terça-feira, 4 de agosto de 2015

National Endowment for Democracy, NED Declarada INDESEJÁVEL na Rússia


3/8/2015, F. William Engdahl, New Eastern Outlook




Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


"Vladimir Putin, agora, deu! Você cometeu a temeridade de declarar "indesejável" em solo da Rússia, a nossa Dotação Nacional para a Democracia (ing. National Endowment for Democracy (NED), a ONG mais importante dos EUA! Onde acabará isso? Você não respeita nosso direito, como ONG mantida com dinheiro do governo dos EUA, de nos intrometer nos assuntos internos da Rússia?! Como?! Afinal somos a ONG mais importante da Única Superpotência. Nós podemos ir onde queiramos ir, e fazer o que queiramos fazer. Dessa vez, foi demais!"



Não há dúvidas de que é essa a reação visível em Washington, à decisão do Procurador Geral de Justiça da Federação Russa, dia 28/7/2015, de declarar "indesejáveis no território da Rússia" todas as atividades da NED-EUA. A declaração oficial diz que


"a ONG National Endowment for Democracy usou organizações comerciais e não comerciais russas sob o controle dela, para participar em campanhas organizadas para negar a legitimidade dos resultados de eleições russas; organizar ações políticas construídas para influenciar decisões de autoridades e desacreditar o serviço nas Forças Armadas Russas." E diz também que "para alcançar aquelas metas, a NED alocou cerca de 2,5 milhões de dólares norte-americanos em organizações russas, comerciais e não comerciais, em 2013-2015.”

Nos termos da lei russa sobre ONGs Indesejáveis, que o Parlamento russo aprovou e o presidente Putin sancionou em maio, qualquer organização estrangeira ou internacional não governamental pode ser declarada "indesejável", se ameaçar os fundamentos da ordem constitucional, a capacidade de defesa e a segurança do Estado russo.


Significativamente, em declaração sobre a decisão, o Ministério de Relações Exteriores da Rússia citou nominalmente Carl Gershman, neoconservador que preside a ONG NED desde a fundação, em 1983. Observa-se ali que Gershman disse – absolutamente às claras – que a organização NED-EUA visa a servir como fachada para distribuição de fundos a círculos de oposição em países estrangeiros. Assim se vê que os russos fizeram muito bem o dever de casa, antes de expulsar a NED.

Em coluna assinada no Washington Post, de resposta à expulsão, o presidente Gershman da NED escreveu, cinicamente, que o movimento seria "a derradeira prova de que o regime do presidente Vladimir Putin enfrenta crise cada vez mais grave de legitimidade política.” Esqueceu de dizer que, apesar das sanções econômicas impostas pelos amigos neoconservadores de Victoria Nuland no governo de Obama, o índice de popularidade de Vladimir Putin está hoje em 89%, segundo pesquisa do Centro Levada.

‘Fazendo o que a CIA costumava fazer…’

As ONGs NED e Freedom House sempre estiveram no centro de todas as principais 'revoluções coloridas' financiadas pelo Departamento de Estado, em todo o mundo, desde 2000, quando derrubaram Milosevic, na Sérvia. A NED foi criada durante o governo Reagan, para operar como uma CIA de facto, privatizada, para ter mais 'liberdade de ação'. Allen Weinstein, que ajudou a redigir a legislação que criou a NED, disse em entrevista ao Washington Post em 1991, que “Grande parte do que fazemos hoje era feito clandestinamente pela CIA, há 25 anos.”

A NED foi concebido pelo diretor da CIA de Reagan, Bill Casey. Casey queria criar um mecanismo para garantir fundos e apoio a grupos ativos em países estrangeiros que operassem na propaganda e na ação política que a CIA sempre pagou e organizou clandestinamente. Para substituir parcialmente esse papel da CIA,  surgiu a ideia de criar-se uma entidade que receberia fundos diretamente do orçamento do Congresso, e que serviria como conduíte para levar o dinheiro ao destino que lhe coubesse, caso a caso. A principal fonte do dinheiro para financiar ações da NED em países como Rússia, China, Myanmar, Venezuela, Uzbequistão e outros, nos quais o governo não se deixe reger 100% conforme a partitura de Washington, vem do Congresso dos EUA. Essa fonte é suplementada por várias organizações de caráter muito dúbio, como as Fundações Open Society [Sociedade Aberta] de George Soros, que parecem brotar do chão sempre que CIA e NED resolvem derrubar algum governo, como na Ucrânia em 2013-14.

Casey queria garantir que o fato de os cordões serem operados pela CIA ficasse bem escondido. Em carta a Edwin Meese III, conselheiro da Casa Branca de Reagan, Casey escreveu: "Obviamente, nós aqui [na CIA] não podemos aparecer na frente do desenvolvimento dessa organização, nem podemos aparecer como patrocinador ou defensor.” Para esconder a função da CIA, Casey sugeria a urgente criação de uma Dotação Nacional, uma “National Endowment.”

Desde 1984, o presidente da NED sempre foi Carl Gershman, que antes trabalhara na Freedom House, outra fachada 'democrática' para a comunidade de inteligência dos EUA, envolvida em todas as 'revoluções coloridas'. O general da OTAN e ex-candidato à presidência Wesley Clark, o homem que empurrou os EUA a bombardearem a Sérvia em 1999, e que recentemente 'exigiu' resposta militar agressiva dos EUA contra a Rússia, também participava da Diretoria da NED.

A maioria das figuras históricas associadas a ações clandestinas da CIA sempre, em algum momento, foram membros da Diretoria ou do Conselho Administrativo da NED, inclusive Otto Reich, John Negroponte, Henry Cisneros e Elliot Abrams. O presidente da Diretoria da NED em 2008 era Vin Weber, captador de dinheiro para a campanha de George W. Bush em 2000. Gershman, que preside a NED desde que foi criada até hoje, trabalhou em íntima conexão com Richard Perle, Elliott Abrams e Frank Gaffney. Gershman, em vários sentidos, assistiu pessoalmente à 'criação' da facção política/de inteligência chamada hoje de "neoconservadorismo".

Dia 26/9/2013, semanas antes de o presidente da Ucrânia Viktor Yanukovich anunciar que o país se uniria à União Econômica Eurasiana, não à muito menos atraente União Europeia onde seria, no máximo, membro associado, Gershman publicou coluna assinada no Washington Post na qual chamava a Ucrânia de "o grande prêmio", explicando que, trazer a Ucrânia para o campo 'ocidental' podia contribuir para a derrota final do presidente Putin da Rússia. Gershman escreveu que “a decisão da Ucrânia de unir-se a Europa acelerará a morte da ideologia do imperialismo russo representada por Putin. Os russos também têm de escolher, e Putin pode descobrir-se na banda perdedora, não só na Europa próxima, mas dentro da própria Rússia.”

Em outras palavras, a NED é entidade mantida pelo governo dos EUA que opera para derrubar o presidente eleito da Rússia, porque ele não agrada à turma da facção neoconservadora pró-guerra em Washington.

Dentre os projetos da NED na Rússia, estava financiar o ativista russo anti-Putin Alexei Navalny, membro de um grupo chamado Conselho de Coordenação da Oposição Russa [Russian Opposition Coordination Council]. Navalny recebia dinheiro da ONG National Endowment for Democracy (NED).

A NED tem subunidades: National Republican Institute, presidido pelo senador John McCain, o homem chave no golpe de Estado que os EUA patrocinaram em 2014, na Ucrânia; o National Democratic Institute, ligado ao Partido Democrata dos EUA e presidido hoje pela secretária de Estado de Clinton e pregadora de os EUA bombardearem a Sérvia, Madeline Albright. A diretoria da NED reúne a fina flor dos cães-de-guerra do governo Bush-Cheney como Elliott Abrams; Francis Fukuyama; Zalmay Khalilzad, ex-embaixador dos EUA no Iraque e no Afeganistão e arquiteto da guerra no Afeganistão; Robert Zoellick, íntimo da família Bush e ex-presidente do Banco Mundial [esse é o imortal "sub-do-sub-do-sub"[1]].

Dentre projetos que a NED financiou na Rússia em 2014, segundo seu relatório anual resumido, aparece, com dotação de $530.067, um "Transparência na Rússia": "Para aumentar a consciência da corrupção". Estariam operando como procuradores de justiça, ou nas funções de policiais russos? E como saberiam da corrupção, a  'consciência' da qual gastavam aquele dinheirão para aumentar? Evidentemente, esse projeto gerava o benefício colateral de oferecer a Washington detalhes íntimos de qualquer 'corrupção', geral ou imaginada que, adiante, pudessem ser usados por 'ongueiros' especialmente treinados, como os grupos de Navalny. Outro projeto sob o controle da NED, sob a rubrica "Ideias Democráticas e Valores [Democratic Ideas and Values], distribuiu $400 mil, para algo chamado "Ponto de Encontro de Direitos Humanos e História: para aumentar a consciência do uso e mau uso da memória histórica, e estimular a discussão pública sobre prementes questões sociais e políticas". Nesse projeto, o item mais suspeito parece ser a recente campanha do Departamento de Estado para reescrever a história da 2ª Guerra Mundial, que tentou apagar do mundo o fato de que a Rússia e suas regiões soviéticas afiliadas perderam 27 milhões de vidas, quando coube àqueles soldados suportar o maior peso da luta para derrotar o exército de Hitler.

A grande e importante pergunta não é absolutamente por que o governo russo afinal expulsou a NED – é a primeira ONG expulsa nos termos da Lei das ONGs Indesejáveis. A pergunta interessante é por que não a expulsou há vinte anos, ou, no mínimo, em 1999, quando Putin chegou pela primeira vez à presidência? Hoje, a OTAN vive num estado de semiguerra contra a Rússia. Nessas circunstâncias, expulsar ONGs estrangeiras hostis, como a NED, é atitude prudente de autodefesa.

Em maio, referindo-se à aprovação da nova lei russa para ONGs Indesejáveis, a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA Marie Harf, disse que os EUA estavam "profundamente preocupados" por causa da tal lei, que seria, segundo ela "mais um exemplo do crescente ataque, pelo governo russo, contra vozes independentes; e mais um passo deliberado para isolar o povo russo, do resto do mundo.” Antes de tornar-se porta-voz para a imprensa do Departamento de Estado, Harf foi porta-voz para a mesma imprensa, da CIA, onde iniciou carreira. Interessante.

Digno de registro é que, ao mesmo tempo em que a Rússia expulsa a ONG NED , nos termos de sua nova lei contra ONGs Indesejáveis, a China acaba de aprovar sua Lei para Administração de ONGs, para limitar a ação de ONGs estrangeiras também na China. Em outubro passado, a mesma ONG Dotação Nacional para a Democracia, NED-EUA, financiou os protestos em Hong Kong, que a mídia chamou de "Revolução dos Guarda-chuvas"; e atualmente a mesma NED-EUA está financiando os separatistas uigures na província chinesa de Xinjiang, exatamente onde se entrecruzam todos os grandes oleodutos e gasodutos que chegam à China, vindos da Rússia e do Cazaquistão. *****

[1] Esse Zoellick é o mesmo que Lula, em 2002 chamou, com muito acerto, de "sub-do-sub-do-sub". Em 2007, o jornal O Globo, que absolutamente não tem como/onde ser mais ridículo, continuava MORTALMENTE ofendido.
Vejam lá :-D)))))) [NTs].

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