16/10/2015, Eric ZUESSE,[1] Strategic Culture Foundation
"Todos os jornais nacionais britânicos são hoje de fato verdadeiros guardiões dessa mesma pequena aristocracia nacional (...), contra o interesse público. – Existem para proteger aquela aristocracia contra o interesse público (porque existem para enganar a opinião pública, como fazem colunistas como Polly Toynbee)."
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Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
Recentemente, apareceu a questão dos lucros que passariam a fluir para empresas internacionais graças aos 'acordos' 'comerciais' propostos por Obama, que encorajam a privatização de serviços sociais hoje administrados pelo Estado, e a extinção dos sindicatos de trabalhadores. Infelizmente, a coisa foi apenas lembrada de passagem, por Polly Toynbee, colunista do Guardian. OK. Melhor que nada.
A colunista é neta do famoso historiador britânico Arnold Toynbee. A perspectiva dela sobre o tema parece estar em perfeita harmonia com a das grandes empresas da Grã-Bretanha – sempre empenhadamente favoráveis à Parceria Transatlântica para Comércio e Investimento [ing. Transatlantic Trade and Investment Partnership (TTIP) – a proposta de 'acordo' para comércio e investimentos que Obama apresentou à UE], e também a a Grã-Bretanha ser incluída na UE (e ao tal 'acordo' proposto por Obama).
Na Grã-Bretanha, o número de famílias da aristocracia e que servem à aristocracia (o pessoal que administra as empresas internacionais e que trabalham para aquelas famílias), são poucos em números, de tal modo que os indivíduos que alcançam alguma voz pública (por exemplo, empregando-se como colunista no Guardian), tendem a ser bem avaliados pela aristocracia que, em termos gerais, é avessa a democracias.
Na coluna mais recente, Toynbee critica os que se opõem à Parceira Transatlântica de Obama e a os britânicos se integrarem à UE, chamando-os de populistas "eurofóbicos", gente que "desavergonhadamente" se opõe à UE e à tal 'parceria' de Obama.
Em sua coluna, ela apresenta o interesse público como principal problema – interesse público, para ela, basicamente, são os interesses de gangues mafiosas controladas por demagogos –, e a aristocracia como a solução. A atitude dela ante a democracia (tudo que seja público) é idêntica à de Barack Obama, como ele a expressou privadamente dia 27/3/2009, a altos executivos de Wall Street reunidos na Casa Branca: "Meu governo é a única coisa entre vocês e a forca (...) Quero ajudar (...) Estou protegendo vocês" da tal "forca". Também para Obama, democratas seriam em tudo iguais aos "desavergonhados eurofóbicos" de Toynbee. Nas duas versões, os operadores financeiros empresariais internacionais são os verdadeiros heróis; e o público que se oponha ao que eles fazem não passa de leva de idiotas perigosos que têm de ser controlados.
Recente artigo de Toynbee, do dia 12 de outubro, sobre a integração entre europeus pró-adesão-à-UE e europeus pró-mega-empresas discute a resistência, na opinião pública, contra o mais recente esforço do deputado britânico Alan Johnson, pró-UE, para promover a tal 'parceria' TTIP de Obama:
"A Parceria Transatlântica para Comércio e Investimento (Transatlantic Trade and Investment Partnership,TTIP) é outra linha vermelha para alguns da esquerda. Johnson acaba de visitar Bruxelas e está convencido de que nunca haverá tribunais comerciais secretos, e de que outros países, com setores públicos maiores que o inglês [p. ex., França, Dinamarca, Suécia] jamais permitirão que os serviços públicos europeus sejam capturados por empresas dos EUA".
Johnson é ex-membro do Gabinete do governo do primeiro-ministro Tony Blair – de fato, foi secretário da Saúde e também secretário da Educação; é pois sujeito que sabe de muitas coisas sobre o vastíssimo patrimônio a ser privatizado, se e quando, por exemplo, o Serviço Nacional de Saúde Pública da Grã-Bretanha vier a ser destripado e vendido em liquidação a empresas transnacionais. – Agora, Johnson dedica-se a argumentar que, sabe-se lá como, o presidente dos EUA só assinará essa 'parceria' TTIP porque o cérebro e o coração da coisa (que estão congelados dentro do corpo, e só voltarão a funcionar depois que se impuserem regulações democráticas às empresas internacionais) foram arrancados; e a coisa só tem braços e pernas (com uma bexiga legal associada). Para Toynbee,
"[Mas] há alarme no ar entre pró-europeus de todos os tipos. Longe vão as pressuposições complacentes de que o status quo sempre vence referendos, de que o medo do desconhecido supera a novidade, ou de que o dinheiro sempre derrota os ideais. O vento parece estar soprando para mar alto, com claras mudanças nas tendências de opinião. Por mais que tentem esconder o óbvio, o crescimento hoje de um novo modelo conservador, que é simultaneamente contra a parceria TTIP e contra a União Europeia, é o retrato de umestablishment que reage contra qualquer mudança. Aí estão o Big business, as grandes lojas, easyJet, as universidades e a polícia. O prospecto da Escócia separada ou a situação no Norte da Irlanda com certeza fazem, de sair da UE, a opção de mais alto risco. E quanto à Rússia? Será que a autopreservação e o bom-senso econômico farão prevalecer o establishment?"
Se a verborragia da moça vem tão carregada de pressupostos, que nem sobra espaço para demonstrar a validade de qualquer deles (por exemplo, o pressuposto de que a 'parceria' TTIP seria basicamente benigna, e de que a UE não foi concebida por fascistas), é porque os pressupostos dela são falsos, e porque competência não é requisito básico para o sucesso, na cultura na qual ela opera.
Na Grã-Bretanha, o número de famílias na aristocracia e que servem à aristocracia é suficientemente pequeno para que qualquer pessoa que chegue a ser colunista nos grandes veículos da imprensa-empresa seja logo bem vista pela aristocracia; e tudo que os aristocratas exigem é que a tal pessoa apoie a agenda da aristocracia.
Polly Toynbee é neta do famoso historiador britânico Arnold Toynbee. A perspectiva dela no assunto das 'parcerias' de Obama parece estar exatamente de acordo com a das grandes empresas britânicas. É o que basta para que ela ganhe uma coluna no Guardian.
Todos os jornais nacionais britânicos são hoje de fato verdadeiros guardiões dessa mesma pequena aristocracia nacional – ou, no mínimo, de alguma de suas facções, as quais, todas, se unem às demais contra o interesse público –, e existem para proteger aquela aristocracia contra o interesse público (porque existem para enganar a opinião pública, como fazem colunistas como Polly Toynbee).
Assim sendo, ela lida apenas muito superficialmente das objeções, ("Johnson acaba de visitar Bruxelas e está convencido de que nunca haverá tribunais comerciais secretos, e de que outros países, com setores públicos maiores que o inglês [p. ex., França, Dinamarca, Suécia] jamais permitirão que os serviços públicos europeus sejam capturados por empresas dos EUA", como escreveu no Guardian). Mas... como ela sabe disso? Ora, ela não sabe, nem está interessada em saber. E todos esses problemas reais são simplesmente varridos para longe, para que ela possa manifestar a esperança de que "o fogo divino incendeie aqueles que [como Alan Johnson] tentam convencer o próprio lado".
Afinal o público tem de ser comandado. Essa gentinha é tão indisciplinada, tsc-tsc!!*****
[1] Historiador e jornalista, Eric Zuesse é autor, recentemente, de They’re Not Even Close: The Democratic vs. Republican Economic Records, 1910-2010, e de CHRIST’S VENTRILOQUISTS: The Event that Created Christianity.
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