdade de expressão, a fim de persuadir os outros a votarem da maneira como
ela quer, ou para os convencer a comprar qualquer coisa que alguém queira que
comprem¹.
Este conceito transacional dos
direitos do indivíduo é uma garantia para dólares, e não realmente para pessoas.
Existe para (e está a serviço de) uma aristocracia, não a uma democracia.
A Suprema Corte tem, sem qualquer dúvida, apoiado a aristocracia, não a
democracia. E, tendo em vista que, após a Segunda Guerra Mundial, este vem se
tornando o novo ethos, não só nos Estados Unidos, mas em todos os países
que creem ser os EUA seu ideal, os cidadãos do Ocidente não estão nenhum pouco
indignados por terem sido deixados por sua conta e risco precisamente no evento
em que o novo sistema de segurança militar, que está substituindo a segurança
compartilhada da Destruição Mútua Assegurada – D.M.A pela segurança da
"primazia nuclear" competitiva e não-compartilhada, e que acabará deixando o povo de lado,
lá fora, para enfrentar, sozinho, o frio do inverno nuclear no campo do inimigo.
No fim das contas, num mundo
totalmente competitivo, o que se ganhou é visto como algo conquistado, e o que
se perde é tido como algo que foi dado, presenteado; e, como nunca, vale o mote
de que 'ao vencedor pertencem os despojos'. Isto pode não parecer
necessariamente correto no âmbito da economia, mas certamente é o que ocorre no
campo militar; essa ótica define propriamente a perspectiva militar – que é do
que, afinal, nós estamos falando aqui.
E, se as pessoas têm de pagar por
seus direitos, então o 'inimigo' não é a aristocracia (seguramente, não aquela
que, por seu poder econômico, é a própria dona da nação), mas, opostamente, são
as pessoas que não têm o dinheiro para comprar seus próprios direitos. Algumas
pessoas chamam este tipo de sistema político de 'liberdade' ou
'libertarianismo' ou 'liberalismo' ou 'neoliberalismo'; mas, por qualquer nome
que seja chamado, ele certamente não é democracia, não é a
igualdade de direitos, e não é igualdade de oportunidades². É, na verdade, em uma palavra: fascismo.
É uma extensão da perspectiva militar, aplicada a todas as outras coisas.
Mas há um outro termo preciso
para isso, que é: loucura. No entanto, é uma loucura que foi
vendida, pelas aristocracias ocidentais, para os cidadãos do Ocidente, que é a
razão pela qual a crença na Destruição Mútua Assegurada – D.M.A. está agora
extinta no Ocidente. A crença popular que vigora no ocidente é: coma ou seja
comido. E o que está para ser comido não são os aristocratas que estão vendendo
este veneno mortífero em forma de ideologia; é 'o inimigo'. (Enquanto isso, a América
e a OTAN pode chamar bandidos – como o selvagem ditador “Presidente” da Turquia
Recep Erdoğan – de 'amigos' e até mesmo de 'membros da OTAN', e ainda se proclamarem
defensores da 'democracia', um termo que, agora, perdeu totalmente seu sentido
no Ocidente.) É por isso que os povos do Ocidente não ligam para o temor que o
povo russo sente em relação à instalação de sistemas de mísseis anti-balísticos
dos Estados Unidos nas fronteiras e em territórios muito próximos da Rússia.
No sentido mais fundamental, no
Ocidente, o conceito de que “estamos todos no mesmo barco se foi”. Se essa
noção não existir tanto no Ocidente quanto no 'Oriente' (ou seja, na Rússia,
onde ela com certeza existe), então uma guerra nuclear é extremamente
provável, e a verdadeira questão é: Quando mais provável ela irá acontecer?
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O historiador investigativo Eric
Zuesse é autor, mais recentemente, de Eles Sequer Estão Perto: Os RegistrosEconômicos de Democratas vs. Republicanos, 1910-2010,
e de VENTRÍLOQUOS DE CRISTO: O Evento Que Criou o Cristianismo.
1 Nota
dos tradutores: para uma análise breve, porém acurada, acerca da ideologia
liberal, desde seus primeiros teóricos até seu estado atual (inclusive com
menção à decisão da Suprema Corte no caso Citizens United, citado no texto, o
documentário “Requiem for the American Dream”, produzido e dirigido por Peter
Hutchison, Kelly Nyks e Jared P. Scott, no qual o O intelectual icônico Noam
Chomsky apresenta sua visão de como a riqueza e a influência se concentraram
nas mãos de poucos nos Estados Unidos, tratando dos “DEZ PRINCÍPIOS DA
CONCENTRAÇÃO DE RIQUEZA E PODER: 1. Reduzir a Democracia. 2. Moldar a
ideologia. 3. Redesenhar a economia. 4. Deslocar o fardo de sustentar a
sociedade para os pobres e classe média. 5. Atacar a solidariedade. 6.
Controlar os reguladores. 7. Controlar as eleições. 8. Manter a ralé na linha.
9. Fabricar consensos e criar consumidores. 10. Marginalizar a população.”
O documentário legendado pode ser acessado no seguinte endereço: https://www.youtube.com/watch?v=gifbKMEp7YU
2 Nota dos tradutores: para uma análise atual
e severamente crítica do “modelo neoliberal” e seus “ideólogos” (especialmente,
Milton Friedman, Ludwig von Mises e Friedrich Hayek), o artigo “Para
compreender o neoliberalismo além dos clichês”, de George Monbiot (tradução de
Inês Castilho) é bastante esclarecedor. A íntegra do artigo pode ser acessada
em: http://outraspalavras.net/posts/para-compreender-o-neoliberalismo-alem-dos-cliches/
. Também é de grande relevância acerca do tema o documentário “A Doutrina do
Choque” (original: The Shock Doctrine), dirigido por Mat Whitecross e Michael
Winterbottom, baseado na obra homônima de Naomi Klein, que trata da obra de
Friedman, e dos modos de implantação das políticas neoliberais em países como o
Chile, a Inglaterra e os Estados Unidos, dentre outros. As denúncias sobre os
modos excludentes da implantação de tais políticas, e de seu fracasso enquanto
projeto para a economia, com a imensa elevação das concentrações de riqueza e
empobrecimento do cidadão médio são verdadeiramente assombrosas. O link para o documentário,
legendado, pode ser acessado em: https://www.youtube.com/watch?v=Y4p6MvwpUeo
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