15/3/2018, John Helmer, Dances with Bears, Moscou
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
Imagine uma investigação de tentativa de assassinato a tiros sem pistola, bala, análise balística, impressões digitais, vestígios de pólvora na mão, testemunha, atirador, intenção, motivo. Não conseguiu imaginar? Pois nem você, nem o ministro de Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian.
Na 4ª-feira Le Drian anunciou a "total confiança da França nas investigações que nossos parceiros britânicos estão conduzindo" sobre o incidente do dia 4/3/2018 que envolveu veneno de efeito neurológico e Sergei e Yulia Skripal e um policial local em Salisbury.
Observem, na fala de Le Drian, que ele usa o tempo verbal do presente contínuo. O ministro francês está dizendo que ninguém precisa ser britânico, para representar Sherlock Holmes — a investigação da prova tem de preceder a conclusão. Na 4ª-feira, o ministro francês não acreditava que a investigação tivesse chegado a qualquer conclusão prestável.
O porta-voz da presidência da França, Benjamin Griveaux, mostrou menos que "plena confiança" nas investigações dos britânicos. "A França não faz política fantasiosa. Quando aparecerem as provas, então será hora de tomar decisões," – disse Griveaux em conferência de imprensa pouco depois de May anunciar que estava expulsando diplomatas russos e suspendendo conversações bilaterais. Acrescentou que a França espera que os britânicos cheguem a "conclusões definitivas" e apresentem provas "de que os fatos foram completamente verdadeiros". Para a tradução em inglês, clique aqui. Era 4ª-feira.
Na 5ª-feira, o presidente francês Emmanuel Macron, a chanceler alemã Angela Merkel, e a Casa Branca norte-americana decidiram que a primeira-ministra Theresa May tinha de ser salva da arapuca em que se meteu, ao impor sua 'sentença' política, antes de qualquer prova respeitável. Emitiram uma declaração de quatro parágrafos (aqui, na íntegra).
Os dois primeiros parágrafos dos Quatro Grandes não extraíram qualquer conclusão de provas do que acontecera aos Skripals. O terceiro parágrafo reconheceu que só May e o governo dela haviam concluído e emitido a sentença segundo a qual "é altamente provável que a Rússia seja responsável pelo ataque. Partilhamos a avaliação do Reino Unido de que não há explicação alternativa plausível".
França, Alemanha, os EUA e o Reino Unido concluíram, com um parágrafo no qual conclamando a Rússia a fazer o que o governo em Moscou já conclamou que se faça, nas suas próprias declarações sobre o caso Skripal: que a Organização para a Proibição de Armas Químicas [ing. Organisation for the Prohibition of Chemical Weapons (OPCW)] investigue o que os britânicos andam dizendo, examinem as provas e a avaliação russa, segundo as regras e procedimentos internacionais da Convenção para Armas Químicas [ing. Chemical Weapons Convention (CVC)]. Por via das dúvidas e para mostrar de que lado estão os Quatro Grandes, eles 'ordenaram' que "a Rússia cumpra suas responsabilidades como membro do Conselho de Segurança da ONU, na manutenção da paz e da segurança mundiais."
Atendendo pedidos de May, de que tinha de ser apoiada contra a desconfiança francesa e as críticas do Partido Trabalhista Britânico, além das críticas dos próprios russos, o Tesouro dos EUA impôs novas sanções. De fato, todas as companhias e indivíduos atingidos pelas ciber-sanções já foram indiciados e acusados criminalmente mês passado; todos já serão presos caso tentem entrar nos EUA, ou serão extraditados se estiverem em território de aliado dos EUA. Para detalhes do indiciamento, leia aqui.
Os outros alvos de sanções dos EUA são o Federal Security Service e o Main Intelligence Directorate of the General Staff (GRU), mais seis altos oficiais do GRU. Quatro deles, inclusive o comandante do GRU, coronel-general Igor Korobov, já apareceram numa lista de sanções do Tesouro dos EUA em dezembro passado. O governo dos EUA ignorou as próprias sanções, ao convidar Korobov e outros comandantes da inteligência russa para visitar Washington em janeiro.
Servindo-se de um ex-funcionário e agora jornalista em Moscou, a GRU vazou um relatório informal de espionagem, pelo qual Skripal foi processado e preso. O relatório sugere que Skripal, especialista em detecção de explosivos e minas durante sua carreira militar, pode ter tido contato com o veneno de ação neurológica numa tratativa de negócios, que deu errado, por acidente. A versão da GRU (em russo) pode ser lida aqui.
A versão de May, para o caso Skripal é aceita por significativa maioria dos eleitores britânicos pesquisados essa semana, como se lê aqui. May também cresceu mais, na aprovação dos eleitores, que Jeremy Corbyn, líder dos Trabalhistas, que estava à frente de May nas previsões das pesquisas eleitorais até agora. Antes do caso Skripal, as pesquisas britânicas indicavam leve avanço de May e do Partido Conservador, mas as tendências percentuais eram mínimas, dentro da margem de erro estatístico.
Para a discussão com Chris Cook, ouçam essa entrevista na Rádio Gorilla, de Victoria, Colúmbia Britânica, a partir de 34".
A Rádio Gorilla é apresentada às 5as-feiras por Chris Cook em CFUV 101.9 FM da Universidade de Victoria. A rádio pode ser ouvida aqui. Transcrições de matérias da Rádio Gorilla também são publicadas pela Pacific Free Press. Para abrir o arquivo dos programas de Chris Cook, clique aqui.*****
A Rádio Gorilla é apresentada às 5as-feiras por Chris Cook em CFUV 101.9 FM da Universidade de Victoria. A rádio pode ser ouvida aqui. Transcrições de matérias da Rádio Gorilla também são publicadas pela Pacific Free Press. Para abrir o arquivo dos programas de Chris Cook, clique aqui.*****
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