sexta-feira, 10 de novembro de 2017

HuffPo esconde artigo de Joe Lauria sobre histéricos do 'Rússia-gate' (mas ZeroHedge publica)

7/11/2017, ZeroPointNow in ZeroHedge


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu




O jornalista Joe Lauria, premiado correspondente na ONU por 25 anos, escreveu importante artigo sobre as origens do "Rússia-gate", que publicou essa semana no Huffington Post, veículo suposto liberal. 24 horas depois, o HuffPo excluiu o artigo – deixando no lugar dele um link ocioso e uma triste mensagem.

Talvez a informação que o artigo oferece não combine com as narrativas que o HuffPo aprova, ou talvez tenha algo a ver com o novo livro de Lauria, How I Lost By Hillary Clinton [Como perdi. Autora: Hillary Clinton], com prefácio de Julian Assange.

Considerando os créditos profissionais de Joe Lauria, que foi correspondente do Wall St. Journal na ONU por quase sete anos, e do Boston Globe por seis – cobrindo pode-se dizer todas as grandes crises mundiais ao longo de um quarto de século, a perspectiva que ele tem a oferecer sobre mais esse caso com certeza merece ser conhecida. Adiante, nossos leitores encontram, para sua informação, o artigo que HuffPo censurou.


Dinheiro dos Democratas
por trás do 'Rússia-gate'

Joe Lauria*

Com o escândalo chamado 'Rússia-gate' hoje a assombrar o governo Trump, o que se sabe hoje é que o "escândalo" começou quando os Democratas decidiram bancar as acusações iniciais, duvidosas e sem qualquer prova, de que teria havido interferência de russos – escreve Joe Lauria.

As duas fontes que dispararam as acusações de que a Rússia teria interferido nas eleições de 2016 – foram as duas pagas pelo Comitê Nacional Democrata (CND) e, num caso específico, também pela campanha da candidata Clinton: o dossiê Steele e a análise feita por CrowdStrike nos servidores do CND. Consideremos essa informação por um momento.

Todos sabemos há muito tempo que o CND não permitiu que o FBI examinasse o servidor de seus computadores na investigação para descobrir quem os poderia ter hackeado – e, mesmo, para saber se teriam sido hackeados –, e que o CND recorreu à CrowdStrike, empresa privada das quais um dos fundadores é russo furiosamente anti-Putin. Em um dia a CrowdStrike analisou os servidores e já culpava a Rússia, com provas muito duvidosas.

Agora se descobriu que a campanha de Clinton e o CND pagaram pela 'análise' de memorandos redigidos pelo ex-agente do MI6 da inteligência britânica Christopher Steele que usou acusações repetidas em boatos vindas de fontes russas anônimas, para 'concluir' que o governo russo chantageara e subornara Donald Trump, num esquema que pressupunha que o presidente russo Vladimir Putin já sabia que Trump seria candidato e eleito desde muito antes do resto do mundo.

A partir daquela 'análise', a comunidade de inteligência dos EUA não fez outra coisa além de procurar provas do que Steele escrevera. Mas as mesmas 'suspeitas' também maculavam o cérebro dos chefes da inteligência do presidente Obama, os quais, segundo James Clapper, Diretor da Inteligência Nacional, "selecionaram um a um" os analistas que produziram a "avaliação" de 6 de janeiro, que 'confirmava' que a Rússia interviera na eleição nos EUA.

Em outras palavras, é possível que todas as acusações feitas ao longo do que se conhece como "Rússia-gate" e que foram tomadas como verdade demonstrada, por partidários dos Democratas e membros da gangue da "Resistência anti-Trump", resumam-se, todas elas, a 'acusações' compradas – encomendadas e pagas – pelo alto comando dos Democratas.

Se se pudesse remover por apenas um minuto o ódio às vezes justificado que tantos sentem por Trump, seria impossível negar a impressão de que o escândalo foi inteiramente inventado e cevado pelo Comitê Nacional Democrata e pela campanha de Clinton, mancomunados com chefes da inteligência do governo Obama, todos a serviço de interesses políticos e geopolíticos claros, que nem sempre coincidem com os interesses do povo dos EUA.

Mesmo que ainda não tenha surgido qualquer prova juridicamente válida e crível, ou documental, é possível que todos estejamos diante de um complô partidário, concebido nas sombras de uma dura campanha eleitoral, um "escândalo" fabricado, que também apressou o início de uma perigosa Nova Guerra Fria contra a Rússia; um caso de sujo golpe político a serviço de interesses do grupo governante que precisa restabelecer a posição de dominância sobre a Rússia que teve nos anos 1990s – e hoje já não tem –, e para dar de comer ao insaciável Complexo Industrial Militar.

Contudo, apesar de absolutamente não haver qualquer comprovação independente das alegações centrais do chamado "Rússia-gate", o escândalo não para de crescer no terreno do exagero mais estúpido e desatinado sobre o impacto que número mínimo de páginas da chamada mídia social [no Brasil-2016, onde se vê operação muito semelhante de 'escândalo' fabricado para servir a interesses inconfessáveis, o 'escândalo' inventado – acobertado pela chamada "Operação Lava-jato" – serve-se principalmente das páginas de todos os veículos da grande mídia-comercial (NTs)], para atuar dentro de muito específicas campanhas eleitorais. (Nos EUA, algumas daquelas páginas dedicavam-se a publicar memes de cachorrinho.)

'Cash for Trash' [Dinheiro compra lixo-mentiras]

Segundo informações de boa qualidade hoje já acessíveis, Paul Singer, bucaneiro de Wall Street, pagou à GPS Fusion, firma de pesquisas que tem sede em Washington, para construir pesquisa de oposição a Trump durante as primárias do Partido Republicano, mas suspendeu o esforço em maio de 2016 quando ficou evidente que Trump venceria a indicação à candidato pelo GOP [Great Old Party, 'velho grande partido', como é chamado o Partido Republicano (NTs)]. A GPS Fusion negou enfaticamente que tivesse sido contratada por Steele para esse serviço ou que a pesquisa tivesse algo a ver com a Rússia.

Em abril de 2016, o Comitê Nacional Democrata e a campanha de Clinton pagaram seu advogado em Washington, Marc Elias, para contratar a Fusion GPSpara desenterrar qualquer sujeira que ligasse Trump à Rússia. Isso aconteceu três meses antes de o Comitê Nacional Democrata pôr-se a dizer que a Rússia teria hackeado seus computadores e, supostamente, ter dado a Wikileaks os e-mails então roubados de lá, para ajudar Trump a vencer a eleição.

"A campanha de Clinton e o Comitê Nacional Democrata mantiveram o contrato com Fusion GPS para pesquisar qualquer possível conexão entre o Sr. Trump, seus negócios, sua equipe de campanha e a Rússia, como se lê em documentos das investigações divulgados essa semana" – noticiou o The New York Times na 6ª-feira à noite [26-27/10].

Assim se vê que sempre foi objetivo dos Democratas conectar Trump a Moscou, como um modo de inserir a Rússia na narrativa da eleição presidencial.

Fusion GPS contratou então Steele, ex-agente do MI6 da inteligência britânica, diz que pela primeira vez, para produzir toda a sujeira possível e entregar aos Democratas. Steele fez serviço clássico de pesquisa se oposição, e o que entregou não foi avaliação ou conclusão' de serviço de inteligência, mas estava redigido no estilo adequado e formatado como se fosse.

É importante lembrar que Steele já não trabalha para qualquer agência oficial de inteligência, o que imporia padrões estritos às suas atividades e, com sorte, ter-lhe-ia ensinado a não injetar informação falsa no processo de tomada de decisões oficiais. Dessa vez, trabalhava para um partido político e para uma candidata que caçava imundícies que pudessem ferir o concorrente – operação que os Clintons chamavam de 'Cash for Trash' [Dinheiro compra lixo-mentiras], quando eram o alvo.

Se Steele estivesse fazendo legítimo trabalho de inteligência para seu governo, teria adotado abordagem muito diferente. Profissionais de inteligência não existem para entregar aos patrões só o que os patrões desejem ouvir. Steele teria verificado sua informação, teria buscado confirmação e, não a confirmando, teria descartado. Teria buscado confirmação por outros analistas na sua e, provavelmente, também em outras agências de inteligência. Por exemplo, nos EUA uma "National Intelligence Estimate" só pode ser distribuída para canais oficiais se for aprovada por todas as 17 agências de inteligência e incorpora opiniões divergentes.

Mas Steele fazia serviço privado de pesquisa exclusivamente política, movido por outras motivações. A primeira pode bem ter sido o dinheiro, dado que estava sendo pago para esse projeto específico, não como serviço prestado ao próprio governo, com salário de funcionário público e, supostamente, para bem servir a toda a sociedade. Em segundo lugar, para continuar a ser pago por memorandos subsequentes que produzisse, teria de entregar algo que agradasse ao cliente; de preferência, no mínimo, algo que sugerisse ao cliente que mais havia a descobrir.

Conversa duvidosa

Pesquisa de oposição trata de obter/inventar qualquer sujeira que possa ser usada em campanha política de calúnias, na qual a norma é acusar o adversário por todo e qualquer crime verdadeiro ou inventado. Esse tipo de pesquisa [ing. "oppo"] é sempre carregado de boatos e 'conclusões' inventadas, misturados a certa dose de fatos no mínimo verossímeis, para dar aparência de verdade ao conjunto da obra. Havia tal quantidade de conversa duvidosa ('alguém-diz-que-alguém-disse-que-ouviu') nos memorandos que Steele mostrava que o FBI não conseguiu confirmar as acusações mais comprometedoras e ao que se sabe desmentiu vários pontos chaves.

O sinal mais significativo talvez foi que a mídia-empresa de noticiário de massas, sempre empenhadamente parcial a favor de Clinton, não falou sobre as acusações mais delirantes depois que gente bem próxima da campanha de Clinton começou a fazer circular aquelas histórias antes das eleições, na esperança de que aquelas conversas aparecessem no noticiário. 

Diga-se a favor da mídia-empresa de massas [nos EUA], que os grandes veículos reconheceram imediatamente que ali não havia noticiário, só propaganda e munição contra oponente político –, que não se tratava de documento sério.

Apesar desse comportamento elogiável, o dossiê Steele foi partilhado com o FBI em algum momento do verão de 2016 e ao que parece tornou-se a base para que o FBI requeresse a prisão, nos termos da Lei de Vigilância de Inteligência Estrangeira [ing. Foreign Intelligence Surveillance Act] de membros da campanha de Trump. Ainda mais alarmante, o dossiê Steele pode ter servido de base para grande parte da 'avaliação' de inteligência do dia 6/1, assinada por aqueles analistas "escolhidos a dedo" em três agências de inteligência dos EUA – CIAFBI e Agência de Segurança Nacional –, não em todas as 17 agências existentes, como Hillary Clinton continua a mentir que teriam sido também consultadas. (Os chefes de inteligência de Obama, Clapper, da Inteligência da Defesa [DNI] e John Brennan, diretor da CIA, já admitiram publicamente que só três agências participaram da 'avaliação'; o The New York Times já publicou uma retratação informando isso.)

Na verdade, os memorandos de Steele foram a fonte primária para as acusações contra Trump, de que teria praticado crime de colusão com a Rússia, o que implica dizer que pode não haver nenhuma prova aproveitável de coisa alguma. Pode ser também que, porque as três agências sabiam que o dossiê era forjado, não há qualquer prova substantiva na 'avaliação' de 6/1. Pois mesmo assim, um sumário das acusações feitas por Steele foi incluído num apêndice secreto que o então diretor do FBI James Comey descreveu ao então presidente eleito Trump, apenas duas semanas antes da posse.

Cinco dias mais tarde, depois que o briefing de Comey já vazara para a imprensa, o dossiê Steele foi publicado na íntegra pelo website sensacionalista BuzzFeed, sob o pretexto de que as acusações que haveria no anexo de um relatório secreto da inteligência dos EUA justificariam a publicação de tudo, mesmo sem qualquer confirmação de coisa alguma.

Impressões digitais russas

A outra fonte de onde brotam as acusações de intromissão dos russos na campanha é a empresa privada CrowdStrike – porque o Comitê Nacional Democrata bloqueou o acesso do FBI, que ficou impedido de examinar o servidor dos Democratas depois que começaram a circular suspeitas de que teria sido hackeado. Em menos de um dia, a empresa CrowdStrike já estava na mídia, dizendo ter encontrado "impressões digitais" russas nos metadados de um documento de pesquisa de oposição no Comitê Nacional Democrata, que teria sido revelado por um site de Internet chamado DCLeaks, que mostrava caracteres cirílicos e o nome do chefe principal da inteligência soviética. Isso implicaria supostamente "os russos" e "a Rússia".

CrowdStrike disse também que a alegada operação russa de inteligência seria extremamente sofisticada e muito competente no serviço de mascarar indícios de que o servidor tivesse sido invadido. Mas novamente as 'conclusões' de CrowdStrike sobre "impressões digitais" da Rússia consideravam pistas que teriam sido deixadas por hackers extremamente descuidados ou inseridas intencionalmente para implicar "os russos".

A credibilidade dessa CrowdStrike ficou ainda mais reduzida quando a [rádio] Voice of America noticiou, dia 23/3/2017, que o mesmo software que a empresa usou para culpar a Rússia pelo hacking já concluíra, erradamente, que Moscou teria hackeado howitzers (obuses) do governo ucraniano no campo de batalha no leste da Ucrânia.

"Influente think-tank britânico e militares ucranianos contestaram um relatório que a empresa norte-americana de segurança CrowdStrike usou para fundamentar suas acusações de que os russos teriam hackeado as eleições presidenciais nos EUA" – noticiou a Voice of America

Dimitri Alperovitch, um dos fundadores de CrowdStrike, é também pesquisador sênior do think-tank Atlantic Council em Washington, furiosamente anti-Rússia.

A especulação em torno de um suposto hacking relacionado a eleições aumentou ainda mais com a divulgação, por WikiLeaks, do "Vault 7", que revelou que aCIA não fica atrás em matéria de cobrir as próprias pegadas e deixar falsas pistas que incriminam outros, quando a agência hackeia outros sistemas. Além disso, há o fato de que o fundador de WikiLeaks Julian Assange ter declarado incontáveis vezes que e-mails dos Democratas não lhe foram enviados pelos russos. 

Para reforçar o que dizia Assange, que negava qualquer participação de russos nos vazamentos, um sócio de WikiLeaks, Craig Murray, ex-embaixador britânico no Uzbequistão, disse que, ano passado, em viagem a Washington, encontrara uma pessoa conectada aos vazamentos.

E William Binney, provavelmente o mais brilhante matemático que jamais trabalhou na Agência Nacional de Segurança, e Ray McGovern, ex-analista da CIA,publicaram uma análise técnica de um conjunto de metadados dos e-mails dos Democratas, na qual demonstram que seria impossível qualquer "hack" transatlântico, e que todas as pistas sugerem muito mais fortemente um vazamento praticado por insider Democrata insatisfeito. Mais tarde Binney acrescentou que, se tivesse existido algum "hack", a Agência Nacional de Segurança seria perfeitamente capaz de detectá-lo e exibir as provas.

Alimentar o neo-McCarthyismo

Apesar dessas dúvidas, que a mídia-empresa comercial dominante em grande medida ignorou, o escândalo apelidado Rússia-gate cresceu até se converter em algo muito maior que história de período eleitoral. Contribuiu para desencadear um ataque neo-McCarthyista contra norte-americanos que se atrevem a exigir alguma prova prestável da culpa do Kremlin, e são acusados de 'cumplicidade' com a Rússia.

Poucas semanas depois da eleição de novembro passado, o Washington Post publicou matéria de primeira-página com uma lista-negra produzida por grupo anônimo autodenominado PropOrNot, segundo o qual 200 páginas jornalísticas, inclusive Consortiumnews.com e outras respeitadas páginas de noticiário independente, seriam ou propagandistas deliberados a favor dos russos, ou "idiotas úteis".

Semana passada emergiu uma nova lista com nomes de mais de 2.000 pessoas, a maioria dos quais ocidentais, que foram citados ou publicados no canal RT, canal de notícias em inglês mantido pelo governo russo. A lista era parte de matéria intitulada "Plataforma do Kremlin para 'idiotas úteis' no ocidente" – publicada sob o pseudônimo de "Valores Europeus", em site que tem longa lista de financiadores europeus.

Incluídos na lista de "idiotas úteis" estão, absurdamente, o colunista David Ignatius do WaPo sempre acintosamente a favor da CIA; David Brock, pesquisador chefe da equipe de Hillary Clinton para assuntos da oposição; e o secretário-geral da ONU Antonio Guterres.

A matéria diz: "Muitos na Europa e nos EUA, incluindo políticos e outras pessoas influentes, continuam a exibir a mais preocupante ingenuidade sobre a agenda política de RT, deixando-se prender no complô de marketing da rede que é simples veículo para vozes independentes marginalizadas na mídia ocidental dominante. Esses 'idiotas úteis' insistem em não ver as intenções de RT e em dar-lhe imerecida legitimidade concedendo entrevistas ou deixando-se ver em programas de entrevistas ou comentário."

A intenção dessas listas é clara: calar qualquer voz dissidente que questione a política externa do ocidente, as mesmas vozes que já são excluídas dos veículos da mídia-empresa privada comercial ocidental. RT frequentemente garante espaço para ampla variedade de pontos de vista, de esquerda e de direita. Os interesses que hoje governam os EUA fogem espavoridos de qualquer ponto de vista crítico. Primeiro os suprimem da sua própria mídia-empresa comercial conservadora; agora já tentando desqualificar como propaganda toda e qualquer divergência, também em RT.

Riscos geopolíticos

Ainda mais repugnante, a mania anti-Rússia aumenta os riscos de conflito direto entre as duas superpotências nucleares. A retórica anti-Rússia serviu não só à campanha de Clinton, embora recentemente para causar mais danos que benefícios, mas também tem servido para promover uma agenda geopolítica que visa devolver aos EUA o controle sobre a Rússia –vantagem que os EUA gozaram nos anos 1990s de Iéltsin.

Depois da autodissolução da União Soviética em 1991, Wall Street correu para lá, sob a saia de Boris Yeltsin e de oligarcas russos, para roubar virtualmente tudo que tivesse algum valor no país, empobrecendo a população. Dentre as ações de mais ampla e descarada corrupção, destaca-se a atuação de Washingtonquando interveio na política russa para reeleger Iéltsin em 1996. A ascensão política de Vladimir Putin, depois que Iéltsin renunciou na noite de Ano Novo de 1999, alterou profundamente essa dinâmica, restaurando o conceito de soberania russa, acima de questões de economia e política.

Esse novo quadro enlouqueceu Hillary Clinton e outros conservadores nos EUA, cujo desejo passou a ser instalar lá um outro Iéltsin, que retome as velhas regras de os EUA poderem livremente saquear os vastos recursos naturais e financeiros da Rússia. Para promover essa causa, vários presidentes dos EUA tem apoiado a expansão da OTAN para o leste, e já instalaram 30 mil soldados na fronteira da Rússia.

Em 2014, o governo Obama ajudou a orquestrar um golpe que derrubou o governo eleito da Ucrânia e lá instalou um regime ferozmente anti-Rússia. Os EUA também assumiram a arriscada política de apoiar terroristas extremistas no crime de tentar depor um tradicional aliado secular dos russos na Síria. Consequências desses desatinos, o mundo está hoje muito mais próximo da aniquilação nuclear do que jamais antes, desde a crise dos mísseis cubanos em 1962.

Nesse contexto é que foi tentada a ofensiva anti-Rússia que ficou conhecida como Rússia-gate, liderada pelo Partido Democrata: não só para 'explicar' a derrota da Clinton, mas também para deter Trump — possivelmente mediante impeachment ou com furioso ataque que cause grave dano político. – Porque Trump cometeu o pecado mortal – aparentemente, como se vê hoje, sem qualquer sinceridade – de falar de détente com a Rússia. Isso é tabu. Absolutamente inadmissível no grande plano.*****



* Joe Lauria é jornalista veterano, especialista em assuntos de política externa. Trabalhou para o Boston Globe, o Sunday Times de Londres e o Wall Street Journal dentre outros veículos. Recebe e-mails em joelauria@gmail.com e está em @unjoe, no Twitter.

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