segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Rússia e China estreitam as condições da aliança, por MK Bhadrakumar

10/8/2018, MK Bhadrakumar, Indian Punchline



Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

Entreouvido na Vila Vudu:

"E eu pergunto: o que pensa(ria)m Álvaro Dias, a bispaiada e a bankerada, Alckmin e Meirelles incluídos, Boulos, o doido do Bolsonaro e Álvaro Dias sobre a Rota do Mar do Norte (item chave e modelo das estratégias de Moscou para o Ártico) ser integrada à Iniciativa Cinturão e Estrada, da China, com vistas a modificar as conexões da China, por terra e por mar, com a Europa e com, claro, o Brasil e o mundo?! [Risos, risos MUITO justificados]

Sinceridade? Lula saberia o que dizer. Mas, daquela gangue lá presente,
só Ciro Gomes entenderia do que se trata. Mas em todos os casos:

Quem precisa daquela seleção de imprestáveis, naquele imprestável 'debate'?!"
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Yang Jiechi, do Politburo do Partido Comunista Chinês visitará Moscou entre os dias 14-17 de agosto, a convite do secretário do Conselho Nacional de Segurança da Rússia Nikolai Patrushev, para participar na 14ª rodada de consultas russo-chinesas sobre estabilidade estratégica. O evento será observado com intenso interesse em todo o mundo, dado que os dois países aproximam-se rapidamente da situação de confrontar um 'inimigo' comum'. É experiência sem precedentes para os dois lados, desde os bons tempos de calmaria [orig. halcyon days] da aliança sino-soviética nos anos 1950s.

A opinião dominante reza que a parceria e cooperação sino-russa ampla teria mais a ver com alguma sinalização geopolítica do que com aliança estratégica. No ocidente, a opinião também se tem mantido extraordinariamente cética quanto à sustentabilidade, no tempo, de tal parceria entre Rússia e China, dada a crescente assimetria do poder nacional nos dois países. Essas duas premissas podem estar sendo superadas pela simples força dos desdobramentos.

Mas, interessante, outro corpo de opinião vem-se formado consistentemente em torno de se Rússia e China poderiam estar, isso sim, à beira de alcançar condições efetivas de aliança, na situação global em rápida transformação caracterizada por crescentes tensões nas respectivas relações com os EUA. Ensaio no Financial Times essa semana, sob o título "A ligação perigosa entre China e Rússia" [ing. China and Rússia’s dangerous liaison], assinado pelo editor diário para a Ásia (que, antes, foi diretor da sucursal em Pequim), Jamil Anderlini, argumenta nessa direção.

Para o colunista, o ocidente estaria cometendo erro de proporções históricas, ao "desconsiderar a aliança antiocidente, anti-EUA que se está formando entre Moscou e Pequim." Escreve Anderlini:


·  "Essa ideia de que Rússia e China não podem jamais ser amigas é tão errada e perigosa quanto o dogma da guerra fria que pintava o comunismo global como monólito inabalável (...). O abraço que se vai estreitando entre os dois países tem tanto a ver com antipatia contra os EUA e a ordem global dominada pelos EUA, quanto tem a ver com o rápido crescimento de interesses comuns (...). Graças ao crescimento continuado do país e dada a ambição óbvia de suplantar os EUA, a China é ameaça muito maior para os EUA, que a Rússia. Ninguém menos que Henry Kissinger – o arquiteto daquela reconciliação com a China, em 1972 – já teria aconselhado Donald Trump a seguir uma "estratégia Nixon-China reversa", buscando atrair Moscou, para isolar Pequim."

Caso é que as chances de alguma "estratégia Nixon-China reversa" a ser seguida pelos EUA são virtualmente zero. Ainda que o presidente Trump incline-se nessa direção, o 'Estado Profundo' simplesmente não lhe dará autonomia para tanto. Foi muito difícil e exigiu muito esforço, até agora, conseguir criar a imagem da Rússia como 'inimiga' da OTAN, com agenda correspondentemente ancorada nessa plataforma. Desconectar a agenda e esvaziar a 'inimiga' pode comprometer o próprio sistema da aliança ocidental. The New York Times hoje noticiou que o establishment em Washington já havia decidido, com os aliados dos EUA na OTAN, apresentar um fato consumado na recente reunião de cúpula da aliança em Bruxelas.

De fato, o governo Trump acaba de anunciar planos para criar uma nova Força Espacial como seu sexto braço militar, na preparação para o "próximo campo de batalha" para fazer frente a Rússia e China, as quais "trabalham agressivamente" para desenvolver capacidades antissatélites. Ao anunciar a novidade no Pentágono, dia 9/8, o vice-presidente Mike Pence disse:


·   "China e Rússia estão desenvolvendo atividades orbitais altamente sofisticadas que podem capacitá-las a aproximar muito os seus satélites, dos nossos, o que gera novos perigos, sem precedentes, para nossos sistemas espaciais (...). Os americanos temos de dominar o espaço e dominaremos."

O presidente Trump imediatamente tuitou, "Força Espacial, avante!" E isso logo depois de Washington ter anunciado que dia 22 de agosto anunciará novas e amplas sanções contra Moscou, incluindo longa lista de exportações banidas dos EUA, além de punição pelo [suposto] ataque com gás de efeito neurológico contra o ex-agente russo Sergei Skripal e sua filha Yulia na Grã-Bretanha, em março passado. O Departamento de Estado também ameaçou com mais uma onda de sanções, dentro de três meses, incluindo o rebaixamento das relações diplomáticas com a Rússia. Sem dúvida, apenas um mês depois da reunião de Helsinki, as relações EUA-Rússia estão novamente em queda livre.

Moscou reagiu com energia. O primeiro-ministro Dmitry Medvedev alertou, dia 10/8, 6ª-feira  que a imposição de novas sanções econômicas contra a Rússia pode ser respondida como ato de guerra econômica, com todos os meios econômicos e políticos possíveis.

Assim, China e EUA estão envolvidas ambas, também, numa guerra comercial que está em escalada. Na 4ª-feira, Pequim divulgou uma lista de artigos norte-americanos, no total de US$16 bilhões, a serem tarifados. Essa é a resposta da China às ameaças de Washington, da véspera, de que imporá tarifas de 25% a valor equivalente de exportações chinesas. Editorial do diário estatal China Daily ontem  diz que a "possibilidade de os dois países estarem em rota para um prolongado conflito comercial tem de ser encarada".

Claramente, um dos tópicos das consultas que acontecerão em Moscou na próxima semana é uma coordenação mais próxima entre Rússia e China para construir estratégia consertada de reação contra os movimentos dos EUA. 

A questão então é que a quase aliança entre Rússia e China já não pode ser vista como 'sinalização geopolítica'. A poucos passos de uma aliança militar formal, os dois países cuidam de intensificar a cooperação e a coordenação. Em movimento não usual, Moscou anunciou com grande antecedência que o presidente Vladimir Putin receberá Yang – sinal claro da alta importância que o Kremlin atribuiu às consultas estratégicas com a China.

Resumo da ópera é que, apesar de todas as tentativas que analistas norte-americanos têm feito para inventar dissenso e beligerância nas relações sino-russas – repetindo incansavelmente que a China seria ameaça demográfica contra o Extremo Oriente da Rússia; que a China estaria conspirando para ocupar militarmente o Lebensraum siberiano; que a China já 'ultrapassou' a Rússia na Ásia Central, etc. – o que se vê é que atrair a China tem lugar cada vez mais importante no cálculo estratégico dos russos, dado o formidável poder de fogo econômico (ao final de 2018, o PIB chinês ultrapassará o da Eurozona) e a rapidamente crescente sofisticação tecnológica dos chineses.

Claro que Moscou vê com clareza que não cabe esperar qualquer melhoria significativa nas relações Rússia-EUA, enquanto Trump estiver no poder. Sem dúvida identificar-se-ão novas direções nas conversações em Moscou. Pode-se ler aqui um artigo, assinado por respeitado especialista chinês, que antevê a Rota do Mar do Norte (item chave e modelo das estratégias de Moscou para o Ártico) como "importante componente" da Iniciativa Cinturão e Estrada, da China, a ser analisada como "parte de uma estratégia ambiciosa para modificar as conexões da China, por terra e por mar, com a Europa e com o mundo."*******



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