16/11/2017, Moon of Alabama
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
Nas últimas semanas houve poucos movimentos significativos. A Guerra contra a Síria caminha aos poucos para o fim. A luta política prossegue como sempre. O secretário de Defesa dos EUA Mattis anunciou planos estranhos, que de modo algum conseguirá realizar.
Situação geral dia 3/11 – Mapa
Nosso Sumário da Síria anterior examinou a situação em torno da última área de refúgio do Estado Islâmico, perto da fronteira Síria-Iraque:
As cidades gêmeas de Abu Kamal (al-Bukamal) na Síria e de al-Qaim no Iraque são os últimos refúgios urbanos do ISIS. As cidades ficam na margem sul do Eufrates, e entre elas passa aquela importante fronteira. As tropas do governo do Iraque, vindas do leste retomaram hoje o posto de passagem de al-Qaim. Agora, o exército do Iraque controla a fronteira e já começa a entrar na cidade propriamente dita. Forças do governo sírio aproximam-se de Abu Kamal vindas de noroeste e sudeste.
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Forças alugadas aos EUA ao norte do Eufrates anunciaram que tomaram vários campos de petróleo ao norte do rio e também avançam em direção a Abu Kamal. O governo sírio e aliados suspeitam que os EUA estejam tentando tomar Abu Kamal sozinhos. Se conseguirem, poderão dizer que controlam a passagem de fronteira para o Iraque e romper essa importante linha de comunicação. Há uma corrida para impedir que esse desdobramento se confirme.
Situação em 10/11 – vê-se Abu Kamal na parte inferior direita do mapa
Por uns poucos dias pareceu que as forças do governo sírio estivessem vencendo facilmente essa corrida. Vindas do Iraque, as tropas penetraram fundamente em Abu Kamal e encontraram a cidade deserta. Declararam vitória prematuramente, porque foram enganadas. O ISIS usou túneis para mover-se sem ser visto para posições bem preparadas com antecedência, e atacaram a retaguarda dos sírios. As forças sírias tiveram de retroceder.
Desde então mais tropas chegaram e agora estão prontas para lançar um grande ataque. Vindos da Rússia, bombardeiros de longo alcance atingiram posições do ISIS. Os EUA esforçam-se para dificultar esse apoio. Para tanto, querem exclusividade num "corredor aéreo" sobre a cidade:
Na 3ª-feira, a Rússia acusou os EUA de estar dando cobertura de facto a unidades do ISIS na Síria
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Especificamente, o Ministério da Defesa da Rússia disse que a Força Aérea dos EUA tentara desviar ataques russos dirigidos contra militantes do ISIS em torno de Albu Kamal.
Em outubro, depois que os EUA firmaram um acordo com terroristas do ISIS para que evacuassem Raqqa, os norte-americanos escoltaram terroristas estrangeiros do ISIS para Abu Kamal:
Ele diz que o comboio for para o interior, no leste da Síria, não distantes da fronteira com o Iraque.
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Da cabine de seu caminhão, Abu Fawzi viu um avião de combate da 'coalizão' sobrevoar, lançando colunas de luz, que iluminaram o comboio e a estrada adiante.
Abu Kamal está agora defendida de dentro, pelos mais ferozes terroristas do ISIS. Eles não têm para onde ir. E será difícil desentocá-los daquelas posições. Enquanto isso, os soldados das Forças Democráticas Sírias alugados aos EUA no norte do Eufrates movem-se em direção àquela área.
Mas verdade é que o todo o próprio conceito dessas Forças Democráticas Sírias está comprometido. Essas forças que servem aos EUA são comandadas por curdos. Precisam de árabes locais para tomar as áreas remanescentes ao norte do Eufrates, mas os árabes não querem lutar sob comando curdo. Talal Silo, porta-voz dessas FDS, acaba de desertar para o lado turco. Com tais aliados, qualquer posição semipermanente dos EUA na Síria é cada dia mais precária e duvidosa.
A leste de Damasco, um mix de grupos militantes, entre os quais a Al-Qaeda, ainda se mantêm na área do Ghouta Leste. Mês passado, uma campanha de propaganda dizia (implausível) que havia pessoas na área circundante que passavam fome. Dia 30 de outubro, um grande comboio da Cruz Vermelha partiu de Damasco e entregou suprimentos em Ghouta Leste. 12 dias depois, militantes em Ghouta Leste atacaram posições próximas do exército sírio. Ao mesmo tempo, dispararam mísseis e morteiros contra a capital, onde mataram vários civis. Ainda se investiga, porque é preciso saber onde os terroristas conseguiram nova munição.
O objetivo dos terroristas (verde, no mapa) é cercar e capturar uma base do exército sírio (em vermelho) que penetrou naquela área. Um general sírio foi morto nesse ataque, os militantes capturaram algumas posições (em azul) e há combates violentos em andamento. Talvez sejam necessárias até duas semanas para derrotar esses terroristas e retomar as posições perdidas.
EUA e Rússia firmaram um acordo sobre uma área de desconflitação no sudoeste da Síria, próxima das colinas do Golan e da fronteira com a Jordânia. Há contingente significativo de terroristas do ISIS próximo das colinas do Golan que são protegidos pela artilharia israelense. Israel disse que o novo acordo de desconflitação proibirá que grupos liderados pelo Irã ou forças do Hizbullah libanês se aproximem da área. A Rússia desmentiu e disse que não há qualquer restrição desse tipo naquele acordo. Quanto o momento certo chegar, os terroristas do ISIS e outros naquela área serão arrancados de lá pelo grupo da aliança em torno do governo sírio que estiver em melhor posição para fazê-lo. E não importa o quanto Netanyahu ladre sobre "Irã". Israel não está em posição de lançar qualquer ataque significativo e não será autorizado a dar pitaco nessa questão.
No nordeste da Síria Al-Qaeda e aliados ainda controlam o governorado de Idleb e a cidade de Idleb. Tão logo se concluam as operações do exército sírio em Abu Kamal, o principal cenário de combates será transferido para Idleb. Já há tropas em posição para ataque total. Movimentos de teste em vários eixos já foram iniciados para dispersar os terroristas da al-Qaeda numa área maior. Várias cidades foram liberadas num movimento na direção à área de Ad Duhur.
Nos próximos seis meses, o governorado de Idelb será o centro da guerra. Al-Qaeda, que governa a área, não desistirá dela, sem luta. São terroristastakfiris. Não há o que negociar com essa gente.
A posição do governo sírio é agora melhor do que em qualquer outro ponto da guerra. Pode agora concentrar forças experientes e que contam com total apoio de aliados muito significativos. Os inimigos externos da Síria já praticamente desistiram. É pouco provável que a al-Qaeda venha a obter novos suprimentos ou novos apoios significativos.
Minha expectativa é que os combates pela província de Idleb serão intensos, mas relativamente rápidos.
O secretário de Defesa dos EUA general Mattis anunciou que quer permanecer na Síria:
"Os militares norte-americanos combaterão contra o Estado Islâmico na Síria por quanto tempo desejem combater" – disse na 2ª-feira o secretário Jim Mattis da Defesa dos EUA, falando de um papel de mais longo prazo para os soldados dos EUA, mesmo depois de os insurgentes perderem todo o território que ainda controlam.
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Destacou também a importância de esforços de paz de mais longo prazo, sugerindo que os militares dos EUA desejariam ajudar a fixar as condições de uma solução diplomática na Síria, que já vive o sétimo ano de guerra.
Seria interessante saber se Mattis discutiu o tema com o presidente dele. Falou do que gostaria que fosse, não do que tenha qualquer meio eficaz para fazer acontecer. Síria, Turquia, Iraque, Irã e Rússia são contrários à permanência de qualquer tipo de tropa norte-americana residual na Síria.
Os EUA absolutamente não têm qualquer direito de permanecer no país. A permanência de soldados norte-americanos até agora só foi admitida na Síria, porque condicionada à luta contra os terroristas do ISIS. Tão logo o ISIS seja arrancado da última área que ainda controla, a luta estará acabada, e os EUA terão de sair de lá. O que resta do ISIS já não passará de movimento guerrilheiro derrotado em fuga, que o governo da Síria pode facilmente controlar e, sendo o caso, destruir.
Já há preparativos para combate contra tropas dos EUA na Síria, no caso de não saírem por decisão sua. Foram preparadas células locais no nordeste para atacar tropas dos EUA, no caso de não se mexerem. A opinião pública nos EUA não apoia a ocupação hostil de mais um estado árabe. Com todos os estados circunvizinhos posicionados contra qualquer permanência dos EUA, o 'anúncio do secretário da Defesa Mattis é missão absolutamente insustentável. Mattis terá de desistir. É mais um impressionante caso de militar norte-americano absolutamente incapaz de compreender um quadro político mais geral.
Grandes partes da Síria e das cidades sírias foram danificadas ou destruídas na guerra em que o país foi atacado em sua soberania e defendeu-se. Mas as cidades destruídas podem ser e serão reconstruídas. As feridas cicatrizarão.
Essa imagem de uma rua devastada em Aleppo-leste exemplifica a esperança e o desejo do povo sírio. Ahmed já voltou e já reabriu sua loja. Em cinco anos, essas ruas estarão outra vez cheias de vida.*****
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