5/1/2018, Bruno Adrie Blog in Mondialisation, Canadá
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
No número mais recente da revista Hérodote (166/167), Jean-Robert Raviot (professor de civilização russa contemporânea na Universidade Paris-Nanterre) explica como Vladimir Putin assentou seu poder e com qual objetivo.*
Convencido de que a Rússia tinha de enfrentar um inimigo interno – pronto, como o famoso miliardário Khodorkovski, preso em 2003, a firmar pactos com o inimigo para aumentar os próprios ganhos –, o presidente Putin cercou-se de uma guarda pretoriana, de "um grupo restrito de uma quinzena de homens" que combinam a conduta tradicional do Estado com altas competências para a gestão de setores chaves da economia.
Entre esses homens incluem-se Dmitri Medvedev, ligado à Gazprom, Igor Setchine, "hoje à frente da Rosneft" ou Sergueï Tchemezov"que permanece desde 2007 à frente da empresa estatal Rostekh (de altas tecnologias civis e militares)".
Essa guarda pretoriana que é "uma rede não institucionalizada", constitui uma "barragem" [orig. fr. un "verrou"] que protege e assegura a perenidade do Estado, graças à implantação de uma democracia soberana, não liberal e não competitiva, vale dizer, não permeável às influências 'affairistas' [orig. fr. affairistes] ocidentais. Um Estado-fortaleza, em resumo, que se mantém coeso graças à coesão do grupo que o comanda – todos aqueles homens nasceram nos anos 1950s e têm trajetórias conectadas – e, enquanto esperam passar o poder a uma equipe brotada da geração seguinte e animada pelas mesmas convicções, se autodotou, em 2016, de uma guarda nacional cuja direção é confiada a um deles, Viktor Zolotov, e está sendo pilotada diretamente a partir do Kremlin.
Assim se vê que, para fazer frente ao assalto pelas classes liberais tentadas pelos supostos valores do Ocidente e pelos lucros que saberiam extrair deles, e que fariam da Rússia um satélite de Wall Street, Vladimir Putin e os pretorianos de sua guarda construíram um cesarismo eletivo, uma espécie de regime bifronte (como Janus) que permite que um Estado conservador se movimente sempre em bloco no contexto hipócrita e eminentemente agressivo da globalização.
Há os que admiram a figura romântica de um Putin pai da pátria e que se levanta contra as pilhagens sem fronteiras do neoliberalismo. Pessoalmente, e sem por isso o idealizar, admiro o Putin estrategista, que sacrifica a própria vida pessoal para salvar não o seu país, mas uma civilização a qual, segundo Oswald Spengler, conhecerá ainda bons tempos quando o Ocidente deixar de ser o campo em ruínas que se vê hoje, exaurido e do qual o coração foi arrancado por uma claque de banqueiros abutres mafiosos que se apossaram de todos os direitos, destruindo nossos Estados e nos lançando no chorume da Decadência.
Os que no Ocidente protestam contra o autoritarismo de Putin bem fariam se abrissem os olhos e vissem como funcionam nossas democracias parlamentares, as quais de democráticas só têm o nome e cujas instituições só servem para dissimular e impedir que o homem comum veja com clareza todos os abandonos, as deserções e as traições das quais fazem hoje meio de vida os eleitos comprados e pagos pelo Moloch dos 'business/affairs'.
A democracia soberana e inflexível de Putin sempre terá o mérito de operar como barragem contra a maré dita neoliberal cujas ondas de sangue engordam com os ganhos criminosos arrancados do mundo real por nossas burguesias mafiosas e capitalistas.*****
* Resumo do artigo (na íntegra na revista, para pagantes): "Esse artigo visa a expor a dinâmica do putinismo, em sua evolução histórica desde 2000. O chefe do Kremlin fixou um objetivo, desde o início da década dos anos 2000sa: repor a Rússia no centro do jogo mundial, reconstruir um Estado que seja também potência próspera que faça diferença no mundo globalizado. A centralização do poder em torno da pessoa de Vladimir Putin é parte de um modo de exercício do poder que o autor qualifica como "pretoriano".
A noção de pretorianismo é o fio condutor que permite compreender a ação política levada a efeito na/pela cúpula do Estado russo, tanto na política nacional como na política exterior, e ajuda a antever, às vésperas da eleição presidencial de 2018, as evoluções possíveis do exercício do poder na Rússia" [resumo aqui traduzido].
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