04/10/2017, RT
Carles Puigdemont, presidente da região que quer a independência, disse em entrevista à BBC na 3ª-feira, que não planeja adiar por muito tempo a declaração de independência, e que está pronto para "agir no fim dessa semana ou começo da próxima".
Autoridades espanholas continuam a dizer que consideram ilegal e inconstitucional a votação do domingo, e a União Europeia ofereceu apoio ao primeiro-ministro espanhol para resolver a crise.
O movimento foi criticado pelo presidente da Sérvia, que acusou a União Europeia de ter trabalhado com outros padrões quando se tratou do Kosovo.
O presidente sérvio Aleksandar Vucic não mediu palavras ao fazer a mais óbvia das perguntas: "Como decidiram que a secessão do Kosovo seria legal – e lá nem houve referendum! –, e agora 22 países da União Europeia legalizam a secessão da Catalunha, que destrói as fundações da lei europeia, na qual se baseiam as política da Europa e da União Europeia?"
Marko Gasic, comentarista de questões internacionais, disse que a secessão do Kosovo foi reconhecida porque não é parte da União.
"Há quem diga que a União Europeia tem padrões ambíguos nessa questão. Eu diria que têm é padrões baixíssimos, em termos de atenção à lei internacional e da importância de não descumprir a lei. Claramente assim acontece porque a União Europeia opõe-se à secessão dos países catalães na Espanha e apoia a secessão do Kosovo na Sérvia" – disse Gasic a RT.
E acrescentou: "É esquizofrênica, a posição da União Europeia."
Gasic lembrou detalhes históricos que cercaram a questão de como a UE atuou no caso da secessão do Kosovo.
"Ao mesmo tempo em que se opunha ao referendum na Espanha, a UE insistia e organizava vários referenda na Iugoslávia" – lembrou ele. –"Na Iugoslávia, diziam que não interessava o que dissesse a Constituição; na Espanha dizem que a única coisa que conta é a Constituição. Na Iugoslávia, disseram que as pessoas tinham duas semanas para decidir se queriam a independência de algumas partes da Iugoslávia, e "numa semana tudo será decidido por vocês". Foi assim, em 1992."
Gasic disse não crer que a UE tenha aprendido alguma coisa da experiência passada na Iugoslávia, uma vez que "jamais admitiu ter cometido lá qualquer erro".
"Acredito que a UE agiria outra vez do mesmo modo, porque [o Kosovo] não é área que pertença ao clube, ao clube dos mais ricos, como a Espanha".
Para Gasic, no caso da Iugoslávia e do Kosovo, a UE está "decidindo o destino de países de fora da União Europeia", porque, por mais que deseje "estabilidade nos países da UE", não tem problema algum quando gera "instabilidade fora da UE (...), porque assim a UE encontra pretexto para se autoproteger naquelas áreas".
O analista político destacou que "se a UE quer ser consistente com a lei internacional, deve opor-se à secessão na Espanha, na Sérvia e em qualquer lugar, como determinam o Acordo Final de Helsinki e a Carta da ONU. Autodeterminação é direito de estados-nação, dentro de estados-nação, não à margem dos estados-nação e desconsiderando os estados-nação."
"A UE age seletivamente conforme oscilem seus interesses de poder. Está apoiando a Espanha, não porque a Espanha esteja certa – e entendo que, sim, a Espanha está certa –, mas porque o mais interessante agora para a UE é apoiar a Espanha. E opôs-se à Iugoslávia e está-se opondo à Sérvia agora, porque é uma oportunidade para projetar poder também sobre aquela região."
"Acho que todos os sérvios veem a comparação entre Catalunha e [a região de] Kosovo e Metohija. É algo que os próprios catalães veem. O governo catalão espera que a UE apoie seu projeto de independência, porque pensa 'se aquela gangue de criminosos traficantes de órgãos e de drogas pode separar-se da Sérvia, por que nós, civilizados catalães, não podemos ter também esse prazer, bem longe da Espanha?"
Nem se pode culpar os catalães por passar a mão na caixa de Pandora já escancarada pela qual a UE é responsável. É um pouco tarde para a União Europeia lembrar-se das leis internacionais na fronteira ocidental, quando as ignora tão completamente na fronteira oriental" – disse Gasic a RT.
"Por que a OTAN não bombardeia Madrid por 78 dias?"
Para o ex-diplomata britânico William Mallinson, a maior parte do problema relacionado à crise catalã é "o tamanho gigantesco da União Europeia e a globalização"que leva à "lenta destruição do próprio estado-nação."
Essa degradação do estado-nação "irrita as partes menores".
Mallinson comparou o que está agora acontecendo na Espanha e o que houve quando a OTAN atacou furiosamente a Iugoslávia, e a capital Belgrado por causa da independência do Kosovo.
"Por que a OTAN não está bombardeando Madrid há 78 dias? A situação é semelhante em muitos aspectos."
"Na verdade, o Kosovo é até muito mais parte da Sérvia, que a Catalunha, da Espanha. Não esqueçamos que Ferdinando e Isabel reis de Espanha uniram todos esses pequenos 'retalhos'. Não esqueçamos que a Espanha é país unido, mas é um conglomerado. Também é preciso não esquecer um perigoso efeito dominó. Há os bascos, e há secessionistas também em outras partes da Europa, até a Valônia, na Bélgica, por exemplo, para nem falar da Escócia" – continuou.
Mallinson sugeriu que uma solução possível para a crise em curso é "descartar os cabeças-quentes e fazer Rajoy falar com os líderes da Catalunha para tentar obter algum tipo de acordo temporário, enquanto todos se reúnem e tentam pôr um fim produtivo a esses efeitos deletérios da globalização e da destruição do estado-nação."
E enfatizou: "E cuidem para manter longe quem não esteja nem de um lado, nem de outro".*****
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