sábado, 25 de novembro de 2017

Decisão de permanecer na Síria depois da derrota do ISIS unirá Rússia, Irã e Turquia contra os EUA



Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu




Depois da reunião de Rússia, Irã e Turquia em Sochi, na qual foi anunciado o fim da guerra e o início do processo de regulação pós-guerra para decidir sobre o futuro da Síria, a mídia dos EUA pôs-se a noticiar que os EUA planejam ficar na Síria, mesmo depois do colapso do ISIS; e que usarão os curdos para pressionar o governo de Assad.



1.      Item mencionado repetidamente: apesar de apoiar oficialmente a integridade territorial da Síria, não oficialmente os EUA tentam reagir contra o fracasso estratégico deles mesmos no atentado para derrubar al-Assad, e fracasso praticamente total, sobretudo por ação da Rússia e do Irã. Washington repetidamente manifestou sua insatisfação com o modo como se desenrolou a guerra na Síria, sempre manifestando ansiedade quanto às consequências para EUA, Israel e Arábia Saudita, do papel crescente de Rússia e Irã na região.

2.     A Casa Branca não diz oficialmente (EUA compreendem a fragilidade da posição deles na Síria) por que, no que tenha a ver com a lei internacional, a agressão à Síria é só mais um caso de agressão pelos EUA contra estado soberano. Por outro lado, os EUA absolutamente não dão importância a leis internacionais e à soberania de outros estados. Mesmo assim há coisas que não se confessam exatamente como são, para não afetar a própria imagem. É preciso camuflar o que se diz (quando se convida o governo não reconhecido de Rojava ou inventa-se uma permissão da ONU para invadir). O relato acima mencionado é útil, porque demonstra as reais intenções dos EUA, nunca declaradas. É útil, porque mostra que não faz sentido esperar que os EUA queiram negociar e mostrem "boa-vontade".

3.     A Rússia fez campanha informacional e diplomática com o objetivo de tirar da Síria as forças dos EUA que lá estivessem. As acusações feitas pelo Ministério de Relações Exteriores e Ministério da Defesa da Rússia são oficialmente apoiadas por Síria, Turquia e Irã, também interessados em tirar da Síria os norte-americanos, porque os EUA são o principal obstáculo contra o fim da guerra. 
Além de ter objetivos comuns ligados a manter al-Assad no poder e manter intacto o território da Síria, Turquia e Irã também têm objetivos próprios. O Irã quer preservar a ponte xiita entre Teerã e Beirute (que pode ser ameaçada pelo projeto do Curdistão Sírio), e Erdogan quer enfraquecer o Partido dos Trabalhadores do Curdistão [cur. PKK] e impedir que se constitua um Curdistão sírio sob o comando de organizações afiliadas ao PKK. Ninguém quer guerra total contra os EUA, mas as hoje populares "guerras híbridas" deixam abertas incontáveis vias para combater o hegemon.

4.     Por hora, a principal estratégia envolve na conversa líderes razoáveis do Rojava Curdo, de modo que os curdos estarão representados nas negociações, permitindo que encontrem pontos de contato com al-Assad sobre o futuro dos curdos como uma parte da Síria. Por isso a Rússia tratou de deter os ambiciosos planos de Erdogan sobre Afrin, e está tentando persuadir a Turquia de que possível negociar com os curdos, que nada de mal acontecerá só por turcos e sírios sentarem para negociar, sobretudo quando os turcos já negociam com organizações muito mais radicais, consideradas "terroristas moderadas", por causa do atual clima político. Comparados àquelas, alguns grupos curdos são muito mais racionais e legais, mas isso só até que a situação escale além do ponto em que seja impossível retornar.

5.     Se as negociações com os curdos falharem, e os EUA forem bem-sucedidos no serviço de estimular o separatismo curdo, nesse caso entra em ação o Plano B, que implica pressionar os curdos com o seguinte:

o    Síria, Turquia e Iraque podem bloquear as exportações de petróleo que saem de Rojava, e impedir que importados cheguem, a mesma ameaça já usada antes para manter na linha o Curdistão iraquiano. EUA não têm como fornecer a Rojava, por via aérea, todos os suprimentos necessários.

o    O conflito curdo-árabe pode expandir-se sobre territórios sob controle curdo com maioria de população árabe. Com isso, os tumultos chegariam a Rojava, com a possível criação de forças contrárias às Forças Democráticas Sírias (bancadas pelos EUA).

o    Os grupos curdos envolvidos nos planos dos EUA podem ser designados como organizações terroristas (o que também levará a melhorar as relações de Rússia e Síria com a Turquia).

o    Rússia pode parar de proteger Afrin. Irã e Iraque podem bloquear o posto de passagem de fronteira em Faysh Khabur e cortar laços econômicos e logísticos entre o Curdistão iraquiano e Rojava.

o    O Exército Sírio e unidades xiitas podem repetir o Curdistão iraquiano: negociarão e farão acordos com as organizações razoáveis, e as não razoáveis serão esmagadas, como Barzani.

o    A solução final: eles podem "soltar o monstro" [ing. release the Kraken], deixando que o Exército turco entre em Rojava, sob o pretexto de "combater o terrorismo". Não é opção desejável, porque tornaria mais forte o "nosso amigo Recep", mas não está completamente fora de cogitações.

No final, há quantidade considerável de meios para pressionar Rojava, no caso de os EUA escalarem a situação até o nível de conflito inevitável, o que, como demonstram de tempos em tempos, os EUA parecem ter esperanças de obter, apesar do muito que dizem e repetem que não têm agenda secreta na Síria.

Até aqui, Rússia e amigos tentam persuadir os curdos de que não sigam o exemplo de Barzani nem se arrisquem a gerar um cenário que muito terão a lamentar. Vocês podem berrar "Estamos com os EUA" e fotografar moças portando rifles de assalto o quando queiram. Mas quando a coisa apertar, o conflito rapidamente alcançará profundidades nas quais os curdos já não terão pé. No que tenha a ver com os EUA, os curdos são apenas um meio para alcançar um fim – fato que Washington já nem se dá o trabalho de esconder. 

Os EUA querem usar os curdos como combustível para manter acesa a guerra na Síria, sem se preocuparem, de modo algum, com as baixas entre os curdos.

Dessa perspectiva, o melhor para todos, inclusive para os curdos, é que a Rússia consiga fazer os chefes curdos compreenderem essas coisas desse modo. E se al-Assad e Erdogan suavizarem as respectivas posições sobre a questão curda, podem alcançar um acordo que satisfaça todos os lados.

Se é possível, saberemos em 2018. A Rússia não tem interesse em prolongar a guerra na Síria. Bem o contrário: os bons resultados devem ser protegidos diplomaticamente o mais depressa possível – precisamente o que os EUA tentam impedir que seja feito. 

Esse conflito demonstra que, apesar do colapso militar do ISIS, a Síria ainda tem muitos problemas que terão de ser resolvidos com a ajuda de Irã e Turquia. Mas ninguém disse que seria fácil.*****



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