quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Em defesa de Alex Jones, por Dmitry Orlov

14/8/2018, Dmitry Orlov, Club Orlov


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu





Aconteceu algo recentemente que fez com que me sentisse mais ou menos como espécie ameaçada. Um grupo de empresas transnacionais de internet, incluindo Google, Facebook, Apple e várias outras, em movimento perfeitamente sincronizado, removeram conteúdo que pertencia ao blog infowars.com, mantido por Alex Jones. A sincronicidade é sinal garantido de conspiração – tema do qual Alex Jones nunca se cansa.


Certa vez fui entrevistado num programa comandado por Alex Jones e ele, sim, deu jeito de engolir o que eu tinha a dizer, que "os EUA virão abaixo, como a URSS veio abaixo," o que é excelente, considerando que mal conseguíamos nos olhar na cara, tão pouco há de comum entre nós. Jones diz que é conservador e libertarista; e eu acho que não há conservadores nos EUA. O que afinal teriam eles "conservado" nos últimos tempos – além do direito de portar armas leves? Quando ao libertarismo, acho que os libertaristas históricos que fizeram sentido [adequadamente ditos "libertários" e "anarquistas" (NTs)] eram um ramo do socialismo. E os norte-americanos que que se dizem pró-liberdade e pró-Polícias, só querem liberdade para roubar o próximo, e só até que precisem de ambulância ou de bombeiros; e nesse momento viram socialistas. Para completar, libertaristas norte-americanos são feito Ayn Rand, que para mim nunca passou de escritora ruim, ensinadora de ideias capengas. Mas até que é útil, como teste limite para identificar, na massa, as mentes mais irremediavelmente medíocres.

Além do mais, Jones é político, e eu permaneço convencido de que a política nacional nos EUA é perda de tempo. Já está estatisticamente confirmado que os EUA não são democracia: a vontade popular tem efeito exatamente zero na política pública. Nem interessa quem seja o presidente; a diferença fica só no estilo. Trump é touro em loja de porcelana; Clinton teria sido cervo hipnotizado pelos holofotes do caminhão. O resultado não mudaria: EUA em bancarrota, e o império norte-americano, acabado.

Há também a incompatibilidade de gênero entre Jones e eu. Sou, em primeiro lugar, homem de experiências e ensaios e, para mim, a experiência pessoal e a forma literária são vitalmente importantes; Jones é ruim de pesquisa e adora trabalhar com boatos e diz-que-dizes, e é bem banal e repetitivo, mas tem os instintos certos do demagogo e agitador. É fruto de uma longa tradição norte-americana de pregadores itinerantes vomitadores de jeremiadas, espancando Bíblias e cuspindo fogo e enxofre. O conteúdo é secular, mas as técnicas retóricas são revivalistas. É cansativo, estridente e emocional. Há também algo de camelô de carnaval no makeup cultural do homem, e não parece impossível imaginá-lo como caixeiro viajante, batendo de porta em porta com ofertas de revivalismos e unguentos cura-tudo.

Isso posto, partilhamos algumas importantes similitudes. Nem ele nem eu somos parte da narrativa oficial incansavelmente martelada nas casas pela mídia norte-americana de massas, com resultados cada dia mais pobres. Americanos que pensam simplesmente já não são perfeitamente crédulos. Jones explorou essa carência de credulidade no grande público o mais que pôde, perseguindo cada teoria da conspiração que apareceu por aí. E eu sou como vocês: crédulo. Claro. Uns poucos turistas árabes armados com canivetes destruíram três arranha-céus de aço, metendo neles, paredes adentro, dois aviões de alumínio. Faça cada um as próprias contas, mas não passa de 2/3 de avião por arranha-céu – claro que dava e sobrava, ok? Combustível de avião, que queima em temperaturas entre 426º e 815º C, derreteu colunas de aço (o aço derrete a 1.510ºC). Duas latas de alumínio carregadas com querosene, carne humana e bagagem destruíram três estruturas de aço. Acho a explicação perfeitamente satisfatória. Você não? Se precisar saber mais, é só procurar, é fácil; mas não conte comigo, porque, crédulo, estou perfeitamente convencido.

Jones e eu também somos diferentes no quesito popularidade: ele é imensamente popular, e eu sou popular que chegue, para meu gosto, e de modo geral sou pobre em ambições mundanas. Gosto de escrever, meus leitores gostam do que escrevo e todos vivem felizes, exceto as crianças, porque enquanto escrevo não brinco com eles. Mas Jones está ficando popular demais, imenso, popular o suficiente para deslocar a imprensa de massas, que perde fatias cada vez maiores no share das mentes. 

Em parte é culpa da própria imprensa de massas: até onde os jornalistas supõem que conseguirão chegar apostando nesse pangaré da "colusão russa" com "interferência dos russos", antes de o povo suspirar de tédio e puxar o carro? 

Em parte, a diarreia que se ouve na CNN ou lê-se no nytimes.com deveria operar como cortina de fumaça, porque a verdade virou veneno contra os interesses dos encarregados da mídia de massas nos EUA. Na 5ª-feira prometo elaborar mais sobre esse tema. 

A decisão política de censurar Jones foi sinal de desespero: a diarreia verbal não está funcionando, então, chamem o Plano B, que manda gritar "Cale a boca!" o mais alto possível.

Dada essa enorme e florescente popularidade (que os ataques recentes contra ele na verdade só aumentaram), Jones é alvo enorme; eu sou alvo mixuruca. Mas mesmo assim, primeiro vieram por Alex Jones, e depois podem muito bem vir por mim. Portanto, é chegada a hora de começar a prestar atenção e reagir. 

Essas entidades de internet – Google, Facebook, Apple, Google Podcast, Spotify, iHeartRadio, MailChimp, Disqus, LinkedIn, Flickr, Pinterest e muitas outras – não têm mais direito de censurá-lo do que a sua empresa de telefonia tem direito de mapear todas as chamadas que você recebe ou faz para números que você teria de ter pleno direito de chamar. O que foi feito contra Jones foi descaradamente ilegal sob a lei norte-americana e sob a lei internacional. 

Embora aquelas empresas nada tenham a temer da lei norte-americana, que politicamente e acintosamente as protege, muito elas têm a temer internacionalmente.

Jones, como qualquer um vê, não violou os termos de uso desses serviços de internet. Mesmo assim, o cortaram das redes. Na discussão pública que precedeu o evento, incluídas as discussões no Congresso dos EUA, reverberaram expressões como "discurso de ódio" e "incitação à violência". São expressões suficientemente vagas para serem usadas arbitrariamente contra alguns dos inimigos da 'autoridade', ao mesmo tempo que são liberadas e permitidas para os amigos dela, com plena imunidade, além de completamente fora de contato e com todos os fatos fora de consideração. Por exemplo, há dois anos, aconteceu a seguinte troca de ideias entre o ex-diretor interino da CIA Michael Morell e Charlie Rose:



Morell: "Temos de fazer os russos pagar o preço pelo que fazem na Síria."
Rose: "E matando russos, nós os fazemos pagar o preço?"
Morell: "É."


O contexto e os fatos são: os russos estavam na Síria por convite oficial do governo sírio, governo legítimo e reconhecido pela comunidade internacional, para derrotar terroristas e mercenários estrangeiros e para restabelecer o controle da Síria sobre o próprio território soberano. As forças dos EUA não faziam coisa alguma que beneficiasse os sírios e, fizessem o que fizessem, era ilegal: na Síria, os norte-americanos eram força invasora. E lá estava Morrell propondo que os EUA matem soldados russos que lutam contra terroristas, para... 'mandar um recado' aos russos. Se isso não for "incitação à violência", não imagino o que seja. E dois anos inteiros depois, esse escândalo que é a PBSpermanece no ar; como assim?!

À parte a gritaria espúria de "discurso de ódio" e "incitação à violência", aconteceu que Washington DC emitiu uma ordem para calar Jones. 

Respondendo a ela, um grupo impressionantemente amplo de empresas transnacionais de internet bateram continência e marcharam para executar a ordem – o que pelo menos serviu para que todos víssemos para quem trabalha o grupo todo. Agora, parece que o 'movimento' vai-se tornar enorme problema para eles.

Primeiro, essas empresas transnacionais têm autorização para fornecer serviços por todo o planeta, regidas pelo direito internacional. O artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos protege o direito à liberdade de opinião e expressão: "Todos têm o direito à livre expressão e manifestação de opiniões; esse direito inclui a liberdade de ter e defender opiniões sem qualquer interferência, e de buscar, receber e distribuir informação e ideias pela mídia, qualquer mídia e sem considerar fronteiras." Jones tem todo o direito de recorrer à Corte Europeia de Direitos Humanos em Strasbourg, França, processar os EUA e as empresas que o censuraram e exigir retratação e reparação, tanto das entidades do governo dos EUA que deram a ordem ilegal (a serem identificadas no curso da instrução do processo), como das empresas transnacionais que executaram a ordem ilegal.

Segundo, essas empresas transnacionais operam no mundo todo baseadas em leis locais que em muitos casos impedem-nas de agir como agentes de governos estrangeiros (a menos que estejam registradas como tais). Se Google e Facebook executam ordens que recebem do governo dos EUA, sem dúvida agem em todos os países onde agem, não como empresas comerciais, mas como representantes-agentes clandestinos de governo estrangeiro. Serem reconhecidas como tais limitaria consideravelmente o alcance internacional, o potencial de crescimento e o valor das ações dessas empresas.

E, dado que Google, Facebook e Apple são empresas de capital aberto, dedicadas a defender o maior valor possível para as próprias ações, no interesse também dos acionistas, é mais que hora de os acionistas acordarem e trocarem toda a equipe de gestão dessas empresas. Afinal, o que seria mais lucrativo para todos: conspirar ilegalmente, clandestinamente, com o governo dos EUA ao mesmo tempo em que a empresa vai-se convertendo em pária e perde mercado, ou manter atenta distância de todos os governos e governantes, cuidando de se manter nos estritos limites da legalidade internacional? 

Ainda há tempo para consertar todos os erros: declarem que erraram. Restaurem os serviços. Compensem todo o dinheiro que Jones perdeu. E prometam nunca mais repetir os mesmos erros e crimes.*******

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