26/01/2019, Elijah J Magnier (Blog)
Traduzido pelo Coletivo Vila Mandinga
Israel atacou a Síria muitas vezes ao longo dos últimos sete anos de guerra imposta à Síria. Transgrediu limites, invadiu linhas vermelhas e quebrou tabus, sempre para provocar o “Eixo da Resistência” dentro da Síria, mas jamais se atreveu a enfurecer o Hezbollah no Líbano. Seja como for, os recentes ataques de Israel ultrapassam, aos olhos da Síria e aliados, todos os limites toleráveis. Assim, o presidente Assad preparou-se para uma batalha contra Israel entre as guerras, sabendo que essa batalha poderia durar semanas. Mas o presidente da Síria não estará sozinho: Assad e o secretário-geral do Hezbollah Said Hassan Nasrallah estarão à frente de qualquer futura batalha contra qualquer agressão dos israelenses, se e quando a decisão de combater for tomada.
Recentemente, Israel bombardeou o exército sírio e destruiu escritórios e bases do Corpo de Guardas Iranianos Revolucionários [ing. Iranian Revolutionary Guard Corps (IRGC)] na Síria, sem mortes. Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu quis pôr-se no mesmo nível do comandante da Brigada Quds do IRGC general Qassem Soleimani, ao desafiá-lo num veículo de mídia social. Verdade é que Netanyahu caminhou diretamente para dentro da armadilha que o general iraniano preparara para o presidente Donald Trump.
Soleimani pediu ao presidente Hassan Rouhani que evitasse “responder a esse bandido (Trump), que está abaixo do seu nível”, e que autorizasse o próprio general Soleimani a responder às provocações de Trump. Assim Soleimani, simples oficial das forças de segurança do Irã, põe-se diante de líderes de países e até de um arrogante primeiro-ministro que comanda o que alguns, no Oriente Médio, ainda consideram o melhor do Oriente Médio. Mas o estilo de Soleimani é diferente do estilo de Netanyahu. Soleimani não tem conta na empresa Twitter. Trabalha como soldado e comandante militar e em reuniões com líderes de grupos, oficiais, e às vezes alguns presidentes e primeiros-ministros estrangeiros. Soleimani é paciente, mas deve-se esperar que, mais cedo ou mais tarde, ele responda às provocações.
Fontes bem informadas dizem que o Irã não tem qualquer desejo de responder às repetidas agressões israelenses contra posições da Síria e doIRGC. O Eixo da Resistência sabe que Netanyahu está tentando entrar em confronto; mas as forças dos EUA estão ativas no Nordeste do território sírio. É momento difícil para o Irã reagir, mas isso não significa que seus aliados possam responder.
Como já observamos num artigo anterior sobre a decisão do governo central em Damasco de estabelecer uma nova regra de engajamento contra os continuados ataques dos israelenses, a Síria está, sim, planejando retaliar contra quaisquer ataques futuros dos israelenses. A decisão dos sírios apareceu justamente antes de Trump anunciar sua intenção de se retirar da Síria. A mesma declaração forçou uma pausa para Síria e aliados, enquanto decidem sobre o melhor modo de responder.
Telavive sabe das limitações do Irã nesse momento crucial e compreende que o Eixo da Resistência prefere que os EUA se retirem, a retaliar contra os continuados ataques dos israelenses. Mesmo assim, o mais recente ataque israelense empurrou a Síria para além dos limites toleráveis. Netanyahu anunciou sua responsabilidade pelos múltiplos bombardeios contra a Síria – rompimento sem precedentes do protocolo de silêncio de Israel. Usou o exército como cartaz de propaganda com vistas às próximas eleições.
O primeiro-ministro israelense talvez não perceba que Soleimani não responderá a provocação de Israel, porque não foram atingidos alvos iranianos no Irã. Damasco, aliado próximo e estratégico da Síria, respondeu ao ataque com mísseis contra Israel, que tiraram Israel do controle, ao atacar dezenas de alvos, para evitar escalada maior.
Mas o embaixador da Síria à ONU Bashar al-Jaafari alertou que o aeroporto de Telavive pode ser bombardeado, no caso de Israel repetir seus atos de agressão à Síria. O que o embaixador al-Jaafari não revelou é que o presidente Assad preparou-se para batalha contra Israel, entre as guerras, sabendo que essa batalha pode durar semanas.
Na verdade, uma longa batalha entre Síria e Israel poria fim às chances de Netanyahu ser reeleito. Nenhum primeiro-ministro de Israel jamais foi eleito, que tenha exposto o próprio país ao risco, e disparado eventos que levem à morte em massa de cidadãos.
Mas como a Síria poderia retaliar se, como diz Israel, todos os depósitos sírios e iranianos foram bombardeados e destruídos com seus milhares de mísseis? Como o Hezbollah pode apoiar a Síria, se, como diz Israel, teve bloqueados todos os comboios de caminhões que viajam da Síria até o Líbano? Como é possível reabastecer o Líbano, se os EUA ocupam o posto de passagem de fronteira de al-Tanf, entre Síria e Iraque, supostamente para deter o fluxo de armas de Teerã para Beirute?
Em 2006, Israel pagou o preço, quando acreditou que teria destruído o arsenal do Hezbollah e descobriu, no massacre dos [tanques] Merkava em Wadi al-Hujeir e no bombardeio do navio Saar-5, que sua inteligência sobre os mísseis do Hezbollah e o apoio sírio é muito pobre, e que a inteligência dos EUA e Israel falhara. Telavive acreditou erradamente que poderia sem dificuldade realizar o sonho dos EUA, de estabelecer um “novo Oriente Médio” anunciado pela então secretária de Estado Condoleezza Rice. Ninguém em Israel esperava que o Hezbollah resistisse contra os ataques com seus mísseis teleguiados Kornet antitanques e seus mísseis chineses antinavios.
Hoje, o Eixo da Resistência, isso é, Síria e Hezbollah no Levante, tem não só maior experiência de guerra, mas, também modernos mísseis antinavios (Yakhont), além de outras surpresas letais, como mísseis de precisão capazes de alcançar qualquer alvo em qualquer ponto do território de Israel.
Sobretudo, o Hezbollah tem várias bases para seus mísseis estratégicos nas fronteiras sírio-libanesas. O grupo não hesitará a usar fartamente esses seus mísseis contra Israel, se Israel atacar a Síria, aliada do Hezbollah. Mas não se espera que o Hezbollah limite seu apoio ao armamento.
Said Hassan Nasrallah não mestre só em oratória, mas é também sofisticado psicólogo de massas e da guerra, além de talentoso estrategista, planejador e comandante militar. Estava presente na sala de operação militar em todas as batalhas contra Israel, e participou de cada movimento que seus comandados fizeram contra Israel na guerra de 2006 e desde então. O planejamento e o comando logístico-técnico-militar, e o controle entre o Hezbollah e a Síria, são hoje unificados. Nasrallah sabe como combater contra Israel, conhece o poder de fogo a ser usado e quando. Assad e Nasrallah estarão lado a lado no comando de quaisquer futuras batalhas contra qualquer agressão israelense, no instante em que seja tomada a decisão de combater.
A Rússia conhece a decisão e a determinação do Eixo da Resistência para responder, como também conhece o perigo que essa decisão e essa determinação implica para todos no Levante. Os russos informaram ao IRGC que evacuasse suas bases de comando e controle, menos de uma hora antes de as bases serem bombardeadas por Israel. O comando militar russo perguntou ao IRGC sobre as novas bases de comando e controle, e foi informado de que “aquelas bases, de hoje em diante, estarão distribuídas por toda a geografia da Síria, ao lado do Exército Árabe Sírio, em cada instalação, em cada tenda de campanha”.
Essa resposta levou a Rússia a exigir de Israel, mais diretamente e abertamente, que pare de bombardear a Síria. Rússia absolutamente detestará ver-se colhida no meio de uma guerra entre Síria e Israel, com mísseis voando-lhe sobre a cabeça no Levante.
A arrogância de Netanyahu o impele a abandonar a política israelense de sempre negar qualquer responsabilidade pelas agressões, e tem confundido o comando militar da entidade sionista. O primeiro-ministro infiltrou suas intrigas eleitoreiras também para dentro do establishment militar: prefere fazer-se de estrela das mídias sociais, a seguir o exemplo discreto de seus antecessores.
Se Netanyahu quiser ser reeleito, precisa evitar qualquer confronto com a Síria, cujo resultado não poderá controlar; sua melhor estratégia seria manter-se calado até as eleições.*******
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