domingo, 11 de fevereiro de 2018

Se for atacada, Síria está pronta para guerra contra Israel: mudaram as regras de engajamento, por Elijah J Magnier



Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu




A defesa aérea de Damasco derrubou seu primeiro jato israelense (F-16) de toda a história, num ataque que muda as regras de engajamento [ing. rules of engagement (ROE)] com Israel e envia mensagem clara de que o país está pronto para a guerra e não continuará inerte ante violações de seu espaço aéreo.


O confronto já desencadeou a mobilização do exército sírio e aliados na Síria e no Líbano – o Hezbollah libanês. A rápida reação síria só foi possível porque a reação já estava decidida nos altos escalões de comando de todos os aliados que operam em território sírio. Esse alto comando entende que pode ser inevitável o confronto, dado que Israel já tomou a decisão de responder e declarar guerra. 

Nesse quadro, violar a soberania da Síria deixou de ser opção aberta para Israel, e os jatos israelenses já não poderão continuar com seus passeios habituais sem consequências sobre o Levante.

Importante também é que está claro que a Rússia – apesar de tudo que se lê na mídia – sabe da decisão síria de confrontar Israel. Moscou está fornecendo à Síria mísseis antiaéreos, suas forças dominam o espaço aéreo sobre o território controlado pelo Exército Árabe Sírio e têm capacidade de radar para ver e monitorar qualquer avião israelense que sobrevoe Israel, o Líbano e a Síria. A Rússia é também informada quando o exército sírio dispara repetidos mísseis e confronta a força aérea de Israel em céus da Síria ou em áreas de fronteira.

Não interessa à Rússia que ecloda a guerra na Síria, onde há tropas russas em solo, e no Mediterrâneo. A Rússia entende que tem pleno direito de intervir, porque tem presença oficial em território sírio, atendendo ao pedido específico do governo de Damasco e em acordo com ele. Nesse papel, como superpotência, é do interesse dos russos conter a tensão na fronteira síria e mostrar que detêm todo o poder necessário para impor a paz a forças potencialmente beligerantes.

Mas também interessa a Moscou que a Síria reaja contra violações por Israel, mesmo que ao preço de derrubar um jato israelense – principalmente quando a Rússia acusa Washington de ter dado aos militantes de Faylaq al-Sham (aliados da al-Qaeda na cidade de Idlib no norte da Síria e arredores) os mísseis antiaéreos que derrubaram o jato russo sobre Idlib, ação que evoluiu para o assassinato do piloto russo que se recusou a se render aos terroristas e jihadistas.

Tudo isso aconteceu um dia depois de toda a área ter sido libertada do grupo "Estado Islâmico" (ISIS) que controlava o setor rural de Aleppo, Homs e Idlib; nessa avançada, mais de 1.200 quilômetros quadrados voltaram a ser controlados pelo governo sírio. Foram libertados mais de 15 mil soldados e oficiais do Exército Árabe Sírio e unidades especiais que lá estavam, e que podem agora ser deslocados para outro front – se necessário, contra Israel –, agora que al-Qaeda é a única ameaça que ainda resta contra o Estado sírio.

Assim se vê que o governo de Damasco – que vive há mais de seis anos em estado de guerra – está pronto para a batalha contra Israel, que agora pode começar. A 2ª Guerra do Líbano em 2006 provou que poder aéreo não garante superioridade e não destrói o inimigo. Em 2006, os militantes do Hezbollah mantiveram o fogo de mísseis e foguetes durante os 33 dias da guerra, até que Israel ordenou a retirada. Os milhares de mísseis que a Síria recebeu da Rússia e do Irã nos últimos anos são grave ameaça a Israel no caso de guerra, e neutralizam a superioridade aérea dos israelenses.




O líder do Hezbollah Said Hassan Nasrallah também disse que o novo front se estenderá de Naqoura (sul do Líbano) até as colinas ocupadas do Golan (sul da Síria), e que dezenas de milhares de forças amigas de países vizinhos, além de outras, de mais longe, participarão da próxima guerra. Significa que o Hezbollah, que pôs em estado de prontidão total todas as suas forças no Líbano e Síria, preparadas para qualquer resposta dos israelenses, está perfeitamente pronto para a guerra, no instante em que Telavive escalar.

É possível que Telavive não queira guerra hoje. O governo israelense está confuso, sem saber até onde a guerra pode levá-lo, em tempos em que o front interno não está preparado, e o exército não se engajará em batalha cujos resultados serão magros e cujo objetivo (desarmar o Hezbollah e destruir a capacidade militar síria) é inalcançável.


A confusão dos israelenses ficou evidente: primeiro, acusaram o Irã de ser responsável pela escalada. Depois, o comando militar de Israel 'noticiou' que "um drone iraniano que invadira espaço de Israel fora derrubado" – mas só distribuiu filmes de um drone sendo derrubado na Síria, não em Israel. O Irã desmentiu os israelenses. Só horas mais tarde o comando de Israel reconheceu que seu F-16 'caíra' "por motivos técnicos"; até que afinal surgiu a versão oficial suposta definitiva: o F-16 teria sido "derrubado quando voava sobre al-Sukhna", perto de Tadmur.



Um comandante das forças aliadas na Síria revelou-me que forças aliadas sob o comando do Exército Árabe Sírio aceitaram emboscar a Força Aérea Israelense, com o que as defesas aéreas sírias entraram em alerta máximo, prontas para disparar. Então, um drone foi mandado para as fronteiras sírio-israelenses, violando o espaço aéreo de Israel, para atrair resposta israelense. Como o esperado, Israel mandou seu F-16 para derrubar o drone; e o F-16 foi abatido na fronteira. Segundo a mesma fonte, é impossível que um F-16 tenha sido atingido sobre Sukhna (a versão de Israel) – evidente mentira, segundo a fonte. – O F-16 foi abatido perto de Kiryat Ata, a leste de Haifa, área mais de 150 km distante de al-Sukhna. Assim se desmente a história dos israelenses, perfeitamente falsa, tentativa para disfarçar o fato de que o jato israelense foi alcançado em espaço aéreo de Israel: desafio direto à autoridade de Israel, e mensagem muito clara: "podemos derrubar vocês no seu próprio espaço aéreo, se violarem o nosso", como disse a fonte.


"Se um míssil SAM-5 tivesse atingido o F-16, ele teria explodido e nada restaria dele. Foi atingido por míssil menor, mas mais moderno e mais preciso, capaz de manobrar como os F-16s" – a fonte confirmou, mas se recusou a dar mais detalhes.

Sempre de acordo com essa fonte, "Israel está empenhada numa verdadeira guerra para fazer valer sua versão, porque lhe parece indispensável ocultar a posição de fraqueza em que se meteu. Israel já não é a força dominante no Oriente Médio que supõe ser. A verdade é que é governada por líderes arrogantes que só sabem bater no tambor de guerra, que nem sabem nem querem viver em paz com os vizinhos ".

"O Hezbollah está não apenas preparado para guerra contra Israel, como, mais que isso, está convocando todos os grupos palestinos e iraquianos para que unam contra Israel no caso de guerra –, mas só se Israel escolher a guerra. Telavive pode controlar a iniciativa, mas não manda no timing nem para encerrar, nem para controlar a guerra". Segundo a fonte, o Hezbollah está arregimentando o maior número de aliados jamais unidos em guerra contra Israel, em décadas.

Esse "incidente inventado" coincide com o 39º aniversário do retorno a Teerã do Aiatolá Ruhollah Khomeini e com o início da Revolução Popular da República Islâmica do Irã (11/2/1979).

A Síria está claramente desafiando Israel, procurando o confronto. O comando militar sírio 'aumentou' o resultado do ataque (disse que as defesas sírias haviam derrubado mais de um jato israelense). Aproveitou-se do momento de confusão dos israelenses, nas duas horas em que eles ainda tentavam ocultar o que realmente acontecera.

Não é coincidência que a atmosfera de guerra esteja em escalada no Oriente Médio, depois que o Líbano firmou contratos de investimento em petróleo com um consórcio de empresas da Itália, França e Rússia, para os Blocos 9 e 4, inobstantes a oposição de Israel, que não queria que o contrato fosse firmado, e o fracasso dos norte-americanos que tentaram 'mediar' (para impedir que chegasse a bom termo) a negociação. 

Israel – além de não estar preparada para escalada em front muito distendido, de Naqoura até o Golan – também está investindo em perfuração para extração de petróleo e gás e quer fazer reviver a própria economia.

Mas as guerras começam como resultado de erros e desafios, mesmo nos casos em que uma ou outra parte não esteja preparada para a escalada. A região está chegando ao ponto de ebulição: a guerra na Síria ainda não acabou. Há superpotências rivais que competem cada uma por seus próprios interesses, defendendo aliados e combatendo diretamente ou usando 'representantes' locais. 

Hoje a Síria é conhecida por uma novela "Bab al-Hara" (traduzida como "a porta do vizinho"). Pode vir a ser também a "porta para guerra total", se as partes não puserem fim às provocações e aos movimentos para escalar.*****

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