segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Terroristas esmagados em Alepo. Agora é Idlib.

11.12.2016, Peter Korzun, Strategic Culture


Traduzido por btpsilveira



Com uma esmagadora derrota dos terroristas cada vez mais próxima em Alepo, os insurgentes estão desenvolvendo atividades cada vez mais intensas na província de Idlib. A derrota em Alepo agora é mais uma questão de “quando” que de “se”. E está bem próxima. As forças sírias apoiadas pela Rússia conseguiram uma vitória notável que pode mudar o curso da guerra, apesar do fato incontestável que o final do conflito ainda está distante. Grandes porções do território ainda são controladas pelos rebeldes, notadamente em Idlib. Atualmente a província é a maior área geográfica nas mãos dos grupos de oposição, dos quais o mais importante é a Jabhat al-Nusra (sua nova denominação é “Jabhat Fatah al-Sham) e Jund al-Aqsa.
Na medida em que centenas de rebeldes estão se rendendo e deixando suas posições em Alepo, o grupo extremista sunita Ahrar al-Sham atacou os enclaves xiitas Fouah e Kafraya na província de Idlib com lançadores de mísseis do tipo Grad (tipo de lançador múltiplo de foguetes desenvolvido pelos soviéticos). O ataque foi mais simbólico que outra coisa. Na realidade, a queda de Alepo é o início de uma nova batalha pela província de Idlib. Os ataques sinalizam uma finalização dos acordos de cessação de hostilidades firmados em 2015. 
Na etapa que deve se seguir, Idlib se tornará o mais importante alvo e destino das operações militares conjuntas de sírios e russos. Com exceção do Estado Islâmico, Idlib se tornou o lar de um grande número de movimentos rebeldes no país. É lógico supor que os extremistas pretendem cercar e “limpar” os enclaves sunitas ainda existentes na província antes que os ataques já esperados tenham início. Mais de 20.000 militantes oriundos de outras partes da Síria se dirigiram recentemente para Idlib, sempre se aproveitando das tréguas acordadas com as forças governamentais. Estão tomando posição para repelir o assalto esperado.
Rebeldes altamente posicionados na coalizão antigovernamental também estão se movendo para a província para “governar o novo Estado Sírio”.
Conforme uma fonte rebelde, uma dezena de antigos militantes do Estado Islâmico – entre eles o Jurista Islâmico tunisiano Bilal al-Shuwash al-Tunsi e seu parceito Abu Darr al-Tunsi – chegaram na província de Idlib no dia 06 de dezembro depois de terem cruzado a fronteira com a ajuda da Turquia. Bilal al-Shuwash al-Tunsi e seus lutadores agora estão nas fileiras da Jabhat Fateh al-Sham, um grupo jihadistas que tem ligações com a al-Qaeda.
O porta voz do líder da Jaysh al-Fateh, xeque Abdallah Muhammad al-Muhaysini disse que centenas de lutadores do Estado Islâmico estão deixando aquela organização terrorista e se juntando às fileiras rebeldes devido à constante perda de território que o Estado Islâmico atualmente sofre.
Tudo isso indica que haveria um plano de tornar Idlib um novo campo de batalha para a criação de um governo paralelo ao Estado Sírio. A batalha por Idlib deve ter início ainda antes da posse do presidente eleito dos Estados Unidos. Não obstante, a administração Obama ainda quer porque quer alcançar seu objetivo de derrubar Assad apesar de todas as dificuldades, chegando mesmo à beira de uma guerra com a Rússia. Obviamente, esta política é rejeitada por Donald Trump.
O presidente eleito tem uma visão bem diferente quanto à forma de resolver a crise na Síria que a da atual administração. Ele acredita que a principal prioridade de sua administração na Síria deve ser derrotar o Estado Islâmico em vez de lutar para derrubar o presidente sírio Bashar al-Assad.
Trump tem sustentado que a mudança de regime na Síria apenas causaria ainda mais instabilidade na região. Ele pensa que apoiar o presidente Assad é a maneira mais eficiente de impedir que no terrorismo se espalhe ainda mais. De acordo com seus pronunciamentos, ele deve buscar uma aliança com a Rússia contra o Estado Islâmico.
O presidente da Síria acredita que Trump pode vir a se tornar um “aliado natural” na luta contra o terrorismo.
Não se exclui sequer a possibilidade de cooperação entre Estados Unidos e Rússia na Líbia, Afeganistão e Iraque.
Com a operação liderada pelos Estados Unidos para tomar Raqqa, a capital não oficial do Estado Islâmico, a derrota dos rebeldes em Alepo e a batalha iminente por Idlib, a questão “o que acontecerá a seguir” na Síria adquiriu importância essencial. Chegou a hora em que as principais partes envolvidas terão que tomar decisões cruciais. Ou coordenarão esforços ou continuarão em precário equilíbrio, nas fronteiras do confronto direto.
Quando Donald Trump estiver na presidência, tornar-se-á possível um acordo para a coordenação de atividades. Um bom início poderia ser o esforço conjunto para bombardeios aéreos contra a Jabhat Fatah al-Nusra em Idlib e o Estado Islâmico. As zonas de influência e obrigações mútuas podem ser definidas até que as eventuais negociações conduzidas pela ONU produzam efeito. Juntos, EUA e Rússia poderiam avançar no quadro do Grupo Internacional de Apoio à Síria.
O posicionamento de Trump na Síria abre novas oportunidades de cooperação frutífera com a Rússia. O conflito não pode durar para sempre. A cooperação entre Rússia e os Estados Unidos é condição sine qua non para a conquista de acordos de paz. Esta atitude pode se refletir em outras áreas do relacionamento bilateral.
Estas esperanças e perspectivas tem uma chance de se materializarem. Atualmente, algo muito estranho está acontecendo. Apesar de todo o sensacionalismo ocidental sobre a necessidade de combater o terrorismo, os sucessos militares das forças apoiadas pela Rússia em Alepo provocam raiva e ranger de dentes e apelos para a suspensão dessa operação bem sucedida.
Em 07 de dezembro, os Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França, Itália e Canadá afirmaram estar prontos para impor sanções contra os aliados do presidente Bashar al-Assad. O porta voz da Casa Branca Josh Earnest disse que os Estados Unidos e seus aliados europeus devem impor mais sanções políticas e econômicas contra a Rússia por causa da Síria. Os líderes ocidentais querem uma cessação imediata das hostilidades por razões humanitárias. Isso é uma besteira sem tamanho. Os grupos terroristas se reagrupariam para fazer com que o povo sofresse por mais tempo. A melhor maneira de levar ajuda humanitária para a crise de Alepo é derrotar os militantes o mais rápido possível.
São altas as perdas civis em Raqqa e Mosul, mas não se vê ninguém dizendo que os combates devem cessar. Derrotar aqueles que estão causando o problema é a melhor maneira de resolvê-lo. Apenas depois disso um esforço internacional apoiado pela ONU poderia realmente prestar algum tipo de ajuda.
O Ministro de Relações Exteriores da Rússia já descartou a ameaça ocidental como sendo mero sinal de “impotência política”.
As ameaças de sanções adicionais estão fatalmente destinadas a serem infrutíferas, da mesma forma que as desesperadas tentativas dos militantes terroristas de manter pelo menos um pedaço da cidade sob seu controle. Alepo é página virada. O que importa agora é Idlib.
Parece que a atual administração dos Estados Unidos e seus aliados europeus fazem o melhor que podem para ajudar os terroristas e impedir a sua derrota total. Mas estas ameaças não impedirão as forças aliadas à Rússia de atacar duramente e em breve os terroristas que se concentram em Idlib. Quanto mais sucessos militares contra os terroristas são conquistados, mais evidente a “impotência política” ocidental se torna. De qualquer forma, os acontecimentos na Síria estão acontecendo da pior maneira possível para a atual administração dos Estados Unidos e seus aliados. E não há o que possam fazer para mudar este estado de coisas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sobre a retomada de Palmira pelos terroristas. Como é que a marcha de 5.000 terroristas por 230 km, que durou 4 horas e levantou poeira do deserto não foi detectada pela vigilância eletrônica russa? Se tivesse sido eles poderiam ser detidos antes de chegar a Palmira. Alguém pode me explicar?