24/9/2017, MK Bhadrakumar, Indian Punchline
O anúncio em Teerã no sábado, do bem-sucedido teste com um míssil balístico com alcance 2.000 quilômetros e capaz de transportar várias ogivas para atingir diferentes alvos, modifica fenomenalmente o equilíbrio militar no Oriente Médio.
Israel e os cerca de 45 mil soldados dos EUA alocados no Oriente Médio – Jordânia (1.500), Iraque (5.200), Kuwait (15.000), Bahrain (7.000), Qatar (10.000), EAU (5.000), Omã (200) – estão todos ao alcance do mais novo míssil iraniano. O Irã demonstrou ter capacidade de contenção que priva os EUA e Israel de qualquer opção militar.
O teste do míssil indica a nova posição de Teerã, de desafio estratégico aos EUA, depois dos comentários ultrajantes que o presidente Donald Trump fez contra o Irã, em sua fala à Assembleia Geral da ONU. De agora em diante, Trump tem de ser muito cuidadoso sempre que lhe ocorrer rasgar o acordo nuclear iraniano. Qualquer tipo de ato tresloucado, de Trump ou do Congresso (impor novas sanções) pode ser colhido por Teerã para retomar o antigo programa nuclear, que agora teria implicações de longo alcance, dadas as novas capacidades do país, em mísseis.
O presidente Hassan Rouhani adotou linha dura depois de voltar a Teerã, vindo de New York. Alertou que, se Trump violar o acordo nuclear, "seremos firmes, e todas as opções estarão sobre a mesa". O ministro de Relações Exteriores Mohammed Javad Zarif disse ao New York Times em tom desafiador que, se os EUA insistirem em renegociar o acordo nuclear, Teerã também insistirá em renegociar todas as concessões que fez – "Vocês estão preparados para nos devolver 10 toneladas de urânio enriquecido que lhes entregamos em confiança?"
Rouhani fez discurso estridente num desfile militar na 6ª-feira em Teerã, destacando que o Irã não precisou da permissão de país algum para ampliar sua capacidade em mísseis. Acrescentou que "a nação iraniana sempre procurou paz e segurança para a região e para o mundo, e defenderemos os oprimidos no Iêmen, na Síria, na Palestina, gostem ou não gostem."
"Enquanto insistirem em falar a linguagem das ameaças, as capacidades de defesa do país continuarão a ser reforçadas, e o Irã não pedirá licença a país algum, para produzir vários tipos de mísseis" – disse o ministro da Defesa Amir Hatami, em declaração no sábado.
O que se vê emergir é a determinação do Irã para consolidar sua capacidade de influência na Síria. Os EUA terão de sopesar cuidadosamente as repercussões antes de qualquer intervenção (pela qual Israel está pressionando). Repetindo, o Irã pode estabelecer presença de longo prazo na Síria. A milícia xiita que já acumulou impressionante experiência de combate no Iraque e na Síria, que o Irã apoia já é verdadeiro exército de 100 mil combatentes, e o Irã já está em posição de forçar a retirada das forças dos EUA, de Iraque e Síria.
O governo Trump deve tomar com a máxima seriedade a ameaça só superficialmente velada que fez o comandante do Corpo de Guardas Islâmicos Revolucionários general Mohammad Ali Jafari na 4ª-feira (quando reagiu ao discurso de Trump na ONU) – "É chegada a hora de corrigir os erros de cálculo dos EUA. Agora que os EUA já deixaram ver claramente sua natureza, o governo deve usar todas as opções para defender os interesses da nação iraniana. Tomar posição decisiva contra Trump é só o começo; o que realmente importa em termos estratégicos é que os EUA conhecerão respostas mais dolorosas, nas ações, comportamento e decisões que o Irã tomará nos próximos meses."
O teste do míssil balístico veio três dias depois da fala do general Jafari. Assim, também o timing do teste do míssil pode ser visto sobre o pano de fundo do referendo planejado para 25 de setembro, pelos curdos do norte do Iraque, em busca de um Curdistão independente.
Teerã não tem dúvida alguma de que o projeto do Curdistão é empreitada de EUA-Israel para criar uma base permanente na região altamente estratégica, com o objetivo de desestabilizar o Irã e minar sua avançada regional na Síria e no Iraque.
Não surpreendentemente, Israel enfureceu-se com o teste do míssil iraniano. O ministro da Defesa Avigdor Liberman falou de "uma provocação e uma bofetada na cara dos EUA e seus aliados – e tentativa de testá-los". Claramente, Israel está em pânico ante a evidência de que o Irã avança inexoravelmente para lhe tirar o posto de principal potência regional no Oriente Médio. Mas, exceto pelos surtos retóricos, Israel não pode fazer grande coisa contra a avançada iraniana.
Israel tolamente instigou Trump a provocar Teerã, bem nas atuais circunstâncias, quando Trump mal consegue dar conta da crise no nordeste da Ásia. Nenhuma estratégia de contenção contra o Irã é hoje factível. Sabedoria, agora, só se o governo Trump engajar o Irã em espírito construtivo, para tentar influenciar suas políticas regionais. Ameaças jamais funcionaram contra o Irã. Vezes sem conta comprovou-se que ameaças são contraproducentes no caso do Irã. *****
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