segunda-feira, 9 de abril de 2018

Brasil à beira do abismo de mais um golpe militar? Por Andrew Korybko

4/4/2018, Andrew Korybko, Eurasia Future


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

Entreouvido na Vila Vudu
Interessante. Para observador distante, que sabe pouco de Brasil (afinal, nem assim tããããão pouco...), mas sabe tudo de "guerras híbridas" dos EUA contra o mundo, o Brasil está a um passo de golpe militar para pôr Bolsonaro na presidência.

Pelo sim, pelo não, registrem a opinião de Korybko.
____________________________________





Vêem-se preocupantes sinais de que os militares/EUA têm planos para voltar ao poder no Brasil, mesmo que indiretamente, com presidente fantoche.

O Brasil chega hoje a uma encruzilhada histórica, quando a Suprema Corte decide se o ex-presidente popular de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, conhecido como "Lula", deve começar a cumprir a sentença de 12 anos de prisão, acusado e condenado por crimes de corrupção. Os apoiadores de Lula dizem que a sentença é politicamente motivada, para impedir o ex-presidente de concorrer à próxima eleição presidencial de novembro. A ausência de Lula visaria a assegurar a solidificação do sistema político pós-golpe que os EUA estão modelando no Brasil depois do "golpe constitucional" contra a ex-presidenta Dilma Rousseff. 

Pode acontecer de Lula ser preso, ou de ser autorizado a responder em liberdade ao andamento do processo – e nos dois casos o resultado será explorado pelos golpistas para suas finalidades específicas.

O general Eduardo Villas Boas, comandante do Exército Brasileiro, alertou que os militares "repudiam a impunidade e respeitam a Constituição, a paz social e a democracia" – o que para muitos foi interpretado como ameaça de intervenção, no caso de a Suprema Corte não prender Lula. As forças armadas já estão ativas na ocupação da ex-capital do Brasil, Rio de Janeiro, como parte de operação apresentada como de combate a traficantes de drogas. Vista de longe, a operação bem pode ser um 'adestramento' simbólico que prepara o terreno para que a eventualidade de os militares decidirem assumir papel mais ativo nos assuntos domésticos, dado que a crise política que os EUA provocaram tornou o país já praticamente ingovernável e disfuncional.

Por sua vez o Washington Post financiado pelo 'estado profundo' lançou campanha 'psicológica' mês passado, com a qual visa a induzir os brasileiros a aceitar a volta de governo militar: um dos artigos recentes levava o seguinte título (em ing.) "No Brasil, cresce a nostalgia da ditadura – não a brutalidade, mas o respeito à lei e à ordem". 

Esse artigo corresponde perfeitamente à narrativa que está sendo promovida pelas mídia-empresas dominantes, segundo a qual Jair Bolsonaro, ex-militar e hoje candidato à presidente, seria um "Trump tropical" cujas chances de sucesso estão dentro da margem de erro no caso de Lula ser impedido de concorrer e Bolsonaro venha a disputar contra Marina Silva, candidata apoiada pela CIA num provável segundo turno das eleições.

O repentino crescimento de Bolsonaro, antes candidato praticamente desconhecido e hoje já disputando diretamente a presidência do Brasil, no cenário de domínio pelos militares acima esboçado, confirma uma de nossas previsões, em dezembro de 2016, sobre a emergência de uma chamada "Terceira Força" para substituir os dois principais partidos desacreditados pela "Operação Lava-jato" – papel que, em todos os casos, é frequentemente desempenhado pelos militares. Naquele artigo, previmos que:


"…É possível que os organizadores do 'estado profundo' que atuam por trás desse 'expurgo'/'limpeza' em grande escala no Brasil estejam tentando aproveitar o momento de confusão política e levante popular para se livrar do maior número possível de oponentes, como meio para facilitar a ascensão de um ator político (relativamente) desconhecido, que apareceria para "salvar o país" do torvelinho político em que esteja ou pareça estar. Esse é o molde que se repete estruturalmente, de tradicionais golpes militares – mesmo que, nesse caso, o componente militar não seja visível; pode tratar-se de golpe pós-moderno, levado a efeito, do começo ao fim, sempre nas coxias e servindo-se de meios ditos 'legais', mesmo que só nominal ou formalmente legais, em algum tipo de 'neolegalismo' sem nenhuma legitimidade democrática.

A julgar pelo modus operandi dos que já derrubaram a presidenta eleita Rousseff, essa 'terceira força' é absolutamente adversária de qualquer coisa que se pareça a mundo multipolar. Mas sabe-se que, como ensina o ditado, "a revolução devora os próprios filhos". O que se vê é que alguns dos conspiradores pró mundo unipolar já começam a cair, no Brasil, vítimas da mesma inquisição pseudo legal da qual eles mesmos participaram para derrubar a presidenta Rousseff.

Tudo isso considerado, embora não se possa prever com certeza razoável, não se deve descartar a possibilidade de que a tal 'terceira força' que opera por trás da "Operação Lava-Jato" não se satisfaça com depor Rousseff, nessa apenas primeira fase da operação para mudança de regime. É altamente provável que a operação avance na direção de expurgar também Temer, colhido na mesma 'operação de limpeza fake, para abrir caminho para, depois de a casa estar "limpa", instalar "um dos deles" no poder."


Para todas as finalidades e objetivos, o ex-militar Bolsonaro vai-se convertendo na face pública da "Terceira Força" que os militares estão apresentando como "solução" de lei e ordem de que o Brasil careceria urgentemente, e que os militares anseiam por entronizar no governo do Brasil, não importa o quão explicitamente tenham de intervir no processo político do país até conseguir fazê-lo. Para essa finalidade, a "Terceira Força" tem algumas poucas opções à disposição. A primeira é intervir diretamente, prendendo Lula no caso de a Suprema Corte não ordenar a prisão. Esse cenário pode rapidamente escalar para golpe total, sem necessidade de se encenar a 'primeira etapa'.

A terceira opção pode acontecer independentemente das duas anteriores, se Lula for preso ou algum tempo depois, caso os militares decidam fazer as coisas eles mesmos, e possivelmente dar andamento a um golpe oficial, o que implica dizer 'hackear' as eleições, manipulando a campanha à presidência de tal modo que Bolsonaro apareça como vencedor inevitável. 

É resultado que pode ser alcançado por meios os mais variados, mas o mais provável é que assuma a forma de pressão sobre as principais mídia-empresas do Brasil, para que apresentem o candidato dos militares pintado com cores favoráveis, sempre sob alguma ameaça mais ou menos explícita, de que haverá punições se empresas de mídia e veículos não obedecerem; ou construindo algum escândalo para reduzir o prestígio de Silva; se nada disso funcionar, sempre restará a pura e simples fraude das urnas e/ou na apuração dos votos.

Fato é que Bolsonaro sequer precisa vencer para que os militares assumam o controle de facto, com poder não fiscalizado sobre o Brasil, porque o próprio Silva, se vitorioso, prestaria idêntico serviço, mesmo que não seja exatamente o 'bebê Johnson' dos sonhos das forças armadas nesse momento – o governante que implante "convincentemente" sejam quais forem os planos para impor "lei e ordem" com que sonham os militares. O fato de Silva não ser precisamente esse governante 'forte' é a única razão pela qual os militares brasileiros podem vir a preferir Bolsonaro.

Tudo que está acontecendo nesse momento e na aproximação às eleições está portanto planejado para pôr Bolsonaro no poder, como comandante militar de um "Brasil Novo", que leve a alturas ainda não imaginadas a "Operação Condor 2.0" dos EUA, com a tarefa de fazer retroceder a "Maré Cor-de-rosa" e reforçar o unipolarismo 'ocidental' nesse importante país dos BRICS, nessa Nova Guerra Fria.*******

3 comentários:

Luã Reis disse...

Ele acerta na análise, mas peca na opção prioritária do desfecho: há ainda várias possibilidades com "faces mais suaves" que Bolsonazi. O ex-capitão pode radicalizar e polarizar o país. Ele faz o papel de Marine Le Pen, mas ainda não se encontrou um Macron para vence-lo.

Roberto Pires Silveira disse...

Desde o início do golpe contra Dilma, venho prevendo que Bolsonaro seria o novo presidente do Brasil. Radicalizar e polarizar é exatamente o que os militares querem e o que fizeram o tempo todo na época da ditadura. Além disso, não esqueça que um imbecil como Bolsonaro é fácil de ser controlado e manipulado pelos militares.

Anônimo disse...

Com ou sem esse ou aquele, o buraco é a luz no fim do túnel. Pena. Como disse Carlos Drumond de Andrade: "Meu Deus, tomai conta de nós" (1930).