segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Imran Khan levará o Paquistão, dos EUA para a China?

31/7/2018, Daniel Hyatt, Global Times, China

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


Sobre Imran Khan, ver também

20/6/2012, Assange entrevista Imran Khan Niazi, candidato à presidência do Paquistão,
19/6/2012, Russia Today – 10º Programa, Episódio 9,
vídeo 27'30 e transcrição traduzida, em Redecastorphoto.

"O Movimento por Justiça (ing. Movement for Justice/Pakistan Tehreek-i-InsafPTI) foi pensado como Movimento para lutar por sociedade justa e igualitária baseada no sistema que o Profeta Maomé [Que a Paz Esteja com Ele] expôs na Carta de Medina, que foi o fundamento sobre o qual se construiu o estado islâmico modelo: uma sociedade igualitária, baseada no respeito à lei e na justiça econômica – o primeiro estado de bem-estar na história da humanidade. Infelizmente, como o filósofo muçulmano Ibn-e-Khaldun previu que aconteceria, quando decaiu o compromisso dos muçulmanos com a justiça, decaiu também toda a sua civilização" (Do Manifesto do Partido Tehreek-e-Insaf (PTI), [ing. "Pakistan Movement for Justice", port. Movimento por Justiça), 9/7/2018, Dawn, Islamabad, Paquistão, trecho aqui traduzido].
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"Faremos do Paquistão um estado islâmico de bem-estar, sobre os mesmos pilares sobre os quais se ergueu Medina: humanidade e justiça" (Imran Khan, no lançamento do Manifesto do Partido Tehreek-e-Insaf (PTI), [ing. "Pakistan Movement for Justice", port. Movimento por Justiça), 9/8/2018, GeoTV]).

"Temos de combater a pobreza. É enorme desafio. A China é o maior exemplo que há diante de nós. A China tirou da miséria milhões de cidadãos nos últimos 30 anos. É feito sem precedentes" (Imran Khan, empossado primeiro-ministro do Paquistão ontem, 19/8/2018).____________________________





Imran Khan é agora o homem mais poderoso do Paquistão. Às vésperas de ser empossado primeiro-ministro do Paquistão [foi empossado ontem (NTs)], não fez segredo de que tem um mapa do caminho do relacionamento que deseja com a China.


Um dia depois de completado o processo eleitoral, cujo resultado mostrou o partido de Khan como o único grande partido vitorioso, Khan falou pela televisão a todo o país pela primeira vez.



O primeiro país ao qual fez referência não foi o que muitos previam que seria. A China, maior investidor estrangeiro direto no Paquistão, à frente do projeto "Iniciativa Cinturão e Estrada" e aliado mais confiável dos paquistaneses, foi também o único país de cujas lições o novo líder paquistanês disse ter interesse em aprender.



As eleições esse ano no Paquistão aconteceram sob a sombra da condenação do ex-primeiro-ministro Nawaz Sharif, há dez anos em prisão fechada, ainda dependente do resultado de uma apelação, por corrupção.



Na oposição, antes dessa eleição, Khan foi crítico insistente de Sharif e do modo como empregou os investimentos chineses. Acusou Sharif de usar os projetos chineses para expandir os negócios da própria família – acusação que muitos tomaram como efeito de Khan opor-se aos investimentos, no Paquistão, de seu vizinho mais próximo.



Em 2014, quando o Corredor Econômico China-Paquistão [ing. China-Pakistan Economic Corridor (CPEC)] ganhava espaço no Paquistão, Imran Khan e seus seguidores mantiveram, por quatro meses, uma ocupação [ing. sit-in] pacífica no centro da capital Islamabad. O protesto foi comentado na mídia como ação contra os investimentos chineses e gerou graves preocupações entre os acionistas do megaprojeto.



Na ocasião e depois, o ex-campeão mundial de críquete, autorreconstruído como político teve de explicar repetidas vezes, inclusive em reuniões com diplomatas chineses, que o protesto de seus seguidores nada tinha a ver diretamente nem com os projetos chineses nem com o Corredor Econômico China-Paquistão, considerados bem-vindos.



Disse que, na verdade, seu grupo pressionava a favor de maior transparência nos investimentos que o governo de Nawaz estaria fazendo, segundo suspeitas que circulavam na sociedade paquistanesa, praticamente em segredo.



Bem adiante, quando os protestos foram desmobilizados pela liderança, e começaram as preparações para as eleições, Imran Khan anunciou seu próprio projeto para pôr fim aos padecimentos do povo paquistanês e livrá-lo dos verdadeiros inimigos. Para fazer ressuscitar a economia, propôs o modelo chinês. Disse que se esforçaria para usar, no trabalho de arrancar da miséria milhões de paquistaneses, os saberes que os chineses construíram e acumularam no período recente.



Distribuído duas semanas antes das mais recentes votações, o Manifesto para as Eleições Gerais (ing.), de seu partido, foi o primeiro documento no qual apareceu detalhado o pensamento de Khan para a Iniciativa Cinturão e Estrada, na parte que envolve o Paquistão.



O documento apresentou o Corredor Econômico China-Paquistão como fator capaz de virar o jogo, do qual o Paquistão muito poderá beneficiar-se. E indicava planos para utilizar a infraestrutura de comércio do Corredor Econômico e da Iniciativa Cinturão e Estrada para promover uma "estratégia de crescimento focada em recursos próprios" [ing. "indigenous resource-focused growth strategy"].



O Manifesto também sugeria o uso de expertise chinesa para suplementar a manufatura paquistanesa e aumentar a produtividade da agricultura no país.



Por mais empenhada que tenha a sido a crítica de Khan e de seus partidários contra o modo como o governo de Sharif usou os investimentos chineses, nem Khan nem seu partido opõem-se aos projetos propriamente ditos. O Manifesto destaca que o Corredor Econômico Paquistão-China será completado, com mais foco nas parcerias e joint ventures, não mais centrado em manter a alta dependência do país, para bens e serviços.



Seu partido prometeu garantir a participação de empresários paquistaneses nos processos para levar a cabo os projetos do Corredor Econômico Paquistão-China.



No sistema eleitoral do Paquistão, historicamente, os partidos cuidam de assumir menos riscos, conforme se aproximem as eleições. Mas Imran Khan não mediu palavras na entrevista exclusiva que deu ao jornal Guangming Daily dois dias antes das eleições.



Khan disse ter certeza de que o Corredor Econômico China Paquistão receberá amplo apoio de todos os setores da sociedade paquistanesa. Espera garantia firme de médio a longo prazo, de que o corredor será implementado e falou sobre o "papel insubstituível" do Corredor Econômico China-Paquistão para a geração de empregos. Reconheceu a China como principal investidor no Paquistão e o Corredor como plataforma para atrair mais investimentos externos. Também destacou a cooperação com a China para a produção de energia limpa, indústria e agricultura verdes. Crê que a amizade histórica entre Paquistão e China servirá de base para a cooperação futura.



As ideias políticas de Imran Khan não parecem influenciadas por ele ter sido educado no ocidente. Tem questionado repetidas vezes a viabilidade social das políticas econômicas capitalistas. É crítico ferrenho do presidente Donald Trump dos EUA e das guerras provocadas pelos EUA pelo mundo. Prometeu estabelecer relações equilibradas com os EUA, diferentes das que há hoje e que são completamente controladas pelos EUA.



É bem evidente que Imran Khan planeja um claro movimento de pivô, com o Paquistão afastando-se da órbita dos EUA, na direção do bloco chinês.


A disposição manifesta do novo governo, de levar adiante os principais projetos da Iniciativa Cinturão e Estrada; a determinação de cooperar com a China; e a promessa de que revisará as atuais relações do Paquistão com os EUA, deixam completamente clara e à vista de todos, na névoa que sempre encobre todas as eleições no Paquistão, pelo menos uma possibilidade: que a China terá, em Imran Khan, no mínimo, um amigo.


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